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domingo, 21 de abril de 2019

Entrevista de Paulo Guedes

Por Almir Quites



Ontem (17/03/19), na Globo News, ouvi a entrevista do ministro da economia, Paulo Guedes, mas confesso que não entendi bem. Fiquei com a impressão de que ele está aprendendo a falar como político, que evita a clareza e a objetividade. Assim não se compromete com nada. Muitos ouvintes aplaudem ainda que não entendam, outros, como eu, ficam só matutando.

Sou a favor da Reforma da Previdência e escrevo sobre isto desde que o Senador Paim (PT) liderava o movimento contra ela, confundindo deliberadamente Previdência com Seguridade Social. Durante a campanha presidencial do ano passado, o candidato Bolsonaro também era contra a reforma e repetia o mesmo discurso do senador petista. 


Paulo Guedes assumiu o ministério da Economia e, sempre muito aberto e positivo, luta para que a Reforma da Previdência seja implantada. 

No entanto, vejo agora, nesta entrevista, o poderoso ministro Paulo Guedes com frases estranhas, enigmáticas, perdendo a oportunidade para explicar aos brasileiros as questões essenciais desta imprescindível Reforma para conquistar mais apoio e confiança.

Desde que vi os discursos de posse [ver nota abaixo], no primeiro dia deste ano, compreendi que Bolsonaro tinha apenas dois ministros preparados para o cargo, um deles era o Paulo Guedes. No entanto, isto não significa um compromisso meu de concordar com tudo o que ele diga e faça.

Ontem, por exemplo, as frases me pareciam ser cifradas e sem interesse na clareza. Como concordar com elas se eu sentia que não levavam a uma interpretação objetiva e coerente?

Este trecho que copio aqui, entre aspas, é um bom exemplo do que disse acima. Observe.

Paulo Guedes diz: "Veja, o petróleo sobe lá fora, o dólar também, automaticamente o preço do diesel sobe e você não vê caminhoneiros perturbando o Trump, ou batendo na porta do Macron. Aqui vira ameaça e chantagem". Então, o jornalista Valdo Cruz atravessa e pergunta: "Então, ministro, o senhor está falando em privatizar a Petrobras?" Guedes respondeu: "Está ficando claro para o brasileiro comum que aqui nós temos um problema: o Brasil tem cinco bancos, três empreiteiras, uma empresa de petróleo, três distribuidoras de gás e duzentos milhões de patos".

Vamos revisar este trecho da entrevista. Paulo Guedes diz que, aqui no Brasil, os caminhoneiros fazem chantagem e o jornalista então pergunta se ele pretende privatizar a Petrobrás. Ora, o que tem a ver uma coisa com a outra? Então, Paulo Guedes simplesmente não responde. Em vez disto, diz que temos alguns cartéis e 200 milhões de patos. Ou seja, ele disse que nós, os brasileiros somos patos. Somos mesmo, eu sei disso, mas o que isto tem a ver com a pergunta? Que mensagem ele quis passar para o povo? Ele vai eliminar estas reservas de mercado? Se vai, então, por que não disse isto? Ou ele queria justificar alguma outra coisa? Isto que ele disse indica alguma solução? Qual?

A única intervenção de Mirian Leitão foi muito pertinente. Foi sobre os "jabutis" introduzidos na lei da Reforma da Previdência. A pergunta não era confortável para o Paulo Guedes, mas não importa. É isto mesmo que um jornalista sério e independente deve fazer. 


Paulo Guedes enrolou um pouco, mas respondeu que os jabotis "foram colocados pelos políticos" (claro que no governo) "para serem retirados durante as negociações". Isto não é verdade, ninguém coloca "jabutis" numa lei para serem retirados em negociação. Neste momento, Paulo Guedes não foi honesto. Chamam-se "jabutis" os penduricalhos colocados em projetos de lei ou em medidas provisórias que versam sobre assuntos que não guardam nexo algum com o objeto das medidas analisadas. O objetivo do "jabuti" é passar despercebido para que se possa aprovar coisas de interesse estranho ao que se encontra em pauta. Em resumo, é safadeza mesmo, feita por políticos que fazem o projeto de lei. Paulo Guedes teve que confessar que entregou o projeto sem os "jabutis". Logo, o próprio governo os introduziu, tal como faziam os governos petistas. 

Durante toda a entrevista, pareceu-me que, em vez de uma comunicação franca, em que cada um se esforça para ser compreendido pelo outro, o que houve foi uma exposição de frases que ficam abertas a qualquer interpretação.

Para mim, faltou clareza no linguajar do ministro e isto me pareceu intencional. 

Infelizmente o fanatismo de direita e o fanatismo de esquerda esmagam a racionalidade na atual política brasileira. Quem é a favor do governo acha que o ministro deu uma aula magna; quem é contra acha que foi um discurso anti-patriótico! Para um analista independente, no entanto, que busca entender os fatos, esta entrevista foi simplesmente inútil.

Sei que estou discordando de quase todos aqui, mas estou sendo sincero.

Eu esperava ficar mais bem informado sobre a Reforma da Previdência e sobre o andamento do projeto no Congresso. Fiquei na mesma!
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[Nota] 
Sobre os discursos de posse, veja aqui:


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