Por Almir M. Quites
Algumas questões já não precisam de mais depoimentos ou mais investigações. Por exemplo:
- A existência de um gabinete secreto e ilegal ("gabinete das sombras") à revelia da estrutura oficial, composto por médicos e empresários, para aconselhar o Presidente. Este gabinete secreto substituía os órgãos oficiais.
- O absurdo desinteresse do Governo Federal em comprar vacinas, enquanto comprava cloroquina e outros medicamentos inúteis para tratar da CoViD-19.
À perda de vidas, pela falta de vacinas e de ações consistentes contra pandemia, soma-se o empobrecimento do país, especialmente dos cidadãos mais vulneráveis. O prejuízo tem sido enorme. Também deveria ser quantificado, na medida do possível.
O Presidente Jair Bolsonaro e muitos outros integrantes do Governo Federal deverão ser responsabilizados por tanto sofrimento e pagar por isso na medida certa.
- quando a vacinação poderia ter sido iniciada e em que intensidade?
- quantas mortes teriam sido evitadas?
Quando a CoViD -19 começou a se alastrar pelo mundo, não havia vacinas contra ela, mas os cientistas do mundo se uniram num grande esforço de colaboração para desenvolverem vacinas no menor tempo possível. Com isso, muitas vacinas surgiram em tempo recorde, mas precisavam ser testadas em diversas etapas, que culminavam com o teste em grande escala em seres humanos voluntários. Como o tempo era uma sentença de morte a muitíssimos seres humanos, muitos países começaram a comprar as vacinas mais promissoras mesmo antes da certeza de que elas seriam aprovadas nos testes finais. Felizmente, no final de novembro de 2020, várias vacinas já estavam com alta probabilidade de aprovação nos testes em diversos países. Por isto, mesmo antes da aprovação final, muitos países começaram a comprá-las.
O mundo começou a vacinação contra a CoViD-19 em dezembro de 2020! Três vacinas tinham sido testadas também no Brasil e foram prioritariamente ao governo brasileiro, mas este não se interessou em comprá-las, como as investigações da CPI deixaram muito claro.
O Brasil poderia ter começado a vacinação ainda em dezembro, como tantos países fizeram, ou mesmo antes. Teria começado já em velocidade máxima, porque já dispunha da estrutura do SUS, cuja eficiência em vacinação é internacionalmente reconhecida.
A Indonésia começou a sua vacinação com a Coronavac no dia 06/11/2020. A Turquia recebeu o primeiro lote da Coronavac em 11/12/2020. Com outras vacinas, os EUA começaram no dia 14 de dezembro de 2020, juntando-se a Rússia e Reino Unido, que já haviam começado alguns dias antes. O Chile começou a sua vacinação em 24/12/2020, com a vacina Pfizer-BioNTech e, a partir do dia 3 de fevereiro de 2021, a Coronavac passou a ser o principal imunizante. A vacinação no México também começou nesta mesma data.
No Brasil, as vacinas Coronavac (do Instituto Butantan) e AstraZeneca (da Fiocruz), só foram aprovadas pela Anvisa, para uso emergencial, no dia 17 de janeiro de 2021, mas o Governo Brasileiro não começou a vacinação. O Presidente Bolsonaro continuava desdenhando publicamente das vacinas!
Como era de se esperar, a procura internacional por vacinas contra a CoViD foi aumentando e a produção já não atendia à demanda, razáo pela qual o preço subiu e o tempo de espera pela entrega foi aumentando.
O Brasil só começou a vacinação no dia 22/01/2021, e até hoje o ritmo de vacinação é muito lento, por falta de doses.
O Governo Brasileiro se desculpa dizendo que não poderia comprar vacinas antes da aprovação pela Anvisa, mas sabia que poderia ter aprovado um Projeto de Lei para estabelecer que, em caráter emergencial, as vacinas poderiam ser aplicada nos brasileiros mesmo antes da aprovação pela Anvisa, desde que tivessem sido aprovadas por outras agências de vigilância importantes do mundo, como dos EUA, Europa e da Ásia. Isto, porque os protocolos da Anvisa são de mesmo nível técnico do que os destas outras agências.
Não haveria dificuldade alguma de aprovar esta Lei em caráter emergencial. Ao invés disto, o Governo não vacinou o seu povo e veementemente recomendou o uso da cloroquina e outros fármacos contra a CoViD-19, mesmo sem a aprovação da Anvisa e de nenhum órgão de vigilância sanitária do mundo, o que evidentemente é um ato criminoso. Os fármacos distribuídos pelo governo brasileiro são inúteis para combater a CoViD-19.
O fato é que o Brasil teria começado a vacinação em massa antes dos demais países do mundo ou, pelo menos, simultaneamente!
A primeira oferta do Butantan ao Ministério da Saúde foi feita no dia 30 de julho de 2020, para 60 milhões de doses disponíveis até dezembro do ano passado. Logo, daria para vacinar 490.000 doses por dia, o que é bem abaixo da capacidade do SUS (que é de 3.000.000/dia).
Houve várias poroposta da Pfizer que foram ignoradas pelo governo brasileiro. A última oferta de 2020 foi de 70 milhões de doses de vacina para entrega a partir de dezembro. Fica claro que a Pfizer poderia facilmente enviar para o Brasil 25 milhões de doses por mês, numa média de 833.000 por dia, até junho deste ano. No mínimo 6 meses foram perdidos. Este atraso matou muitos brasileiros!
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), só em 17 de janeiro de 2021, autorizou o uso das vacinas da Coronavac e a da Oxford-AstraZeneca, para uso emergencial. A vacina da Pfizer obteve a licença definitiva para uso no Brasil em 23/02/2021.
Em 7 de outubro do ano passado, Dimas Covas, Diretor do Instituto Butantan, enviou novo ofício ao então Ministro da Saúde Eduardo Pazuello sobre a oferta de 100 milhões de doses da Coronavac, sendo 45 milhões a serem entregues antes de dezembro de 2020, 15 milhões até fevereiro de 2021 e, ipsis litteris, “40 milhões de doses adicionais poderão ser produzidas até maio de 2021", o que confirma a possibilidade de manter uma vacinação constante de 490.000 doses por dia até o final de abril.Assim, em dezembro, poderíamos ter tido, no mínimo, 490.000 por dia (do Butantan), mais 833.000 por dia, da Pfizer, para vacinação por 4 meses e com acordo para a renovações automáticas de contrato.
Estes números estão bem abaixo da capacidade de vacinação diária do SUS e também estão bem abaixo da capacidade de oferta dos fornecedores de vacinas. Logo, condições ainda melhores poderiam ter sido obtidas pelo governo do Brasil.
Logo, a partir de 1° de dezembro tivemos a possibilidade de dispor de pouco mais de 1.300.000 doses por dia para a vacinação de brasileiros.
No entanto, com o atraso nos contratos, as primeiras doses da Pfizer só chegaram em abril de 2021. Oito meses se passaram entre a primeira oferta e a entrega. Até junho, a Pfizer entregará 13,5 milhões, enquanto o restante deverá chegar no país até setembro.
Com estes dados, é possível fazer um cálculo de quantas mortes teriam sido evitadas se a vacinação brasileira tivesse começado em 15 dezembro de 2020. Para isto, basta um pouquinho de matemática e lembrar que a vacina evitaria as mortes.
O gráfico seguinte mostra os resultados destes cálculos.
Gráfico atualizado em 14/07/2021
As bolinhas representam a evolução das mortes ocorridas, conforme os dados oficiais, a cada dia, indicados no eixo horizontal. A linha preta corresponde à projeção desta evolução para o futuro, traçada matematicamente, até o final da atual onda epidêmica (estamos agora na quarta onda). não consideramos o surgimento de uma quinta, que até tem possibilidade de não ocorrer devido ao efeito da vacinação.
A curva azul representa o número de mortes que foram evitadas com a vacinação oficial, que começou no dia 22/01/2021. Esta curva mostra que, até hoje, só 30.000 mortes foram evitadas com a vacinação. Até o final de agosto, mantido este mesmo ritmo, teremos evitado cerca de 55.000 mortes e ainda estaríamos muito longe de alcançar a imunização vacinal coletiva (cerca de 80%). Portanto, outras ondas epidêmicas poderão, aumentando ainda mais o número de óbitos previstos na curva de cor preta.
A curva vermelha representa o número de óbitos que teriam sido evitados, caso a vacinação tivesse começado no dia 15/12/2020 e tivesse permanecido constante, aplicando somente as vacinas da Coronavac e da Pfizer/BioNTech, na velocidade de 1.320.000 doses por dia, conforme as ofertas do Instituto Butantan e da Pfizer do Brasil feitas no final do ano passado.Pelos cálculos atuais, em 25/08/2021, atingiríamos a marca de vacinação de 80% da população brasileira (169 milhões). Logo, teríamos alcançado as condições de imunização vacinal coletiva. A epidemia já estaria em processo de franco arrefecimento. Já não haveria condições das cepas atuais continuarem contaminando as pessoas. Não haveria mais a possibilidade de surgir uma quinta onda da pandemia. Então, doses de reforço já começariam a ser aplicadas nos mais idosos. A pandemia estaria sob controle no Brasil.
Em 28 de outubro alcançaríamos a meta de ter toda a população vacinada (211 milhões de brasileiros).
Para entender melhor como este trabalho foi desenvolvido, o leitor pode acessar este outro artigo, de 23/052021:- Desonestidade em grande estilo
- Querem transformar o Parlamentarismo em tabu social
- As ondas do tsunami sanitário
- Erro grave da CPI da CoViD
- Eleições no Chile: um exemplo para os brasileiros
- CPI da CoViD no Congresso
- Desanimadora história de Sérgio Moro
- Dia da Mentira e dos Bobos
- Depreciação do Judiciário
- Surge a Terceira Onda da CoViD-19 no Brasil
- STF e o Indevido Processo Medieval
- A Segunda Onda já terminou, mas é preciso evitar a Terceira
- O sinistro submundo sobre o qual você navega
- Exemplar eleição presidencial nos EUA
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