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quarta-feira, 17 de junho de 2020

CoViD-19 em Floripa

Por Almir Quites

Sars-Cov-2 em Floripa.

Apresento  dados e previsões sobre a evolução da CoViD-19 em Florianópolis. 

Em relação às outras cidades brasileiras de igual porte, Floripa parece que vai bem. Acontece que esta comparação não é simples de ser feita, porque a CoViD está em estágios diferentes nas diversas cidades e há critérios diferentes de contabilizar os novos casos. Há técnicas para fazer a comparação, colocando em fase as curvas das diferentes cidades, mas, por enquanto, não tenho dados suficientes para fazer este estudo. 

Em relação ao Brasil, certamente Floripa tem melhor desempenho, porque a aclividade da curva epidemológica de Floripa é bem menor.

Por enquanto, deixo de lado as comparações e passo a analisar os dados da nossa cidade.

Até hoje, aqui em Floripa, 1155 casos e 10 óbitos foram registrados. 

O dado mais importante é o número de casos confirmados, porque é a partir deste número que se pode prever o futuro da série de novos casos diários e, assim, prever o impacto da doença sobre o Sistema de Saúde da cidade. Este impacto pode colapsá-lo. Atá agora, Florianópolis vai relativamente bem, mas se o sistema colapsar por excesso de demanda, os superlotados hospitais não poderão atender os doentes da CoViD nem de nenhuma outra doença, nem vítimas de qualquer acidente.  

número de mortes certamente é um dado trágico, mas não impacta o Sistema de Saúde. Além disso, é muito impreciso, por dois motivos:  
  • sub notificação e
  • dificuldade de discernir sobre a real causa da morte quando o Sistema de Saúde está colapsado ou a beira de colapso. 
número de recuperados é confortador, mas também não impacta o Sistema de Saúde. Todos os doentes recuperados ficam imunes, não contagiam mais. Não afetam o sistema de saúde a curto prazo, porque podem ficar com variadas sequelas que só trarão problemas no futuro. 

Passemos à análise.

Observe o gráfico que segue. Nele temos, na régua horizontal (eixo das abcissas), o tempo, contado em dias a partir de 22 de fevereiro de 2020. Na régua vertical (eixo das ordenadas) temos o número de casos da doença oficialmente confirmados. Assim, a cada dia da régua horizontal temos um ponto da curva que representa o número total de casos confirmados até aquele dia. Esta curva é chamada de sigmoide porque tem a forma de "S" maiúsculo (a letra "S" é chamada de sigma, em grego). 


Neste gráfico, até o dia 16/06/2020, temos os números totais dos casos já confirmados, em bolinhas vermelhas. Daí para cima, temos três curvas calculadas pela função logística. Todas se ajustam às bolinhas vermelhas. Portanto são previsões matemáticas do futuro. A curva em azul é a mais otimista das três. A verde é a mais pessimista. Por qual delas vamos seguir? Isto dependerá do comportamento do povo, quanto maior for a imobilização e o isolamento social, mais chance teremos de ter menos doentes da CoViDs, menos mortes e menos tempo de restrições sociais e econômicas.   

Observe que o dado mais atual de Floripa, (de 16/06) está abaixo da altura do ponto de inflexão das três curvas. Este ponto corresponde ao dia mais crítico para o Sistema de Saúde. É o dia em que o número de novos casos diários será maior. Isto significa que o número de novos casos diários da COViD-19 ainda é crescente. Teremos leitos suficientes aqui na nossa Floripa?  

Este ponto é diferente em cada curva. 

Na curva mais otimista (a azul), o ponto de inflexão será alcançado no dia  2 de julho e o número previsto de novos casos de CoViD será de 20 por dia. O máximo da curva (o patamar superior) está em 3.000 casos confirmados.

Equação da curva azul
y = 3000/{1+exp[-0,0258.(t-131,846)]}, onde y é o número de casos confirmados e t é o tempo em dias desde o primeiro caso. 

Na curva intermediária (curva vermelha), o ponto de inflexão será no dia 18 de julho e o número previsto de novos infectados confirmados será de 26 por dia. O máximo da curva (o patamar superior) fica em 4.000 casos confirmados.

Equação da curva vermelha
y = 4000/{1+exp[-0,026.(t-148,3633)]}

E, na curva mais pessimista (a curva verde), inflexão será no dia 6 de agosto, quando teremos 30 novos casos. O máximo da curva (o patamar superior) fica em 5.000 casos confirmados.

Equação da curva verde
y = 5000/{1+exp[-0,024.(t-166,66)]}

Atualmente, dia 16 de junho, chegam, em média, 15 novos  casos confirmados por dia. 

Claro que a curva azul seria obviamente a melhor. A cada dia coletarei os novos dados e os colocarei no meu gráfico. Daqui a uma semana já saberemos que rumo estamos tomando. 

Depois do dia do ponto de inflexão  ser ultrapassado, o número de novos casos diários de CoViD começará a se reduzir lentamente. O alívio só será sentido, pelo pessoal da saúde, lá pela segunda semana de setembro.

A imagem ao lado mostra a situação de cada região da cidade. As cores variam do vermelho ao verde claro. A região vermelha se restringe ao centro antigo da cidade (177 casos). Depois, temos as regiões roxas. Estas estão no bairro da Agronômica (79 casos) e da Trindade (com 55 casos). No Continente, temos o bairro de Monte Cristo, com 55 contaminados. As demais regiões estão todas abaixo de 50 casos confirmados. Atualmente a região menos afetada pela CoViD é a dos bairros do sul da ilha.

Espero ter mostrado que, embora pareça que nós, aqui do Sul do Brasil, estamos bem, controlando as hordas de vírus, o fato é que não sabemos o futuro com certeza. Não podemos relaxar. Não devíamos estar abrindo o comércio e o sistema de transportes, como estamos fazendo. Pode ser que apenas estejamos defasados, numa fase anterior em relação aos outros estados do Brasil. E pode ser que segundas ondas originárias de outros Estados ainda estejam por chegar!

A unica estrategia de defesa que temos e não deixar que os vírus passem de uma pessoa para a outra. Eles dependem disso para existirem.

Um ser pequeníssimo atacou o nosso país. Um vírus. É muito, mas muito pequeno mesmo, mas extremamente numerosos e com uma tática muito eficaz. Chega sorrateiro, parecendo inofensivo. 

Seria muito fácil conter a CoViD-19! Quando vírus chegou ao Brasil já tínhamos informações que os europeus e asiáticos não tinham ainda, quando foram atingidos. Mesmo assim, não fomos previdentes. Bastaria que o povo brasileiro tivesse mais responsabilidade e capacidade de entendimento, mas... não tem! Explico a seguir. 

Se todos os brasileiros fizessem uma quarentena de 15 dias, o contágio seria interrompido e o vírus seria exterminado, porque ele só se reproduz dentro das pessoas. O vírus não dura mais que 5 horas no ar e não mais que 100 horas nas coisas. Estancandr a contaminaçao por duas semamas seria suficiente para ganharmos a guerra em pouco tempo. Os contaminados, que permanecem assintomáticas por duas semanas (ou com sintomas leves) se recuperam e ficam imunes e não mais retransmitem o vírus (embora ainda não se tenha certeza científica de que isto ocorra mesmo em todos os casos)

Foi o que a Itália fez na Lombardia. Uma quarentena rigorosíssima! Foi o que deu certo lá! 

Apenas 15 dias! 
A quarentena eliminaria o contágio geral, mas a vigilância sanitária, especialmente nas fronteiras, deveria continuar muito atenta para isolar possíveis novos casos. Não iríamos permitir o surgimento de uma nova onda de contaminação. 

No entanto, o nosso povo não é capaz de se unir para enfrentar o inimigo, nem o governo é capaz de conscientizá-lo, ai contrário, nosso governo foi o grande aliado do virus! Enquanto as pessoas sustentam ridículas discussões sobre a CoViD-19, cheias de tolices e grosserias, a virose progride aceleradamente.

quarentena rigorosa sacrifica a economia a curto prazo para salvá-la da devastação pelo vírus a longo prazo

Ainda que tarde, o Brasil deveria seguir o exemplo da Itália! 

O ideal seria tê-lo feito bem no início, na época em que fizemos o carnaval. Num processo exponencial, tudo o que se faz bem no início repercute muito acentuadamente no final. No tempo do carnaval já se sabia que o vírus já circulava no Brasil, embora ainda não tivéssemos tido o primeiro caso oficialmente confirmado.

O preço da saúde pública é a eterna vigilância! Lembrei da frase "o preço da democracia é a eterna vigilância", frequentemente (e erroneamente) atribuída à Thomas Jefferson.

Um lembrete: a idolatria tolhe a vigia!


Nota: para ver como o carnaval e a manifestação política do dia 15 de março afetaram curva, leia aqui:

➠ ENTENDENDO COMO PERDEMOS A GUERRA (publicado em abril)
https://almirquites.blogspot.com/2020/04/covid-19-entendendo-porque-perdemos.html

A pandemia da CoViD-19 se alastra por números impressionantes porque o vírus é invisível, os sintomas são leves ou imperceptíveis e a letalidade é baixa. Ele é como um máu político espertalhão: parece inofensivo! É justamente por isso que a transmissão se acelera e o número de mortes cresce terrivelmente. 

Pobre povo brasileiro! Com um péssimo sistema educacional, o brasileiro desperdiça a vida. Não conseguimos nos unir nem mesmo nos objetivos comuns fundamentais. 

A quantidade de pessoas infectadas cresce. A equação matemática que se aplica ao caso é exponencial. A palavra 'exponencial' significa descomunal, excepcional, no caso, terrível! É isso mesmo!

Nesta guerra, morrem 
atualmente mais de 1200 brasileiros por dia e mais de 32.000 "feridos" chegam aos hospitaistambém por dia! Estes números ainda estão aumentando!

Muitos se recuperam da doença, mas ficam com sequelas variadas que, em muitos casos, diminuem a expectativa de vida. 

Cuidem-se e cuidem dos outros! 

Para mais, sobre este tema, clique aqui: 

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