segunda-feira, 6 de julho de 2020

CoViD 19 em Floripa - II

Por Almir M. Quites



Apresento  dados e previsões atualizados sobre a CoViD-19 em Florianópolis e mostro como a forma com que os dados são apresentados pela Prefeitura municipal subestimam a gravidade da evolução da doença. 

Em relação às outras cidades brasileiras de igual porte, Floripa parece que vai bem. Acontece que esta comparação não é simples de ser feita, porque:
  • a CoViD está em estágios diferentes nas diversas cidades e 
  • há critérios diferentes de contabilizar os novos casos. 
Há técnicas para fazer a comparação, colocando em fase as curvas das diferentes cidades, mas, por enquanto, não tenho dados de outros municípios brasileiros para fazer este estudo. 

Quanto aos diferentes critérios de contabilizar os casos, não há o que fazer. A Prefeitura de Floripa diariamente atualiza retroativamente os dados, ou seja, altera os dados do passado sempre para mais. Portanto, os dados mais recentes sempre estão subestimados. Em outras palavras, a aclividade da curva epidemiológica de Floripa fica menor que a real. 

Por exemplo: 
  • o número de novos casos confirmados de ontem (05/06) era 2173 e hoje já consta que o dado de ontem era 2236; 
  • o dado de anteontem (04/06) era 2143 e hoje já consta 2212; 
  • e assim a revisão do passado segue por duas ou mais semanas.  
Isto sempre faz parecer que se está chegando no ponto de inflexão da curva, o que não é verdade. 

A Prefeitura apresenta os número de casos notificados e também o número de casos confirmados. No entanto, parece-me, deixa alguns casos separados para uma análise e confirmação posterior, para serem registrados como casos  confirmados no futuro, após alguns dias ou mesmo semanas. Isto falseia as análises a partir dos dados confirmados publicados pela Prefeitura Municipal leva e conduz à subestimação dos riscos. Trata-se de algo similar ao que o Ministério da Saúde quis fazer, após a última troca de ministros, e gerou uma reação nacional. Pelo menos, Florianópolis não esconde os dados  desta reserva dita "sob análise". Os analistas e o CONASS (Conselho Nacional dos Secretários de Saúde) deveriam ser advertido para somar esta reserva ao número de casos confirmados.

Por enquanto, deixo de lado as comparações e estas queixas de lado e passo a analisar os dados da nossa cidade.

Até hoje, aqui em Floripa, 2236 casos e 10 óbitos foram oficialmente confirmados. Os óbitos aumentaram 123% nas últimas três semanas. 

O dado mais importante é o número de casos confirmados, porque é a partir deste número que se pode prever o futuro da série de novos casos diários e, assim, prever o impacto da doença sobre o Sistema de Saúde da cidade. Este impacto pode colapsá-lo. Quando o sistema colapsa por excesso de demanda, os superlotados hospitais não podem atender os doentes da CoViD nem os de nenhuma outra doença, nem mesmo vítimas de qualquer acidente.  

número de mortes certamente é um dado trágico, mas não impacta o Sistema de Saúde. Além disso, é muito impreciso, por dois motivos:  
  • sub notificação e
  • dificuldade de discernir sobre a real causa da morte quando o Sistema de Saúde está colapsado ou a beira de colapso. 
número de recuperados é confortador, mas também não impacta o Sistema de Saúde. Todos os doentes que não sucumbiram à morte, são os recuperados. Estes não afetam o sistema de saúde a curto prazo, porque ficam imunes, não contagiam mais, porém ficar com variadas sequelas que só trarão problemas no futuro. 

Passemos à análise dos casos confirmados da CoViD-19.

Observe o gráfico que segue. Nele temos, na régua horizontal (eixo das abcissas), o tempo, contado em dias a partir de 22 de fevereiro de 2020. Na régua vertical (eixo das ordenadastemos o número de casos da doença oficialmente confirmados. Assim, a cada dia da régua horizontal temos um ponto da curva que representa o número total de casos confirmados até aquele dia. Esta curva é chamada de sigmoide porque tem a forma de "S" maiúsculo esticado horizontalmente (a letra "S" é chamada de sigma, em grego). 

Este gráfico foi o que publiquei em meu último artigo, no dia 16/06/2020. Nele temos os números totais dos casos já confirmados, em bolinhas vermelhas. Daí para cima, temos três curvas calculadas pela função logística (a sigmoide). Todas se ajustam às bolinhas vermelhas. Portanto são previsões matemáticas do futuro. A curva em azul era a previsão otimista das três. A verde é a mais pessimista. naquele artigo eu perguntava: — por qual delas vamos seguir? Isto dependeria do comportamento do povo, quanto maior fosse a imobilização e o isolamento social, mais chance teríamos de ter menos doentes da CoViDs, menos mortes e menos tempo de restrições sociais e econômicas.  

veja o gráfi citado, do dia 16/06. 


Desde então passaram 20 dias. Agora compare com o gráfico de ontem, dia 05/07. 
Observe que:
  • o que era a previsão otimista, com um máximo em 3000 casos da Covid, não exite mais, foi superada pelos novos dados; 
  • pelo mesmo motivo, o que era a previsão intermediária, com um máximo em 4000 casos da Covid, também não existe mais.


Este novo gráfico apresenta os trilhos que podem ser seguidos pela nossa CoViD-19. São 4 trilhos (curvas) com diferentes máximos: o de 4500, o de 5000, 5500 e o de 6000. O primeiro, de 4500 já é um trilho praticamente superado. Os demais ainda são possíveis. 

Como estes números serão retroativamente aumentados e teremos que corrigir a curvas de bolinhas vermelhas (a dos dados do passado), as curvas de previsão tenderão a ter a aclividade aumentada por conta das correções feitas pela Prefeitura. Os dados confirmados deveriam incluir os "em análise", porque assim os "erros que que fossem corrigidos mudariam as curvas a favor da segurança e não contra ela. Do modo como tem sido feito, o ponto de inflexão calculado parecerá estar mais perto do que realmente está e o número diário de casos confirmados da doença será menor em todos os dias futuros, mesmo no ponto de inflexão da curva. 

Observe que o dado mais atual de Floripa, (de 16/06) está abaixo da altura do ponto de inflexão nas três curvas (roxa, azul e preta)Este ponto corresponde ao dia mais crítico para o Sistema de Saúde. É o dia em que o número de novos casos diários será maior. Isto significa que o número de novos casos diários da COViD-19 ainda é crescente. Teremos leitos suficientes aqui na nossa Floripa?  

Este ponto é previsto para o dia 147° dia da CoViD (dia 17/07/2020) para as curvas de máximo em 4500, 5000, e 5500. Na curva de 6000, o ponto de inflexão será no dia 22/07/2020.

Na curva cujo máximo é de 5000 casos (a roxa), o número previsto de novos casos de CoViD será de 41 novos casos por dia. Para que gosta de matemática, esta é equação da curva roxa
y = 5000/{1+exp[-0,0330.(t-147)]}, onde y é o número de casos confirmados e t é o tempo em dias desde o primeiro caso. 

Na curva de 5500 (curva azul), o número previsto de novos infectados confirmados no ponto de inflexão será de 47 no dia 17/07.  por dia. Para quem gosta de matemática, a equação da curva azul é: 
y = 5500/{1+exp[-0,0350.(t-147)]}

E, na curva pior (a curva preta), a inflexão será no dia 22 de julho, quando teremos 47 novos casos. O máximo da curva (o patamar superior) fica em 6.000 casos confirmados. A equação da curva preta é: 
y = 6000/{1+exp[-0,0310.(t-152)]}

Observação importante: devido ás correções retroativas que serão feitas, estes números serão agravados nos próximos dias. Isto retarda no tempo o acesso à realidade e mantém subestimadas as previsões matemáticas. Se os casos em análise fossem registrados junto com os casos confirmados, a informação seria mais realista (porque o número de casos com diagnóstico revertido é menor) e a favor da segurança (porque o possível erro seria para melhor e não para pior). 

Claro que a curva azul seria obviamente a melhor. A cada dia coletarei os novos dados e os colocarei no meu gráfico. Daqui a uma semana já saberemos que rumo estamos tomando. 

Depois do dia do ponto de inflexão  ser ultrapassado, o número de novos casos diários de CoViD começará a se reduzir lentamente. O alívio só será sentido, pelo pessoal da saúde, lá pela segunda semana de setembro.

Espero ter mostrado que, embora pareça que nós, aqui do Sul do Brasil, estamos bem, controlando as hordas de vírus, o fato é que não sabemos o futuro com certeza. Não podemos relaxar. Não devíamos estar abrindo o comércio e o sistema de transportes, como estamos fazendo. Pode ser que apenas estejamos defasados, numa fase anterior em relação aos outros estados do Brasil. E pode ser que segundas ondas originárias de outros Estados ainda estejam por chegar!

A única estratégia de defesa que temos e não deixar que os vírus passem de uma pessoa para a outra. Eles dependem disso para existir.

Seria muito fácil conter a CoViD-19! Quando ocorreu o primeiro caso da CoViD-19 no Brasil, já sabámos que o virus já estava em circulação. Além disso, já tínhamos informações que os europeus e asiáticos não tinham ainda, quando foram atingidos. Mesmo assim, não fomos previdentes. Bastaria que o povo brasileiro tivesse mais responsabilidade e capacidade de entendimento, mas... não tem! Explico a seguir. 

Se todos os brasileiros fizessem uma quarentena absoluta de 15 dias, o contágio seria interrompido e o vírus seria exterminado, porque ele só se reproduz dentro das pessoas. O vírus não dura mais que 5 horas no ar e não mais que 100 horas nas coisas. Os contaminados, sintomáticos ou assintomáticas (ou com sintomas leves), recuperam-seficam imunes e não mais retransmitem o vírus (embora ainda não se tenha certeza científica de que isto ocorra mesmo em todos os casos)

Duas semanas seriam suficiente para ganharmos a guerra em pouco tempo. 

Foi o que a Itália fez na Lombardia, mesmo depois de estar numa situação apavorante. Uma quarentena rigorosíssima! Foi o que deu certo lá! 

Apenas 15 dias! A quarentena eliminaria o contágio geral, mas a vigilância sanitária, especialmente nas fronteiras, deveria continuar muito atenta para isolar possíveis novos casos. Não iríamos permitir o surgimento de uma nova onda de contaminação. 

No entanto, o nosso povo não é capaz de se unir para enfrentar o inimigo, nem o governo é capaz de conscientizá-lo, ao contrário, nosso governo foi o grande aliado do vírus! Enquanto as pessoas sustentam ridículas discussões sobre a CoViD-19, cheias de tolices e grosserias, a virose progride aceleradamente.

quarentena rigorosa sacrifica a economia a curto prazo para salvá-la da devastação pelo vírus a longo prazo

Ainda que tarde, o Brasil deveria seguir o exemplo da Itália! 

O ideal seria tê-lo feito bem no início, na época em que fizemos o carnaval. Num processo exponencial, tudo o que se faz bem no início repercute muito acentuadamente no final. No tempo do carnaval já se sabia que o vírus já circulava no Brasil, embora ainda não tivéssemos tido o primeiro caso oficialmente confirmado.

O preço da saúde pública é a eterna vigilância! Lembrei da frase "o preço da democracia é a eterna vigilância", frequentemente (e erroneamenteatribuída à Thomas Jefferson

Cuidem-se e cuidem dos outros! 

Para mais, sobre este tema, clique aqui:

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