sábado, 30 de maio de 2020

O Professor Malba Tahan explica a CoViD-19

Por Almir M. Quites


O Professor Malba Taham explica a CoVid-19

Tendo percebido a dificuldade que as pessoas têm com os números da CoViD-19, lembrei me uma estória que meu pai me contou na época de ouro da minha infância. É sobre um tipo de conta da qual é difícil dar-se conta. 

Foi um conto de um professor e escritor brasileiro, conhecido como Malba Tahan.  Seu nome verdadeiro era Julio Cesar de Mello e Sousa. Ele estudou a cultura e a língua árabe durante 7 anos (1918-1925), para tornar os seus contos árabes convincentes em termos de estilo, linguagem e ambientação. Ele mesmo, com seu pseudônimo, passaria a ser um lendário escritor árabe. O primeiro livro que ele escreveu, como Malba Tahan, logo na primeira página, tinha a ilustração de um árabe de turbante e longas barbas brancas, que escrevia. Julio Cesar de Mello e Souza  nasceu no Rio, em 1895, e faleceu em Recife, em 1974.

Seus leitores acreditavam que Malba Tahan fosse aquele árabe de longas barbas brancas e turbante. 

Meu pai conhecia vários de seus contos. 

Aqui, agora, conto o conto que meu pai me contou. 

"Em um reino muito distante havia um rei que estava muito triste. Sua vida era monótona. 

Um dia, afinal, o rei foi informado de que um moço brâmane solicitava uma audiência que vinha pleiteando havia já algum tempo. Como estivesse, no momento, com boa disposição de ânimo, mandou o rei que trouxessem o desconhecido à sua presença. E o jovem começou a falar:
– Meu nome é Lahur Sessa e venho da aldeia de Namir, que trinta dias de marcha separam desta bela cidade. Ao recanto em que eu vivia chegou a notícia de que o nosso bondoso rei arrastava os dias em meio de profunda tristeza, amargurado pela ausência de um filho que a guerra viera roubar-lhe. Grande mal será para o país, se o nosso dedicado soberano se enclausurar, como um brâmane cego dentro de sua própria dor. Deliberei, pois, inventar um jogo que lhe desse alegria novamente. E é isto que me traz aqui. 

Como todos os soberanos, este também era muito curioso, e não aguentou para saber o que o jovem sábio lhe trouxera. O que Sessa trazia ao rei consistia num grande tabuleiro quadrado, dividido em 64 quadradinhos, ou casas, iguais. Sobre esse tabuleiro de 8 x 8 casas, colocavam-se, não arbitrariamente, duas coleções de peças que se distinguiam, uma da outra, pelas cores branca e preta, repetindo porém, simetricamente, os engenhosos formatos e subordinados a curiosas regras que lhes permitiam movimentar-se por vários modos. Sessa explicou pacientemente ao rei, aos monarcas vizires e cortesãos que rodeavam, em que consistia o jogo, ensinando-lhes as regras essenciais. (...) 

Depois, o Rei, dirigindo-se ao jovem brâmane, disse-lhe:
– Quero recompensar-te, meu amigo, por este maravilhoso presente, que tanto me serviu para o alívio de velhas angústias. Diz-me o que queres, qualquer das maiores riquezas, que te será dado,

– Rei poderoso, não desejo nada. Apenas a gratidão de ter-te feito algum bem me basta.

– Causa-me assombro tanto desdém e desamor aos bens materiais. Por favor, diga-me o que pode ser-te dado. Ficarei magoado se não aceitar.

– Então, o invés de ouro, prata, palácios, desejo em grãos de milho. Dar-me-eis um grão de milho pela primeira casa, dois pela segunda, quatro pela terceira, oito pela quarta, dezesseis pela quinta, e assim sucessivamente, até a sexagésima quarta e última casa do tabuleiro.

Todo mundo ficou espantado com o pedido. Tão pouco!

– Insensato, chamou-lhe o rei, donde já se viu tanto desamor pelos bens materiais?

Chamou então, o rei, os algebristas mais hábeis da corte, e ordenou-lhes que calculassem o valor.

Paro o conto por aqui.  

Informo que foi difícil calcular e que o Rei não conseguiu pagar ao jovem Lathur Sessa, que abriu mão de seu pedido, mas ganhou do Rei um manto de honra e ainda 100 sequins de ouro. 

Fiz os cálculos considerando que, em média, cada grão de milho tinha 130 mm3. O resultado foi que, para pagar o jovem Lathur, o Rei precisaria de uma superfície plana do tamanho do Brasil cheia de milho até a altura de uma pessoa de 1,76m! Isto se os grãos se encaixarem tão perfeitamente que não haja espaços vazios entre eles. Se houver, a altura do mar de milho seria maior!

Agora imagine que, a cada semana, uma nova pessoa infectada contamine duas outras com a CoViD-19 durante 10 semanas. A primeira pessoa provocaria uma série de contágios. Na décima semana já teríamos, só nesta série, 1023 contaminados. Na vigésima semana (140 dias), já seriam 1.048.575 contaminados! Logo, em 20 semanas, uma pessoa desencadeia a infecção de de mais de 1 milhão de outras pessoas!

Malba Tahan sabia calcular! Com este conto, ele nos explica também por quê o isolamento e a imobilidade social impediriam a CoViD-19 de se alastrar. Bastariam 15 dias de quarentena rígida. O vírus não sobrevive mais que isto e ele só se reproduz dentro do corpo humano. Se o contágio fosse interrompido por quinze dias o CoViD-19 se extinguiria. Só que a quarentena deveria ser mesmo muito rigorosa e não de faz de conta!

Poderíamos estocar alimentos para 15 dias! Isto poderia ter sido feito em substituição ao Carnaval. Mais tarde, se necessário, repetiríamos a dose. 

Quando a pandemia chegou ao Brasil, já sabíamos disto! Assim, não teríamos passado pela tragédia que estamos passando.

Teríamos salvo muitas vidas e poupado muito sofrimento, mas não tivemos responsabilidade para isso e continuamos alienados, sem nos dar conta tanto das nossas perdas como do nosso vexame

Vejam os números aqui: 
➡️ UMA COMPARAÇÃO COM OS EUA
https://almirquites.blogspot.com/2020/05/covid-19-uma-comparacao-ente-o-brasil-e.html

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