quarta-feira, 22 de julho de 2020

Naufrágio do governo Bolsonaro

Por Almir M. Quites

Naufrágio do governo


O governo de Jair Bolsonaro naufragou. É irrecuperável. Naufragou por absoluta incompetência. 

Já de saída, o Presidente Bolsonaro, que prometia combater a corrupção, passou a combater a Operação Lava-Jato. Durante a campanha eleitoral ele havia incorporado o prestígio da Lava-Jato e do próprio juiz Sérgio Moro como avalistas de sua candidatura.

Também de saída, o Governo acabou formalmente com o Ministério do Trabalho, Emprego e Previdência, um dos mais importantes e antigos (de 1930). Hoje, este fato parece estar esquecido! 

Acho que estes podem ter sido os dois erros mais graves do governo. 

Desde então, o desemprego e a informalidade vêm crescendo assustadoramente, por diversas razões, mas principalmente porque o governo não tem política alguma para o setor, nem estrutura para formulá-las. A debilidade da fiscalização e o maior desequilíbrio na relação de trabalho, agravados por uma situação de grave crise econômica, sanitária e ambiental, deixaram grande parte da população desamparada.

Depois, com o tempo, o estrago foi aumentando, a começar pelo desmonte dos recém criados “superministérios”, com uma enorme quantidade de pessoal. Refiro-me a estes: Superministério do Desenvolvimento Regional, Superministério da Justiça, Superministério da Economia e Superministério da Cidadania. Pela incompetência também deterioraram o Ministério das Relações Exteriores, da Educação, da Saúde, do Meio Ambiente, da Cultura (o Ministério da Cultura foi transformado em uma secretaria da pasta do Turismo) etc. 

O Brasil virou um país arrasado e também um pária internacional. 

Bolsonaro acredita estar administrando o país, mas pensa e age como criança que brinca de "mocinho & bandido". Claro, ele é o "mocinho" e quem não concordar com ele é o "bandido"! 

Tão logo assumiu o governo, Bolsonaro passou infantilmente a se ocupar só de sua reeleição de 2022. Tem soluções pueris para tudo,  promete panaceias e entrega drogas altamente nocivas, que vão da hidroxicloroquina à Damares Alves (Direitos Humanos), Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Ricardo Salles (Meio Ambiente), Eduardo Pazuello (Saúde), Paulo Guedes (Economia) etc. E ainda diz que não o deixam governar!

O Presidente abarrotou seu governo de militares. Só no Ministério da Saúde são 28 nos cargos de cúpula. Estes militares, apresentados como especialistas em logística, substituíram especialistas da área da saúde! Segundo o ex-Ministro da Saúde, Henrique Mandetta, os militares que estão no Ministério da Saúde são especialistas em "balística" em vez de "logística".

O Presidente se cercou de militaristas, em outras palavras, cercou-se de supremacistas militares (ideologia que defende a superioridade dos militares e o domínio sobre todos os outros grupos sociais), gente que acredita que para todos os problemas há uma solução militar simples. Muitos destes militares têm participado ostensivamente de manifestações políticas (escrita, verbal ou em manifestações de rua), fazendo apologia a golpe militar e com atos de desrespeito às autoridades constituídas, desde os Ministros do Supremo Tribunal Federal e de Parlamentares até Governadores e Prefeitos. É flagrante o desrespeito ao Regulamento Disciplinar do Exército - R4 (Decreto 4.346/2002). 

Não sei como os brasileiros e as instituições nacionais toleram que o Presidente e seus ministros sejam militaristas. Quando eles falam, só dizem bobagens! Quando vamos ter governantes de alto nível, como aconteceu na última década do século passado? 

Reli um artigo publicado em 11 de março de 2019. Recomendo: leia você também! O endereço está logo abaixo. Relembre o que aconteceu naquele dia em que Jair Bolsonaro disse bobagens e o general Ministro-Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência tentou explicar a frase presidencial. 

Bolsonaro foi eleito e teve fortíssimo apoio dos militares. Pergunto: o que faz a grande maioria dos brasileiros crer em fenômenos e movimentos exóticos, extravagantes e demagógicos, carregados de promessas e de panacéias (solução para todos os males, não apenas doenças), mas especialmente soluções militares imediatistas e simplistas? Como pode haver tantas pessoas que preferem as ilusões do que os fatos? 

Estas perguntas são ainda mais graves e pertinentes se dirigidas aos militares brasileiros. O que fez os generais apoiarem um ex-capitão que sempre foi um trapalhão, que mal sabe escrever, que foi afastado do Exército por mau comportamento, que sempre esteve envolvido com milícias e sempre foi um político medíocre? Aliás, sempre reeleito com os votos dos militares! 

Este capitão Bolsonaro não é capaz de escrever Duque de Caxias", disse o ministro José Luiz Clerot, juiz do Supremo Tribunal Militar (STM), em 1988. 

O artigo que indiquei acima mostra que as Forças Armadas brasileiras ainda não entenderam que fazem parte do Estado. Também não entenderam que são tão importantes quanto todos os outros profissionais do país. Sim, os militares possuem armas, mas elas, como também o monopólio de seu uso e tudo o mais que eles possuem, inclusive a organização, são ferramentas que pertencem ao Estado, não aos comandantes militares. 

O uso do poder militar contra as instituições nacionais automaticamente transforma as Forças Armadas em organizações criminosas. 

O fato é que a imagem pública do militares brasileiros já está muito prejudicada, talvez quase no mais baixo nível da História, como aconteceu no final da ditadura militar, no início da década de 1980. As academias militares, todas elas abastecidas com recursos públicos, que pagam soldo a seus alunos e também custeiam todas as despesas deles, de moradia à alimentação (o que se constitui num privilégio em relação às instituições de ensino civis), precisam rever seus conceitos e seus métodos, para formar militares de mais alto nível e plenamente conscientes de suas responsabilidades cívicas. 

Civismo significa assumir inabalável compromisso com os deveres fundamentais da vida em comum, preservando a harmonia e trabalhando pelo bem-estar de todos. Civismo é inseparável de moral e do respeito às Leis, a partir dos ditames da Constituição Nacional. Este conjunto de normas é fruto de consensos que envolvem todos os cidadãos. 

Todo o sistema educacional brasileiro está em causa, porque falhou na missão de educar, desenvolvendo a noção de civismo na população. Onde há civismo não há espaço para idéias de supremacia, seja profissional, racial, econômica etc., sobre os demais cidadãos. Educar não é doutrinar! 

Repito: educar não é doutrinar! Doutrinação é incutir idéias. Difere de educar porque impede que a pessoa doutrinada seja capaz de analisar e de questionar criticamente, livre e logicamente, o que está sendo ensinado. 

A doutrinação envolve técnicas de cerceamento e de propaganda. Textos curtíssimos, bordões ("slogans"), lemas, emblemas, palavras de ordem, gritos de guerra, apelos emocionais e patrulhamento de opiniões divergentes são típicos de processos de doutrinação. 

Vivemos num país em que o povo é muito pobre! Para sair desta situação, é preciso melhorar muito o sistema educacional. Esta é uma tarefa de todos e de longo prazo. É preciso recolocar os valores universais na ordem do dia. 

Que assim seja!

Continue aqui: 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Busca pelo mês

Almir Quites

Wikipedia

Resultados da pesquisa