domingo, 25 de julho de 2021

Ciência, pseudociência e CoViD-19

 Por Almir M. Quites


Pseudociência é conjunto de crenças ou afirmações sobre a realidade, que se considera equivocadamente como tendo base em ciência e se apresenta com aparência científica, mas que partem de premissas falsas e/ou que não usam métodos rigorosos de pesquisa nem se submetem à contestação científica. 

Charlatanismo é a exploração da credulidade pública, inculcando ou anunciando curas por meios anticientíficos, secretos ou infalíveis.

O médico não é um cientista, mas sim alguém que estudou para aplicar a ciência. O bom médico sempre segue a ciência e não receita medicamentos para casos não previstos na bula!

O bom médico sabe distinguir entre ciência, pseudociências e charlatanismo.

O caminho das pseudociências é direto e curto!
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1. O desafio atual dos cientistas

Ainda não existe um antiviral para tratar a CoViD-19. As medidas de prevenção mais eficazes são: a vacina, como a principal, seguida pelo uso de máscaras antivirais, pelo distanciamento social, a higiene das mãos e evitar ambientes sem renovação de ar puro.

Enfatizo: a vacina é a forma mais segura de evitar a CoViD-19!

Os cientistas têm muito trabalho pela frente, porque o vírus Sars-CoV-2 tem uma capacidade de mutação muito alta, o que requer que as vacinas sejam atualizadas às novas variantes muito rapidamente. No Reino Unido, com financiamento do Departamento de Saúde e Assistência Social do governo inglês, a ZOE Covid faz pesquisas sobre uma possível queda acentuada da proteção contra a CoViD-19 das vacinas Pfizer e AstraZeneca, após meio ano de aplicação da segunda dose. Os pesquisadores acreditam que a eficácia geral caia cerca de 15% para ambas as vacinas.
A Universidade Católica do Chile também faz pesquisas similares com a CoronaVac. Tudo indica que ela perde sua eficácia em oito meses após a segunda dose.

É de se esperar que em idosos esta eficacia caia ainda mais rapidamente.

Estes são dados preliminares que ainda devem ser confirmados.
O certo é que as vacinas atuais perdem sua eficácia antes de 1 ano, mas continuam sendo a estratégia mais importante para conter a disseminação da CoViD-19 e a evolução de sua gravidade, a ponto de colapsar as UTIs e levar pacientes a óbito. Os cientistas do mundo precisam ampliar a colaboração entre eles e intensificar os trabalhos para produzir vacinas eficazes contra as novas variantes do vírus Sars-CoV-2 no menor prazo possível. 2. O desafio atual dos governantes

Os governantes do mundo já precisam programar a aplicação de doses de reforço em idosos e imunodeprimidos (aqueles que têm sistema imunólogico enfraquecido).

As medidas protetivas pelos estados e municípios devem continuar, sem abrandamentos. Os governantes do Brasil tem mostrado uma incapacidade de manter a população engajada na luta contra a CoViD-19 pelo que é básico, isto né , o uso de mascaras antivirais e o distanciamento social. Tão logo se passa pelo pico de uma onda, com muito sofrimento e muitas mortes, logo os governantes incentivam o povo a baixar a guarda. Isto é um erro grave, porque outra onda virá!
Baixar a guarda significa facilitar a chegada da nova onda e também tornar mais difícil retomar as defesas. Tenho apontado, em artigos, no meu blog, que é um grave erro traçar políticas sanitárias a partir apenas dos índices de ocupação de UTIs. Políticas sanitárias devem ser traçadas com base em projeções matemáticas para o futuro, relativas ao número de casos diários de CoVD-19 e de óbitos causados por ela. Estudos matemáticos deste tipo deveriam ser feitos no Ministério da Saúde, e também nos Estados e Municípios e amplamente divulgados.

Mostrarei, aqui, que e possível se fazer predições muito precisas do número de novos casos confirmados num determinado dia com. Pelo menos 1 mês de antecedência. O mesmo vale para para o número de mortes.

O que ainda não se pode prever é o dia do surgimento de uma nova onda, mas pode-se detectá-la imediatamente e, em cerca de 10 dias, confimar a sua existência.
A matemática é a ferramenta do cientista. O cientista é o verdadeiro mago, aquele não faz magia nem feitiçaria, mas que estuda, pesquisa e desenvolve teorias técnicas que funcionam! O resto é fantasia, ilusão. 

As equações matemáticas descrevem acontecimentos por meio de números. Estas equações são representadas em gráficos por meio de retas e curvas. A evolução da CoViD também é representada por equações matemáticas, as quais podem ser visualizadas por meio de curvas, em gráficos. A CoViD-19 segue a equação da curva sigmoidal, como todas as epidemias. 

Há dois tipos diferentes de gráficos para representar a equação desta curva:
1. Gráfico de 1° tipo (curva  forma de "S" inclinado);
2. Gráfico do 2° tipo (curva em forma de onda, algo entre um "U" ou um "V" emborcado).

2.1 Gráfico de primeiro tipo

As curvas sigmoides (em forma de "S", também conhecidas por curvas logísticas) descrevem os processos de crescimento natural de qualquer sistema (crescimento sob restrições). Muitos fenômenos da natureza seguem a equação matemática da curva logística, inclusive as epidemias (e pandemias). 

Observando estes gráficos, pode-se ver que a CoviD-19 é uma doença contagiosa que assola uma região em ondas sucessivas. Em cada onda, o crescimento do número de contágios ao longo do tempo segue perfeitamente uma curva sigmoidal, quer dizer, uma curva em forma de sigma, que é a letra do alfabeto grego que corresponde ao "S".  Veja, neste gráfico, a curva roxa ("red violet") tem a forma de um "Sinclinado para a direita.

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Observe que a régua vertical está graduada em número total acumulado de pessoas infectadas (total de contágios). Por sua vez, a régua horizontal está graduada em unidade de tempo, por exemplo, número de dias deste o início da epidemia. Dia após dia, marca-se neste gráfico o número total de pessoas já contaminadas. 

Este é o primeiro modo de representação da evolução de uma onda epidêmica. Ressalto: curva sigmoide é uma curva de casos acumulados (totalizados).

Conforme o tempo passa, maior será o número total de pessoas infectadas, até que as resistências ambientais ao contágio prevaleçam. Observe que este número começa aumentando bem devagar, mas a velocidade do contágio (número de novos casos por dia) vai aumentando exponencialmente até um ponto em que começa a diminuir. Neste momento, estamos no ponto de inflexão. No ponto de inflexão, tem-se o maior número de novas pessoas infectadas num só dia. É quando os hospitais entram em colapso, devido ao excesso de pacientes. 

Após o ponto de inflexão, a concavidade da curva, que ficava à esquerda, passa para a direita. Daí em diante, o número diário de novos casos começa a diminuir, até que se anula. Então, a curva chegou ao seu valor máximo e aí permanece, porque o processo de contaminação desta onda terminou. Este patamar indica, na régua vertical, o número total de casos desta onda da doença (número total de pessoas que foram infectadas  por esta onda). No caso da CoViD-19, a maioria destas pessoas se curam, outras ficam com sequelas (cerca de 70% das pessoas internadas por CoViD-19 ficam com sequelas, inclusive graves) e outras morrem.

As mesmas equação da curva sigmoidal também descreve muito bem a evolução do número de óbitos causados pela CoViD, as quais serão mostradas mais adiante. Por enquanto, siga lendo sobre a evolução do número de casos desta doença.

Uma sigmoide! Assim é cada onda da CoViD-19. Em outras palavras, neste tipo de gráfico, uma onda completa aparece como uma sigmoide completa. Muitas ondas pequenas, quando muito próximas, se somam e podem ser tratadas como se fosse uma só onda grande. 

Quando se conhece a equação da curva de determinada onda, pode-se calcular o número total de infectados em qualquer data. Não é profecia, vidência ou presciência, é ciência mesmo!

A curva matemática é como um monotrilho que a epidemia segue. Se, em algum momento ela descarrilhar para cima, então é porque uma nova onda surgiu e está se somando à primeira. Em outras palavras, se o número de casos começar a ser maior do que o previsto pela equação matemática, então é porque uma outra onda surgiu e os efeitos das duas se somam.

2.2 Gráfico do segundo tipo

Esta mesma onda pode ser retratada de um segundo modo. Basta representar na régua vertical o número diário de novas infecções. Para isso, dia após dia, marca-se neste gráfico o número de pessoas contaminadas naquele dia. Esta curva não será sigmoidal, mas terá a forma de um "U" ou "V" emborcado! Este é o segundo modo de representação da evolução de uma onda epidêmica. Esta curva é uma curva de casos desacumulados (por dia).

Veja, no gráfico abaixo, como fica a curva roxa ("red violet"), neste outro modo de representação. Esta curva, que é a derivada em primeiro grau da curva sigmoide, tem um ponto de pico (o máximo valor) e dois pontos de inflexão, sendo um na fase ascendente e outro na fase descendente.

Sigmoide dupla: um pico e dois pontos de inflexão.
O pico desta curva corresponde ao ponto de inflexão
do gráfico da sigmoide simples.


Conforme o tempo passa, maior será o número diário de pessoas infectadas, até que as resistências ao contágio comecem a prevalecer. Observe que, no início, este número começa aumentando bem devagar, mas a velocidade do contágio (número de novos casos por dia) vai aumentando o ponto no qual começa a diminuir.  Neste momento estamos no ponto máximo da curva, que corresponde ao ponto de inflexão do gráfico do primeiro tipo (de dados acumulados). Este ponto é aquele em que se tem o maior número de novas pessoas infectadas por dia, quando os hospitais entram em colapso, devido ao excesso de pacientes.

Após o ponto de máximo, o número de casos por dia começa a diminuir, até que se anula. A curva chegou ao seu final. O processo de contaminação terminou. A área total sob a curva, representa o número acumulado de infectados nesta onda (este é o número máximo da curva de primeiro tipo, da curva de dados acumulados, ou seja, da sigmoide simples). 

Assim é uma onda da CoViD-19 num gráfico de dados desacumulados (gráfico do segundo tipo). Também aqui, a curva é uma espécie de monotrilho que a epidemia segue e se, em algum momento, ela descarrilhar para cima, então é porque uma nova onda surgiu e está se somando à primeira. Em outras palavras, se o número de casos diários começar a ser maior do que o previsto pela equação matemática, então é porque uma outra onda surgiu e os efeitos das duas se somam.

Tudo o que foi exposto sobre o aumento do número de casos da doença também vale para a evolução do número de óbitos. Pode-se traçar também os gráficos de mortes a partir do mesmo tipo de equação matemática. 


3. O caso do Brasil 

No Brasil, já tivemos 4 ondas da CoViD. Cada uma delas é o resultado da soma de diversas ondas menores que estão quase em fase. As características de propagação e de gravidade da onda depende da sopa de diferentes variantes (cepas) dos vírus que a compõem.

Conforme li em documentos publicados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), desde o início da pandemia, mais de 200 variantes do vírus Sars-CoV-2 já se propagaram pelo Brasil. 

Pelas datas, pude constatar que a Primeira Onda tinha sido causada por um conjunto de variantes do vírus Sars-CoV-2 (uma sopa de variantes), das quais foi predominante a mutação E484K, cujas linhagens prevalecentes foram as B.1.1.28 e B.1.1.33

Segunda Onda teve a predominância da variante P1 (descoberta em Manaus), mas com importante contribuição da P2 (identificada no Rio de Janeiro) e B.1.1.7 (oriunda do Reino Unido). Quando a Segunda Onda terminou, bem no início de junho de 2021, uma Terceira Onda já havia começado, em  16 de dezembro (aproximadamente). 

A sopa de vírus da Terceira Onda teve o concurso predominante das variantes P1,  B.1.1.7 B.1.351 (da África do Sul). Quando a Terceira Onda terminou, em 18 de julho de 2021, uma Quarta Onda já havia começado, em 22 de março (aproximadamente). 

Ainda não sei dizer qual a diferença na composição da "sopa de vírus" da Quarta Onda em relação à Terceira. No entanto, é muito provável que já inclua uma pequena percentagem da variante delta (B.1.671.2), oriunda da Índia, considerada a mais agressiva.

Quarta Onda deve acabar em 14/09/2021.

Fica em aberto a pergunta: teremos uma Quinta Onda? Espero que a Quinta Onda, se houver seja mais separada da terceira, porque as pessoas com mais de 35 anos já estarão vacinadas, em grande percentagem.

A figura seguinte mostra todas as ondas da CoViD, agora em gráfico do 2° tipo (dados desacumulados).  Observe! 
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Neste gráfico, vê-se claramente os picos de cada onda, que são os dias de maior sobrecarga hospitalar. No pico da Terceiro Onda, correspondente ao dia 30 de março de 2021, o Brasil teve o maior colapso hospitalar e sanitário da história! Houve uma demanda enorme por leitos de UTI, quando todos os existentes já estavam ocupados. Pessoas morreram por falta de leitos para atendê-los! É impossível ampliar o número deste tipo de leito quando todo o país está em franco colapso sanitário ou à beira dele! Além do leito de UTI ser um equipamento muito especializado, necessita de pessoal qualificado e muito experiente, que não está disponível, especialmente nestes momentos de crise. 

Cada pico corresponde a uma onda diferente. Neste tipo de gráfico, conte o número de picos e você terá o número de ondas. Observe também, pela posição dos picos, que as ondas da CoViD do Brasil estão cada vez mais próximas, o que aumenta a sobreposição. Deste modo, a soma dos casos diários aumenta muito mais a sobrecarrega dos hospitais. Além das ondas estarem mais próximas, cada nova onda tem apresentado maior taxa de contágio.

A linha continua vermelha é a soma das ondas. Potanto, e o monotrilho ptevisto para as bolinhas vermelhas.

Hoje, dia 25/07/2021, estamos na fase descendente da Quarta Onda. Como não temos ainda uma quinta onda, a fase descendente da Quarta está coincidindo com a linha vermelha, mas, nos últimos dias, as bolinhas vermelhas descarrilharam da curva continua para cima. Isto pode ser o indício da Quinta Onda. Precisamos esperar mais alguns dias para ver se esta hipótese se confirma ou se as bolinhas voltam para a curva (o monotrilho).

Quantas ONDAS de VÍRUS ainda teremos? 

Quanto mais ondas surgirem mais chances há de surgirem novas mutações genéticas que possam tornar o vírus mais contagioso, ou mais agressivo, ou mesmo irreconhecível pelo nosso sistema imunológico, ainda que vacinado. Ainda bem que a ação dos anticorpos não é nossa única resposta imunológica, nem a mais importante. Vacinas como a da Pfizer, a da Moderna, e as vetorizadas, provocam uma boa resposta celular, que é outro mecanismo do sistema imunológico, menos suscetível a esse tipo de dificuldade de reconhecimento.

Sinais claros de abrandamento da CoViD causados pela vacinação só virão depois que a vacinação em duas doses for maior que 50% ou mais, caso a vacinação continue lenta.

O que se pode esperar agora é que a Quinta Onda venha mais espaçada da Quarta Onda. Com o avanço da vacinação, deve haver uma menor sobreposição das ondas, o que já ajuda muito. 

Pare ler mais sobre a CoVid-19 no Brasil, clique aqui: CoViD, Mortes evitáveis e evitadas


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