Não sei explicar o motivo, mas, de repente, achei interessante fazer um texto sobre Jesus, não o Jesus do qual as religiões falam, não o “Jesus da fé” que a igreja cristã primitiva criou, mas o Jesus real, chamado pelos pesquisadores de Jesus Histórico. Em outras palavras, a seguir, fixo-me no homem comum, nas circunstâncias históricas em que ele viveu e, nas quais, transformou-se em mito religioso.
No primeiro século depois do nascimento de Cristo, havia na Palestina (na época chamada de Canaã) diversos personagens intitulados “messias” ou milagreiros. Jesus foi um deles.
Depois, tratarei das consequências das religiões abraâmicas para as pessoas e para a sociedade.
Antes, preciso confessar aos leitores que, até hoje, aos 81 anos de idade, não senti falta de uma religião para ser feliz, nem da crença na existência de qualquer Deus.
Para mim, as crenças religiosas se afiguram ilógicas, inverossímeis e exorbitantes. Simplesmente não consigo acreditar nelas. Logo, não farei aqui qualquer apologia religiosa.
Outra questão que preciso ressaltar, antes de entrar no tema principal, é que os mitos são muito comuns nas nossas sociedades. Ainda hoje há pessoas que se tornam mitos. Geralmente estes mitos são políticos-religiosos.
Por que isto acontece? Uma das causas, provavelmente a mais importante, é o fato de nossas crianças serem doutrinadas para a religiosidade desde tenra idade, quando ainda são muito vulneráveis, dependentes dos pais e das pessoas mais próximas. Esta doutrinação ocorre, pelo menos, desde que as religiões se organizaram, o que parece ter ocorrido no período Neolítico (10° milênio a.C.), época da evolução em grande escala da civilização e da agricultura. (Nota: a.C. significa "antes de Cristo" enquanto que d.C. significa "depois de Cristo").
Há mais de 10 mil religiões diferentes no mundo.
É para mostrar como os mitos se associam à religião e à política que, a seguir, apesentarei, como exemplo, os casos de dois santos. O primeiro, do longínquo século IV d.C., e o segundo, do século XX (ainda em processo de canonização), portanto já nosso contemporâneo.
Depois destes dois exemplos abordarei o fascinante caso de Jesus de Nazaré.
1) Primeiro caso
Santo Ambrósio, antes de ser santo era uma pessoa comum. Chamava-se Aurélio Ambrósio. Nasceu no ano 340 d.C., portanto apenas 40 anos antes do cristianismo se tornar a Igreja Oficial do Império Romano.
Ambrósio angariou tanta popularidade que se tornou bispo da Igreja Católica por aclamação, durante um discurso que fazia numa assembleia, quando foi interrompido pela multidão que gritava: "Ambrósio, bispo"! Pouco antes disto, mas nesta mesma semana em que ele foi aclamado Bispo, ele tinha sido batizado na Igreja Católica e imediatamente ordenado sacerdote! Tudo isso na mesma semana! Milagre?
Santo Ambrósio também fez "milagres"! Por exemplo, acredita-se que, no verão de 382 d.C., uma mulher paralítica conseguiu tocar em seus paramentos enquanto o santo celebrava uma missa, tendo sido curada instantaneamente. Outro exemplo, no ano de 394 d.C., Santo Ambrósio, teria "ressuscitado" um jovem morto na cidade de Florença.
Há outros milagres, inclusive este que vou contar, o qual ocorreu 8 séculos depois da morte de santo Ambrósio. Em 1230 d.C., um padre idoso deixou um pouco do vinho consagrado no cálice durante a missa na Igreja de Sant’ Ambrógio (Santo Ambrósio, em italiano), em Florença. No dia seguinte, o padre Uguccione encontrou gotas de sangue humano coagulado no cálice utilizado na missa do dia anterior. A aparição do sangue foi considerada um milagre! O sangue coagulado, foi coletado em uma ampola de cristal e levado à cúria à disposição do bispo, monsenhor Ardingo Foraboschi. A "relíquia" foi levada de volta à Igreja de Sant’Ambrogio, onde ainda é mantida em um tabernáculo de mármore, criado por Mino da Fiesole (um artista). Lá, há também um afresco de Cosimo Rosselli, de 1486, chamado Milagre Eucarístico de Florença, que se encontra ainda hoje na Igreja de Sant’Ambrogio. Cosimo Rosselli, pintor florentino, ficou internacionalmente célebre depois que ornamentou a Capela Sistina com seus afrescos a pedido do Papa Sisto IV.
Aurélio Ambrósio foi canonizado pela Igreja Católica. Atualmente, o dia 7 de dezembro é o dia de "Santo Ambrósio, o doutor da Igreja"! Os irmãos de Aurélio Ambrósio também foram canonizados, como São Satiro e Santa Marcelina.
2) Segundo Caso
Agora, um exemplo brasileiro.
Cícero Romão Batista, nasceu em Crato, Ceará, em 24 de março de 1844. Quando adulto, tornou-se sacerdote católico. Foi ordenado padre em Fortaleza no ano de 1870. Virou político! Teve grande prestígio e influência sobre a vida social, política e religiosa do Ceará e do Nordeste. Na devoção popular, ficou conhecido como Padre Cícero ou Padim Ciço.
Em 1911, Padre Cícero participou de um movimento dos políticos locais que tinha o objetivo de emancipar Juazeiro. O movimento foi bem sucedido, Juazeiro se desligou da cidade de Crato e foi elevado à condição de cidade. O padre se tornou o primeiro prefeito da nova cidade.
Nesse contexto, Padre Cícero articulou um acordo político entre os coronéis da região. Esse acordo ficou conhecido como "pacto dos coronéis", segundo o qual, cada coronel apoiaria o governo do Ceará em troca de benefícios. O coronelismo foi uma prática política muito comum durante a República Velha.
Padre Cícero participou da Revolta do Juazeiro, em 1914, junto com grandes coronéis. A revolta foi motivada pela vitória do coronel Marcos Franco Rabelo para governador do Estado com a derrubada de Antônio Pinto Nogueira Accioli.
Tudo começou um pouco antes, em 1913, quando o novo governador exonerou o padre Cícero das funções de prefeito. O médico Floro Bartolomeu da Costa foi ao Rio de Janeiro para obter de Pinheiro Machado, um político influente, o apoio do governo federal para depor Rabelo.
De volta ao Ceará, Floro comandou um ataque ao quartel da força pública de Juazeiro, em 9 de dezembro de 1913. Foi o início da “guerra dos jagunços”, com o apoio do Padre Cícero.
O exército de jagunços, recrutados entre cangaceiros e romeiros, ergueu trincheiras em volta da cidade e repeliu os ataques da força oficial. Cangaço ou jaguncismo foi um movimento de banditismo do século XIX e início do XX na região Nordeste do Brasil. Os cangaceiros eram bandos formados por habitantes da região semiárida nordestina que, organizados, praticavam diversos delitos, como roubo a cidades, sequestros, assassinatos e estupros.
Amparados pela crença de que “homem abençoado pelo Padim Ciço não morria de bala”, os rebeldes marcharam contra Fortaleza, saqueando as cidades no caminho.
Em março de 1914, o governo federal decretou a intervenção no Estado do Ceará e destituiu o governador Rabelo. Era o fim da guerra civil. Nessa época, Juazeiro do Norte já havia se tornado a segunda cidade do Sertão do Cariri. A maior era Crato.
Uma grande parte dos habitantes de Juazeiro foi encaminhada para trabalhar nas fazendas da região, muitas delas de propriedade do próprio Padre Cícero, que se tornou o maior agricultor do Cariri e o mais importante coronel da oligarquia local. Isso mesmo, Padre Cícero virou coronel!
Padre Cícero se elegeu sucessivamente vice-governador e deputado estadual. Só não aceitou o cargo de governador porque não quis se afastar de Juazeiro.
Ele também fez milagres!
Consta que um dos "milagres" ocorreu em 1889, quando Padim Ciço tinha 44 anos. Foi o milagre que transformou a vida do religioso e da cidade. Ao participar de uma comunhão geral, na capela de Nossa Senhora das Dores, a hóstia sangrou na boca de uma beata chamada Maria de Araújo. Logo a notícia do milagre se espalhou e diziam que o fato se repetira em público várias vezes. A cidade de Juazeiro passou a receber peregrinos de vários lugares. Contudo, Comissão de Milagres do Vaticano concluiu que não houve milagre e o Padre foi proibido de rezar missas.
Padre Cícero Romão Batista faleceu no dia 20 de julho de 1934, com 90 anos, em sua Juazeiro do Norte, Ceará.
Com a morte, a devoção ao Padre Cícero aumentou. Todos os anos, no dia de finados, uma multidão de romeiros, vinda de várias partes do Nordeste, chega a Juazeiro para visitar o túmulo do santo, na Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Muitos romeiros ainda hoje relatam terem obtido curas milagrosas.
Em 1969, no alto da Colina do Horto, foi erguida uma estátua do padre, com 27 metros de altura, que ainda hoje recebe um grande número de peregrinos. No local foi instalado também um pequeno museu.
Padre Cícero é considerado um "Santo Popular" para muitos fieis católicos nordestinos. É chamado de "São Cícero do Juazeiro".
Em março de 2001, ele foi escolhido "O Cearense do Século", em votação promovida pela TV Verdes Mares, em parceria com a Rede Globo de Televisão. Em julho de 2012, foi eleito um dos "100 maiores brasileiros de todos os tempos" em concurso realizado pelo Sistema Brasileiro de Televisão (SBT).
Em junho de 2022, Padre Cícero foi declarado "Servo de Deus", título que a Igreja Católica dá a pessoas cujo processo de canonização foi oficialmente aberto, logo 133 anos depois da Igreja Católica ter negado a veracidade de seu principal milagre e tê-lo proibido de rezar missas.
Estes fatos mostram que, na atualidade, há interesses políticos para intensificar o culto ao Padre Cícero.
Tanto o Presidente Bolsonaro como o Presidente Luta, receberam do Prefeito da cidade uma estatueta do Padim Ciço quando estiveram em Juazeiro.
No dia 4 de maio deste ano (2023), a Câmara dos Deputados aprovou a inclusão de Padre Cícero no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria, guardado no no Panteão da Pátria, na Praça dos Três Poderes, em Brasília.
Agora, passaremos ao exemplo mais importante: a história de Jesus de Nazaré. A história dele foi bem diferente dos exemplos anteriores.
3) Terceiro caso: Jesus de Nazaré
3.1) Quem foi a pessoa que o Império Romano crucificou?
Desta vez, o exemplo é mais antigo e muito mais complexo. Algumas explicações prévias são necessárias para a compreensão do todo. Espero não cansar o leitor.
Primeiro cabe destacar que, apesar de ainda persistirem dúvidas, tudo indica que Jesus realmente existiu porque ele é citado nas obras de dois historiadores importantes do século I: Josefo (Flavius Josephus, 38 a 100 d.C.) e Tácito (Públius Cornelius Tacitus, 56 a 117 d.C.).
Agora, segue-se o relato histórico mais provável de corresponder ao que realmente ocorreu.
A parte antiga da cidade de Jericó, na Cisjordânia, é considerada a cidade mais antiga do mundo, erigida por volta de 9000 a.C. Porém, a sexta cidade mais antiga do mundo, é Jerusalém, o cenário final da vida de Jesus. Ela foi fundada, há mais de 4.000 a.C.(Relembrando: a.C. significa "antes de Cristo" enquanto que d.C. significa "depois de Cristo").
Até os dias de hoje, Jerusalém é disputada por judeus e muçulmanos. Tanto Israel quanto o atual Estado da Palestina (Estado auto declarado) querem que a cidade seja sua capital.
Aqui, agora, vamos falar de fatos históricos que culminaram na saga de Jesus na cidade de Jerusalém. É importante saber que, na época, estes fatos não foram considerados importantes!
Agora, voltemos ao passado!
Vamos recuar no tempo ao nascimento de Moisés, cerca de 1300 anos antes de Jesus nascer. Moisés era filho de um casal da tribo judaica de Levi. A lenda (narrativa que mistura fatos reais com fatos imaginários e fantasiosos) nos conta que, quando ele nasceu, foi mantido escondido por três meses e, então, colocado em um cesto e largado a flutuar na correnteza do Rio Nilo. Uma filha do faraó, teria encontrado o bebê. Ela encarregou uma ama (que seria sua mãe natural) de criá-lo. O fato real, histórico, é que ele cresceu e foi educado na corte egípcia, como se fosse filho do Faraó. Quando adulto, tornou-se uma pessoa muito culta. Era jurista. Foi ele quem liderou os hebreus escravizados (a lenda afirma que foi por ordem de Deus) na fuga do Egito. Atravessaram o Mar Vermelho e voltaram para Canaã, a Terra Prometida ("prometida por Deus", Jeová).
Na lenda judaico-cristã-islâmica, Deus realizou diversos milagres através de Moisés, após uma teofania (aparição de Deus). Além de libertar o povo hebreu da escravidão no Antigo Egito, Moisés guiou o seu povo em um êxodo (emigração) pelo deserto durante 40 anos, o que incluiu a famosa passagem em que Deus, por intermédio de seu servo Moisés, abriu o Mar Vermelho para possibilitar a travessia segura dos seus filhos. Ainda segundo a lenda, Moisés recebeu, no alto do Monte Sinai, as Tábuas da Lei de Deus, contendo os Dez Mandamentos.
Moisés (em hebraico “Moshe”) foi, para o judaísmo, o maior dos profetas, o maior dos messias, o maior dos líderes e dos mestres que o judaísmo já conheceu. Jesus foi para os cristãos o que Moisés era para os judeus.
Depois de mais de 1000 anos e de guerras de defesa de seus território, a região de Canaã (posteriormente rebatizada de Palestina pelos Romanos), teve pouco mais de um século de paz e autonomia política, de 167 a.C. até 63 a.C. As pessoas que viviam nesta região ainda eram descendentes dos hebreus que tinham sido escravos no Egito e, de lá, tinham fugido guiados pelo profeta Moisés.
Mas o Império Romano, aos poucos, foi se chegando e dominando tudo. Em 63 a.C., o general e político romano Cneu Pompeu Magno, também conhecido como "Pompeu, o Grande", invadiu e tomou a região da Palestina. Iniciou-se assim a dominação romana da Palestina, que se estendeu além do chamado “período bíblico”, o qual termina no início do 2º século da chamada era cristã.
Apenas 6 anos depois do nascimento de Jesus de Nazaré, em 6 d.C., os romanos estabeleceram uma nova configuração geopolítica, a qual dividiu a Palestina nas seguintes regiões: Judeia, Galileia, Pereia e Decapólis. Jerusalém era a capital da Judéia.
Com o tempo, as tensões políticas entre os romanos e os palestinos foram aumentando principalmente na Judeia, mas também na Galileia. Iniciaram-se décadas de lutas pela independência da Judéia e da Galileia em relação ao Império Romano. Todas elas foram debeladas e os líderes dessas rebeliões foram condenados à morte.
Naquela época, o Império Romano começava na Península Ibérica (Portugal e Espanha), incluía a antiga Gália (França e Alemanha) e se estendia a oeste, pelo sul dos Alpes, até a Armênia, a Mesopotâmia, a Síria e a Palestina. Incluía também o norte da África, desde a Costa Mauritânia até o Egito.
Naquele tempo, nem se sabia se existiam terras a oeste, para além, de Portugal e África. A quase totalidade das pessoas pensava que a Terra fosse plana (um disco plano). Pouquíssimas pessoas sabiam que em 340 a.C., na Grécia, Aristóteles escrevera um texto no qual apresentava dois bons argumentos que indicavam que a Terra devia ser uma esfera! Título do texto: "Sobre o céu". Contudo, Aristóteles achava que o Sol girava em torno da Terra.
Veja o mapa abaixo. Ele mostra a extensão do Império Romano (em cor laranja). Observe onde fica a cidade de Jerusalém, capital da Judeia, na palestina.
Era uma época de extrema violência tanto em Roma como no seu império!
Herodes, o Grande, tinha sido Rei da Judéia, colocado no trono pelos Romanos. A Judeia desta época “abarcava a Galileia, a Pereia e Samaria” [Staumbaugh; Balch, 1996, p. 18].
O poder corrompe os homens e Herodes Antipas e Pôncio Pilatos, tinham poder para mandar matar quem eles quisessem usando o aparato judicial do Estado.
Naquele tempo, trono e altar (ou seja, os poderes político e religioso) já eram aliados. Religião e política eram indissociáveis. Os partidos políticos eram seitas, como ainda é, nos dias de hoje, em vários países do Oriente Médio.
Em Jerusalém, todos os movimentos por independência do Império Romano, eram duramente reprimidos, tanto pelas autoridades civis romanas como pela classe sacerdotal. Era comum o surgimento de contestadores, os quais eram considerados bandidos ou profetas ou messiânicos.
Os historiadores contam que os bandidos eram aqueles que promoviam a resistência ao domínio romano por meio de saques e outras contravenções. Geralmente viviam de forma clandestina, refugiados em cavernas da região. Entre eles, houve um chamado Ezequias, que foi ativista entre os anos 47 e 38 a.C. Outro foi Eleazar Ben Jair, que viveu pouco tempo depois de Jesus.
Os profetas eram aqueles que realizavam um trabalho missionário, mas deixavam bem claro que esperavam a chegada de um messias, assim como Moisés. Este messias, ainda viria e, outra vez, salvaria o povo da Judéia. Assim foram, por exemplo, João Batista, o religioso que batizou Jesus, e Samaritano, que atuou entre os anos 26 d.C. e 36 d.C., mais ou menos.
Messiânicos eram aqueles que encarnavam a ideia de serem eles mesmos o messias tão esperado, enviado de Deus. Por exemplo, Simão.
Jesus de Nazaré foi mais um dos messias judeus, que nasceu no ano 6 a.C, em Nazaré, vilarejo com menos de 500 pessoas, numa localidade montanhosa da Galileia. A população do vilarejo era muito pobre.
Enfatizo que o Jesus histórico nasceu em Nazaré e não em Belém. Tudo indica que a ida para Belém e todos os seus emocionantes e coloridos pormenores (como manjedoura, estrela cadente, três reis magos, etc.) tenham sido "fake news" dos redatores dos textos bíblicos, porque Belém era a terra do Rei David (1040 a.C. – 970 a.C., o segundo rei do Reino Unificado de Israel) e parecia mais convincente que o Deus Jesus também tenha nascido em Belém, a mesma cidade onde David teria nascido. Os evangelistas deturparam a História e, hoje, é extremamente difícil reencontrar a verdade!
A mãe de Jesus era conhecida simplesmente por Maria.
Como era o costume da época, aos 12 anos Maria já estava prometida a um homem chamado José, um carpinteiro. Aos 14 anos (que na época era a maioridade judaica) Maria e José se casaram.
Segundo a lenda cristã, pouco depois, Maria anunciou, ao marido José e a todos, que estava grávida, mas que o filho não era de José, nem de ninguém, pois "era filho de Deus"! Ela também teria dito que este filho seria muito especial e salvaria a humanidade!
Que situação difícil para uma menina-moça de 14 ou 15 anos e para seu marido! Bem, isto é o que os religiosos contam, baseados nos relatos da Bíblia — ou seja, profundamente contaminados por uma visão simbólica — mas não há comprovação histórica destes fatos.
O fato histórico é que Jesus nasceu! Jesus existiu mesmo!
Jesus nasce poucos anos depois de Judas de Kerioth (da cidade de Kerioth, ao sul da Judeia), Judas de Gamala (nascido na cidade de Gamala, na Galileia) e Sadoq (há diferentes grafias nos documentos históricos, como Zadoque, entre outras). Estas crianças, quem diria, especialmente Judas de Gamala e Sadoq, pouco tempo depois, no ano 6 d.C., já seriam líderes de um movimento de libertação e estariam concitando o povo para um levante contra o senso do Império Romano.
O ambiente da Judeia e da Galileia era de grande radicalização e de violência. A população da Palestina daquela época, eram as moradias precárias. As famílias mais pobres moravam num único cômodo, numa época em que era comum a geração de muitos filhos, impactando ainda mais a economia doméstica. Nesse contexto social o atestado de prosperidade era a posse da terra. Os mais ricos possuíam a posse da terra e os pobres trabalhavam nela, de forma precária e sem a retribuição econômica suficiente para a sua manutenção da família.
Pois neste ano, 6 d.C., por Ordem de Públio Sulpício Quirino, enviado do Imperador Augusto, os romanos anunciaram que fariam um censo, para fins de estabelecer a carga tributária que passaria a ser cobrada da população. A reação popular foi imediata e logo se converteu em revolta armada, a qual foi liderada por Judas de Gamala, que comandou um assalto à guarnição romana em Séforis (capital da Galiléia). A revolta foi duramente reprimida pelos romanos e Judas de Gamala foi executado.
Em sua "Antiguidades Judaicas", Josefo [Flávio Josefo - Antigüidades judaicas - Livro XVIII] informa que Judas de Gamala e o fariseu Sadoq, foram os fundadores do Movimento Zelote, uma seita (e partido político) que pregava a luta armada contra os opressores romanos.
Atualmente há confusão entre estes dois Judas. Cuidado, leitores! Não confundam! Judas de Gamala nasceu na Galileia. O outro Judas, que a bíblia cristã considera o "traídor" de Jesus, é o Judas Iscariotes (em hbraico: יהודהאיש־קריות; em latim: Yehudhah ish Qeryoth; em grego bíblico: Iouda Iskariôth). Judas Iscariotes nasceu em Qerioth, na Judeia.
Jesus também nasceu na Galiléia e viveu nas regiões da Judéia e da Galiléia, sem nunca pisar em uma cidade grande, até seus últimos dias.
A principal atividade econômica da região, era a agricultura. A parábola do semeador, hoje atribuída Jesus, era baseada no cotidiano dos moradores!
Naquele tempo, um judeu possuía um único nome, por vezes complementado com o nome do pai ou da cidade de origem ou ambos. Portanto o nome de Jesus era Jesus de Nazaré, ou Jesus de José de Nazaré, como se lê ao longo do Novo Testamento, por exemplo: "Jesus Filho de José", em Lucas 4:22, ou "Jesus, filho de José de Nazaré", em João 1:45. No entanto, muitos evangelistas de épocas posteriores não admitiam que Jesus fosse filho de José, mas sim de Deus, pois, para eles, Maria era virgem! Assim tiveram que mudar o nome de Jesus para "Jesus filho de Maria", como em Marcos 6:3. A Bíblia ainda acrescenta a palavra "virgem", assim: "Jesus filho da Virgem Maria".
O nome Jesus, deriva do aramaico ישוע (Yeshua), língua antiga falada da Síria atual até a região ao Oeste da Palestina, na região da atual Mesopotânia. O nome Yeshua também era usado na Judeia, na época do nascimento de Jesus [Hare, Douglas (2009). Matthew. [S.l.]: Westminster John Knox Press. p. 11. ISBN 978-0-664-23433-1, via Wikipédia].
Como já mencionei, ainda não havia a separação entre política e religião que temos hoje. Jesus foi um líder político e religioso, que se apresentava como sendo o Messias, enviado por Deus para libertar o povo judeu da opressão dos seus inimigos e para os conduzir à glória. Para os seus seguidores, Jesus era o cumprimento das profecias de que o "ungido" que viria salvar o povo judeu e devolver-lhes sua "Terra Prometida", dando-lhes um reino de paz e justiça. Jesus seria um segundo Moisés!
Jesus se transformou em um líder, mas não era uma pessoa serena, paciente, como é descrito na Bíblia. Ele tinha problemas de relacionamento até com seus próprios irmãos, filhos de Maria. Eram 7 irmãos: Tiago, José, Judas e Simão (não confundir com os apóstolos) e 3 irmãs. O irmão Tiago é o que tem mais registros históricos.
Naquela época, já era muito forte o sentimento de revolta contra Roma, que governava e explorava os moradores da Judéia e da Galileia. A região da Galileia era menos importante, menos populosa e costumava ser alvo de zombaria por parte dos judaicos. Segundo Flávio Josefo, historiador que viveu neste mesmo século de Jesus, havia inflação, salários baixos e revoltas populares. Neste contexto, havia um conflito entre os delegados de Herodes Antipas, implacáveis e sedentos de poder, e a oposição política dos líderes extremistas locais.
Portanto, quando Jesus passou a propagar sua doutrina entre os seus, os povos da Judéia e da Galileia já estavam em permanente conflito com os romanos. O Movimento Zelote já estava em atividade por três décadas. Portanto Jesus pregou e conviveu com uma população que conhecia os ideais dos zelotes. Muitos autores afirmam que Jesus foi um zelote, outros entretanto consideram que ele era chefe de um movimento para-zelote, pois o Cristianismo e o Zelotismo eram movimentos afins.
Jesus Cristo tentou liderar a revolta contra o poder Romano!
Haviam diversas classes sociais, que também se confundiam com seitas. Havia:
- os fariseus, um grupo de judeus devotos à Torá, surgidos no século II a.C.. Os fariseus acreditavam na vida após a morte. Eles tinham muita influência no povo e lançaram as bases para o que se tornaria o judaísmo rabínico. Jesus, depois de adulto, criticava muito o judaísmo fariseu, provavelmente devido a controvérsias internas ao judaísmo, algo que era comum na época.
- os saduceus, opositores dos Fariseus, que acreditavam numa Lei e que foram os criadores da instituição da sinagoga. Eles eram recrutados essencialmente entre a classe sacerdotal, cuja influência, no início da nossa era, não ultrapassava as fronteiras do templo, mas eram soberbos, altivos, vivendo distantes do povo, sem nenhuma influência sobre ele. Representam os conservadorismo, os partidários do status quo, tanto em matéria política, quanto em matéria religiosa. Eram, portanto, acomodados com a dominação romana.
- os essênios, que viviam na região do Mar Morto numa espécie de vida monástica. Eram um grupo asceta, apocalíptico messiânico do movimento judaico antigo que foi fundado em meados do 2º século a.C., que anunciava a chegada de um Messias descendente davídico (de David) e Aronian (sacerdotal). Eles foram dizimados no ano 68 d.C., com a destruição de seus assentamentos em Qumran. São opositores aos sacerdotes do Templo de Jerusalém, que, para os essênios, eram aberrações do culto verdadeiro bem como do puro e legítimo sacerdócio sadocita. Politicamente eram contrários ao domínio romano.
- os zelotes, descritos pelos historiadores como homens do meio rural, com baixo nível intelectual. Segundo assinala Luís Eduardo Lobianco, em sua tese de mestrado na Universidade Federal Fluminense [O Outono da Judéia - Niteroi, 1999] o historiador Flávio Josepho (1° século d.C.) referia-se à população rural da Judéia como "populacho". No entanto, os zelotes eram homens de "têmpera" (corajosos e determinados), que lutavam pela independência do jugo romano. Sempre estiveram à frente dos movimentos de libertação, movidos por ideais sociais e religiosos. Eram combativos contra os adoradores dos falsos deuses. Os zelotes esperavam ardentemente a vinda de uma reino messiânico, de um libertador que expulsasse o estrangeiro e restabelecesse o Reino de Israel. Eles marcaram profundamente a vida política da época, de forma tal, que por fim causaram a segunda destruição de Jerusalém e da Palestina, na luta contra os romanos. Foram vencidos. Os zelotes se impunham perante o povo, que também estava descontente com o dominador. A "Pax" Romana só conseguia se impor na Palestina pela força. O último lampejo do zelotismo foi a rebelião frustrada de Barkochva, um século após a morte de Juses, já sob o Império de Adriano.
Imagine, caro leitor ou leitora, que estamos tratando de um jovem político, que, há 2 mil anos, percorreu a Judéia arregimentando seguidores para um movimento messiânico com o objetivo de derrubar o poderoso Herodes Antipas e implantar o que ele chamava de "Reino de Deus"! Sua missão era muito perigosa!
Naquela época, o Templo de Jerusalém, também conhecido como Segundo Templo, era o centro religioso, econômico e cultural da Palestina. Era também centro político, pois ali se reunia o Sinédrio (Tribunal composto de sacerdotes, anciãos e escribas), sob a chefia do Sumo-Sacerdote, que era vitalício, e do grupo dos saduceus (latifundiários da época), os maiores detentores do poder econômico.
O Templo de Jerusalém tinha sido reconstruído pelo governador Herodes, "o Grande", durante 46 anos! Trata-se do pai de Herodes Antipas.
O Templo era uma construção imponente e riquíssima que o povo venerava como a Morada de Deus. Era considerado pelos judeus o lugar mais sagrado do mundo. Até hoje os judeus, quando oram, voltam-se na direção do Templo.
O Templo era meio de vida para muita gente, pois gerava emprego para cerca de 18 mil pessoas, mais da metade da população de Jerusalém. O Templo era símbolo da identidade judaica, lugar de comércio com lucro abusivo. Era lugar de cobrança de impostos (de 25% a 50%) e centro de peregrinação.
Na festa da Páscoa, Jerusalém chegava a receber 150 mil pessoas. Foi justamente na Páscoa que Jesus decidiu fazer uma grande marcha de protesto, com seus seguidores, até o templo, em Jerusalém.
Estava prevista uma entrada triunfal na cidade, no meio do grande afluxo de gente. Jesus entrou na cidade em cima de um burrico e seus seguidores a pé, numa marcha no meio dos visitantes que não despertasse suspeitas no caminho. Era a primeira cidade grande que Jesus visitava. Ele não chegou a perceber quão grande era a cidade!
Ao entrarem no templo, os seguidores de Cristo passaram a gritar que ele seria o novo Rei! Consta que sacerdotes do templo pediram que Jesus mandasse seus seguidores se calarem. Mas Jesus não os atendeu. O relato bíblico, provavelmente aformosado, conta que Jesus apenas respondeu: – “Se meus discípulos se calarem, as pedras gritarão” [Lc 19,40].
Então, Jesus ficou furioso ao descobrir que o Templo era uma mistura de banco nacional, com sistema bancário, bolsa de valores e mercado de câmbio! Jesus improvisou um chicote de cordas e expulsou a todos do templo. Junto com seus seguidores, Jesus virou mesas e derramou as moedas dos cambistas pelo chão!
Mais tarde, depois daquela entrada provocadora em Jerusalém e do audacioso ataque ao Templo, Jesus foi preso, torturado e executado pelo governo de Roma por crime de sedição, ou seja, sublevação contra autoridade constituída.
Sua morte deve ter acontecido por volta dos anos 35 e 36 d.C., quando ele tinha entre 41e 42 anos, pouco tempo depois de João Batista (aquele que, segundo a Bíblia, batizou Jesus de Nazaré) também ter sido decapitado pelos romanos, por ordem de Herodes Antipas.
Barrabás, que também morreu junto com Jesus, provavelmente não era um ladrão, mas apenas um dos muitos rebeldes que abundavam na época. Entre romanos e zelotes os confrontos eram corriqueiros.
3.2. Qual foi e o que foi feito do legado de Jesus?
3.2.1 A aparência de Jesus
Em documentos históricos insuspeitos, não há qualquer descrição sobre a aparência de Jesus de Nazaré. Ninguém descreveu sua aparência ou fez algum desenho, pintura ou escultura. Nada! Da mesma forma, não há nada sobre a vida de Jesus, seja sobre sua vida normal como adulto, algo como casamento ou filhos. Não há nada! Isto indica que Jesus de Nazaré não era uma pessoa importante nas cidades em que viveu. De fato, o impacto de Jesus na sociedade do seu tempo foi praticamente nulo. Jesus só ficou mais conhecido após a sua execução devido a continuidade de sua seita por parte de alguns de seus seguidores.
A primeira imagem de um Jesus totalmente barbado que se tem notícia remonta ao ano 300 d.C. Novas imagens começam a aparecer somente no século VI, mas elas eram muito diferentes entre si, porquanto apresentavam características étnicas semelhantes às da cultura na qual a imagem tinha sido criada. A maioria delas representavam um homem de tez branca e de cabelos, bigode e barba castanhos.
A aparência de Jesus Cristo das religiões do século XX |
Por tudo isso, é muito difícil descobrir como era a aparência verdadeira de Jesus de Nazaré.
Em 2001, Richard Neave, especialista forense em reconstruções faciais britânico, utilizou conhecimentos científicos para chegar a uma imagem de Jesus que pode ser considerada próxima da realidade. Foi um trabalho encomendado para um documentário a ser produzido produzido pela BBC. Esqueletos de judeus dessa época e região mostram que a altura média dos um homens era 1,60 m e que o peso médio da grande maioria deles era de 60 quilos. Além disso, os judeus que viviam Judeia e Galiléia do século 1 tinham a pele, barba, cabelo e os olhos escuros. Então, a partir de três crânios daquela época e região, onde Jesus nasceu, foi feita a modelagem em 3D e chegou-se a um rosto com melhor probabilidade de se parecer com o de Jesus de Nazaré.
O resultado é bem diferente do Jesus que as religiões cristãs da Europa e da América costumam apresentar.
A imagem referida é esta.
Aparência mais provável de Jesus Cristo |
Este fato não é de estranhar. Há uma tendência nas obras de arte de transformar os pessoas históricas morenas ou negras em pessoas brancas.
Cleópatra tinha cabelos escuros e pele morena [Preston, Diana (2009). Cleopatra and Antony: Power, Love, and Politics in the Ancient World. Nova Iorque: Walker and Company. ISBN 9780802717382]. Mesmo assim, ela costuma ser retratada como um a pessoa branca. Veja, por exemplo, esta pintura a óleo de 1630, intitulada A morte de Antônio e Cleópatra, do pintor italiano Alessandro Turchi (Museu do Louvre, Paris, França).
Nesta obra Cleópatra tem pele branca. |
O filme norte-americano Cleópatra, de 1963, do gênero épico, que narra a luta da jovem rainha do Egito, para resistir às ambições imperiais de Roma também branqueou a faraó do Egito. O filme, dirigido por Joseph L. Mankiewicz, foi estrelado por Elizabeth Taylor, como Cleópatra, Richard Burton, como Marco Antônio.
Elizabeth Taylor no papel de Cleópatra |
3.2.2 Jesus vira lenda
A história de Jesus, de sua condenação e execução é contada e recontada oralmente até os dias de hoje, principalmente em todas as missas e cultos do cristianismo. Jesus virou lenda! Sua mensagem foi reinterpretada, escrita e reescrita, dando origem a diferentes versões conforme a vertente. Mas sempre foi mantido um núcleo verdadeiro: Jesus foi um camponês pobre que, diante das injustiças que ele constatava, defendia a instauração do que ele chamava de "Reino de Deus", um reino de justiça e fartura. Mas Jesus não tinha poder religioso, nem político, nem militar!
A mensagem messiânica de Jesus pode ter sido era "Liberdade e Justiça", no entanto tudo o que se conta de suas mensagens foram escritas séculos depois de sua morte e por pessoas com interesses diversos dos originais. O fato é que Jesus afrontou o Império Romano e sua história servia aos interesses políticos da época, servia para afrontar o Império Romano e setores da elite judaica/palestina da época. A criação de novas seitas baseadas nesta história foi a força motriz que transformou Jesus de Nazaré em lenda! Como aconteceu muitas vezes na história, o assassinato do homem o transformou em uma lenda poderosa.
Os primeiros seguidores de Jesus o proclamavam como o Messias prometido pelas Escrituras judaicas.
O movimento político-messiânico iniciado por Jesus e rapidamente subjugado sobreviveu à sua morte e isto se deve a vários motivos. O primeiro deles foi o esforço liderado por seu irmão Tiago e pelos apóstolos que passaram a proclamar que Jesus havia ressuscitado. Os demais motivos serão esclarecidos mais adiante, neste texto.
Jesus nunca escreveu nada, porque era analfabeto. Isso não surpreende, uma vez que, no século 1º a.C., menos de 10% dos habitantes do Império Romano sabiam ler e escrever e Jesus viveu nos confins do Império Romano. Lá, na pequena Nazaré, os artesãos e camponeses não tinham acesso a qualquer forma de educação, nem tinham qualquer preocupação com isso. Em toda a Palestina, havia um sistema social e político opressivo e alienante.
A maior parte do que chegou aos dias de hoje foi escrita por seguidores de Jesus, após três ou quatro gerações a contar de sua morte. Estes autores não estavam preocupados em transmitir uma versão fiel dos fatos, como fazem os historiadores, mas sim em fortalecer as bases da fé político-religiosa.
Bem depois da morte de Jesus, mas ainda no primeiro século, a palavra "Cristo" foi adicionada ao nome de Jesus Filho de Maria. O nome de Jesus ficou assim: Jesus Cristo Filho de Maria. "Cristo", significa "o ungido" em grego, e fazia referência à antiga tradição judaica de ungir reis e sacerdotes com óleo santo como uma forma de consagrá-los e separá-los para o serviço de Deus.
Assim, Jesus foi glorificado, exacerbado e endeusado. Os autores, que escreveram sobre Jesus, fizeram catequese, evangelização. O que escreveram não foi História, mas sim teologia (como escrita de uma doutrina religiosa). Atribuíram a Jesus suas próprias concepções de Deus, de sua natureza e de seu poder sobre o universo.
Jesus deixava de ser gente e passava a ser questão fé, passava a ser religião, passava a ser o Deus do Cristianismo. Com o passar do tempo, para os cristãos Jesus passou a ser mais do que Moisés era para os judeus.
Como religião, Jesus Cristo teve um grande sucesso póstumo, mas a realidade foi muito desvirtuada!
Maria, mãe de Jesus, passou a ser uma figura importante para o cristianismo. Segundo a tradição cristã, ela teria sido uma santa, conhecida como Nossa Senhora, mãe e Deus, que teria subido ao céu de corpo e alma! Logo, teria tido uma morte sem deterioração corporal!
Pelo que se sabe, não há documentos históricos da época de Jesus sobre a mãe de Jesus. O que há são apenas os registros bíblicos e eclesiásticos escritos nos séculos posteriores.
A ideia da virgindade de Maria nunca foi cogitada na época em que Jesus viveu, mas foi construída pela teologia ao longo dos séculos posteriores.
Em Roma, a primeira Igreja cristã foi criada supostamente pelo apóstolo Pedro. Não se tem evidências definitivas sobre a existência de Pedro, mas, por enquanto, o mais provável é que ele tenha sido uma figura histórica real. Pedro (supostamente nascido em 1 a.C. e falecido em 67 d.C.) teria sido um dos doze apóstolos de Jesus, o qual é mencionado várias vezes na Bíblia, mas também em algumas fontes históricas razoáveis. A tradição cristã também afirma que Pedro foi o primeiro bispo de Roma. Todas as religiões Cristãs consideram que Pedro foi o fundador delas, em Roma, e seu primeiro papa. No entanto isto pode ter sido uma criação de Paulo, outro apóstolo, o qual organizou o cristianismo primitivo.
3.2.3 A diáspora
A História nos diz que o movimento de resistência dos zelotes, revolucionários idealistas e embebidos de fanatismo religioso, acabou por destruir a Judéia, por que "cutucaram a poderosa onça com vara curta". Provavelmente, como Jesus de Nazaré, os revolucionários nem conseguiam avaliar o poderio do Império Romano, porque não tinham conhecimentos suficientes para isso.
Em 8 de setembro de 70 d. C. (portanto 35 anos depois da morte de Jesus), as tropas romanas do general Tito tomam a cidade de Jerusalém. Tito atacou o ponto mais fraco da fortificação de Jerusalém: a chamada Terceira Muralha, a oeste da cidade.
Jerusalém foi saqueada e o Templo foi destruído, incendiado e arrasado. A maioria dos habitantes de Jerusalém foi assassinada, escravizada ou deportada para trabalhar em minas. A diáspora (dispersão dos judeus, no decorrer dos séculos, por todo o mundo) se intensificou.
O resultado da insubordinação ao Império Romano foi impiedoso. O Império esmagou a luta pela independência da Judéia e da Galiléia, destruiu Jerusalém e dispersou os judeus e galileus pelo mundo daquele tempo. Por outro lado, foi esta dispersão do povo judaico-palestino que fugia da perseguição política (diáspora) que expandiu o cristianismo por aquele mundo, chegando a Roma, onde, mais tarde, a nova religião se aliou aos seus algozes! Com isso, a religião de Jesus se alastrou também no centro do Império Romano.
A religião cristã inicialmente foi perseguida em Roma, mas, mesmo quando geravam antipatias e sofriam perseguições, como no reinado de Nero, entre os anos 54 e 68 d.C., os cristãos cresciam em número. Logo passaram a ser tolerados, porque o Império Romano sempre tolerou as diversas religiões dos povos que conquistara.
Nesta época, o apóstolo Paulo divulgava intensamente o cristianismo pela Ásia e Europa.
3.2.4 A Igreja se associa ao Império
Com o tempo e aos poucos, o Cristianismo foi se modificando. Nos primeiros séculos, não passava de uma religião simples. O apóstolo Paulo (5 d.C - 67 d. C), nascido em Tarso, na Cilícia (antiga região na costa sul da Ásia Menor), era judeu e também cidadão romano. Foi escritor e, após a sua conversão ao cristianismo, tornou-se o grande divulgador do cristianismo primitivo. Foi quem organizou o cristianismo como Igreja. Treze epístolas do Novo Testamento são atribuídas a ele.
O imperador Nerva (96-98 d.C.) isentou os cristãos (provavelmente incluindo os cristãos judeus) de pagar o "fiscus judaicus", o imposto de capitação judaico (tributo por cabeça) decretado como uma punição após a revolta de 66-73 d.C. Claramente, os romanos, agora, consideravam os cristãos como um grupo separado. O caminho estava pavimentado para a legitimação do cristianismo como uma religião lícita em Roma.
A princípio, a doutrina cristã era simples, sem fundamentação filosófica, constituída por regras de moral e pela crença na salvação ditadas pelo Novo Testamento. Foi quando passou a ser um instrumento de contestação da ordem vigente, entrando em conflito com os romanos pagãos. Para fazer face ao paganismo e adaptar-se aos senhores de Roma, o Cristianismo teve que encontrar um embasamento filosófico mais adequado. Buscou esse suporte filosófico ao adaptar-se aos ensinamentos dos filósofos gregos.
Quando Constantino, o Grande, tornou-se imperador romano, proclamado em 25 de julho de 306, os problemas já eram muito grandes. Além disso as invasões bárbaras aconteciam com frequência. O cristianismo crescia como algo bizarro, exótico, no império do estranho Sol Invictus, o Deus Sol oficial do Império Romano. Ser cristão no Império Romano, até meados do século IV, era seguir e venerar um revoltoso que o Estado romano punira pelos crimes de sedição. Mesmo assim, o cristianismo evoluiu até conquistar o Imperador Constantino com a instrução "In hoc signo vinces", que era a tradução latina da frase grega "ἐν τούτῳ νίκα", que significa "com este sinal vencerás".
Na noite de véspera da Batalha da Ponte Mílvia, no ano 312, Constantino alegadamente sonhou com Jesus lhe dizendo que “sob este sinal vencerás” e no dia seguinte o imperador mandou colocar nos escudos, e nos estandartes de suas tropas, inclusive no seu próprio capacete, o monograma com o nome de Jesus Cristo em grego (⳩). A vitória de Constantino sobre Maxêncio foi associada ao seu sonho. Assim, o cristianismo conquistou o imperador e deixou de ser mais uma entre tantas seitas e passou a ser uma religião de vanguarda. A Igreja se associou ao poder romano. Daí em diante, recebeu grande apoio dos imperadores, “cujos poderes ela absorveu aos poucos, tendo um aumento rápido no número de adeptos, na riqueza e no raio de influência.” [DURANT, 2000, p. 116].
O imperador Constantino I institucionalizou os dizeres: “Um Deus no Céu, um Imperador na Terra” e, em 313 d.C., editou conhecido Édito de Milão, lei que garantia liberdade para cultuar qualquer deus. Roma entendeu que a religião podia ser importante como garantidora da coesão interna e durabilidade do Império.
A partir do século IV, com o Imperador Constantino, começaram a ser definidos os ritos cristãos pelos líderes dessa Igreja. Havia cinco patriarcas ou bispos espalhados nas principais cidades do Império Romano. Esses patriarcas diziam-se herdeiros dos apóstolos de Cristo e, a partir do século seguinte, definiu-se que o bispo de Roma seria o mais importante deles, chamado de Papa, o vigário de Deus na Terra, pai de todos os cristãos.
Não há um momento específico em que a Igreja de São Pedro, em Roma, passou a ser chamada de Igreja Católica. O termo "católico", derivado do grego katholikos, que significa universal, começou a ser usado gradualmente a partir do século II para descrever a Igreja que se espalhava pelo Império. No entanto, a denominação oficial de "Igreja Católica" surgiu no século IV, durante o Concílio de Niceia, em 325 d.C., quando a Igreja foi definida como "a instituição universal do cristianismo" e se tornou um símbolo do poder e da autoridade papal.
Durante o império de Constantino (306 d.C.-337 d.C.), o cristianismo passou a ter uma posição especial. Essa distinção aumentou ainda mais quando passou a ser
reconhecido como religião oficial do império, no governo de Teodósio (ano 380). O clero passou a claramente ter privilégios que os destacavam dos cidadãos comuns e dos diversos grupos de profissões.
Durante o governo de Teodósio, o cristianismo se tornou a religião oficial do Império, enquanto as outras doutrinas passaram a ser marginalizadas. O imperador desejou não apenas converter seus súditos, mas também tornar a nova religião uma instituição universal e oficial.
Favorecido pelo poder imperial o cristianismo começou cada vez mais a se expandir com ímpeto. A Igreja passou a ser mais institucionalizada, configurando-se uma hierarquia eclesiástica com competências administrativas e jurisdicionais. Estabeleceu-se o estatuto privilegiado aos clérigos, que passaram a usufruir de benefícios fiscais e a dispor de patrimônios resultantes de doações. No IV século, numerosas igrejas foram construídas graças às doações imperiais, templos notáveis que se assemelhavam ao palácio do monarca.
Com isso, a Igreja perdeu liberdade devido à interferência do poder imperial e ganhou um espaço cada vez mais amplo dentro das esferas do poderio estatal.
Em 380 d.C., quando o cristianismo se tornou a Igreja oficial do Império Romano, foi instituída a Santa Sé (Sancta Sedes), nome dado à cúpula do governo da Igreja Católica, chefiada pelo Papa e composta pela Cúria Romana, entendida como o conjunto de órgãos que assessora o Sumo Pontífice (o Papa) em suas atribuições.
No século 393 d.C, a Igreja convocou bispos para discutir e deliberar sobre a lista oficial dos livros que deveriam ser considerados como de "divina inspiração" e que, portanto, deveriam compor a Bíblia e serem proclamados nos cultos nas comunidades. Assim foi instaurado Concílio de Hipona. Neste concílio foram definidos os conteúdos que deveriam compor a Bíblia Cristã. Ela foi dividida em duas partes : o Novo Testamento e o Velho Testamento.
Novo Testamento é a coleção de livros que compõe a segunda parte da Bíblia cristã, escolhidos pela Igreja Católica no Concílio de Hipona, dentre centenas de outros livros que foram considerados apócrifos, ou seja, falsos, suspeitos, por não representarem a história conforme o aceitável pela Igreja da época. O Novo Testamento apresenta Jesus, seus ensinamentos e descreve os eventos do cristianismo do primeiro século.
A primeira parte da Bíblia cristã é chamada pelos cristãos de Velho Testamento.
Atualmente os cristãos consideram o Antigo e o Novo Testamento como uma mesma Escritura Sagrada, que são considerados de inspiração divina ou "recebidos" diretamente de Deus.
Com tudo isso, o Jesus místico se distanciava cada vez mais do judaísmo em que ele estava originalmente inserido, e como lenda servia ao Império Romano, o que também exigia algumas mudanças em sua mensagem. Os textos foram reescritos para convencer um público urbano, muito diferente dos camponeses para quem Jesus pregava.
A Igreja cristã recebeu grande apoio dos imperadores, cujos poderes ela absorveu aos poucos, tendo um aumento rápido no número de adeptos, também na riqueza e na sua expansão pelo mundo. No final do século IV, as cidades já estavam cercadas de mosteiros e conventos. A Igreja cristã cresceu tanto no número de fiéis como na quantidade de propriedades.
Quando aconteceu a queda do Império Romano do Ocidente, no século V, com os bárbaros já instalados definitivamente no Império Ocidental, o cristianismo já era religião oficial e a doutrina cristã já estava bem delineada. O Imperador do Oriente já estava investido de poder divino, a vida nos mosteiros já estava organizada e a hierarquia da Igreja já estava regrada e resguardada.
A igreja cristã começou a se organizar em vários países do mundo. Muitas vezes substituía o Estado, que se afundava no caos da decadência. Aos poucos a Igreja se transformava numa organização internacional.
A Igreja cristã já não tinha quase nada do que Jesus Cristo pudesse ter imaginado! Em seu auge, nos séculos XVI e XVII, a "Santa Inquisição" condenou à morte e executou mais de 100 mil pessoas, entre mulheres, homens e crianças, considerados hereges (pessoas que adotam ou sustentam ideias, opiniões, doutrinas etc. contrários às admitidas pela Igreja). As mulheres eram o alvo principal, geralmente acusadas de bruxaria! Era o poder político-religioso executando "seus inimigos"! Nada pode estar mais distante das convicções de Jesus Cristo que, supõe-se, pregava a liberdade com paz e justiça.
Ainda hoje é difícil encontrar a verdadeira história de Jesus, ou seja, a História de Jesus antes do cristianismo deturpá-la.
Os governos e os fiéis abastados faziam enormes doações à Igreja, enquanto os miseráveis continuam como miseráveis assistidos pela Igreja.
Em 1929, para dar fim às frequentes disputas territoriais entre a Igreja Católica e o Estado Italiano, conhecidas genericamente como "Questão Romana", o ditador fascista Benito Mussolini e o Papa Pio XI assinaram o Tratado de Latrão, pelo qual a Itália reconheceu a soberania da Santa Sé sobre o Vaticano, declarado Estado soberano, neutro e inviolável. Assim, foi criada, dentro da cidade de Roma, a Cidade do Vaticano, a qual é um Estado, ou melhor, uma cidade-Estado.
A Cidade do Vaticano é um Estado eclesiástico. teocrático-monárquico, governado pelo bispo de Roma, o Papa. A maior parte dos funcionários públicos são clérigos católicos de diferentes origens raciais, étnicas e nacionalidades. É o território soberano da Santa Sé. É o local de residência do Papa, referido como o Palácio Apostólico.
Segundo declaração do Papa Francisco, a Igreja Católica tem hoje US$ 3 trilhões em bens imóveis. É uma das mais poderosas instituições religiosas e capitalistas do mundo.
3.3. O Cristianismo de hoje
A atual fé monoteísta de cristãos, judeus e muçulmanos é, de fato, uma das maiores manifestações do antropocentrismo no pensamento humano. Os seres humanos são considerados como sendo a obra prima de Deus.
Nos meios culturais independentes é comum a pergunta: "Afinal, o que é Deus? Quem é o criador, e quem é a criatura?". Como não há qualquer indício, prova ou evidência lógica ou factual da existência de Deus, é forçoso que se conclua que o criador seja o próprio ser humano. Foi o ser humano quem criou deuses à sua imagem e semelhança. Por isso os deuses são tão humanos, capazes de extrema bondade, mas também de atos cruéis e vingativos, como mostra o Antigo Testamento.
Quantos deuses o ser humano já criou? A estimativa dos historiadores é que este número é de várias centenas de milhões de deuses e deusas! O ser humano cria deuses para afirmar sua própria natureza divina.
Nem todas as religiões são igualmente antropocêntricas. As religiões politeístas também têm deuses com aparência de animais, talvez porque alguns animais espelhem valores ou qualidades que os seres humanos veem ou gostariam de ver em si mesmos.
A crença de religiões orientais na reencarnação, comum, por exemplo, ao hinduísmo, o taoísmo, o budismo e o jainismo, afirma a existência de uma integração cósmica na qual nenhum ser pode ser considerado superior a qualquer outro. Não surpreendentemente, estas religiões estendem aos demais animais os preceitos de não-violência e muitas vezes defendem explicitamente o vegetarianismo. No entanto, nessas crenças, as divindades ainda são criaturas humanas e, portanto, também são crenças antropocêntricas.
O monoteísmo abraâmico (o judaísmo, o cristianismo, e o islamismo), principalmente nos dois últimos, divide a natureza humana em duas: a boa e a má, e as separa nas figuras de Deus e do Diabo (Satanás). As aspirações morais do ser humano se tornaram aspirações divinas e a violação das mesmas, viraram atos pecaminosos.
Frequentemente os atos imorais são qualificados como bestiais, ou seja, típico das bestas, das feras, ou seja, típico dos não-humanos. Assim, ao mesmo tempo atribuem nossa moralidade a uma entidade externa – Deus – e nossos desvios morais às feras, às quais Deus e sua “moralidade” se opõem. Isto não apenas reafirma a superioridade humana sobre os outros animais, como nos separa deles. "Os animais têm instintos, nós temos razão e sentimentos”, dizem, os quais "vêm de Deus e só existem em nós, humanos"! Nós que "temos alma e fomos criados à sua imagem e semelhança". Isso é a negação da nossa própria condição de animais, e também a negação aos animais da posse de qualquer atributo considerado humano.
Fica óbvio que as religiões abraâmicas, além de antropocêntricas, são especistas, para validar a exploração e subjugo de uma espécie sobre outra. O especismo é refutado pela própria ciência humana, mas continua forte no subconsciente coletivo ocidental. Em outras palavras, o Deus abraãmico é antropocêntrico e especista, especialmente na sua versão popular, expressa pela maioria esmagadora daqueles que nele creem.
Esse tipo de pensamento tem levado ao tratamento cruel e desrespeitoso aos animais, já que não são considerados seres conscientes e racionais como os humanos. Além disso, essa separação entre natureza humana e animal tem resultado em na crença de que os recursos naturais são infinitos e podem ser explorados sem preocupação, o que leva a graves impactos ambientais.
É óbvio que a moralidade e os valores humanos não são exclusividade de uma entidade divina, mas sim fruto da evolução de nossa espécie e, portanto, compartilhados com outros animais. A consciência e a capacidade de sentir também são encontradas em diversos seres não-humanos, como é visível em animais que vivem em sociedades complexas e demonstram empatia e cooperação.
Desconstituir essa visão antropocêntrica e reconhecer a nossa interdependência com os outros seres vivos e com o ambiente é fundamental para construirmos uma sociedade mais justa e sustentável.
Se Jesus de Nazaré vivesse hoje e pudesse ver como ele é lembrado e o que fizeram de sua pregação, ficaria muito mais revoltado do que ficou no tempo de Jerusalém!
4. Por que ainda existem deuses?
Resposta: porque há muito mais do que 2 milênios a grande maioria das crianças, são doutrinadas para acreditarem neles e, assim, permanecerem dependentes deles.
“A fé capacita-nos para ver o invisível, abraçar o impossível, e dá esperança no incrível", escreveu um Reverendo. [Samuel Rodriguez, “Religious Liberty and Complacent Christianity,” (“A Liberdade Religiosa e o Cristianismo Complacente)," The Christian Post, 10 de setembro, 2013].
Ver o invisível? Abraçar o impossível? Crer no incrível? Estes absurdos lógicos me causam repulsa! Isto é insensatez, desinteligência. Se frases assim, que contrariam a lógica, valem para os crentes, então posso recomendar que todos abracem estas outras: crer na dúvida, ter fé na dúvida, ter esperança na exasperação, exacerbar-se com a ciência!
Diz outro religioso [Rabbi David J. Wolpe] : "O nosso mundo moderno oferece-nos mais opções e possibilidades do que nunca antes. A ciência e a tecnologia ampliam continuamente o nosso conhecimento, e a diversidade de visões religiosas no mundo continua a crescer. Os nossos horizontes parecem estender-se mais longe e mais rápido do que nós somos capazes de assimilar. Mas, no final, continuamos a ser as mesmas criaturas espirituais. Ao longo das nossas viagens, o anseio interior perdura".
O que este religioso diz aqui está correto. De fato, a ciência evolui e amplia o nosso conhecimento, mas, mesmo assim, é crescente quantidade de criaturas que se julgam espirituais e continuam apegadas as mesmas crenças! Estagnadas!
Os religiosos não conseguem perceber o óbvio: a fé não admite a dúvida, logo bloqueia o pensamento, veda-se ao conhecimento científico. É por isso que é cada vez maior o número de criaturas que se julgam "espirituais"!
"Criaturas espirituais"? Para os crentes esta expressão parece ter sentido, mas para as pessoas capazes de aprender com o conhecimento científico da humanidade, não! Para estes esta expressão fere a lógica!
Espiritual, segundo as religiões, seria algo desprovido de corporeidade, seria algo imaterial. No entanto, não há nada de imaterial no universo. Matéria é tudo que tem massa (inércia) e ocupa espaço. O Universo que conhecemos é composto apenas por 4 tipos de matéria: Radiação (formada pelos fótons, que são partículas de luz), matéria bariônica (matéria formada por átomos), matéria escura (matéria que não interage com átomos, a não ser gravitacionalmente) e energia escura (energia de vácuo quântico, cujas partículas são tão pequenas que ainda não são detectáveis, a qual é correlacionada com a constante cosmológica de Einstein).
Cerca de 5% da matéria é visível e o resto é composto de matérias escuras. Escura, aqui, significa que não emitem nem absorvem ou refletem qualquer tipo de radiação. Portanto, não têm luz e não reflete luz.
Logo, segundo a ciência, não há nada de imaterial no universo, exceto talvez, o espaço absolutamente vazio!
Portanto, as pessoas que se julgam espiritualistas negam a ciência, negam todo o conhecimento humano adquirido sistematicamente com base no método objetivo e inteligentemente definido, conhecido como método científico. Isto me parece ser o cúmulo da petulância!
Para o muitos religiosos, como se depreende do texto seguinte, nossos desejos são a verdade que a ciência ainda não descobriu!
Leia o que diz o mesmo religioso acima citado: "As religiões partilham uma visão comum: há algo de incompleto sobre nós. E assim ansiamos pela plenitude". Pelo contexto pode-se concluir sobre a intenção do religioso: se pessoas sentem que há algo "incompleto sobre nós", então o espírito existe! Logo, se há pessoas que não se conformam com a morte, então o espírito é eterno!
O que há de incompleto nas pessoas religiosas é a profunda desarmonia entre as crenças que lhe foram incutidas e os fatos da nossa realidade.
Sei que a maior parte do povo da Terra nem sabe o que é Ciência e portanto vive na base da pirâmide do conhecimento humano. Por outro lado, todos eles, inclusive muitos dos que conhecem a Ciência, são doutrinados desde tenra idade para crer nas religiões. Quem é doutrinado põe fé nos preceitos religiosos que lhe foram incutidos e, em geral, os leva como dogmas para o resto da vida!
O cérebro bloqueia todo o pensamento que possa por em dúvida as "verdades" incutidas. É assim com todo o fanático. A fé rejeita a dúvida! O crente se condena a resignação!
Para esta parte da população, e somente para ela, concordo com o religioso quando ele diz: "se cada pergunta tivesse uma resposta pronta, não seriam necessárias as orações; se toda a dor tivesse uma cura fácil, não haveria sede de salvação"; "se cada perda fosse restaurada, não haveria desejo de alcançar o céu"; "enquanto estas necessidades permanecerem, também permanecerá a religião".
Diz o religioso: "ser humano significa experimentar a incerteza, o sofrimento e a morte". Ele está certo, mas isto não é motivo para não se encarar a realidade, fingir não vê-la e fingir que assim a religião o salvará! É o que faz o religioso quando afirma: "No entanto, a religião é uma escola para fazer com que o caos faça sentido, é um hospital para curar as feridas invisíveis, é uma tábua de salvação que nos dá uma segunda hipótese".
Não devemos esquecer que as religiões se transformam em poder político para seus líderes. Em outras palavras, as religiões são absorvidas pelo poder político e servem também a outros propósitos inconfessáveis.
A doutrinação religiosa cumpre com o papel de resignar o povo!
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