quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

A CoViD-19 se despede de 2020

 Por Almir M. Quites


Atualização em 31/12/2020 )   

A última década bateu todos os recordes de temperatura, desde que a humanidade começou a registrar as temperaturas diárias. O último ano, de 2019, tinha sido o segundo mais quente da história, segundo o serviço europeu Copernicus. O assunto predominante era a Emergência Climática. No entanto, em 2020, veio a pandemia da COVID-19, a qual pôs a humanidade de castigo, fazendo-a parar e pensar

Assim, muitos de nós pudemos perceber o egoísmo exacerbado que existe, o conceito irrefletido de que tudo o que há pertence somente a esta geração de seres humanos, que só o presente importa e o futuro não é de nossa presente responsabilidade. 

Com a pandemia, o planeta respirou aliviado! A Emergência Climática saiu do noticiário. Foi substituída pela Emergência Sanitária. Os profissionais de saúde, que enfrentaram o exército de vírus Sars-Cov-2, deram um belo exemplo de coragem, de abnegação, de sabedoria, assim como muitos outros trabalhadores de serviços essenciais. Os cientistas de todo o mundo colaboraram entre si, num enorme e penoso esforço para combater a pandemia. Em apenas um ano, desenvolveram diferentes vacinas, algumas tão inovadoras que acrescentaram um promissor avanço à Ciência. 

Hoje, nós e a CoViD-19 nos despedimos de 2020. Sai o ano, mas nós e a CoViD continuaremos em nosso enfrentamento.

O ano difícil nos obrigou a usar máscaras, mas que também desmascarou nosso comportamento obscurantista, nossa incultura (insciência), nossa incivilidade, nossa ingenuidade, credulidade etc., mas também revelou pessoas de nobreza de caráter, de magnanimidade, generosidade e coragem. 

Na guerra com a CoViD, perdemos amigos e parentes 😥. Enquanto sofríamos, muitos queriam esquecer que vidas importam!

Infelizmente, muitas pessoas ainda estão apegadas a comportamentos facciosos, formando grupos de "rebeldes sem causa"
(comportamento da "juventude transviada" das decadas de 50 e 60), sem cultura e sem inteligência. Grupos que fazem da mentira e da credulidade sua arma e seu meio de construção de um mundo imaginário, que substitui a realidade e torna seus crentes incapazes de colaborar com seus semelhantes, com sua própria comunidade. Formam seitas de combate à Ciência. Combatem até mesmo o uso de máscaras antivirais e outras restrições à vida pública, em plena pandemia. Alguns acreditam que as vacinas são desenvolvidas para controlar as pessoas, ou que o coronavírus simplesmente não existe. São teorias conspiratorias falsas, cínicas e perigosas, cruéis para com aquelas pessoas que estão de luto e para com aquelas que ficaram com graves sequelas após a penosa recuperação da CoViD-19, com a expectativa de vida reduzida.

A seguir, apresento os dados da evolução da CoViD-19 no ano se 2020. 

No artigo que publiquei em 17/10/2020 (item 4 dos comentários sobre o gráfico), observei uma pequena tendência da CoViD para se desviar da curva que estava matematicamente traçada. Naquele dia escrevi: "Isto significa que, se a curva das bolinhas se afastar para cima da linha roxa, isto significará que possivelmente se esteja iniciando uma segunda onda da CoViD-19".

Nos artigos seguintes, de 20/11 e 6/12, já pude anunciar:  "a Segunda Onda de contaminação da CoViD-19 já abraçou o Brasil e vai ser muito mais drástica". Inclusive levantei a hipótese de se tratar de uma nova linhagem do Sars-CoV-2, mais contagiosa, como a B-117 detectada no Reino Unido.

Passamos todo o ano tentando amenizar a CoViD-19, mas não conseguimos.

Poderíamos ter amenizado a segunda onda, mas também não fomos capazes! Não conseguimos nos coordenar para juntos enfrentarmos a adversidade. Faltou-nos altruísmo, abnegação, responsabilidade, lucidez, inteligência... 

Até o dia 31/10/2020, os dados cumulativos oficiais seguiram a equação da curva sigmoidal típica da evolução da CoViD-19. No entanto, tudo mudou, em 10/10/2020, conforme mostrei em artigo publicado em 20/11/2020. Indiquei que tinha havido "mudança de mecanismo" na evolução da CoViD-19. Mudança de mecanismo é a expressão técnica usada para dizer que ocorreu uma mudança no modo como o fenômeno em estudo está se comportando. Esta mudança foi o surgimento da Segunda Onda da CoViD, que se somava à primeira.

Mostrarei a situação atual separando as duas ondas, com dados atualizados. Para isso, analisei o gráfico do 2° tipo  Gráfico do número diário de casos oficialmente confirmados.

Atenção! Trabalho com funções matemáticas, não com média móvel, mas não é preciso entender de matemática para compreender este texto. Basta ler com real interesse!


1. EVOLUÇÃO DO NÚMERO DIÁRIO DE NOVOS CASOS 

Gráfico do 2° tipo
Evolução do número diário de casos confirmados da doença


Neste tipo de gráfico, a segunda onda fica mais evidente.  Observe a figura.

Gráfico de 31/12/2020 


Os triângulos vermelhos representam os números oficiais diários de novos casos, desde o primeiro caso, em 26/02/2020, até o dia de hoje, 31/12/2020, último dia do ano.

Primeira Onda, está pintada de verde-limão; a Segunda Onda está pintada de azul-claro. As linhas contínuas verde e azul seguem a função típica de curvas epidemias, com uma fase de crescimento, que passa por um pico e depois decai. A nossa CoViD evoluía assim, desde o início, mas, em 10/10/2020, surgiu uma Segunda Onda, que se soma à primeira, conforme se vê claramente no gráfico acima em azul forte. 

Segunda Onda só se torna evidente a partir de 01/11/2020. Ela é mais íngreme, cerca de 80% mais contagiosa que a Primeira. No artigo de 20/11/2020, escrevi que era "muito provável que o vírus desta Segunda Onda seja de uma nova linhagem denominada B.1.1.7, a qual foi descoberta no Reino Unido". Acredita-se que esta nova linhagem tenha se originado na África do sul. Tomara que esta nova linhagem não dificulte o seu reconhecimento pelos anti-corpus humanos, o que também aumentaria a gravidade da CoViD-19. No entanto, no caso de a mutação prejudicar o reconhecimento do vírus por anticorpos, ainda temos recursos. A ação dos anticorpus não é nossa única resposta imunológica, nem a mais importante. Vacinas como a da Pfizer, da Moderna, e as vetorizadas, provocam uma boa resposta celular, que é outro mecanismo do sistema imunológico, menos suscetível a esse tipo de dificuldade de reconhecimento.

A partir do surgimento da Segunda Onda, cada triangulozinho vermelho representa a soma das duas ondas: a Primeira, que continua descendente, e a Segunda, que é ascendente.

Observe que a Segunda Onda é bem mais íngreme. Ainda não chegou ao ponto de inflexão da fase ascendente e já está tão drástica quanto foi o pico da Primeira Onda.  

O resultado da soma das duas ondas está representado pela curva sinuosa roxa.

Ainda não podemos prever quando será o pico desta segunda onda, mas as estimativas iniciais indicam que será no mês de fevereiro.  

2. O BRASIL PERANTE O MUNDO
 
Em relação a outros países do mundo, quanto ao total de mortes por milhão de habitantes e por dia, o Brasil está hoje (15/12/2020) em oitavo lugar neste 'ranking' malévolo. Veja os 5 primeiros colocados: 
1° - Peru 
2° - Itália
3° - Espanha
4° - Reino Unido
5° - Estados Unidos

Na América do Sul, destacam-se, pelo bom desempenho, o Uruguai, o Paraguai, a Guiana e o Suriname.  Os dados da Venezuela não podem ser verificados por agências independente e, por isso, não são confiáveis.
 
Não esqueça que, ao comparar países apenas considerando o número de mortes diárias por milhão, não se está considerando questões importantes como o estágio da pandemia, a densidade demográfica, o perfil etário e o nível de testagem. A CoViD no Brasil, por exemplo, agora com a segunda onda, está em fase de grande crescimento e ainda acelerando.  

Não esqueçam também que, no Brasil, quase não fazem testes de confirmação da CoViD. Logo, os números do Brasil são subestimados em relação aos demais países.

Este mapa, abaixo, vai ser automaticamente atualizado todos os dias. Ele sempre estará atualizado. 

 

Com a chegada da segunda onda da CoViD-19 teremos que mudar nosso comportamento. Ela será bem mais danosa. 

3. DICAS AOS BRASILEIROS PARA 2021

Use a máscara antiviral!

A seguir, apresento algumas informações que ajudam no julgamento dos riscos que se corre com e sem o uso da máscara. 

A máscara não elimina o risco de contágio, mas o reduz, como se vê no filme da nuvem de gotículas contaminantes. Logo, mesmo com máscara, mantenha distância

Na filmagem foi usada uma técnica conhecida como Schlieren (listras), a qual permite que se visualize o fluxo de ar pela concentração de gotículas invisíveis que ficam em suspensão no ar enquanto a pessoa fala, respira e tosse, com máscara e sem máscara. 

Na imagem da esquerda, sem a máscara, a nuvem de concentração de gotículas vai mais longe, enquanto que, na imagem da direita, com a máscara, a nuvem de gotículas fica mais próxima do indivíduo que as emite.

Quando a pessoa está infectada pelo vírus da CoViD (Sars-Cov-2), as micro gotículas podem conter milhares ou milhões de vírus. O número depende do tamanho da gotícula.




Num ambiente fechado e sem ventilação adequada, a eficácia da máscara cai muito, porque a concentração das gotículas minúsculas, em suspensão no ambiente confinado, será bem maior. 

Não é surpresa para ninguém que restaurantes são ambientes propícios ao contágio da CoViD-19, uma vez que se precisa estar sem máscara para se alimentar. E para provar isso, cientistas da Universidade de Kobe, no Japão, usaram um modelo estabelecido a partir de dados experimentais para demonstrar como a simples distribuição das mesas e cadeiras nesses estabelecimentos pode fazer diferença na propagação do novo coronavírus (SARS-CoV-2).

A simulação mostra a emissão das partículas de aerossol em uma mesa com quatro pessoas, todas conversando e sem usar máscaras.

Num ambiente onde muitas pessoas se aglomeram, mesmo que estejan entrando e saindo, a eficiência da máscara antiviral também diminui muito, mesmo que as pessoas mantenham boa distância entre elas, porque o ar que exalam está sempre sendo produzido, com suas microgotículas carregadas de vírus. Fuja destes ambientes!

Na imagem abaixo, vemos o que acontece quando uma pessoa sentada fala em sua frente. As imagens mostram que cerca de 5% das gotículas vão para essa pessoa que está na frente.
<em>Reprodução: Kobe University</em>
Reprodução: Kobe University
A pessoa que está sentada na diagonal de quem está falando, tossindo ou espirrando, será atingida com um quarto da quantidade das gotículas.


<em>Reprodução: Kobe University</em>Reprodução: Kobe University


No entanto, quando a pessoa que está falando olha para o lado, a pessoa que está ali será atingida com mais de 25% das gotículas.

<em>Reprodução: Kobe University</em>
Reprodução: Kobe University

O resultado do experimento mostrou que a distribuição das mesas e cadeiras faz toda a diferença na propagação das partículas. 

Quando uma pessoa contaminada está sentada à mesa, as chances de o indivíduo que está em sua frente ser atingido por gotículas contaminadas é quatro vezes maior do que se o infectado estivesse em sua diagonal. Já a pessoa que está ao lado do contaminado é a que mais está em risco. 

Quando a pessoa com COVID-19 vira a cabeça para conversar com quem está ao lado, este está cinco vezes mais vulnerável à exposição, já que as partículas vão diretamente a ele.


Outras dicas, para pessoas que usam máscara antiviral!

Risco baixo
1) Abrir correspondência
2) Comprar comida para levar, abastecer carro, jogar tênis, acampar.

Risco baixo moderado
3) Ir ao supermercado; caminhar, correr ou andar de bicicleta com outras pessoas.

Risco moderado
4) Ficar hospedado em hotel por duas noites; esperar na recepção do consultório médico; ir à biblioteca ou ao museu; comer em restaurante (área externa); caminhar pelo centro da cidade; passar uma hora em parque infantil.
5) Jantar na casa de outra pessoa; ir a churrasco; ir à praia ou ao shopping; 
6) Jantar na casa de outra pessoa; ir a churrasco; ir à praia ou ao shopping; 
7) mandar as crianças à escola, ao acampamento ou à creche; trabalhar por uma semana em escritório; nadar em piscina pública; visitar idosos em casa

Risco moderado alto
8) Ir ao salão de beleza ou barbearia; comer em restaurante (área interna); ir a casamento ou funeral; viajar de avião; jogar basquete; abraçar ou apertar a mão de alguém.

Risco alto
9) Comer em bufê; ir à academia de ginástica, ir a parque de diversões ou a cinema;
10) Ir a show grande ou evento esportivo em estádio; ir a culto religioso; Ir ao bar

O risco pode variar conforme o comportamento geral de segurança da população.


Fonte: BBC News Brasil


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