Por Almir M Quites
Iceberg da Web |
Em 2019, os brasileiros tomaram consciência de um submundo cibernético, quando "hackers" (pessoa que elabora e modifica softwares e hardwares de computadores para fins ilícitos) invadiram celulares e aplicativos de altos funcionários públicos e de políticos.
O Ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o Procurador Deltan Dallagnol foram vítimas de invasões em seus celulares e em seus aplicativos de mensagens, o Telegram. O portal The Intercept publicou as conversas, e atribuiu a origem delas à "fonte anônima".
Assim, os brasileiros tiveram conhecimento de presumidas mensagens particulares entre o ex-Juiz federal e procuradores da República após a divulgação ilegal, por ser de fonte inidônea, feita pelo "site" The Intercept. Como a fonte original é virtual, não é possível, mediante perícia, comprovar que a matéria divulgada seja autêntica, que não tenha sofrido alterações, ainda que pontuais (edições). O fato, no entanto, é que, até hoje, o material, que está na posse do STF, ainda não foi periciado. Enquanto isso, o uso político deste material já abalou a reputação do Juiz Sérgio Moro e destruiu a própria Operação Lava-Jato, que tantos serviços havia prestado ao país. Por desídia do STF, o mal já está feito!
A política tem seus tentáculos no submundo. O próprio governo tem tentáculos no submundo!
No Brasil, os prejuízos por falta de cibersegurança devem chegar a casa de U$ 1 trilhão de dólares. De acordo com a 24ª edição do relatório de Ameaças à Segurança na Internet (ISTR, na sigla em inglês, Internet Security Threat Report), o Brasil foi classificado em quarto lugar, entre os 157 países analisados, com mais invasões de "hackers" e crimes virtuais.
Na terceira semana de janeiro deste ano (2021), surgiu a notícia de um vazamento enorme que expôs o CPF de mais de 220 milhões de brasileiros. Neste mês, um novo vazamento de dados foi descoberto. Desta vez, 100 milhões de números de celular foram expostos na "𝘿𝙖𝙧𝙠 𝙒𝙚𝙗". As informações são da empresa de cibersegurança PSafe e foram reveladas pelo site NeoFeed, no dia 10/02. De acordo com levantamento da Kaspersky, os crimes organizados no submundo cibernético cresceram em 235% no Brasil.
Este assunto deveria ser considerado com mais atenção, porque não há dúvidas de que o submundo da Web influencia a política dos países. Este é um problema mundial!
Um recente estudo quantitativo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), desvendou um dos mecanismos pelo qual eleições são influenciadas. O estudo analisou mais de 330.000 vídeos, os quais foram categorizados como sendo do espectro político da extrema direita. Eles mostraram que os vídeos eram feitos de modo a serem catapultados pelo próprio algorítmo do YouTube, o qual recomenda vídeos para seus usuários. Assim, o próprio YouTube participou do processo de radicalização da política brasileira.
Técnicas semelhantes foram amplamente usadas pela AltRight norteamericana na campanha presidencial que elegeu Donald Trump nos EUA.
Há um mundo criminoso fervilhando nas profundezas da nossa internet, o qual explico melhor a seguir.
"𝘿𝙖𝙧𝙠 𝙒𝙚𝙗" é a parte obscura e macabra da internet, aquela que usa endereços sombrios e servidores de rede inalcançáveis pela Internet normal, conhecida como WWW ("World Wide Web", atualmente apelidada de "Surface Web"). O acesso à "𝘿𝙖𝙧𝙠 𝙒𝙚𝙗" requerer softwares, configurações ou autorizações específicas.
Entre estas duas, há a "Deep Web", uma camada de sites que fica imediatamente abaixo da "Surface Web", que não pode ser acessada livremente. A "Deep Web", apesar de ser restrita, e similar à chamada "Web de Superfície". O fato de não ser indexável nos mecanismos de busca não a torna secreta, mas apenas mais restrita.
Na "Deep Web" estão os endereços que não são indexados por motores de busca, como o Google e o Bing, porque precisam ser sigilosos, por razões de segurança e privacidade. A "Deep Web" é o bastidor da internet. É nela que se encontram os dados cruciais para a manutenção da rede, que não podem ser acessados por pessoas comuns. Aí se encontram os bancos de dados acadêmicos, registros médicos, informações confidenciais, registros financeiros, repositórios de algumas ONGs etc.
Em outras palavras, tudo o que não é visto livremente na internet faz parte da "Deep Web", ou ultrapassa a fronteira mais profunda, que dá para o submundo da internet, ou seja, a "𝘿𝙖𝙧𝙠 𝙒𝙚𝙗".
O grande problema é a macabra "𝘿𝙖𝙧𝙠 𝙒𝙚𝙗". É aí que crimes são praticados, como a venda de drogas ilegais, o comércio de pornografia e pedofilia, o comércio de armas, de dados financeiros de pessoas e organizações, de documentos falsos, apologia ao racismo e de grupos de ódio, divulgação de "fake news". Também o tráfico de órgãos humanos e de pessoas, o comércio de assassinos de aluguel, o financiamento do crime organizado e a administração das megas operações de detração, de difamação, ultraje, além da disseminação de vírus de computação, a organização células terroristas, etc.
O Brasil precisa muito da Polícia Federal e da Operação Lava-Jato. Esta acabou discretamente, no início deste mês. A equipe foi transferida, nesta semana, para o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público Federal (MPF), por decisão da Procuradoria-Geral da República.
A Operação Lava-Jato, foi considerada a maior investigação da história do Brasil. Começou em 17 de março de 2014. Enquanto existiu foi motivo de orgulho nacional. Investigou e condeguiu devolver aos cofres públicos mais de R$ 4,3 bilhões, por meio de 209 acordos de colaboração e 17 de leniência. Desse montante, R$ 3 bilhões foram destinados à Petrobras, R$ 416,5 milhões aos cofres da União e R$ 59 milhões à 11ª Vara da Seção Judiciária de Goiás. Ainda havia muito por fazer!
A quem a Lava-Jato incomodava tanto?
Lembrem-se: para os bandidos, que produzem e disseminam "fake news" (notícias falsas) e controlam as informações que vocês recebem a partir da " Dark Web", as ideologias não interessam. Elas são apenas jogos de um circo que entretem o povo e o mantém convenientemente iludido, insano, submisso e alienado.
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