quarta-feira, 15 de abril de 2020

Caráter da CoVid-19 e do Presidente

Por Almir M. Quites

Tradução: "Tudo é apenas histeria e conspiracão"
Abaixo: Aplausos para Bolsoraro.
Charge do jornal alemão jornal "Stuttgarter Zeitung"
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 Este artigo tem três partes: 
  1. a primeira apresenta uma explicação bem simples sobre como ocorre a evolução da infecção pela CoVid-19 e sobre a necessidade de mantermos o distanciamento social
  2. a segunda parte mostra os dados já conhecidos da evolução da doença no Brasil e as previsões que, hoje, se pode fazer para o futuro; 
  3. a terceira parte avalia o dano que o Presidente Bolsonaro causou aos cidadãos brasileiros por não entender o que está acontecendo no Brasil e no mundo e por priorizar apenas a sua campanha política pela reeleição. 

1. Como evolui a CoVid-19 no Brasil e como nosso comportamento a influencia.


Neste período de grave pandemia, muitos brasileiros estão seguindo à risca o preceito do distanciamento social. Eles entendem que este sacrifício é fundamental para evitar o contágio da CoVid-19 e, como consequência, refrear o crescimento do número de pessoas que precisarão de hospitalização, seja qual for o motivo. Esta estratégia já se mostrou eficaz em outras pandemias, principalmente na chamada Gripe Espanhola de 1918, logo a mais de um século!

Porém, há os que não entendem isso! Estes precisam de ajuda! Muitos deles vivem em estado de alienação por razões sócio econômicas; outros, tiveram um desenvolvimento intelectual insuficiente ou foram acometidos de alguma doença mental, entre elas o fanatismo, o qual impede o raciocínio lógico e livre para proteger convicções arraigadas.

Pessoas inteligentes e mentalmente sadias entendem que a prática do distanciamento social dificulta o contágio viral e, assim, trava o crescimento do número de contaminados. Isto se reflete na curva de contágio ao longo do tempo, a qual se achata. Com menos gente infectada por dia, o sistema de saúde (público e privado) e os seus profissionais ficam menos sobrecarregados e podem dar atender aos doentes. 

Numa epidemia, há uma fase em que o número de infectados aumenta, seguida de outra, na qual este número diminui. Se a fase de crescimento for muito íngreme, o pico será muito alto e o sistema de saúde colapsa. Doenças virais já destruiram civilizações inteiras, há vários séculos. A varíola, por exemplo, destruiu a civilização Inca (século XVI), a mais evoluída do mundo da época!

O que espanta é haver, no Brasil de hoje, muita gente que, além da falta de compreensão, ainda apresenta um comportamento indecoroso: desdenham da pandemia, alardeiam que não se importam com a morte de entes queridos, seus ou alheios, mentem, espalham credulices e idolatram meliantes com sinistro orgulho. Em épocas de epidemias, estes são ainda mais nocivos, fazem questão de desfazer o trabalho daqueles que se sacrificam para conter o contágio. Assim, confundem a população e a curva exponencial do número de casos confirmados vai subindo inexoravelmente, lotando os hospitais, levando todo o sistema de saúde ao colapso! 

Agora, veja a figura e interprete.

Pandemia e povo esperto
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A matemática descreve o crescimento de cada onda de contágio de uma epidemia por meio de uma equação exponencial que descreve o crescimento do número total de casos da doença ( valor acumulado), como mostra a figura:


Na parte de baixo do S, a concavidade fica à esquerda. Na parte de cima, a concavidade fica à direita (notaisto não tem nada a ver com direita x esquerda, da política!). 

Temos um eixo vertical que é graduado, como uma régua. Cada ponto da curva está numa altura que pode ser lida na régua vertical. A indicação corresponde ao total de pessoas infectadas naquele momento, indicado na régua do eixo horizontal. Logo, no eixo das ordenadas (eixo vertical) tem-se o número de pessoas infectadas no dia que se lê no eixo horizontal (eixo das absissas, no caso, eixo do tempo). 

ponto de inflexão da curva em sigmoide (em forma de S) é o ponto médio da curva, onde a velocidade de crescimento das infecções é o mais alto. Acima dele, esta velocidade decresce. 

aclividade da curva é a inclinação da curva no ponto de inflexão. Matematicamente cada curva tem uma  aclividade constante. Na prática, a aclividade varia com o tempo, conforme o comportamento da população. Assim, os dados reais divulgados pelo Ministério da Saúde oscilam. Ora a curva parece ser mais íngreme, ora menos. No caso da CoVid-19, há uma defasagem de aproximadamente 15 dias entre a mudança de comportamento e seu efeito sobre a curva (tempo entre a infecção e o aparecimento de sintomas característicos da doença - a CoVid-19).

 A matemática também descreve a variacão do numero diário de novos casos. Neste caso, a curva típica tem a forma de uma onda, com uma fase de crescimento e outra de decrescimento. Ambas as fases são curvas exponenciais em forma de sigmoide (em forma da "S"). 

Pronto! quem entendeu isso, até aqui, entenderá o restante. 

2. O caso brasileiro em dados e as previsões para o futuro.


Atualmente, no Brasil, parece que a curva em "S" da CoVid-19 recém ultrapassou o ponto de inflexão. Aqui está a curva atualizada nesta data (14 de abril). Parece que estamos entrando na etapa em que a velocidade da infecção começa a diminuir. Isto só será confirmado quando tivermos mais dados. Os dados atuais e uma possível evolução dos mesmos são mostrados nesta figura:

Evolução real da CoVid-19 (dados oficiais), na área branca, 
e a função matemática (previsão para o futuro), na área azul.
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Observem a parte do gráfico em que o fundo é branco. Os pontinhos azuis (unidos por retas) indicam o número total de pessoas que já foram comprovadamente infectadas e tiveram os sintomas. O número é lido na régua vertical, à esquerda. A data que corresponde a cada pontinho está indicada na régua horizontal, chamada de eixo do tempo

Seria bom que já estivéssemos na parte de cima da sigmoide, (acima do ponto de inflexão). No entanto, repito, como os dados reais oscilam muito, precisamos esperar alguns dias para confirmar isto.

Como conhecemos a equação matemática da curva sigmoide padrão, podemos fazer previsões (previsões possíveis, não professias) e calcular diáriamente o número de novos infectados. Assim foi calculada a curva da parte azul-clara do gráfico. Reitero que estas extrapolações devem ser refeitas à medida que chegam novos dados.

O comportamento da população altera a aclividade da curva (ingremidade da subida). Um povo inteligente e cooperativo se defende melhor do contágio. Assim consegue reduzir a aclividade da curva. Ainda não sabemos se o "distanciamento social" será mais ou respeitado no Brasil. Ainda não se sabe se o governo brasileiro está disposto a tomar medidas mais duras para garantir um maior e/ou mais longo isolamento social  

No momento, podemos tirar as seguintes conclusões: 
  • A velocidade da infecção é muito alta, embora os últimos quatro dados de velocidade de crescimento tenham sido decrescentes. Este comportamento da curva pode mudar. Nos próximos dias, ela pode assustar os brasileiros. 
  •  Comparando os dados reais com a extrapolação matemática (curva logística padrão), verifica-se que é possível que já tenhamos ultrapassado o ponto de inflexão da curva em forma de sigmoide. Este ponto é aquele em que a taxa de crescimento da contaminação é máxima. Quando tivermos mais dados, esta constatação  será confirmada ou revista.
  • A velocidade de crescimento do número de infectados deve diminuir, mas enquanto isto não estiver definido, as previsões referentes ao pico da curva estarão sujeitas a erros maiores.
  • A simulação atual indica que o número de infectados continuará a aumentar, até chegarmos no pico da curva, em torno de 33.000 infectados, nesta simulação. Só vai parar de aumentar em meados do mês de maio, mas muito lentamente. 
  • Continuaremos com um número alto de infectados durante o mês de junho. 
O sistema de saúde já está quase em colapso em diversas capitais. O número de leitos hospitalares que o Brasil possui, o qual atende com dificuldade a população em tempos normais, não consegue atender a demanda que foi acrescida pela CoVid-19. 

Que acontecerá depois do pico ser atingido? Não se sabe nada, nem dá para fazer previsões, ainda que precárias. É que a doença CoVid-19 é uma doença nova. Ainda não se sabe se todos os contaminados, depois de recuperados, vão adquirir imunidade. Os que não tiveram sintomas ou tiveram apenas sintomas leves também terão imunidade? Também não se sabe ainda se, destes, alguns grupos continuarão infectando outras pessoas. Os idosos e outros grupos de alto risco poderão sair da quarentena?  

Enfatiso que estas previsões são as que se pode fazer neste momento. É mais provável que a realidade seja ainda pior, até mesmo porque esta é apenas a primeira onda. Não se pode garantir que seja a única!

Pela razões expostas, é bom considerar estas previsões como sendo otimistas. Também não se deve esquecer que os dados do Ministério da Saúde estão subestimados. Também daí decorre a dificuldade dos dados nos quais temos que nos basear. 


3. O dano que o Presidente Bolsnaro causou.


Antes finalizar, preciso mostrar um exemplo de como uma só pessoa pode afetar negativamente toda uma sociedade que luta penosamente contra uma pandemia que já matou 950 pessoas no Brasil e mais de 10.000 no mundo, além de deixar sequelas em tantos outros. Refiro-me ao Presidente Jair Bolsonaro.

Como sabemos, após a contaminação pelo vírus Sars-Cov-2, transcorrem 15 dias, em média, para que os sintomas possam caracterizar a infecção pelo CoVid-19. Só depois de confirmados e identificados, os casos entram nas estatísticas. 

Veja este gráfico.

Evolução real da CoVid-19 (dados oficiais), na área branca, 
e a função matemática (previsão para o futuro), na área branca e na azul.
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A parte branca deste gráfico é igual à do gráfico anterior, exceto pela presença de uma seta vermelha. À direita da seta vermelha, inclusive na parte azul-clara, referente ao futuro, a curva é outra.  

A seta vermelha, na parte branca, aponta para o ponto azul que representa o dia 30 de março. Neste dia, a curva dos pontinhos deu uma guinada para cima, repentinamente tornou-se mais íngreme. A linha de cor azul-puro (cor #0000FF) representa a evolução que a curva teria caso não tivesse mudado a sua aclividade.  

O que causou este repentino aumento da aclividade?
  
A causa desta guinada, deve ser procurada cerca de 15 dias antes, pouco menos ou pouco mais. 

Duas semanas antes, exatamente, no dia 15 de março, houve a manifestação popular convocada pelo Presidente Bolsonaro. Neste dia, 229 das maiores cidades do Brasil, inclusive as capitais, fizeram manifestações políticas contra o Supremo Tribunal Federal, contra o Congresso Nacional e, até mesmo, a favor de Golpe de Estado! Foram grandes aglomerações e, nelas, deve ter sido muito grande o contágio da CoVid-19. Cada um dos novos contaminados contaminou, pelo menos, 3 ou 4 outros, e estes mais outros 3 ou 4 e assim por diante, até... Sabe-se lá! É natural que isto tenha se refletido no gráfico, 15 dias depois. 

A mesma guinada é encontrada nos gráficos dos Estados. A figura seguinte mostra o caso de São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará, que são os Estados mais  sofrem com o quase colapso do sistema de saúde (público e privado). 

Veja o gráfico.

A figura mostra como foi e como poderia ter sido se não tivesse havido a manifestação convocada pelo Presidente Bolsonaro para 15 de março.
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Na área branca da figura estão os dados á conhecidos (até 15/05). Na área azul estão os dados previstos pela equação exponencial. 

Observem na curva de São Paulo, que no dia 30 de março houve uma acentuada guinada da curva, no sentido do aumento da aclividade. Se isto não tivesse ocorrido, São Paulo poderia chegar no platô superior da curva (no pico) com cerca de 7000 casos comprovados de CoVid-19, ao invés dos 11500 que a projeção indicou. 

Analogamente, a curva do Rio de Janeiro, na mesma data, também teve uma acentuada guinada da curva, no sentido do aumento da aclividade. Se isto não tivesse ocorrido, o Rio de Janeiro chegaria no platô superior da curva com cerca de 2000 casos comprovados de CoVid-19, ao invés dos 8000 que provavelmente terá. 

Da mesma forma o Ceará foi muito prejudicado, como o gráfico indica. 

Estas são as previsões que posso fazer agora, neste momento. No entanto, num país em que uma só pessoa é capaz de provocar tempestades e furacões nacionais, que podem abalar uma pandemia, as previsões do tempo podem mudar ao sabor dos acontecimento políticos. 

Acho que, agora, o governo brasileiro deveria ser mais rigoroso para combater este grande risco do sistema de saúde. Se o pico da curva for este ou maior, ninguém será atendido no sistema de saúde, nem mesmo as vítimas de outras doenças (diferentes da Covid-19), como as vítimas de traumatismos. 

No entanto, o Presidente Bolsonaro "força a barra" para que o isolamento social seja suspenso. Ele causa tanto tumulto e azucrina o seu Ministro da Saúde enquanto o mantém sob ameaça de demissão. 

Nesta hora crucial da evolução da CoVid-19, inexplicavelmente, o Ministro está na corda bamba, cai não cai, e perdendo as condições operacionais para proteger a população brasileira, como é sua função neste momento.  As consequências podem abalar mais o sistema de saúde. Toda esta confusão no seio do governo federal ajuda a acelerar a curva de contágio, aumente a aclividade

Não tenho dúvida alguma. O presidente Bolsonaro está entre os que não tem compreensão dos fatos que ocorrem à sua volta e ainda apresenta um comportamento horroroso.

Não há economia sem saúde e não há saúde sem uma economia saudável. São dois lados de uma mesma moeda.

É uma tristeza!

Acabei de receber o  número de casos confirmados de hoje, dia 15 de abril. Então atualizei as previsões incluindo este dado. aqui vai o gráfico. 


A previsão do pico da curva subiu para 44.000!

Veja aqui, um artigo, no qual uma simulação de contágios aleatórios, feita em computador, prova que a paralização e o distanciamento social são mesmo mais eficazes do que a quarentena de grupos sociais. 
  
Este artigo mostra que, para que a curva de contágio tenha uma menor aclividade e se achate, de modo a não colapsar o sistema de saúde, é absolutamente necessário que todas as pessoas, respeitem as medidas de isolamento social, mas há outras ações preventivas, que não posso deixar de mencionar num resumo final, tais como:

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