terça-feira, 8 de agosto de 2023

História da beligerância russa

 Por Almir M. Quites      Para compartilhar, toque aqui


HISTÓRIA COM H


Será este o sonho russo?


Não faz sentido comparar a beligerância da Rússia com a da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), também conhecida como Aliança Atlântica.

Aprendi com meu pai que a História contemporânea sempre é contaminada por idiossincrasias, paixões, crenças políticas e religiosas. Por isso, precisa-se ter muito cuidado com as fontes de informações e selecioná-las levando em conta também a coerência com os fatos do presente e do passado histórico. Este cuidado é essencial, principalmente quando usamos as redes sociais. O Google e até mesmo a Wikipédia, por exemplo, estão contaminados por desinformações.

Logo, não me surpreende, apenas me entristece, quando vejo pessoas cultas tentando justificar a invasão da Ucrânia pela Rússia, aceitando como verdade narrativas que não correspondem aos fatos históricos. 

Há duas décadas, Wladimir Putin, ex-chefe da KGB, vem corroendo a incipiente democracia russa e a transformando novamente em ditadura. No início, alternava um período como Presidente autoritário e outro como poderoso primeiro-ministro, o que mal disfarçava a metamorfose para uma ditadura. Porém a mudança ficou clara, quando, na farsa eleitoral de 2020, durante a pandemia, foi aprovada nas urnas, uma mudança constitucional que hoje permite a Putin ficar na Presidência até 2036. 

A guerra Rússia x Ucrânia começou em fevereiro de 2014, quando a Rússia invadiu a Ucrânia e partes do território de Donbass e então anexou a Crimeia ao seu território. Ainda hoje estas regiões conquistadas militarmente ainda são internacionalmente reconhecidas como parte do território ucraniano.

Depois disto, a Rússia voltou a invadir a Ucrânia no dia 24 de fevereiro de 2022, com ataques terrestres e aéreos. Houve violação do território e contestação da existência da soberania da Ucrânia. A Rússia denominou este ataque simplesmente de “Operação Militar Especial”!

Só nesta segunda invasão, conforme estima a BBC, mais de 100.000 soldados ucranianos e mais de 100.000 soldados foram russos mortos. A Ucrânia conta ainda com mais de 60.000 civis mortos!

As invasões de 2014 e de 2022 constituem a volta da Guerra de Agressão para agregação de território e sua economia à Rússia, com flagrantes violações à Declaração Universal dos Direitos Humanos (The Universal Declaration of Human Rights). Uma delas, por exemplo, foi a deportação à força de milhares de crianças ucranianas para a Rússia, para uma rede de dezenas de sítios onde os menores passaram por programa de "reeducação política" (doutrinação).

A Rússia sempre foi imperialista, militarista e beligerante em sua História.

O Império Russo, também conhecido como Rússia Czarista, foi fundado no século XIV (1721), com a derrota dos tártaros na batalha do rio Ugrá. Depois se expandiu por meio de conquistas militares até o oceano Pacífico. Começou com a expansão iniciada por Pedro I (do Báltico ao Pacífico) e terminou em 1917, quando de Nicolau II foi deposto pela Revolução Russa de 1917. Logo, o Império Russo se auto extinguiu!

O Império Russo incluía, além do território russo atual, os estados bálticos (Lituânia, Letônia e Estônia), a Finlândia, Cáucaso, Ucrânia, Bielorrússia, boa parte da Polônia (antigo Reino da Polônia), a Moldávia (Bessarábia) e quase toda a Ásia Central.

Após a Revolução Russa, começou um novo período de expansão imperialista, que deu origem à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Logo no início, a Rússia conseguiu se manter unida a mais 5 países que restaram do colapso do Império Russo e da Revolução de Outubro de 1917. Foram os seguintes: Ucrânia, Bielo-Rússia, Armênia, Azerbaijão e Geórgia e neles foi implantado um regime dito comunista. Mas, aos poucos, o novo Império foi anexando mais e mais países e a União Soviética (URSS) passou a ter grande poderio militar.

Os países que compunham a União soviética, sujeitos a um regime comunista, foram os seguintes: Armênia, Azerbaijão, Bielorrússia (hoje Belarus), Estônia, Geórgia, Cazaquistão, Quirguistão, Letônia, Lituânia, Moldávia, Rússia, Tadjiquistão, Turcomenistão, Ucrânia e Uzbequistão.

Assim como o Império Russo se dissolveu devido a seus conflitos internos, também a União Soviética se auto dissolveu em 26 de dezembro de 1991, como resultado da declaração nº. 142-Н do Soviete Supremo, da União Soviética. A declaração reconheceu a independência das antigas repúblicas soviéticas e criou a Comunidade de Estados Independentes (CEI). No dia anterior, o presidente soviético Mikhail Gorbachev, o oitavo e último líder da União Soviética, renunciou, declarou seu cargo extinto. Entregou seus poderes (inclusive o controle dos códigos do arsenal nuclear soviético) para o presidente russo, Boris Iéltsin. Naquela noite, a bandeira soviética foi baixada do Kremlin de Moscou pela última vez e foi substituída pela bandeira russa pré-revolucionária.

Desde então a Rússia continua tentando restabelecer seu poderio sufocando militarmente os movimentos nacionalistas de países independentes vizinhos ou invadindo outros países. Os invadidos são anexados à Rússia. Assim aconteceu com a Abcássia, a Ossétia do Sul e a Criméia. A Rússia de hoje, pela terceira vez na sua História, volta à política expansionista, de anexação de países vizinhos pela força militar.

A OTAN foi fundada em 1949 justamente com o objetivo de atuar como um obstáculo à ameaça de expansão soviética na Europa após a Segunda Guerra Mundial. A OTAN não é um país, mas um grupo de 30 países que se propõem a resistir ao expansionismo da Rússia.

A expansão da OTAN, é por adesão de países independentes. Esta adesão é consequência do comportamento imperialista da própria Rússia, que agora agride a Ucrânia. A OTAN é, tanto na teoria, como na prática, um tratado de defesa. A entrada de cada novo membro neste tratado depende da vontade de todos os países já integrantes. Cada país tem 1 (um) voto, seja qual for seu poder econômico ou militar. Basta 1 (um) voto contra para que o novo membro não seja aceito! O requisito fundamental é que o país convidado seja uma democracia europeia, que respeite minorias e que seja uma economia de mercado.

Atualmente a Rússia está em guerra com a Ucrânia, tentando anexá-la pela força. Foi a Rússia quem começou a guerra, invadindo o que restava da Ucrânia, depois de já ter anexado a Criméia em 2021.

Os países que, em 1991, conseguiram recuperar sua liberdade não querem voltar a ser subjugados na "Cortina de Ferro". É por isto que a maioria deles quer fazer parte da OTAN! Não querem que aconteça com eles o que agora está acontecendo com a Ucrânia.

Mesmo com o fim da União Soviética, ainda hoje, a Rússia continua sendo o maior país do planeta.

A Rússia sempre foi o país agressor, em toda a sua história, exceto em 4 situações muito separadas no tempo, como a seguir:
    1. No século XX, a Alemanha nazista, de Hitler, invadiu a União Soviética, em junho de 1941, durante a Segunda Guerra Mundial. A Criméia, também foi invadida. Em 1944, ela foi retomada por forças soviéticas, as quais deportaram tártaros, armênios, búlgaros e gregos residentes na península (sob a acusação de terem colaborado com a ocupação nazista. Estes foram substituídos por famílias russas. Estima-se cerca da metade dos deportados tenham morrido de fome e doenças. Em 1989, a deportação foi declarada ilegal. 
    2. No século XVII, Napoleão, em 1812 invadiu a Rússia.
    3. No século XVI, exércitos poloneses e lituanos invadiram o oeste da Rússia.
    4. No século XIII, guerreiros mongóis do leste conquistaram parte da Rússia.
Nota 1
Refiro-me, acima, às invasões à Rússia, não ao Império Russo, também conhecido como Rússia Imperial ou Rússia Czarista, para diferenciá-la da Rússia Soviética e da Rússia moderna. Logo, não incluí acima, por exemplo, as invasões do Império Sueco, na Grande Guerra do Norte (1700 - 1721). Estas, foram invasões ao Império Russo, no século 18, as quais não alcançaram o território Russo. Pelo mesmo motivo, não me referi às invasões à Moscóvia (ou Grão-Principado de Moscou), dos séculos anteriores, a qual foi uma entidade política antecessora do Império Russo e sucessora da Rússia de Quieve nas suas terras nórdicas, perído em que a Rússia estendeu seus domínios sobre regiões que atualmente compõem a Ucrânia, a Polônia, a Bielorrússia, a Finlândia, os Países Bálticos, a Moldávia, a Ásia Central, a Sibéria e o Cáucaso.

Nota 2
A Ucrânia, inclusive a Criméia, eram parte integrante do Império Russo há muitos séculos, desde a chamada Rússia de Kiev, também conhecida como Antigo Estado Russo.  A Rússia de Kiev foi uma grande confederação de tribos do Leste Europeu dos séculos IX ao XIII. Atualmente Bielorrússia, Ucrânia e Rússia reivindicam a Rússia de Kiev como seu ancestral cultural.

A Ucrânia, inclusive a Criméia, eram parte integrante do Império Russo do Império Russo há muitos séculos.

O Império Russo não era um tratado de defesa firmado entre países independentes, como é a OTAN. Era um conjunto de regiões conquistadas e anexadas por meio da força militar.

Eu sei que existem muitas publicações nas redes sociais brasileiras acusando a OTAN e defendendo a Rússia, mas são pessoas ou organizações ligadas à esquerda! Logo não são fontes isentas. Aliás, quem age assim não é historiador de fato, porque historiador deve ser preciso e atento aos fatos. Não pode ser tendencioso, muito menos fanático.

A OTAN participou apenas de 4 guerras. Estas nunca serviram para anexar território a nenhum de seus países membros. As guerras das quais a OTAN participou foram as seguintes:
  1. A guerra da Bósnia. Foi uma guerra civil e religiosa que eclodiu em 1992, logo após a dissolução da União Soviética e da Iugoslávia. A Iugoslávia tinha existido como um Estado comunista chamado Federação Democrática da Iugoslávia, com o marechal Tito na presidência. Em 1950, a federação tinha se chamado de República Federal Popular da Iugoslávia, mas continuava a ser um Estado comunista que reprimia os movimentos nacionalistas com muita violência. A guerra da Bósnia foi um conflito muito complexo e sangrento demais entre bósnios, sérvios croatas, búlgaros, macedônios, montenegrinos, eslovenos etc., que viviam subjugados num mesmo país. A OTAN só entrou no cruel conflito por decisão da ONU, em 1996, como missão de paz (Força de Implementação da Paz, da OTAN). Em 1998 reacendeu um novo conflito armado entre forças sérvias, Iugoslavas e o chamado Exército de Libertação do Kosovo (força formada por albaneses que lutavam pela independência da província). A OTAN voltou a intervir, em 1999, para debelar o conflito.
  2. A guerra do Afeganistão. Foi a invasão feita pelos EUA após sofrer os ataques de 11 de setembro no final de 2001, onde mais de 3000 pessoas foram assassinadas e mais de 6000 pessoas ficaram feridas, principalmente no centro de Nova York. Isto foi tão tenebroso e criminoso quanto o lançamento de bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki pelo EUA. O objetivo da guerra do Afaganistão era desmantelar a Al-Qaeda e negar-lhes uma base segura de operações pela remoção do Talibã do poder. Em agosto de 2003, a OTAN envolveu-se no conflito com a Força Internacional de Assistência à Segurança, estabelecida pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Esta missão se envolveu diretamente nos combates contra os terroristas islâmicos no Afeganistão de 2011 a 2016.
  3. A guerra da Líbia foi um conflito civil neste país africano, que começou em 2011 com uma onda de protestos populares contra a ditadura de Muammar al-Gaddafi, com reivindicações sociais e políticas. Forças do governo abriram fogo contra a multidão para tentar dispersá-la. Contudo as manifestações se intensificaram e se espalharam pelo país. Boa parte das diferentes facções da oposição Líbia se uniram formando então o chamado Conselho Nacional de Transição. No entanto, em março, as tropas de Gaddafi começaram a avançar sobre áreas sob controle dos rebeldes, avançando contra Bengasi, a maior cidade em mãos da oposição. Frente à escalada da violência no país, a ONU autorizou, através da Resolução 1973, o estabelecimento de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia, cabendo a OTAN estabelecê-la. Após meses de combates, a capital da Líbia (Trípoli) foi atacada pelos rebeldes que conseguiram tomar a cidade. Gaddafi conseguiu escapar e fugiu para o oeste, em zonas ainda sob controle de forças leais a ele. Em setembro de 2011, o Conselho Nacional de Transição líbio foi reconhecido pela comunidade internacional como os novos representantes legais do povo do país. Muammar Gaddafi foi capturado e morto em outubro de 2011. De forma sangrenta, a Líbia encerrou a ditadura de 42 anos de Muammar Kadafi.
Ao contrário do que se propala pelas redes sociais, a guerra do Iraque não teve participação da OTAN, mas sim dos EUA e alguns países aliados. Foi um conflito que começou no dia 20 de Março de 2003, com a invasão do Iraque, por uma coalizão militar multinacional liderada pelos Estados Unidos, iniciada pelo presidente americano George W. Bush, após os atentados de 11 de setembro de 2001. A justificativa original para a guerra do Iraque foi o programa de desenvolvimento de "armas de destruição em massa" pelo Iraque e a alegada colaboração de Saddam Hussein com a Al-Qaeda. O Iraque impedia que inspetores da ONU verificassem seus arsenais. Após a resolução 1441 do Conselho de Segurança da ONU, que dava ao Iraque uma oportunidade final para cumprir suas obrigações de desarmamento, o Iraque concordou em cooperar com novas inspeções. Durante as inspeções, nenhuma arma de destruição em massa foi encontrada! A guerra terminou no dia 18 de dezembro de 2011, após oito anos de ocupação.

Espero ter esclarecido que não faz sentido comparar a beligerância imperialista da Rússia com a da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). A Rússia age com um império que anexa outros países por meio de operações militares e os subjuga administrativamente. A OTAN é uma aliança de países que que se propõem a resistir à expansão imperialista russa. 

Ante alguma dúvida, fico a disposição para esclarecer.

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