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sábado, 28 de novembro de 2020

O retrocesso de 1996: o voto sumiu!

 Por Almir M. Quites


"Nós x eles" é uma falácia utilizada por autocratas, tiranos. É uma divisão nacional muito mais antiga do que "petismo x bolsonarismo". Com ela, germinam o sectarismo e a intolerância. 

Todos os políticos populistas se utilizam desta falácia para sequestrar o Estado em prol de um grupo organizado de dominação. Quem está no poder lucra com esta divisão, mas os cidadãos perdem, porque precisam de união nacional para poder fiscalizar o governo e não ser explorado por ele.

A solução dos grandes problemas de um povo, aqueles que são comuns a todos os cidadãos, como as lutas por educação, por saúde e pelo próprio resgate do Estado, requer união e coordenação. O sectarismo e a intolerância impedem estas lutas, aprisionam os cidadãos num conflito entre eles próprios e os faz esquecer seu dever de fiscalizar o Estado! O mérito de qualquer pequeno avanço, que os cidadãos conquistem, é sordidamente atribuído ao déspota da vez. E, nesta distração, o tempo passa...

Assim, o povo "entrega o ouro aos bandidos"! Isto também aconteceu no Brasil. 

O Estado brasileiro já foi, há muito tempo, sequestrado por uma organização criminosa mor (OrCriM), orbitada por outras menos poderosas. Os verdadeiros líderes nem precisam estar em cargos públicos. Vivem em doce discreção, com os bônusmas sem os ônus dos cargos públicos. 

Com isso, o controle do PIB do Brasil, cerca de R$ 7 trilhões, serve muito mais às organizações criminosas que sequestraram o Estado e, junto com ele, a nossa democracia! Estas organizações são suprapartidárias, não dependem de quem seja o Presidente da República.

Tudo indica que os brasileiros não escolhem livremente seus líderes nacionais, nem mesmo seus representantes no Congresso Nacional. No entanto, não sabem disto. 

Nos anos medianos, entre dois bissextos, os brasileiros têm eleições para escolher seus líderes nacionais. Eles vão até um computador, que curiosamente chamam de "urna eletrônica", embora não seja urna, nem contenha votos. Lá, eles apertam teclas para indicar sua intenção de voto. Na tela, aparece a foto do candidato escolhido. Então, eles apertam um botão onde está escrito "confirma" e, na tela, aparece "FIM". O eleitor vai embora. Vai confiante que sua intenção de voto foi registrada, mas é apenas uma crença. Ele não tem como saber o que aconteceu dentro do computador, porque a máquina obedece a um "software", não ao eleitor. O "software" é um conjunto de comandos humanos redigidos em linguagem de máquina. Se o software mandar a máquina fazer  2+1 = 99, ela faz! 

O "software" é secreto. Nunca é testado por auditores independentes e livres. Também o "hardware" e os "firmwares" não podem ser examinados e testados. Quem escreve o "software" são os donos das "urnas eletrônicas". Dentro delas só há sutis e efêmeras correntes elétricas. Não há votos que possam ser recontados. No fim do dia, todas as "urnas eletrônicas" transferem o suposto resultado da contagem de votos para um "pendrive" dos donos das urnas. Outros computadores supostamente retransmitem estes dados, presumidamente sem alterá-los, para um computador do "Supremo Tribunal Eleitoral" (TSE), que é o dono das chamadas "urnas eletrônicas". Este Tribunal, no mesmo dia, com toda a pompa e grande divulgação, anuncia ao povo o resultado final das eleições.

A grande maioria dos brasileiros têm fé absoluta na honestidade de todos os "softwares" e de todas as pessoas que os manejam no "Superior Tribunal", o qual, além de ser o dono das "urnas", é quem legisla sobre as eleições (o que usurpa a função do Congresso Nacional), é quem executa o "processo eleitoral" e também é quem julga os processos (as demandas judiciais) contra ele mesmo (o réu). Obviamente nunca houve fraude oficialmente comprovada, porque, em todo o processo, não há votos que possam ser recontados para verificação! Nas eleições brasileiras, os votos são virtuais, para os programadores do TSE, e imaginários, para os eleitores! Contudo, inundados de propaganda da infalibilidade das "maravilhosas urnas eletrônicas", os brasileiros ainda acreditam que possuem o sistema de apuração eleitoral mais avançado do mundo e não entendem por que o Brasil é o único país que realiza suas eleições exclusivamente com máquinas de votar tipo DRE ("Direct Recording Electronic"), sem impressão de trilha de auditagem ("Voter Verifiable Paper Audit Trail - VVPAT”; ou Verified Paper Record - VPR), pelo qual o eleitor poderia verificar e confirmar o seu voto, não a foto do candidato. 

Contudo a fraude é evidente. Ela está escancarada no fato de os eleitores brasileiros não terem meios de conferir a apuração eleitoral. Este direito lhes foi roubado desde a primeira eleição eletrônica de âmbito nacional, em 1996. Este foi o grande retrocesso, um crime hediondo, porque roubaram de todos os cidadãos o direito consagrado no artigo 37, § 1º da Constituição Federal como sendo o Princípio da Transparência dos Atos Públicos, o direito ao livre acesso de todos a todas as informações sobre atos administrativos, para que a fiscalização do governo pelo povo seja possível

O escritor britânico George Orwell previu, em seu livro, publicado em 1949, o que ocorreria em 1984 (o nome do livro), mas que aconteceu no Brasil 12 anos depois e persiste até hoje, há 24 anos! 

Até quando? O Brasil está estagnado no tempo. A "urna eletrônica" brasileira permanece estagnada há 24 anos! 

Precisamos resgatar o Estado brasileiro e também a nossa democracia. Isto não será possível enquanto o Brasil continuar radicalizado nesta insaninade do "nós x eles". A nossa missão de resgate não pode ser associada a nenhum dos polos, ou nunca será alcançada. Cada polo sempre terá contra si o repúdio do outro polo e também da grande maioria dos brasileiros, que está calada e oprimida entre eles!

Qualquer processo de apuração eleitoral deve ser auditável!

Agora, convido o leitor a ler este artigo publicado há 7 anos, em 2013:

Exige-se fé na urna eletrônica

https://almirquites.blogspot.com/2013/06/exige-se-fe-na-urna-eletronica.html


Continue lendo aqui, sobre o mesmo tema:

Agora, criticar a "urna eletrônica" é "Fake News" por definição, passível de punição!

https://almirquites.blogspot.com/2020/11/fake-news-de-fact-checkers-ou-noticias.html



Para ler artigos sobre as urnas eletrônicas brasileiras, 
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