quarta-feira, 1 de julho de 2020

Novos gráficos bem explicadinhos sobre a evolução da CoViD-19

Por Almir M. Quites 


Atualizo dados e previsões sobre a evolução da CoViD-19 no Brasil. Os novos dados mostraram que, dos três caminhos possíveis que indiquei no meu artigo anterior, a CoViD seguiu pelo pior deles para nós. Então, hoje, atualizo os gráficos e refaço as previsões, o que faço todas as semanas.

Tendo em mãos os dados referentes ao número de casos oficialmente confirmados desde o primeiro dia (em 26/02/2020) até hoje, é possível prever o futuro usando a matemática. A seguir mostro os resultados mais recentes, com os dados até ontem.  

Quem conhece o trilho sabe onde ele vai chegar e por onde vai passar.  Por qual trilho nossa Covid trafega?

A seguir, refiro-me à matemática, mas não é preciso entender de matemática para compreender as informações contidas neste texto. Basta ler com real interesse

Há muitas equações matemáticas que se ajustam muito bem aos dados já conhecidos da CoViD (desde 26/2 até hoje, 30/06). Cada uma delas, como se fosse um trilho, representa um possível caminho do passado ao futuro. Identificando o trilho, saberemos o futuro. Em qual dos trilhos a CoVid brasileira está? A matemática mostra estes trilhos.

Conforme os dias passam, novos dados vão chegando e vários trilhos, que eram possíveis, vão ficando para trás, descartados. Ao mesmo tempo, o futuro vai se delineando mais nitidamente. No nosso caso, delineou-se pior!

A evolução de uma epidemia é representada  dois tipos principais de gráficos

O primeiro tipo, mostra como o número acumulado de casos  da doença (número de contágios) aumenta com o tempo. Neste a curva sobe indicando o aumento do número acumulado de casos com o tempo. Esta curva sempre sobe e nunca decrecresce. É por isto que ela termina num patamar  (um platô) do qual não passa. Esta curva tem uma forma que lembra um "S" maiúsculo que termina em seu posto mais alto (no patamar). No meio do "S" tem um ponto de inflexão, que explico mais adiante.

O segundo tipo, que é derivado do primeiro, mostra como o número de casos novos diários (por dia) varia com o tempo. Este gráfico tem uma fase ascendente e outra decrescente. Logo, tem um pico entre estas duas fases e não tem patamar. Os comentaristas de TV fazem muita confusão entre estas duas curvas, porque a fase ascendente desta última curva têm a mesma aparência que a do primeiro tipo de gráfico, mas os dados (os números) são diferentes.

Da mesma forma, também existem dois tipos diferentes de gráficos referentes ao número de óbitos: o principal (referente ao total acumulado) e o derivado (referente ao número diário).  

Tenho observado que muito leitores e até jornalistas confundem estes tipos de gráficos. Acresce a isto o fato de que cada um destes tipos pode ser apresentado em escala logarítmica. 

Feitas estas observações, passo à análise do que está acontecendo.

Como já expliquei na minha publicação anterior, o dado mais importante a ser analisado é o número de casos oficialmente confirmados, porque é a partir deste número que se pode prever o futuro da série de novos casos diários (curva derivada) e, assim, prever o impacto da doença sobre o Sistema Nacional de Saúde. Isto é importante porque, se o sistema colapsar por excesso de demanda, os superlotados hospitais não poderão atender os doentes da CoViD nem de nenhuma outra doença, nem as vítimas de qualquer acidente.  

O Brasil ainda não passou pelo ponto de inflexão da curva epidemiológica. Ponto de inflexão é aquele ponto no qual a curva, que dobrava à esquerda, passa a ser uma curva que dobra à direita. No caso da CoViD, é aquele ponto no qual o número diário de casos confirmados passa pelo máximo e depois começa lentamente a declinar. O ponto de inflexão da curva, corresponde ao máximo da sua curva derivada (ou seja, a curva de novos casos diários).

É muito importante tentar prever com antecedência o dia em que o ponto de inflexão será alcançado, porque este é o dia mais crítico. Depois disso, lentamente a curva epidemiológica avança em direção ao patamar superior, que é onde o contágio termina e, se não houver segunda onda, a CoViD-19 se extingue.

Agora, observe o gráfico atualizado que segue. 


Na régua horizontal (eixo das abcissas) temos o tempo, contado em dias a partir do primeiro caso confirmado, dia 26 de fevereiro de 2020. Na régua vertical (eixo das ordenadas) temos o número de casos da doença oficialmente confirmados. Assim, a cada dia da régua horizontal, temos um ponto no gráfico (uma bolinha dourada) que representa o número total de casos confirmados até aquele dia. O conjunto de bolinhas douradas se alinham formando uma curva que dobra à direita (indo para cima) e depois torna a dobrar para a esquerda (voltando a ser horizontal). Esta curva é chamada de sigmoide porque tem a forma de "S" maiúsculo (a letra "Sé chamada de sigma, em grego).
 
Para cada dia, neste gráfico, até ontem, temos os números totais dos casos já confirmados, indicados pela posição das bolinhas douradas (altura indicada na régua vertical). A última bolinha dourada foi a de ontem. Ela está indicada com a data (30/06/2020)

Das bolinhas douradas para cima, temos dois caminhos possíveis, sem bolínhas, conforme a matemáticas nos mostra. Estes dois caminhos são previstos  pela função logística (também conhecida como função sigmoide). As duas curvas, a roxa e a vermelha, passam bem por baixo das bolinhas douradas. Ajustam-se perfeitamente aos pontos do passado, até ontem. Portanto, as curvas em linha vermelha e em linha roxa representam dois futuros possíveis, previstos pela matemática. A curva em vermelho é uma previsão mais otimista e a curva em cor roxa é uma previsão mais pessimista

Por qual delas vamos seguir? Isto dependerá do comportamento do povo ante a pandemia. Quanto maior for a imobilização e o isolamento social, mais chance teremos de ter menos doentes da CoViD, menos mortes, menos sequelados, menos tempo de restrições sociais e econômicas e menos risco de termos uma segunda onda da CoViD em dezembro ou no ano que vem!  

Na figura acima, há duas setas azuis. A primeira indica a data no dia n° 200 e a outra a data do dia em que chegaremos ao fim da onda de contágio. É quando a epidemia terminará (dia 22/11). Isto se conseguirmos criar juízo para, desde agora, evitar uma segunda onda, como os EUA estão tendo. Logo, a nossa primeira onda terminará no final de novembro

De qualquer forma, devemos estar cientes de que estas são as previsões que se pode fazer a partir dos dados oficiais disponíveis da CoViD-19. É preciso não esquecermos que estes dados são bem menores que os reais, devido a subnotificação. A própria OMS, analisando os dados dos Brasil, já constatou que a subnotificação brasileira é muito alta! Logo, devemos interpretar estes dados como sendo de escala relativa.

Observe que ainda não chegamos ao ponto de inflexão da curva. Da CoViD. Estes ainda estão no futuro, tanto na curva vermelha como na roxa. Eles estão indicados na figura por duas setas nas cores respectivas e pela data calculada para a sua ocorrência. Remembro, este ponto corresponde ao dia mais crítico para o Sistema de Saúde. É o dia em que o número de novos casos será maior. Depois de passarmos por ele, o número diário de novos casos da doença deve começar a cair muito lentamente, o que não será perceptível antes de uns 20 dias. 

O máximo da curva vermelha (o patamar superior) está em 5.000.000 casos confirmados. Para quem gosta de matemática, informo que a equação da curva verde é: 
y = 5.000.000/{1+exp[-0,0386408.(t-150,6)]}, 
onde y é o número de casos confirmados e t é o tempo em dias desde o primeiro caso. 

Na curva pessimista (a curva roxa), o máximo (o patamar superior) fica em 6.000.000 casos confirmados. A equação da curva roxa é 
y = 6.000.000/{1+exp[-0,0395278.(t-157)]}

Relembro que todos estes números são relativos por causa da subnotificação. Os números reais devem ser de 7 a 14 vezes maior (esta é a estimativa de pesquisadores feita a partir de estatísticas relativas a testes de amostras da população). 

Claro que a curva vermelha seria a melhor! Tomara que os dados a sigam! 

A cada dia coletarei os novos dados e os colocarei no meu gráfico. Daqui a uma semana já saberemos que curvas descartar, a verde ou as outras duas.  

Depois do dia do ponto de inflexão  ser ultrapassado, o número de novos casos diários de CoViD começará a se reduzir lentamente.  

Isto pode ser visualizado melhor na curva derivada, que mostra a o crescimento até aqui, do número diário de novos casos em função do tempo, em dias.  Veja o gráfico: 


Os pontos em forma de lozangos vermelhos representam os dados conhecidos refentes a novos casos por dia, até ontem. Daí para frente, a curva calculada, de cor adourada,  mostra que passaremos pelo pico (aquele que queríamos achatar, mas não conseguimos) e depois os novos casos de cada dia começarão a decrescer. A primeira onda da pandemia só se extiguirá em novembro. Que seja a única!

No fim da epidemia sentiremos um alívio, mas não pode haver relaxamento. Uma segunda onda pode se formar, porque os focos de contaminação não foram identificados e estarão por aí. Isto acontecerá no final de novembro. Se chegarmos lá pelo caminho da curva vermelha (o caminho melhor), teremos cerca de 5.000.000 casos oficialmente confirmados da CoViD-19 e cerca de 500.000 óbitos. Se chegarmos lá pelo caminho da curva roxa, teremos um total de 6.600.000 casos e cerca de 600.000 óbitos.

A verdade é que, no Brasil, a pandemia evoluiu sem encontrar resistência. As regras de isolamento e imobilização social não foram feitas com o rigor necessário. Ademais, não se fez testes em número suficiente para que se pudesse localizar as regiões de maior surto e cercar o vírus!

Daqui mais alguns dias, atualizarei todos estes dados e os gráficos.

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