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domingo, 9 de fevereiro de 2020

Os fundamentalismos islâmico e cristão

Por Almir M. Quites
(artigo publicado no Facebook em 03/02/2020)



Há  4 anos, publiquei neste blogue, um artigo escrito por meu colega e amigo José J. de Espíndola, o qual vale a pena ler novamente! É um artigo bem escrito, contundente, sobre o fundamentalismo islâmico.



Veja aqui:

Todavia, antes, devo esclarecer que, embora eu concorde com grande parte deste texto, ele não representa exatamente o meu pensamento. Entendo que ao abordar o fundamentalismo religioso precisamos levar em conta o seu lado cristão.

Observo que esta outra face da moeda não foi tratada. A nocividade do Fundamentalismo Cristão se tornou mais evidente ainda do século XX entre os protestantes britânicos e no norte-americanos. Desde então, na minha visão, vem se acentuando. Os fundamentalistas cristãos argumentam que os teólogos modernistas do século XIX haviam interpretado errado ou rejeitado certas doutrinas, especialmente a indefectibilidade (infalibilidade) bíblica, que eles consideram ser o fundamento da fé cristã. 


Os fundamentalistas interpretam a Bíblia de modo muito mais literal. Os "evangélicos", que no seu passado histórico surgiram para combater o fundamentalismo, tem se tornado "fundamentalistas" e estes dois termos, referidos entre aspas, são hoje considerados quase como sinônimos. Embora com diferentes gradações, para os fundamentalistas, a doutrina cristã atribui a Jesus Cristo um papel político e o estende ao nível de missão da Igreja, tendo como fundo uma suposta precisão histórica da Bíblia e a crença na segunda vinda de Cristo (o "dispensacionalismo"). Isto entra em conflito com a ideia de Estado laico (princípio da separação entre Estado e Religião).

O atual fundamentalismo cristão cresceu de modo mais organizado nas igrejas protestantes dos Estados Unidos, especialmente a Batista e a Presbiteriana, cada vez mais ligado ao militarismo e atrelado ao Alt Wright (Direita Alternativa). Em termos religiosos, muitas dessas igrejas adotaram um "estilo de luta" que combina a teologia de Princeton com o "dispensacionalismo".


Os fundamentalistas cristãos continuam a tentar ensinar o "design inteligente" nas escolas, uma hipótese que se baseia no Criacionismo ao invés da Teoria da Evolução.

No Brasil, o Fundamentalismo Cristão tem crescido de modo assustador. As facilidades e privilégios que a legislação concede às Igrejas, contribuem para transformar a religião num grande negócio financeiro. No Brasil, que em 2000 tinha 74% de católicos, este percentual caiu para 45% em 2020 (
valor estimado), enquanto o percentual de evangélicos pulou de 15% para 42%. De janeiro de 2010 a fevereiro deste ano, 67.951 entidades se registraram na Receita Federal sob a rubrica de “organizações religiosas ou filosóficas”, uma média de 25 por dia. Ao levar em conta apenas os grupos novos, que não são filiais daqueles já existentes, o número é de 20 por dia. Acresce a isso que as Igrejas tem intensificado a doutrinação política. Embora não haja estimativas a respeito do número de fanáticos religiosos, é certo que este número é crescente. 

Por estes dias de fevereiro, sempre há a reunião da "The Family", organização fundamentalista cristã, num evento denominado de "Café da Manhã nacional para Orações" (Tradução minha para "National Prayer Breafast").  O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, está participando. 

No Brasil, fundamentalistas cristãos estão legitimando medidas do governo Bolsonaro que vão justamente contra as bases da religião — entre elas a discriminação, violação aos direitos humanos (inclusive pelo ataque mentiroso e desumano a supostos "inimigos" pelas redes sociais) e mesmo a negação da emergência climática. O próprio Presidente da República verbaliza incentivos a este retrocesso. O alerta está sendo feito por parte das igrejas nacionais (em sua maioria protestantes) que, alarmadas com a situação no país, se reuniram na Suíça para debater o cenário religioso no Brasil e pedir a ajuda do Conselho Mundial de Igrejas para que uma estratégia seja estabelecida.

Nos anos 70, o Conselho Mundial de Igrejas foi muito importante na luta contra a ditadura do Brasil. Este Conselho financiou os trabalhos da coleta de dados de vítimas e torturadores, que acabaria sendo conhecida como "Brasil: Nunca Mais". Agora, a organização ecumênica considera que a situação de direitos humanos no Brasil voltou a ser problemática, principalmente quando há uma utilização da religião para legitimar a retirada de direitos dos cidadãos.

Embora o Brasil seja um pais religioso, onde quase 90% se declaram cristãos, há uma doença que infecta a muitos deles: o fanatismo. Os fiéis fanatizados não cultuam a Deus, mas a própria religião, com graves consequências para si mesmos, e para toda a sociedade. O fanatismo deságua no fundamentalismo e no dogmatismo. São excessos que trazem danos ao cérebro, desfiguram a prática religiosa e a tornam danosa. Os danos afetam não apenas as pessoas fanatizadas, mas também às tradições religiosas e a sociedade em geral.

O fundamentalismo islâmico não é o único a ser recriminado. Aqui no Brasil, o fundamentalismo cristão é mais danoso. 


Nunca imaginei, na minha juventude, que ideias e práticas da idade média pudessem voltar com tanta força. O mundo pode se tornar muito mais deprimente. Tomara que possamos superar estas ondas de involução humana.

Leia agora o excelente artigo de José J. Espíndola, mas inclua nas suas reflexões as ponderações que fiz aqui, tentando compreender também as nossas próprias mazelas.

Repito, veja aqui:


Boa leitura!


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