domingo, 6 de outubro de 2019

Corrigindo celeumas das mudanças climáticas

Por Almir M. Quites


Imagine que você se sinta gravemente doente, febril, mas ao invés de consultar um especialista, você consulta um mau político! Ele lhe diria: "Você está bem! Você está saudável!" Se você não concordasse, ele pegaria o seu dinheiro para pagar marqueteiros e convencer a todos que aquela doença não existe! Assim, você perderia a capacidade de enfrentar o seu problema a tempo!


Isto tem acontecido! Governos se movem por interesses pessoais, por interesses econômicos de grupos e por ideologias. Eles costumam negar a existência de graves epidemias até que saiam de controle e a negativa se torne impossível. Isto tem acontecido no mundo, como no caso da Doença do Virus Ebola (DVE), inclusive no surto que surgiu nos EUA, em 2014. No Brasil, podemos citar, como exemplo, o comportamento do governo diante das epidemias de meningite meningocócica, ocorridas na década de 70 e em 1984 (
BARATA, Rita C. Barradas — Meningite: uma doença sob censura?, Ed. Cortez, SP, 1988), entre outras, até a de sarampo de agosto deste ano.

Com o clima é sempre assim. Gera-se uma grande polêmica, na qual a verdade é abafada em função dos interesses dos políticos. A questão do clima obriga a mudanças profundas na economia e no modo de vida dos cidadãos. Muitos preferem se iludir sobre esta questão, por que a mudança demanda sacrifícios. O fato é que é muito difícil ignorar as mudanças climáticas, consideradas uma das questões mais prementes do nosso tempo.


É preciso esclarecer os brasileiros para que possam enfrentar o tsunami de desinformação. 

Procurei na internet um texto que fosse bem didático, bem simples e que, ao mesmo tempo não contivesse erros.

O texto que encontrei, com estas características, é do jornal suíço Neue Zürcher (
Novos cidadãos de Zurique), editado em 30.09.2019, o qual traduzi parcialmente para o português.

O Neue Zürcher Zeitung (NZZ) é o jornal diário mais antigo da Suíça ainda em circulação. Possui cerca de 150000 assinantes. Tem tendências liberais próximas ao partido suíço FDP–Die Lieberalen . O Neue Zürcher Zeitung é um dos jornais mais influentes da Suíça e também considerado um dos jornais de maior prestígio na Europa.

Segue o referido artigo
.

𝓐𝓵𝓶𝓲𝓻 𝓠𝓾𝓲𝓽𝓮𝓼

Artigo 30.09.2019
Verão quente e apenas metade da neve na Suíça, é assim que as mudanças climáticas nos atingem 
Por Sven Titz (texto) e Alexandra Kohler e Balz Rittmeyer (gráficos)


Afinal, qual é realmente o estado do conhecimento sobre as mudanças climáticas? Quem emite mais gases de efeito estufa? Que opções existem para limitar a alteração? Com tanta celeuma em múltiplas mensagens sobre aquecimento e emissões, perde-se facilmente a visão geral. 


Queremos corrigir isto aqui.

É relativamente fácil ver o quanto a atmosfera da Terra se aqueceu desde a Revolução Industrial. Cientistas do Met Office Hadley Centre, na Inglaterra, calcularam a média global de cada ano a partir das leituras globais de temperatura. 

Veja o gráfico. (Fonte: Met Office Hadley Centre observations datasets



Desvios da temperatura anual média em relação a do período 1961-1990 (em todo o mundo) em °C. 
Do roxo escuro ao laranja escuro, a temperatura aumenta.


O que é o clima?

O tempo é um capricho, o clima é a personalidade. É assim que o pesquisador de clima americano Marshall Shepherd explica a diferença entre tempo e clima. De fato, o tempo é o estado atual da atmosfera. Por outro lado, o clima é um inventário do tempo por um período muito mais longo. Como regra, os cientistas olham pelo menos 30 anos.

O que define o clima não é apenas um valor médio, mas todas as variáveis de uma faixa climática, as quais são registradas em termos estatísticos. Para o sistema climático, os cientistas consideram não apenas a atmosfera, mas também o mar, as camadas de gelo do país, as geleiras, os blocos de gelo flutuantes etc. Dependendo da definição, a flora e fauna também estão incluídas. A mudança climática se refere a todas as mudanças que ocorrem em escalas de tempo que se estendem por mais de 30 anos.

É útil comparar o aquecimento global desde o início da industrialização com as mudanças climáticas do passado. Os cientistas reconstroem as temperaturas de diferentes maneiras, usando anéis de árvores, por exemplo. A espessura dos anéis das árvores revela a temperatura no verão. Na reconstrução mostrada para o hemisfério norte, você pode ver muitas variações de temperatura que têm causas naturais. Mas você também pode ver o aumento significativo desde o século XIX. A liberação de gases de efeito estufa pelos seres humanos levou ao aquecimento global. Essa mudança climática causada pelo homem tem muitas facetas.


Evolução da temperatura 
do planeta Terra
Mittelalterliche Warmzeit = Período quente medieval 
Kleine Eiszeit = Pequena era glacial 

Temperatur abweishung = Redução de temperatura 

Unsicherheitbereich = intervalo de incerteza


O que é o efeito estufa?

O efeito estufa faz parte da natureza da atmosfera. Sem ele, a Terra seria cerca de 30 graus Celsius mais fria. Os raios solares aquecem a Terra de modo direto e indireto. O aquecimento indireto é o que é chamado de Efeito Estufa.

O sol aquece a terra com seus raios de ondas curtas (NT: de 0,405 microns a 0,625 microns). Além da reflexão, eles são absorvidos pela superfície. A Terra então emite raios de ondas mais longas, também chamadas radiação de calor. Parte da radiação de calor é interrompida de maneiras diferentes, não apenas pelas nuvens. Gases naturais de efeito estufa no ar, especialmente vapor de água e dióxido de carbono, absorvem a radiação de calor em certos comprimentos de onda e a emitem novamente. Parte dessa radiação vai para a terra. Isso tem o efeito de aquecimento. Além do vapor de água e dióxido de carbono (CO2), os gases de efeito estufa naturais incluem metano (CH4), ozônio (O3) e óxido nitroso (N2O). 




Efeito Estufa


A radiação térmica de ondas longas da terra é absorvida pelos gases de efeito estufa no ar e emitida de volta à Terra. Assim, a Terra é reaquecida.

Os seres humanos aumentam o efeito estufa natural liberando quantidades adicionais de gases de efeito estufa, especialmente desde o início da industrialização. Além do dióxido de carbono (o principal gás de efeito estufa produzido pelo homem), outros gases metano, óxido nitroso e ozônio também aumentam o Efeito Estufa. A concentração destes gases aumentou bastante, e isso aumenta ainda mais o efeito estufa. 


Clorofluorocarbonetos (CFCs) e fluorocarbonetos (HFCs) produzidos pelo homem também são gases de efeito estufa. Estes tiveram sua produção bem reduzida devido as regulamentações internacionais em acordos para a proteção da camada de ozônio, mas o efeito desta redução ainda não foi observado de forma consistente.


A concentração de CO₂ na atmosfera aumenta continuamente. 


Concentração de CO₂ na atmosfera no mundo, em ppm, ou seja, partes por milhão. 

(NT: dados do Observatório Mauna Loa, localizado no Havaí)


* Esta é a série de medições mais longa da concentração atmosférica de CO₂ no mundo. 
Fonte: Laboratório de Pesquisa do Sistema Terrestre / NOAANZZ / koa. 


Aumentar o efeito estufa também altera a estratificação térmica da atmosfera: a troposfera (0-15 km de altitude) fica mais quente, a estratosfera (15-50 km de altitude) fica mais fria. A fronteira entre a troposfera e a estratosfera aumenta lentamente. 



Quanto a Terra aqueceu em diferentes regiões?

O clima não muda uniformemente. Dependendo da região, a atmosfera da Terra foi aquecida em diferentes graus. Por exemplo, a temperatura média da Suíça aumentou cerca de 2 graus Celsius, mais do que o dobro da média global. Em 2017, estava 1,6 graus mais quente do que em média de 1961 e 1990.

A média de temperatura na Suíça descreve a temperatura média em toda a superfície e às diferentes altitudes da Suíça. Fonte: Meteo Suíça / cálculo próprioNZZ / koa.

O maior aumento de temperatura é registrado no Ártico. Especialmente no inverno, o ar aqueceu consideravelmente lá em relação aos invernos antigos. Os cientistas se referem ao fato de o Ártico estar mudando mais rapidamente do que qualquer outra região usando a expressão simplificada "Reforço do Ártico". A principal causa da amplificação do fenômeno no Ártico é o encolhimento do gelo do mar: sem os blocos de gelo refletivos, o oceano absorve mais luz solar e, no inverno, a água libera mais calor para a atmosfera sem uma camada isolante de gelo.



O aumento da temperatura é maior no Ártico

Desvios de temperatura em comparação com o período de referência 1961-1990 em graus Celsius


De onde vem o CO2 e o que são sumidouros de CO2?

A maior parte das emissões antropogênicas de CO2 (NT: derivados de atividades humanas) vem do uso de combustíveis fósseis. A produção de cimento também libera o gás de efeito estufa. Além disso, o dióxido de carbono é produzido durante a decomposição de biomassa e incêndios florestais. No entanto, quando as plantas crescem, elas absorvem CO2 para a fotossíntese e, portanto, representam um sumidouro de CO2. O oceano também é um sumidouro importante. Mas quanto mais aquece, menos CO2 pode armazenar. 



⇧⇧⇧ A liberação de CO2 é encontrada não apenas no uso de combustíveis fósseis e na produção de cimento, mas também em incêndios florestais ou na decomposição da biomassa, por exemplo, após rajadas de vento ou após o desmatamento.
⇩⇩Tanto os oceanos quanto a crescente biosfera absorvem CO2. O resto fica na atmosfera.


Em todo o mundo, as emissões aumentaram acentuadamente. 


O setor mais importante no qual o CO2 é liberado em todo o mundo é a geração de eletricidade e aquecimento térmico, especialmente para residências e indústria. No entanto, a proporção referente ao tráfego também é importante. Muitos processos industriais também produzem grandes quantidades de CO2. Mudar a finalidade do uso da terra também pode ser uma fonte de CO2. Um exemplo disso é a derrubada de florestas para fornecer terras aráveis ou para pastagens. A drenagem de áreas úmidas com o objetivo de cultivar ali também pode levar à liberação de CO2.



Leitura adicional: Os livros mais importantes sobre o assunto

  1. Spektrum Spezial - Klimawandel: Strategien gegen die weltweite Bedrohung. Spezialheft von Spektrum der Wissenschaft, März 2018.
  2. Dieter Helm: Burn Out: Der Klimawandel und das Endspiel der fossilen Brennstoffe. 352 S., Langen/Müller-Verlag 2018.
  3. Heinz Wanner: Klima und Mensch. Eine 12 000-jährige Geschichte. 276 S. Haupt-Verlag, Bern 2016.
  4. IPCC: Climate Change 2014: Synthesis Report. Contribution of Working Groups I, II and III to the Fifth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Genf, 2014



Este é o artigo. 

Apenas ressalto que a comunidade científica de todo o mundo estuda a evolução do clima do nosso planeta e cada grupo vigia os resultados dos demais grupos para verificar possíveis incoerências entre dados que exijam verificações adicionais. Este é o método científico: observar, formular hipóteses, definir e quantificar variáveis, medir e publicar o método experimental e seus resultados para que outros cientistas, em outros locais do mundo, possam repetir o experimento e assim confirmá-lo ou rejeitá-lo. 

Espero que tenha ficado bem claro que a mudança climática não envolve apenas medições de temperatura, mas de um conjunto muito grande de variáveis que mudam com a temperatura. 

Finalmente, algumas datas importantes no entendimento do clima global.  Datas referentes a história de como 
as mudanças climáticas provocadas pelo ser humano foram descobertas. São estas:
  • 1859 - O físico irlandês John Tyndall provou, com suas medições, que o vapor de água e o CO2 absorvem a radiação infravermelha. Assim, ele comprovou que a atmosfera da Terra está sujeita a um efeito estufa.
  • 1908 - O sueco Svante Arrhenius prevê o aquecimento global devido às emissões de dióxido de carbono da civilização.
  • 1957 - O americano Roger Revelle e o austríaco Hans Suess provam que parte do dióxido de carbono devido ao uso de combustíveis fósseis fica atmosfera porque o oceano não pode mais absorver tudo.
  • 1971 - Pela primeira vez, um grupo de pesquisa internacional faz um relatório sobre o perigo das mudanças climáticas globais. O trabalho é intitulado "Modificação Inadvertida do Clima: Relatório do Estudo do Impacto do Homem no Clima".

Notem que foi a partir de 1971 que a consciência climática global eclodiu no munto. Foi quando nossas naves espaciais e suas sondas começaram a ser enviadas ao espaço e os cientistas começaram a estudar o clima dos planetas, entre eles e especialmente da Terra. 


Antes disso não se tinha a consciência de que podíamos influenciar o clima da Terra. Quando os europeus destruíram suas florestas, esta consciência ainda não existia nem estre os cientistas.

Hoje se sabe que, no nosso Planeta, tudo é interdependente, assim como no corpo humano. 


A Floresta Amazônica também depende do clima de outras regiões do mundo. Por exemplo, a majestosa floresta tem um solo pobre de nutrientes. Ela só existe porque a África a alimenta. Finíssimas partículas da areia do deserto do Saara, no norte da África, viaja quase 5000 Km por cima do oceano Atlântico até fertilizar a floresta Amazônica com Fósforo. Este fertilizante vem pela corrente aérea que acompanha as correntes do Norte Equatorial e do Caribe. Se este transporte for interrompido, a Floresta Amazônica não se sustenta! 

As regiões sul, sudeste e centro-sul também se beneficiam da Floresta Amazônica. Sem ela, estas regiões seriam desérticas. É facil entender por quê. 

Na atmosfeta temos os rios aéreos ou voadores. São as correntes de ar saturadas da humidade que levam chuvas para regiões longínquas. O principal rio voador do Brasil tem origem na franja equatorial do Oceano Atlântico (Nordeste brasileiro), e transporta a água evaporada pelo oceano. Então, viaja para oeste rumo à Região Norte movido pelos ventos elísios e aumenta significativamente de volume ao incorporar a enorme quantidade de água que evapora da Floresta Amazônica. Parte dessa umidade cai como chuva sobre a mata tropical, mas imediatamente retorna à atmosfera como vapor de água, portanto voltando ao rio voador. Este rio segue seu curso até encontrar a enorme barreira da Cordilheira dos Andes, a qual muda a sua direção rumo ao sul do Brasil, promovendo chuvas nas regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste do Brasil, além de Bolívia, Paraguai e Argentina. Sem essa umidade, o centro-sul brasileiro seria desértico, absolutamente impróprio para agricultura. 

O Brasil também depende da Cordilheira dos Andes, que não está no seu território. 

Estima-se em 200 milhões de litros por segundo, o volume de vapor de água que evapora da Floresta Amazônica, é transportado pelos rios aéreos da região. Esse volume de água, embora invisível, têm a mesma ordem de grandeza da vazão do rio Amazonas. Não fosse o acidente geográfico representado pela Cordilheira dos Andes, essa umidade se dispersaria a oeste do Brasil, possivelmente sobre as águas do oceano Pacífico, não beneficiando o Brasil, que teria seu potencial agrícola reduzido enormemente.


Para ler mais sobre a celeuma climática no Brasil,  leia aqui:
A COBIÇA E A FLORESTA
https://almirquites.blogspot.com/2019/08/a-cobica-e-floresta.html

Sementes germinam, dementes desmatam.
𝓐𝓵𝓶𝓲𝓻 𝓠𝓾𝓲𝓽𝓮𝓼




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