segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Chuva de "fake news" presidenciais na virada da década

Por Almir M. Quites (texto publicado no Facebook no dia 6 de janeiro de 2020)


Nesta passagem de década, 2019/2020, o Presidente Jair Bolsonaro protagonizou uma chuva de "fake news", que caracterizam uma irresponsabilidade incompatível com o cargo que ocupa.

Neste século, esta prática de o presidente não administrar e passar o dia fazendo demagogia e contando "mentirinhas" começou com presidente Lula, mas Bolsonaro a assimilou e até a ampliou desmedidamente.

O Presidente Jair Bolsonaro, em pronunciamento de Natal transmitido em cadeia nacional de rádio e televisão, voltou a mentir que o seu quadro de ministros foi escolhido apenas de acordo com critério técnico. Esta mentira é a mais repetida do Presidente.

Neste mesmo evento, ele também mentiu ao dizer que terminou o ano sem denúncias de corrupção e cometeu outras imprecisões em sua mensagem de Natal.

Em primeiro lugar, não é verdade que seus ministros tenham sido "
escolhidos por critérios técnicos". Se isto não for uma mentira, então o Presidente não sabe o que significa o adjetivo "técnico". Este adjetivo se refere ao conhecimento prático de uma arte ou de uma ciência, o qual caracteriza um perito ou um especialista. 

Obviamente não foi este o critério para a Escolha da ministra Damares Alves, que não tem especialidade alguma. Graduou-se em Direito pela extinta FADISC (Faculdades Integradas de São Carlos), instituição descredenciada pelo MEC em 2011 e proibida de realizar exames vestibulares desde 2012. Depois disso foi pastora da Igreja do Evangelho Quadrangular. 


Obviamente também não foi este o critério de escolha dos outros ministros de Bolsonaro. Por exemplo, os Ministros como Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Tereza Cristina (Agricultura), ambos ligados à bancada ruralista no Congresso Nacional, foram casos típicos de escolha eminentemente política!

Os vinte e dois ministros foram escolhidos com base em suas crenças, sejam políticas ou religiosas, e na crença no mesmo guru do Presidente, o Olavo de Carvalho. Daí resultou um conjunto de ministros de muito baixo nível intelectual. 

Lembro que Sérgio Moro e Paulo Guedes não foram escolhidos para serem ministros, mas para serem avalistas da campanha eleitoral e do governo.

Também é falsa a afirmação de que o ano de 2019 tenha terminado sem denúncias de corrupção, porque dois ministros e um dos filhos do presidente estão sendo investigados por irregularidades. Além deles, é apurada fraude no DNIT-MG (
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte de Minas Gerais).

O Presidente também distorce os fatos ao afirmar que a economia de 2019 teve números positivos. Na verdade, o PIB teve crescimento menor do que o registrado em 2018, houve queda nas importações e nas exportações e estabilidade na taxa de desemprego.

No segundo dia deste ano, o Presidente fez outra declaração errada. Ele disse que a taxa Selic "chegou a bater 60% no governo FHC.” Esta taxa nem existia no início do governo FHC com as características que tem hoje, portanto, estes valores não são diretamente comparáveis. A taxa básica de juros nunca passou de 45%, conforme os dados da série histórica do Banco Central. Em março de 1999, o Banco Central extinguiu o sistema de bandas de juros, criado em 1996. O governo passou a usar apenas uma taxa para sinalizar os juros de toda a economia. Então foi criada a chamada Taxa Referencial Selic. O nome da taxa Selic vem da sigla do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia e se refere ao sistema do mercado financeiro administrada pelo BC. 

O atual valor da taxa SELIC não dependeu da atuação do governo Bolsonaro. Não deve ser indevidamente apropriado como mérito deste governo. Isto é desonestidade!

E, hoje, no sexto dia do ano, um jornalista indagou ao Presidente Bolsonaro se ele havia conversado com os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sobre o cronograma de votação das reformas administrativa e tributária.

O Presidente respondeu: - "
Sempre converso com eles, sempre converso com eles".

O repórter, em seguida, indagou a Bolsonaro "qual reforma vai primeiro?".

O presidente, então, respondeu com este disparate: - "Mas o que acontece? Eu não vou provocar uma crise, porque olha só: para vocês da imprensa aí. Essa frase não é minha. Eu quero que vocês mudem. Quem não lê jornal não está informado e quem lê está desinformado. Tem que mudar isso. Vocês são uma espécie em extinção. Acho que vou botar os jornalistas do Brasil vinculados ao Ibama. Vocês são uma raça em extinção".

Esta é tipica frase de alguém destrambelhado. Primeiro, porque as frases têm muita baixa coesão e coerência tecxtual. Trata-se de um disparate, algo sem nexo (em que uma parte não combina com a outra). Segundo, porque se trata de algo despropositado, que menospreza os jornalistas presentes e humilha a todos os profissionais do jornalismo.

Na linguagem falada, tal frase não seria aceitável para um cidadão comum. No entanto, foi dita pelo Presidente da República em entrevista coletiva no Palácio da Alvorada!

Uma vergonha para todos os brasileiros!


E assim continuamos vivendo num mar de "fake news".
𝓐𝓵𝓶𝓲𝓻 𝓠𝓾𝓲𝓽𝓮𝓼


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