segunda-feira, 1 de abril de 2019

Passado recolocado na ordem do dia

Por Almir M. Quites

Capa de Le Temps, jornal diário, suíço, editado em Genebra.
É o único diário generalista francófono de circulação nacional na Suíça.

Ao instruir as Forças Armadas a comemorar o aniversário de 55 anos do Golpe de Estado de 1964, o presidente Jair Bolsonaro pôs na ordem do dia o debate sobre aquela crise político-institucional. Em seguida, com argumentos estouvados, negou, em entrevista à TV Bandeirantes, que tenha havido uma ditadura militar no Brasil e disse que o regime teve apenas “probleminhas”!

Em consequência, várias opiniões foram publicadas nas redes sociais sobre o Golpe de Estado de 1964, muitas delas tão insensatas quanto às do Presidente (
o que é típico das redes sociais) e, muito poucas, com o embasamento que torna a leitura proveitosa. 

Uma destas, foi um curto e perfeito artigo de Hugo Werneck intitulado "Golpe de 1º de Abril". Nele, Hugo chama a nossa atenção para um fato conhecido, mas esquecido, mesmo por mim. Refiro-me ao fato de que o presidente João Goulart, deposto em 1964, "
era um 'bon-vivant' e jamais foi comunista". Simples e verdadeiro! Minha memória foi reativada. 

Quantas outras influências que nada tinham a ver com comunismo nortearam seu comportamento na política daquele tempo? 

Para ler o artigo do Hugo Werneck na íntegra, basta clicar aqui: https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=2025907107520636&id=100003040999216

Concordo com seu texto, Hugo! Realmente, João Goulart era um "bon-vivant", sempre tentando acomodar interesses conflitantes, e um péssimo Presidente, que se deixava levar por radicais de esquerda, entre eles Leonel Brizola, seu cunhado. No entanto, este também era um comportamento de auto defesa, induzido pelos próprios militares, que, há vários anos, estavam articulando um golpe de Estado.

Dois anos e meio antes do Golpe Militar de 1964, quando o Presidente Jânio Quadros renunciou, os militares tentaram dar um golpe a pretexto de evitar a posse de Jango (
apelido de João Goulart), que era o vice-presidente eleito (naquele tempo a eleição de vice-presidente se fazia em chapa separada). Este golpe fracassou, porque Leonel Brizola agiu rápido e organizou uma resistência no sul do país, que ele denominou de Movimento pela Legalidade. Quase houve um grande conflito armado de graves proporções no Brasil!! Brizola teve o apoio do III Exército, baseado no Rio Grande do Sul. Todo o Estado sulista foi mobilizado em defesa da causa. Usando uma cadeia de mais de cem emissoras de rádio, o governador gaúcho clamava para que a população saísse às ruas para defender a legalidade. A campanha recebeu o apoio dos governadores Mauro Borges, de Goiás, e Nei Braga, do Paraná. No Congresso Nacional, os parlamentares também se opuseram ao impedimento da posse de Jango. 

Como os militares não cediam, o Congresso fez uma proposta conciliatória: a adoção do parlamentarismo, que tiraria os poderes do Presidente!

Enfim, Jango foi empossado como Presidente, mas num regime parlamentarista fajuto. Os militares esperavam que a crise se agravasse, porque o parlamentarismo é assim: logo que é implantado sobrevêm muitas crises e caem muitos ministros, porque os políticos ainda não estão treinados e não sabem manejar o sistema.
Além desta crise permanente dentro do governo, ainda havia a ação indevida dos militares que não saiam da cena política. Jango também errou ao insistir na implantação das chamadas Reformas de Base, um conjunto de projetos estruturais nos setores educacional, fiscal, político e agrário. Eles foram anunciados em conjunto e provocaram muita oposição. Todas as oposições setoriais se uniam e os militares associavam tais propostas a um avanço do comunismo no Brasil.

Em 20 de março de 1964 (
11 dias antes do Golpe militar), o general Humberto Castelo Branco, chefe do Estado-Maior do Exército, enviou uma circular reservada aos oficiais do Exército, advertindo contra os perigos do comunismo. No dia 28 de março, irrompeu a revolta dos marinheiros e fuzileiros navais no Rio, contra seus superiores. Goulart se recusou a punir os insubmissos, o que provocou a indignação dos oficiais da Marinha. No dia 30 de março, Jango compareceu, como convidado de honra, a uma festa promovida pela Associação dos Sargentos e Suboficiais da Polícia Militar, na sede do Automóvel Clube do Brasil. Na ocasião, pronunciou um discurso em que denunciava a existência de uma poderosa campanha contra o governo, o que era verdade. A tensão crescia ainda mais!

Durante todo o seu mandato como Presidente, Jango viveu sob a ameaça militar. Os militares nunca engoliram o fracasso da tentativa de golpe causada pela resistência legalista de Leonel Brizola.

Em 31 de março de 1964, eclodiu no Brasil a sucessão de eventos que culminou, no dia 1.º de abril de 1964, com um Golpe de Estado,que encerrou o governo do presidente democraticamente eleito João Goulart. 

O Golpe Militar de 1964 tinha sido gestado durante muitos anos!

Esta história é ainda hoje omitida ou contada com deturpações ideológicas. Claro que ela é muito mais complexa do que relatei aqui.


Depois disso, tivemos uma ditadura militar que durou 21 anos! O governo impunha à nação seus Atos Institucionais, nome pomposo para encobrir o que nada mais era que Atos Revolucionários, porque instituições não se fazem deste modo! 

Então surgiram grupos guerrilheiros de esquerda que travavam escaramuças armadas com os soldados. Eram grupos formados por jovens mal preparados e sem recursos, cujo objetivo utopista era a implantação de uma ditadura do proletariado. Muitas vidas foram sacrificadas de ambos os lados destes conflitos! Obviamente, estes grupos guerrilheiros não tinham poder bélico para dar um Golpe de Estado e sustentá-lo. Para isto precisavam contar com a sublevação de parte da Força Armada nacional, mas nunca houve qualquer sinal de que isto pudesse acontecer. 

É sempre assim: uma ditadura militar gera resistência de guerrilheiros e estes servem de pretexto para o endurecimento da ditadura militar. 

Ditadura, nunca mais! Assim seja!

Os militares precisam se dedicar a suas funções legais e deixar a política para os civis. Isto é o que fazem as forças armadas dos países mais civilizados, ou seja, elas cumprem estritamente o seu papel constitucional.

Os militarismo anacrônico persiste em nosso país desde o golpe que implantou a República, em 1889. Incubado nos quartéis, volta de tempos em tempos a usurpar a cena politica.

Os militares precisam assumir publicamente que cometeram um crime em 1964, ao ocupar o poder dilacerando a Constituição Federal. Ao mesmo tempo, os civis precisam aprender que não têm o direito de optar entre um "Golpe de esquerda" e um "Golpe de direita". Ambos são igualmente criminosos!


Ainda "não caiu a ficha"! 

Vejam, aqui, abaixo, o vídeo divulgado ontem pelo Governo Federal. É pura propaganda de Golpe Militar! O vídeo, com caráter evidente de propaganda, sublima, quase diviniza, o Golpe Militar de 1964 e passa a ideia de que as Forças Armadas tem a função de interpretar a vontade popular e agir por conta própria, até destituir um governo eleito, quando assim os militares julgarem necessário! Isto é inconstitucional. Isto é atacar o Estado de Direito!

Não é para isso que a sociedade paga e abastece as Forcas Armadas! Isto é abuso! O povo brasileiro não paga as Forças Armadas para que tutelem a sociedade, nem para que julguem e punam seus cidadãos! Não é este o papel constitucional das Forças Armadas!

As Forças Armadas não têm o direito de dar Golpe Militar, não importa se "de esquerda" ou "de direita"! Este vídeo é criminoso. Precisa ser retirado do ar pela Justiça!

Veja o vídeo.


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Continue lendo o texto de ontem, 31 de março de 2019, sobre este mal crônico do Brasil, o qual exige uma terapia urgentíssima. Com os mesmos argumentos, já fomos enganados na década de 60, no século passado.



POVO ILUDIDO É POVO VENCIDO, SOFRIDO!

𝓐𝓵𝓶𝓲𝓻 𝓠𝓾𝓲𝓽𝓮𝓼


Charge de 1922
CHICO SALES (para Seabra e Maurício de Lacerda) - Vocês avançam... penetram... fazem a sua propaganda e preparam o terrenos para mim... o plano é simples e grandioso!
EVARISTO DE MORAES - Parece.... mas se eu sair corrido a toque de caixa... 
SENTINELA - Está ali um grupo suspeito... passo fogo? 
ARTUR BERNARDES - Não! Deixe-os entrar! Eles não arranjam nada! Isto aqui sempre foi e o será...uma fortaleza!... 
Artur da Silva Bernardes foi um advogado e político brasileiro, presidente de Minas Gerais de 1918 a 1922 e presidente do Brasil entre 15 de novembro de 1922 e 15 de novembro de 1926.

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  1. Militarismo anacrônico
  2. Nosso desastrado e perigoso Presidente
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  4. Ninguém segura Bolsonaro
  5. Confusão mental na educação
  6. Mais poderes para o TSE
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  8. Bobagens presidenciais
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  10. Reveladores discursos de posse
  11. O desprezível debate político nas redes sociais
  12. Expectativas com o governo de Bolsonaro

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