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quinta-feira, 8 de outubro de 2020

A Negação da CoViD-19

 Por Almir M. Quites

Diante de uma pandemia como a CoViD-19, que abalou o mundo, ainda há milhões de pessoas que preferem negar a realidade para escapar de uma verdade desconfortável. Na ciência, o negacionismo é definido como a rejeição de conceitos básicos, incontestáveis e apoiados pelo consenso da comunidade científica em favor de invencionices, mitos e outras ideias radicais ou controversas.

"É pouco. Muito pouco mesmo!"

É o que vejo muitos bolsonaristas dizendo agora. E depois complementam: "Bolsonaro tinha razão, não precisava ter quarentena". Por vezes até dizem que "a quarentena foi um complô internacional esquerdista..."

José Roberto Guzzo, um bolsonarista que por vezes perde a paciência com o governo, embora raramente, escreveu hoje (26/09) em seu 'twitter': "Até o momento, pelo que informam as estatísticas oficiais, cerca de 30 milhões de pessoas em todo o mundo foram contaminadas pelo coronavírus desde março. É menos de 0,4% da população mundial, hoje estimada em quase 8 bilhões de pessoas".

Em outro momento, justificando-se, J. R. Guzzo diz: "a previsão era que haveria 1 milhão de mortos”, referindo-se ao Brasil.

A matemática está certa, mas a interpretação deve ir além da aritmética.

Não sei (Guzzo não informouquem fez a previsão de que seria 1 milhão de mortos. O que lembro é que, no inicio de março, nos cenários mais pessimistas, algumas projeções apontavam milhões de mortos, mas não só pela COVID-19, mas também pelo colapso generalizado no atendimento médico.

Bem, isto já não importa! Uma previsão de mortalidade, feita bem no início de uma pandemia ainda desconhecida, não é parâmetro válido de comparação na avaliação da sua gravidade. 

Há muitos anos acompanho os artigos J. R. Guzzo. Admiro sua forma de expressão e sua sagacidade ao analisar os fatos da política. No entanto, desde a ascensão do bolsonarismo, tenho discordado de muitas de suas análises. Discordar é normal, mas o fato é que um de nós dois mudou! Acho que foi Guzzo, porque eu nunca aceitei o bolsonarismo pelas mesmas razões pelas quais nunca aceitei o petismo. Para mim, o primeiro foi feito à imagem e semelhança do segundo!

Bem, volto à questão da CoViD-19.

No mundo, só a CoViD já causou 1 milhão de mortos e 2 milhões de sequelados tiveram a sua expectativa de vida reduzida. Tudo isso em menos de 1 ano! Além disso, este número é o oficial, que sempre é menor que o número real.

Dos mortos, cerca de 900 mil eram idosos! Há quem diga que a percentagem é insignificante! 'Do the elderly matter?" (Os idosos importam?). Respondo: "Yes, they do". 

Os que negam a importância da CoViD-19, desconsideram o direito de cada cidadão à saúde. Deveria ser "todos por um e um por todos"! Mas não é assim.

No caso do Brasil, a taxa de mortalidade anual dos últimos anos é aproximadamente de 6 por 1000 habitantes, logo 1.260.000 mortes por ano. No entanto, só a CoViD (uma só causa), acrescentou, em apenas 7 meses (desde 26/2), cerca de 12% ao número total de mortes deste ano. Isto é pouco? Óbvio que não! É muito grave. Além disso, este número de mortes pela CoViD-29 é o oficial, o qual no Brasil (devido ao baixo número de testes) é bem subestimado! Some a isto cerca de 300.000 sequelados, cuja expectativa de vida se reduziu. 

Na verdade, o que vimos no Brasil desde que a CoViD chegou, em 26/02, além de muitas agressões à democracia, foi o descaso do governo federal com a pandemia. Nem uma palavra sobre os mortos, nenhuma intenção de somar esforços no combate a pandemia, nada sobre estratégias nacionais para controlá-la. Vimos apenas o descaso com a doença, até mesmo deboche, enquanto a única preocupação do Presidente era com a sua reeleição em 2022. Como se, usar o mais alto cargo do Estado para fazer sua propaganda eleitoral, não fosse crime de improbidade administrativa! 😥 

O que se viu governo federal foi o negacionismo, o qual nunca foi dirigido apenas à pandemia, mas à ciência em geral e à própria racionalidade. Há questões mais profundas neste comportamento, que vão da simples ignorância até a vaidade extremada, mas passando por questões epistemológicas, por questões ético-políticas relativas aos direitos humanos e por estratégias políticas vinculadas ao fundamentalismo neoliberal da 'Alt Right' norteamericana, que os bolsonaristas copiam.

Para ler outra discordância minha de J. R. Guzzo, clique aqui:
O Direito entortado pelo sectarismo

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