sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Nova Onda da CoViD-19 no Brasil

 Por Almir M. Quites

Atualização em 20/11/2020 )   


Tudo indica que a segunda onda da CoViD-19 chegou ao Brasil. A seguir explico como a detectei. As dúvidas são poucas.

Há quase 5 meses, em 30/06/2020, apresentei, em um gráfico, dois futuros possíveis para a evolução dos casos confirmados da CoViD-19 no Brasil, os quais foram previstos matematicamente. Até o dia 31/10/2020, os dados oficiais seguiram a curva projetada naquela data, mantendo-se entre a curva mais otimista e a mais pessimista. Na medida que o tempo passava, mais estreito ficava o caminho entre estas duas curvas, porque com o tempo, mais certeza se tem em relação aos coeficientes da equação matemática. Isto indicava que a nossa CoViD se propagava do mesmo modo desde o início, sem qualquer perturbação. Em outras palavras , a resistência que nós, brasileiros, opúnhamos ao contágio pelo Sars-CoV-2, em termos nacionais, tinha permanecido invariável. No entanto, como mostrarei a seguir, agora mudou. Tudo indica que houve uma "mudança de mecanismo" na evolução da CoViD-19. Mudança de mecanismo é a expressão técnica usada para dizer que ocorreu uma mudança no modo como o fenômeno em estudo está se comportando

Mostrarei a mudança que ocorreu nos dois tipos principais de gráficos usados para caracterizar a evolução de uma epidemia ao longo do tempo:
1° tipo  Gráfico do número total de casos oficialmente confirmados;
2° tipo  Gráfico do número diário de casos oficialmente confirmados.

Atenção! Trabalho com funções matemáticas, não com média móvel, mas não é preciso entender de matemática para compreender este texto. Basta ler com real interesse!


1.  EVOLUÇÃO DO NÚMERO TOTAL DE CASOS

Gráfico do 1° tipo
Evolução do número total de casos já confirmados da doença

Observe este gráfico de há 22 dias atrás (29/10/2020)! A curva mais otimista é a roxa e a mais pessimista é a azul. A diferença entre elas é de apenas 1%. Ambas as curvas estão tão próximas que, ate o finsl de outubro, estavam encobertas encobertas pelas bolinhas vermelhas. Na publicação daquele dia expliquei: "Se a curva das bolinhas se afastar para cima da linha roxa, isto significará que possivelmente se esteja iniciando uma segunda onda da CoViD-19"

Atualização de 29/10/2020
Para quem se interessar, informo as equações:
Curva roxa:
n = 5800000
/[1+1,088.(325/t-1,018)2,45]
Curva azul:
n = 5700000
/{1+1,02.[(328-t)/t]2,57}
Notas: 
a) t é o tempo em dias desde o primeiro caso confirmado da CoViD-19 no Brasil (26/02/2020).
b) n é o numero de casos confirmados da CoViD-19 no dia t. 

As conclusões que, naquele dia, este gráfico sugeria eram estas:  
"1) Estamos chegando ao fim do contágio!!! A curva da CoViD brasileira seguiu a curva típica de qualquer epidemia que cresça sem encontrar resistência ao contágio. 
2) Os dois trilhos, quase não se distinguem mais. Eles formam um "S" maiúsculo, porque as curvas sofrem uma inflexão para a direita, ou seja, para a horizontal formando um patamar (platô) no final. Quando o contágio terminar completamente, o número total de casos confirmados da doença ficará estacionado em seu valor máximo (valor acumulado), calculado entre 5.700.000 e 5.800.000 casos confirmados no Brasil.
 3) No Natal deste ano (25/12/2020), teremos cerca de 5.750.000 casos confirmados no Brasil, cerca de 167.000 mortes e 335.000 sequelados graves. O número de sequelados não tem sido oficialmente contabilizado, nem o número de mortos devido às sequelas da CoViD em recuperados! As sequelas reduzem a expectativa de vida das vítimas da doença. 
 4) Se a curva de bolinhas passar para cima da curva roxa, então significa que houve o que chamamos de "mudança de mecanismo" na evolução do contágio, o qual deverá ser diagnosticado. Pode ser um indício de início de segunda onda da CoViD! Tomara que isto não ocorra! 
 5) No Natal deste ano, se não tivermos segunda onda, o número de novos casos da CoViD-19, em todo o Brasil, já estará abaixo de 1000 por dia."

Também escrevi: "Sim, finalmente já estamos bem próximos do fim da CoViD no Brasil".

Infelizmente não é isso que se observa agora (20/11/2020)! Observe o gráfico atualizado hoje. 

Atualização de 20/11/2020

As conclusões que, hoje, este gráfico sugere são estas:  
"1) As perspectivas mudaram. Não podemos mais prever o futuro, teremos que aguardar por mais dados. A primeira onda ainda não havia se dissipado e já há fortes indícios de que estamos bem no início de uma segunda onda !!! Os pontos vermelhos descarrilharam para cima, ou seja, para além da curva roxa (a mais pessimista).   
 2) Os pontinhos que se alinhavam formando um "S" maiúsculo, com um ponto de inflexão para a direita, já não podem ser representados por uma equação sigmoidal (curva que representa um "S"). Tudo indica que começa tudo de novo, com uma nova fase de aceleração do contágio, até um novo ponto de inflexão, seguido de outra fase de desaceleração. Por enquanto, não dá para se estabelecer a forma da equação matemática da nova sigmoide. 
 3) O número total de casos confirmados que teremos no Brasil, como o número  de mortes e de sequelados graves já não podem ser calculados! O certo é que serão muito maiores fo que havíamos previsto. As sequelas reduzem a expectativa de vida das vítimas da doença. 


2. EVOLUÇÃO DO NÚMERO DIÁRIO DE NOVOS CASOS 

Gráfico do 2° tipo
Evolução do número diário de casos confirmados da doença


Veja agora o gráfico (do 2° tipo) que tínhamos na data de 29/10/2020

Gráfico de 29/10/2020

As triângulos vermelhos representam os números diários de novos casos, desde o primeiro caso até ontem, dia 28/10/2020.

As linhas contínuas azul e roxa (que praticamente se sobrepõem numa só curva) contrastam com a linha preta, cheia de solavancos aleatórios, resultantes da média móvel de 7 dias, As equações das curvas  azul roxa, derivadas das equações já apresentadasrepresentam a evolução da doença sem estas flutuações fortuitas (os "solavancos").

As linhas contínuas azul e roxa apresentam a forma típica esperada para uma epidemia, com uma fase de crescimento, que passa por um pico e depois decai. A pandemia evoluía quase sem encontrar resistência. As regras de isolamento e imobilização social não foram feitas com o rigor necessário e a flexibilização das regras foram atabalhoadas, no momento errado (o contágio ainda tinha velocidade crescente), sem critérios uniformes e claros. Ademais, não se fez testes em número suficiente para que se pudesse localizar as regiões de maior surto e cercar o vírus!

Agora vamos ver como o indício de uma segunda onda da CoVid aparece no gráfico de segundo tipo, repetindo aqui o aconteceu nos EUA e em outros países. 

Atualizado em 20/11/2020


Examinando o gráfico, observa-se que uma segunda onda já se insinua. A partir do dia 08/11, nenhum triangulozinho vermelho é encontrado abaixo das curvas roxa e azul. Nos próximos dias, teremos que observar se isto se acentua ou não. Provavelmente vai se acentuar.  

Em relação a outros países do mundo, quanto ao total de mortes por milhão de habitantes e por dia, o Brasil está hoje (20/11/2020) em quinto lugar neste 'ranking' malévolo. O primeiro colocado é o Peru, o segundo é a Espanha, o terceiro é o Reino Unido e o quarto é a Itália. Isto varia com o tempo, porque os países estão em estágios diferentes da pandemia. Não esqueça que, ao comparar países apenas considerando o número de mortes diárias por milhão, não se está considerando questões importantes como o estágio da pandemia, a densidade demográfica, o perfil etário e o nível de testagem.

Este mapa vai ser automaticamente atualizado todos os dias. Ele sempre estará atualizado.

 

Com a chegada da segunda onda da CoViD-19 teremos que redobrar os cuidados. Ela pode ser bem mais danosa. 

A seguir, apresento algumas informações que ajudam no julgamento dos riscos que se corre com e sem o uso da máscara. 

Use a máscara!
Uma técnica conhecida como Schlieren (listras) permite que se visualize o fluxo de ar pela concentração de gotículas invisíveis que ficam em suspensão no ar enquanto a pessoa fala, respira e tosse, com máscara e sem máscara. Na imagem da esquerda, sem a máscara, a nuvem de concentração de gotículas vai mais longe, enquanto que, na imagem da direita, com a máscara, a nuvem de gotículas fica mais próxima do indivíduo que as emite.

Quando a pessoa está infectada pelo vírus da CoViD (Sars-Cov-2), as micro gotículas podem conter milhares ou milhões de vírus. O número depende do tamanho da gotícula.

Num ambiente fechado e sem ventilação adequada, a eficácia da máscara cai muito, porque a concentração das gotículas minúsculas, em suspensão no ambiente confinado, será bem maior. 



Não é surpresa para ninguém que restaurantes são ambientes propícios ao contágio da CoViD-19, uma vez que se precisa estar sem máscara para se alimentar. E para provar isso, cientistas da Universidade de Kobe, no Japão, usaram um modelo estabelecido a partir de dados experimentais para demonstrar como a simples distribuição das mesas e cadeiras nesses estabelecimentos pode fazer diferença na propagação do novo coronavírus (SARS-CoV-2).

A simulação mostra a emissão das partículas de aerossol em uma mesa com quatro pessoas, todas conversando e sem usar máscaras.

Na imagem abaixo, vemos o que acontece quando uma pessoa sentada fala em sua frente. As imagens mostram que cerca de 5% das gotículas vão para essa pessoa que está na frente.
<em>Reprodução: Kobe University</em>
Reprodução: Kobe University

A pessoa que está sentada na diagonal de quem está falando, tossindo ou espirrando, será atingida com um quarto da quantidade das gotículas.


<em>Reprodução: Kobe University</em>

Reprodução: Kobe University
No entanto, quando a pessoa que está falando olha para o lado, a pessoa que está ali será atingida com mais de 25% das gotículas.

<em>Reprodução: Kobe University</em>
Reprodução: Kobe University
O resultado do experimento mostrou que a distribuição das mesas e cadeiras faz toda a diferença na propagação das partículas. 

Quando uma pessoa contaminada está sentada à mesa, as chances de o indivíduo que está em sua frente ser atingido por gotículas contaminadas é quatro vezes maior do que se o infectado estivesse em sua diagonal. Já a pessoa que está ao lado do contaminado é a que mais está em risco. 

Quando a pessoa com COVID-19 vira a cabeça para conversar com quem está ao lado, este está cinco vezes mais vulnerável à exposição, já que as partículas vão diretamente a ele.


Outras dicas, para pessoas que usam máscara antiviral!

Risco baixo
1) Abrir correspondência
2) Comprar comida para levar, abastecer carro, jogar tênis, acampar.

Risco baixo moderado
3) Ir ao supermercado; caminhar, correr ou andar de bicicleta com junto outras pessoas.

Risco moderado

4) Ficar hospedado em hotel por duas noites; esperar na recepção do consultório médico; ir à biblioteca ou ao museu; comer em restaurante (área externa); caminhar pelo centro da cidade; passar uma hora em parque infantil.
5) Jantar na casa de outra pessoa; ir a churrasco; ir à praia ou ao shopping; 

Risco moderado
6) Jantar na casa de outra pessoa; ir a churrasco; ir à praia ou ao shopping; 
7) mandar as crianças à escola, ao acampamento ou à creche; trabalhar por uma semana em escritório; nadar em piscina pública; visitar idosos em casa

Risco moderado alto
8) Ir ao salão de beleza ou barbearia; comer em restaurante (área interna); ir a casamento ou funeral; viajar de avião; jogar basquete; abraçar ou apertar a mão de alguém.

Risco alto
9) Comer em bufê; ir à academia de ginástica, ir a parque de diversões ou a cinema;
10) Ir a show grande ou evento esportivo em estádio; ir a culto religioso; Ir ao bar

O risco pode variar conforme o comportamento geral de segurança da população.


Fonte: BBC News Brasil



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