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terça-feira, 23 de junho de 2020

Dados e gráficos atuais da CoViD-19 comentados

Por Almir M. Quites


Apresento  dados e previsões sobre a evolução da CoViD-19 no Brasil atualizados ontem (22/06). 

São várias as equações matemáticas que se ajustam muito bem aos dados já conhecidos da CoViD (de 26/2 até hoje). Cada uma, como se fosse um trilho, representa um futuro possível. Por qual trilho seguiremos? Quando o número diário de casos novos vai começar a diminuir? Quando a doença vai acabar? Conforme os dias passam, novos dados vão chegando e vários trilhos vão ficando para trás. Ao mesmo tempo, o futuro vai ficando mais claro.

Primeiro preciso explicar (devido aos questionamentos que tenho recebido), que o dado mais importante é o número de casos confirmados, porque é a partir deste número que se pode prever o futuro da série de novos casos diários e, assim, prever o impacto da doença sobre o Sistema Nacional de Saúde. Se o sistema colapsar por excesso de demanda, os superlotados hospitais não poderão atender os doentes da CoViD nem de nenhuma outra doença, nem vítimas de qualquer acidente.  

número de mortes certamente é um dado trágico, mas não impacta o Sistema de Saúde. Ademais, é numericamente menos significativo, porque números bem menores, são mais contaminados pela variação aleatória diária. Além da sub notificação também dificuldade de discernir sobre a real causa da morte, especialmente quando o Sistema de Saúde está colapsado ou à beira de colapso. 

número de recuperados é confortador, mas também não impacta o Sistema de Saúde. Tudo indica que a maioria dos doentes recuperados ficam imunes, mas não se sabe ainda por quanto tempo. Muitos deles ficam com sequelas variadas, que vão desde a fraqueza muscular até mazelas respiratórias graves e danos neurológicos. Mesmo assim, não afetam o Sistema de Saúde a curto prazo, porque são casos de menor urgência, apesar do sofrimento!

O Brasil ainda não passou pelo ponto de inflexão da curva, que é aquele dia no qual o número de casos confirmados passa pelo máximo e depois começa lentamente a declinar. 

O importante é prever com antecedência o dia que o ponto de inflexão será alcançado. Depois disso, lentamente a curva epidemiológica avança em direção ao patamar superior, que é onde o contágio termina. Depois disso, se não houver segunda onda, a CoViD-19 se extingue.

Agora, observe o gráfico atualizado que segue. 




Na régua horizontal (eixo das abcissas) temos o tempo, contado em dias a partir de 26 de fevereiro de 2020. Na régua vertical (eixo das ordenadas) temos o número de casos da doença oficialmente confirmados. Assim, a cada dia da régua horizontal, temos um ponto da curva (uma bolinha vermelha) que representa o número total de casos confirmados até aquele dia. O conjunto de bolinhas vermelhas desenham uma curva. Esta curva é chamada de sigmoide porque tem a forma de "S" maiúsculo (a letra "S" é chamada de sigma, em grego).
 
Para cada dia, neste gráfico, até o dia 22/06/2020, temos os números totais dos casos já confirmados, indicados pelas bolinhas vermelhas. As setas azuis indicam os dias em que publiquei os dados anteriores em gráficos similares. Das bolinhas vermelhas para cima, temos duas curvas calculadas pela função logística (chamada de sigmoide). Ambas se ajustam às bolinhas vermelhas, que representam os pontos do passado até hoje (22/06). Portanto as curvas em linha verde e em linha preta representam um futuro possível, previsto pela matemática. A curva em verde é a previsão otimista. A curva em cor preta é a pessimista. Por qual delas vamos seguir? Isto dependerá do comportamento do povo ante a pandemia. Quanto maior for a imobilização e o isolamento social, mais chance teremos de ter menos doentes da CoViDs, menos mortes, menos sequelados e menos tempo de restrições sociais e econômicas.  

Ainda temo que a previsão pessimista possa ser superada pelo número de casos! De qualquer forma, não esqueçam que estas são as previsões que se pode fazer a partir dos dados oficiais da CoViD-19. Isto significa não esquecermos que este número é bem menor que o real, devido a subnotificação. A própria OMS, analisando os dados dos Brasil, já constatou que a subnotificação brasileira é muito alta! 

Observe que o dado mais recente (de 22/06) ainda está abaixo da altura do ponto de inflexão das duas curvas. Este ponto é diferente em cada curva. Repito, ele ponto corresponde ao dia mais crítico para o Sistema de Saúde. É o dia em que o número de novos casos será maior. 

Isto significa que o número de novos casos diários da COViD-19 ainda é crescente. Teremos leitos suficientes, especialmente de UTIs?  

Na curva mais otimista (a verde), o ponto de inflexão será alcançado no dia  24 ou 25 de junho, daqui a 2 ou 3 dias. O número previsto de novos casos de CoViD será de 37.000 por dia. O máximo da curva (o patamar superior) está em 242100 casos confirmados. Relembro que estes números são relativos devido à subnotificação. Os números reais devem ser de 7 a 14 vezes maior (esta é a estimativa de pesquisadores feita a partir de estatísticas relativas a testes de amostras da população). 

Equação da curva verde
y = 2421000/{1+exp[-0,05747.(t-120)]}, onde y é o número de casos confirmados e t é o tempo em dias desde o primeiro caso. 

Na curva mais pessimista (a curva preta), inflexão será no dia 1° ou 2 de julho, quando teremos 38000 novos casos. O máximo da curva (o patamar superior) fica em 2.880.000 casos confirmados. Outra vez, lembro que estes números são relativos devido à subnotificação. Os números reais devem ser de 7 a 14 vezes maior

Equação da curva preta
y = 2880000/{1+exp[-0,0523745.(t-126)]}

Atualmente (dia 22 de junho) surgem, em média, 35000 novos  casos confirmados por dia. 

Claro que a curva verde seria obviamente a melhor! Tomara que os dados a sigam! 

A cada dia coletarei os novos dados e os colocarei no meu gráfico. Daqui a uma semana já saberemos que rumo estamos tomando. 

Depois do dia do ponto de inflexão  ser ultrapassado, o número de novos casos diários de CoViD começará a se reduzir lentamente. Estimo que o alívio só será sentido, pelo pessoal da saúde, na última semana de julho (no caso da curva verde) ou 12 dias depois (no caso da curva preta).

Enfim, a previsão mais difícil: quando chegaremos ao fim da pandemia? Quando os contágios cessarão? 

Considerando a projeção dos dados disponíveis até aqui, a resposta é a seguinte: depende de qual caminho seguiremos. Isto acontecerá depois do dia  25 de agosto. Se chegarmos lá pelo caminho da curva verde (o caminho otimista), teremos cerca de 2.400.000 casos oficialmente confirmados da CoViD-19 e 230.000Se chegarmos lá pelo caminho da curva preta (o caminho pessimista), teremos cerca de 2.900.000 casos oficialmente confirmados da doença e 280.000 mortes.

A verdade é que, no Brasil, a pandemia evoluiu sem encontrar resistência. As regras de isolamento e imobilização social não foram feitas com o rigor necessário. não se fez testes em número suficiente para que se pudesse localizar as regiões de maior surto e cercar o vírus!

Até ontem o Brasil já era o país com maior número diário casos novos de COViD-19 e também com o maior número de mortes por dia. Nos dois casos, os EUA estavam em segundo lugar. No entanto, hoje o EUA volta a ultrapassar o Brasil e as posições destes países estão se invertendo. No número de casos confirmados por dia, os EUA estão sofrendo, há mais de uma semana, um agravamento da CoVid. A curva de novos casos diários, que era decrescente voltou a subir acentuadamente. Isto se deve às passeatas anti racismo ("Black lives mater") e a reabertura precipitada da economia feita por diversos estados. O Brasil deveria aprender com o erro dos EUA, mas... duvido disto!

Brasil e EUA disputam o desonroso primeiro lugar no anti-pódio da pandemia. Apesar da população brasileira ser menor e a nossa subnotificação ser muito maior, a tragédia brasileira já tinha superado a dos EUA em números de novos casos diários. Mas, agora, com o novo surto que surgiu lá, a curva epidemiológica norte-americana voltou a subir, e agora está ultrapassando o Brasil. 

Todos os países já superaram o pico de mortes diárias (já passaram pelo ponto de inflexão da curva), exceto o Brasil e a Índia. Alguns tiveram surtos de uma segunda onda, como os EUA.

As observações, feitas acima, podem ser em um gráfico. Vejamos!



Em verde, estão os pontos do Brasil, os quais avançam na direção indicada pela linha amarela (polinômio do 6° grau). Em azul, os pontos dos EUA, seguindo o caminho indicado pela linha vermelha (também polinômio do 6° grau). A curva dos EUA já tinha se curvado para baixo, volta a ter uma acentuada subida. Os EUA  já está ultrapassando o Brasil e reassumindo o primeiro lugar, que tinha perdido para o Brasil. 

Observe que os EUA já passaram pelo ponto de inflexão, o ponto no qual é máximo o número de novos casos diários. Este número já era fortemente descendente, mas agora tudo mudou.  

O Brasil ainda não chegou no ponto de inflexão. A curva do Brasil ainda segue para cima. Isto significa que não conseguimos achatar a curva! Não conseguimos impor resistência ao avanço do vírus!  

Até a semana passada os dois piores países nesta pandemia eram da América do Sul. A gora mudou a Suécia passou a ser o país com mais mortes diárias por milhão de habitantes. O segundo lugar, que era o Perú, passou a ser o México. O Brasil , que era o primeiro, caiu para terceiro lugar. O Reino Unido e os EUA, que eram terceiro e quarto lugares, foram ultrapassados por Iran e Iraque. 

Observe esta imagem seguinte. Ela mostra a situação em todo o mundo com cores. Quanto mais vermelho o pais aparece no mapa, pior é a situação do país ante a pandemia.



Observe agora, neste gráfico dinâmico, como o Brasil surgiu bem depois no "ranking" da CoViD-10 e subiu vertiginosamente até o topo! A CoVid invadiu nosso país sem encontrar qualquer resistência. 
=
[OC] Daily confirmed Covid-19 cases (7-day rolling average). Brazil passes US from r/dataisbeautiful=

Foi assim... Um ser pequeníssimo atacou o nosso país. Um simples vírus tornou-se um inimigo tenebroso. O inimigo tem uma tática muito eficaz: chega sorrateiro, parecendo inofensivo. 

Seria muito fácil conter a CoViD-19! Quando vírus chegou ao Brasil já tínhamos informações bem mais precisas sobre como combaté-lo, as quais os europeus e asiáticos não tiveram. Mesmo assim, não fomos previdentes. 

Bastaria que o povo brasileiro tivesse mais responsabilidade e capacidade de entendimento, mas... não tem! Explico a seguir. 

Se todos os brasileiros fizessem uma quarentena absoluta de 15 dias, o contágio seria interrompido e o vírus seria exterminado, porque ele só se reproduz dentro das pessoas. O vírus não dura mais que 5 horas no ar e não mais que 100 horas nas coisas. Os contaminados, que permanecem sem sintomas por duas semanas (ou com sintomas leves) se recuperariam, ficariam imunes e não retransmitiriam o vírus (embora ainda não se tenha certeza científica de que isto ocorra mesmo em todos os casos). Os casos graves seriam atendidos pelo Sistema de Saúde que ainda não estaria colapsado.

Uma quarentena quase absoluta foi o que a Itália fez na Lombardia. 

Apenas 15 dias! 
A quarentena eliminaria o contágio geral, mas a vigilância sanitária, especialmente nas fronteiras, deveria continuar muito atenta para isolar possíveis novos casos tão logo fossem detectados. Não iríamos permitir o surgimento de uma nova onda de contaminação. A economia do país também seria menos afetada. 

Veja agora a evolução da CoViD-19 em relação a demais causas de morte. Veja como a doença surge e sobe vertiginosamente até se tornar a mais importante causa de morte. 
Global Deaths Due to Various Causes and COVID-19 | Flourish

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