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segunda-feira, 3 de junho de 2019

Combate a criminalidade não é brincar de mocinho e bandido

Por Almir M. Quites



Hoje, escrevi para conhecidos de um grupo de Whatsapp, o seguinte: "A arma de fogo tem seu fetiche histórico. Este muda o comportamento normal de quem a porta. É como se a própria arma fosse capaz de comandar o gesto de ataque e apertar o gatilho".

Este trecho foi retirado de um artigo que escrevi em maio deste ano. Convido o Leitor/a a lê-lo:
ARMAR O POVO REDUZ A CRIMINALIDADE?
https://almirquites.blogspot.com/2019/05/armar-o-povo-reduz-criminalidade.html

Logo em seguida, uma pessoa que participava do grupo respondeu: "Foi o que aconteceu com o Jorginho, aqui do meu bairro!"

Pedi que ela relatasse o fato. Por isso, ela me mandou vários links de notícias sobre o ocorrido. Este é um deles: 
FILHO CONFESSA TER MATADO O PAI DURANTE DISCUSSAO SOBRE DÍVIDA
https://tribunademinas.com.br/noticias/cidade/31-05-2019/filho-confessa-a-policia-ter-matado-pai-apos-discussao-sobre-divida-em-jf.html

O corpo de Waldir Jorge Zampier, de 64 anos, foi localizado em uma ribanceira nesta última quinta-feira (30 de maio), seis dias após o homicídio, no Distrito de Sarandira, Juiz de Fora, MG. Depois que a investigação desvendou o caso, que inicialmente era de desaparecimento, o filho, Felippe Zampier, de 24 anos, confessou ter matado o pai e teve sua prisão temporária decretada pela Justiça.

O pai tinha colocado o filho na administração de sua empresa e descobriu empréstimos feitos pelo filho que desviava recursos da empresa. O pai, então, exigiu que o filho fosse com ele ao Banco para desfazer a operação bancária, mas discutiram no carro e, em circunstâncias ainda não totalmente esclarecidas, foi baleado, na cabeça, pelo próprio filho.

Muito triste o que aconteceu! Observe que o porte de armas ainda é ilegal. Imagine se não fosse!

É óbvio que, se houver mais armas de fogo disponíveis, então, nestes momentos críticos, a possibilidade de desfecho trágico e letal aumenta muito! Só não compreende isto quem não quer, talvez por estar com o pensamento bloqueado por algum tipo de fanatismo.

Combate a criminalidade não é brincadeira infantil de mocinho x bandido!
A pessoa que se arma para se defender está se identificando com o agressor. A violência sempre se faz passar por uma resposta à violência alheia. Afinal, violentos são sempre os outros? 


Em 2015, a revista “Slate” publicou uma longa reportagem intitulada “The Myth of the Good Guy with a Gun” (“O Mito do Bom Sujeito com uma Arma”) a qual analisava vários estudos científicos existentes a respeito do impacto social do porte de armasO título não deixa dúvidas sobre o que dizem os dados: a ideia de que um “bom sujeito” armado aumenta a segurança geral da população é um “mito”. Entre as evidências levantadas, está um relatório estatístico do FBI que mostra que o total de homicídios cometidos em desentendimentos – como brigas de trânsito, discussões de família, brigas de bar – é o dobro do número de homicídios cometidos como parte de outro crime (assalto, estupro, roubo de carro, etc.). Conclusão: por mais paradoxal que possa parecer, “pessoas de bem” emocionalmente alteradas tiram muito mais vidas do que os tais “bandidos” de quem as armas deveriam nos proteger.


Atualmente a ciência reconhece que a agressividade é, não apenas um problema social, mas também um grave problema médico. A agressividade pode ser um sinal de um distúrbio não psiquiátrico subjacente (inclusive de ingestão de substância alucinógenas) ou um sintoma de um problema de ordem psiquiátrica. Logo, a agressividade pode resultar de distúrbios neurológicos e psiquiátricos aos quais, em maior ou menor grau, todos nós estamos sujeitos (Neuropsychiatry of Aggression, Scott D. Lane, Ph.D., Professor, Kimberly L. Kjome, M.D., Assistant Professor, and F. Gerard Moeller, M.D., Professor). Fica claro que nem sempre é uma simples questão de mocinho versus bandido.

Repito, a própria arma tem seu fetiche já histórico. Este muda o comportamento normal de quem a porta. É como se a própria arma fosse capaz de, de repente, comandar o gesto de ataque e apertar o gatilho. Aliás, há pesquisas que mostram que a simples visão de uma arma, ainda que seja numa foto, aumenta a atividade cerebral na área que controla a agressividade, uma estrutura conhecida como parte ventrolateral do núcleo ventromedial do hipotálamo, região VMHvl, na sigla inglês (publicado na edição de março de 2016 do periódico científico “Nature Neuroscience”).

O fato é que desde o século passado, este tema tem sido estudado. Atividades cerebrais involuntárias ativam comportamentos diferentes nas pessoas. O que provoca estas atividades cerebrais atípicas? Seria algo com origem no meio ambiente ou com origem genética ou ainda uma determinada interação entre ambos? 


Em 1976, os estudos do psicólogo Herman Witkin, com 4 139 recrutas do Exército da Dinamarca, achou doze soldados com a formação cromossômica XYY, relativamente rara, e comprovou que 41,7% deles tinham cometido crimes no passado. Entre os demais, o índice de criminalidade era de 9%.

Em 1993, quando a análise do DNA de integrantes de uma família holandesa foi concluída, na qual se registravam vários casos de conduta violenta, a conclusão foi que um defeito genético era o responsável pelos acessos.
Por aí pode-se ver o quanto é maléfica, deletéria, a propaganda de armas feita pela indústria de armas e pelo próprio Presidente Jair Bolsonaro desde a sua campanha presidencial. 


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