segunda-feira, 2 de março de 2020

As ditaduras brasileiras e o monopólio da informação

Por Almir M. Quites 

O sonho ditatorial

O monopólio da informação é uma característica das ditaduras. Este assunto, mesmo restrito ao Brasil, é muito vasto. O que faço a seguir é um pequeníssimo resumo. 

O objetivo é alertar para o modo como este monopólio é feito e como aumenta desmedidamente o radicalismo, com sua intolerância absoluta ao pensamento divergente. O tema é pertinente, porque o atual presidente e muitos de seus colaboradores costumam fazer criminosa apologia da Ditadura Militar de 1964 e as instituições brasileiras têm tolerado e subestimado isso.

Há 90 anos, Getúlio Dornelles Vargas, aplicou um Golpe de Estado que depôs o 13º Presidente do Brasil, Washington Luís, e impediu a posse do presidente eleito, Júlio Prestes. Getúlio foi ditador de 1930 a 1945 e, neste período, implantou duas novas Constituições (Carta Constitucional), a de 1934, que durou pouco, e a de 1937, outorgada pelo diretamente pelo ditador endurecendo o regime!

Os veículos de comunicação que se popularizavam na primeira metade do século XX eram o rádio e o cinema. Eles passaram a ser utilizados como meio de propagação das propagandas do governo. A figura de Getúlio era associada a bordões como "o bom velhinho", "o sorriso de velhinho", etc. (Nota: em 1940, Getúlio tinha apenas 58 anos de idade). 

Havia muita influência do fascismo e do nazismo nas cartilhas, comuns na época, que pregavam princípios considerados saudáveis pelo governo de Getúlio (Gegê, como era chamado) e que tratavam de atrair crianças e jovens para apoiar o governo, como forma de garantir apoio futuro para a permanência no poder pelo maior tempo possível. 

O rádio ainda era uma tecnologia nova e as estações de rádio se espalhavam pelo Brasil. Então, pelo Decreto 21.111, Getúlio Vargas estabeleceu a unificação de serviços de radiodifusão numa rede nacional que atendesse aos objetivos do governo. Getúlio Vargas discursava diariamente em rede nacional (chamado Programa do Presidente, se não me engano) para todo o país, usando a tecnologia, que ninguém mais dispunha. O nome do horário da fala presidencial foi posteriormente mudado para Hora do Brasil. A censura às informações, juntamente com o monopólio da propaganda pelo rádio, servia para dominar a mente do povo e infundir as teorias caudilhistas, que afirmavam o caráter divino do líder e de sua missão. 

Depois de Getúlio Vargas, o Brasil teve 10 anos de democracia que, de 1961 em diante, foi se tornando cada vez mais radicalizada, até sucumbir numa nova ditadura em 1964, por meio de novo Golpe Militar
  
Em 1971, outro ditador, General Emílio G. Médici, mudou o nome da Hora do Brasil outra vez. Passou a ser A Voz do Brasil e assim permanece até hoje. 

Durante este período, da Ditadura Militar, A Hora do Brasil destacava as grandes obras e a ideia de “milagre econômico” (que não existia), colaborando para o "marketing" do regime. A censura às informações, junto com a repressão política e com o monopólio da propaganda pelo rádio, cinema, jornais e televisão, servia para dominar a mente do povo o para infundir o ufanismo nacionalista, como o tal "milagre econômico" e a idolatria aos ditadores milagreiros. “Eu Te Amo, Meu Brasil” era um hino ufanista, como também “Este é um país que vai pra frente”, do grupo Os Incríveis. Slogans, como “Brasil: Ame-o ou deixe-o!” e “Quem não vive para servir ao Brasil, não serve para viver no Brasil” mostravam claramente a ordem para que se aceitasse tudo calado. O tricampeonato mundial de futebol, de 1970, foi tema de uma das maiores campanhas publicitárias de massa da história brasileira. Foi uma euforia exorbitante!

De 1985 até hoje, já tivemos 35 anos de democracia! Mas a tecnologia da informação continuou se desenvolvendo.  Entramos na fase dos PCs, tablets, Smartphone ou outros dispositivos móveis. Atualmente o programa A Voz do Brasil não conta mais com o discurso presidencial, apenas dá informações sobre as atividades dos três poderes da República e só encontra eco em regiões remotas do país. 

Hoje em dia, os robôs das redes sociais são muito mais eficientes na divulgação de propagandas, principalmente as impulsionados por robôs, a partir de perfis falsos (identidade falsa), o que dificulta a apuração de responsabilidades. Militantes e desinformados repassam acriticamente o que recebem. Daí decorre a chuva de mentiras ("fake news") que afoga e o cérebro dos brasileiros e gera multidões de fanáticos. 

O atual Presidente do Brasil, embora tenha sido democraticamente eleito (supomos que as eleições tenham sido limpas para não levantar outra discussão aqui) adora ditaduras e afronta as instituições brasileiras para criar clima para um novo Golpe Militar. Um absurdo! Ele conta com uma imbatível rede de impulsão de suas propagandas, eivadas de mentiras. Se a democracia resistir, muitas outras redes de informação surgirão, abafando a do Presidente. 

Até lá, a democracia estará em risco! A intransigência e o radicalismo continuarão imperando, tolhendo a liberdade de opinião, o pluralismo, o debate democrático de ideias e promovendo alienação e fanatismo. Portanto é pertinente este resumo do passado que denúncia como ainda mais graves os danos políticos e humanos que a repressão do Estado pode causar.   

Se tivermos uma nova ditadura, o controle da informação será muito mais asfixiante, porque a teletela (em inglês, "telescreen") prevista no livro 1984, de George Orwell, já existe! É bi-direcional, conta com tela de 10x15 cm sensível ao toque, possui um sistema operacional complexo, como o Android, iOS ou Windows, pesa apenas cerca de 150 gramas e cada cidadão tem a sua, que necessariamente carrega sempre consigo!


POVO ILUDIDO É POVO VENCIDO, AGREDIDO, VENDIDO, EMPOBRECIDO...  


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