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terça-feira, 2 de outubro de 2018

Voto de cabresto

Por Almir M. Quites



Percebi, pelo Whatsapp, que muitos eleitores não sabem o que é "voto de cabresto". Até precisei esclarecer que, nesta expressão, a palavra "cabresto" é uma metáfora, uma alegoria, que indica que o votante foi conduzido em sua escolha. Obviamente, em toda a história da humanidade, ninguém colocou um cabresto no eleitor e o puxou por uma cordinha até a urna.

O voto de cabresto também é conhecido como "voto constrangido".

"Voto constrangido" não é votar se sentindo envergonhado, encabulado ou acanhado. Voto constrangido é o voto impelido, induzido, coagido, sendo que o eleitor é levado a votar em quem ele não queria. Não importa como o eleitor se sinta. O que importa é que ele foi limitado e/ou coagido e obedeceu a uma vontade externa, ainda que inconscientemente. Aliás, ninguém se sentiria envergonhado ao votar, porque o voto é secreto. 

Quando alguém é abordado para participar de pesquisas de intenção de voto, deveria responder: "Não participo, porque o voto é secreto". De fato, estas pesquisas só servem para desvirtuar o primeiro turno das eleições majoritárias. A finalidade do primeiro turno é apurar as preferências dos eleitores sobre todos os candidatos, sem exclusões indevidas. A ideia de voto útil, nesta etapa, deturpa seu objetivo.

O chamado "voto útil" é um voto de cabresto!

Atualmente, com as redes de TV e o avanço da telemática, o voto de cabresto não se limita mais a uma ou algumas seções eleitorais. Ele pode ter amplitude nacional. É o que acontece nas eleições brasileiras. As pesquisas de intenção de voto, que ocupam diariamente o noticiário brasileiro, põem cabresto nos eleitores brasileiros. 

As pesquisas de intenção de voto estão servindo para induzir o voto dos eleitores. A falha metodológica já foi demonstrada pelo pessoal da Universidade, mas a imprensa e a TV tratam as pesquisas como se fossem uma apuração eleitoral prévia isenta de falhas, um levantamento honesto, fidedigno. Apresentá-los deste modo ao público é trapaça. 

Como os eleitores estão sendo constrangidos neste ano? É o que vou explicar agora.

A evolução das percentagens de intenção de votos é uma narrativa, um enredo novelístico, ao eu ver, premeditado. 

Neste ano, o que fizeram foi escolher um adversário para o PT. Escolheram Bolsonaro. O PT ficou na moita, nem fez campanha, não atacou ninguém com aquela voracidade de costume. Deixou que as tais pesquisas fizessem o serviço indecente. 

As pesquisas apresentaram aos brasileiros uma falsa polarização entre Haddad e Bolsonaro (o adversário escolhido) e, com isso, levaram Haddad ao segundo turno. Como fizeram isto? 

Primeiro, mantiveram Lula como candidato e divulgaram que ele tinha quase 40% de intenções de voto! O Data Folha, em 22/08/2018, publicou que Lula tinha 39% de intenções de votos, quando se sabia que ele nem seria candidato, porque, como presidiário, estava afastado da convivência em sociedade para ressocialização (o desafio das prisões brasileiras)! A informação era falsa, mas ninguém a questionou. 

Lula nunca teve quase 40% de intenção de voto em primeiro turno em nenhuma eleição anterior, quando ele ainda era considerado honesto, sincero, puro, alguém que destemidamente falava a verdade! Mesmo assim e apesar da condenação de Lula ter sido em todas as instâncias da Justiça, com tudo isso, as pesquisas de intenção de voto convenceram os eleitores.

Depois, numa segunda etapa, já sem Lula e com Haddad no seu lugar, as pesquisas divulgaram que Lula tinha transferido cerca de metade de suas intenções de voto para Haddad. Também divulgaram um crescimento na percentagem de Bolsonaro e um esvaziamento dos demais candidatos. Os eleitores se convenceram de que havia uma polarização insuperável entre Haddad e Bolsonaro

Alckmin, Álvaro Dias e Amoedo foram esvaziados porque os eleitores acharam que eles não tinham chances de chegar ao segundo turno. Os eleitores migraram para Bolsonaro achando que faziam uma escolha livre e racional. Os demais candidatos, como Marina e Ciro Gomes, também perderam apoiadores, mas para Haddad

Bolsonaro foi considerado como o único opositor ao PT com chances de derrotá-lo! Vejam só, logo ele! Haddad também foi considerado ser o único opositor viável a Bolsonaro. No entanto a polarização induzida resultou assimétrica. O PT substimou a sua rejeição!

Bolsonaro foi aliado do PT até 2010. Da tribuna da Câmara, chamava Lula de "companheiro Lula", votava sempre junto com o PT. Em 1999, deu entrevistas dizendo-se admirador do ditador Hugo Chávez e defendendo publicamente a implantação do Bolivarianismo no Brasil. Chegou a indicar José Genoíno para ministro da Defesa! Hoje, os bolsonaristas fecham os olhos e as mentes a estes fatos.

A partir de 2010, quando o PT começou a perder força, Bolsonaro foi "virando a casaca" e, aos poucos, foi se apresentando como anti-PT. 

Hoje, os antipetistas insanamente apoiam Bolsonaro por terem medo do PT. Acreditaram, de novo, nas pesquisas de intenção de voto e, induzidos por elas, decretaram que os demais candidatos não teriam chance alguma. Assim, os que se bandearam para Bolsonaro fizeram justamente o que o PT queria.

O PT soube tirar vantagem do medo do PT! 

Os que abandonaram seu candidato e se bandearam para Bolsonaro são os que foram capturados e levados pelo VOTO DE CABRESTO. Foi um cabresto nacional, tal como aconteceu em 2014. 

Para entender bem o significado desta frase, leia estes dois textos: 

Depois de ler os dois artigos, pergunte a si mesmo: "Estou sendo levado pelo cabresto?"

Pergunte-se também: "Quem armou tudo isso?"

Bolsonaro me parece ser apenas um caminho alternativo para uma nova ditadura, explícita ou disfarçada! Tanto o golpe do PT como o golpe de Bolsonaro (ele é defensor da "intervenção militar"), se houver, serão o mesmo golpe, com as mesmas Forças Armadas e os mesmos militares.

Estamos agora com dois caminhos que levam ao mesmo matadouro. Ambos os times, o de Bolsonaro e o do PT, sempre prometem algo bonito como "amor à Pátria" e "pacificação nacional"! No entando a ação será a mesma. A OrCriM continuará e a operação Lava-Jato estará em grande perigo.

Não participe de PESQUISAS ELEITORAIS! 
Seu voto é secreto.

𝓐𝓵𝓶𝓲𝓻 𝓠𝓾𝓲𝓽𝓮𝓼
A. Quites
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