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domingo, 30 de dezembro de 2018

Ufanismo com o Mito

Por Almir M. Quites



Depois de um ano de campanha eleitoral de descomedido baixo nível, carregada de xingamentos e de mentiras ("fake news"), estas impulsionadas por robôs, as bombas de recalque das redes sociais, pergunto-me: é razoável este ufanismo com o Mito Bolsonaro? 

Nesta campanha, a fantasia do candidato e a tecnologia de disseminação da versão digital foram mais importantes que o próprio candidato. 

Finalmente chegamos ao término de 2018 e às vésperas da posse do novo presidente: Jair Bolsonaro!

Nesta fase, em que um novo governo começa, é muito importante evitar análises precipitadas. Acho fundamental reconhecer erros, acertos e dúvidas. É preciso saber conviver honestamente com as dúvidas. Elas são  fundamentais! O que devemos evitar são o ufanismo, a indiferença e o negativismo.

Precisamos aprender a analisar os fatos com inteligência e com o cauteloso e necessário distanciamento emotivo. Como se diz comumente, é preciso analisar os fatos "com a cabeça, não com o coração ou com o fígado".

Eu desejo que o governo de Bolsonaro seja bom, mas não tenho expectativas otimistas. Exceto Sérgio Moro (um magistrado que não tem experiência em administração, mas que me parece muito culto e probo) e os economistas Joaquim Levi (que têm muita experiência na área econômica) e, talvez, Paulo Guedes, os demais ministros me parecem despreparados. Só um ou dois ainda poderiam me surpreender, os demais não têm chance disso. Os militares, devido à formação que possuem, têm conhecimentos gerais precários e inexperiência para administração em sistemas complexos e não hierárquicos. O próprio Bolsonaro me parece incompetente e imaturo. No entanto, eu ficarei feliz se também eles me surpreenderem. Tomara!

Há décadas (desde FHC, que, ao menos, tinha cultura e competência administrativa) os Presidentes do Brasil têm sido pessoas sem as mínimas condições para tal cargo. Não basta a ideologia proclamada, nem apenas a cultura do candidato, também é preciso probidade, maturidade e competência. O sistema eleitoral brasileiro confere muito poder aos "caciques" dos partidos.

Bolsonaro me desiludiu muitas vezes. Ele até negava que a Reforma da Previdência fosse necessária (ele adotava o mesmo discurso do senador Paulo Paim - PT). Afirmava que não havia déficit na Previdência Social! Outro absurdo era sua pregação de Golpe Militar contra o Governo Federal, eufemisticamente chamado de "intervenção militar constitucional"! Bolsonaro até negava ter existido no Brasil um golpe e uma ditadura militar a partir de 1964! Assim mesmo, declarando-se inimigo da democracia, ele concorreu e ganhou as eleições.

Desejo muito que, pelo menos, a Organização Criminosa Mor (OrCriM) seja desmontada, esta poderosa máquina de apropriação delinquente dos recursos públicos, instalada em todos os níveis da administração pública. Este é o desejo de todo o cidadão honesto. Para que o presidente Bolsonaro cumpra esta missão mínima, ele terá que domar o Congresso e as mais altas instâncias do poder judiciário brasileiro. Só o Congresso pode fazer Leis e só o poder judiciário pode condenar quem não as respeita. No entanto, a OrCriM está lá, no Congresso! E no STF e TSE também. No entanto, tudo indica que Bolsonaro não tem entendimento da situação e nem habilidade para usar os contrapesos democráticos adequadamente. Parece-me mais provável que ele se alie a OrCriM!

Temo que o futuro ministro Sérgio Moro não subsista no cargo de Ministro da Justiça. Acho que em poucos meses ele estará desiludido. Para cumprir seus objetivos, ele dependerá do Congresso. Infelizmente não acredito que o novo Governo lhe dê apoio suficiente. Além disso, não tenho elementos que me levem a acreditar nem mesmo na integridade de caráter de Bolsonaro.

Por tudo isso, não estou otimista. Apenas observo e torço para que o novo governo seja melhor que os anteriores, mas cuido para não me iludir.

O processo eleitoral brasileiro foi mal concebido. Ele se transformou em um jogo de perde-ganha (nós contra eles), como se isso não tivesse consequências sérias. O povo vota embalado unicamente pela propaganda, sem discutir os reais problemas a serem enfrentados pela administração pública.

Não precisamos de propagandas eleitorais, precisamos ter muito mais debates ao vivo e com poucos candidatos. Precisamos eliminar as tais pesquisas de intenção de voto, que claramente manipulam a percepção dos eleitores e os conduzem para o brete falacioso do "voto útil".

Os eleitores foram ludibriados e não perceberam. Ainda acreditam que se decidiram livremente. No entanto, foram manipulados!

Para entender melhor como isto aconteceu, basta acessar o artigo:

Enfim, não compartilho do atual otimismo do povo brasileiro.

Tomara que eu esteja equivocado! Quem dera!


𝓐𝓵𝓶𝓲𝓻 𝓠𝓾𝓲𝓽𝓮𝓼
A. M. Quites


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