Por Almir M. Quites
Sei que é muito difícil para os eleitores de Jair Bolsonaro, embalados diariamente por uma intensa propaganda ufanista, ter que confrontar os fatos. No entanto, terão que fazê-lo. A realidade atropela os mais belos sonhos.
A seguir reproduzo aqui um comentário isento e realista, que escrevi diretamente no Facebook. É sobre o caso do porteiro do condomínio do Presidente Bolsonaro e do principal suspeito no assassinato de Marielle Franco.
O Condomínio Vivendas da Barra, de frente para o mar da Barra da Tijuca, está famoso. Nele moram o Presidente Jair Bolsonaro, seu filho, o vereador carioca Carlos Bolsonaro e Ronnie Lessa, o principal suspeito de matar a vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes.
O porteiro do condomínio contou à polícia que, horas antes do assassinato de Marielle, em 14 de março de 2018, o outro suspeito do crime, Élcio de Queiroz, entrou no condomínio e declarou ao porteiro que iria para a casa do então deputado Jair Bolsonaro. O porteiro declarou que ligou para Bolsonaro (casa 58), falou com ele, e que ele teria autorizado a entrada de Élcio. No entanto, os registros de presença da Câmara dos Deputados mostram que, naquele dia, Bolsonaro estava em Brasília.
Como houve citação ao nome do presidente, o MP do Rio encaminhou o caso para que o Supremo Tribunal Federal (STF) analisasse a situação. Logo, o ministro Dias Toffoli vai entrar no caso e, sabe-se lá o que pode acontecer.
Contudo, Bolsonaro não precisa se preocupar. Ele tem um álibi perfeito: comprovadamente não estava em casa. Agora é preciso saber se o porteiro mentiu (acabo de lembrar-me do caso Francenildo!) ou, em caso negativo, é preciso saber quem atendeu o interfone na casa de Bolsonaro.
Em homenagem a 𝗙𝗿𝗮𝗻𝗰𝗲𝗻𝗶𝗹𝗱𝗼 𝗖𝗼𝘀𝘁𝗮, antigo caseiro da Casa dos Horrores, vamos primeiro supor que o porteiro não tenha mentido. Neste caso, Bolsonaro deve colaborar neste esclarecimento.
Afinal, quem atendeu o porteiro do condomínio na casa 58? Quem estava na casa do Bolsonaro? Bolsonaro sabe? Não tem como averiguar? Então, quem tinha a chave para entrar lá? Na casa de Bolsonaro, é possível atender o interfone pelo celular, estando fora de casa? Conforme assevera o porteiro, a voz era parecida com a do Bolsonaro! Quem será?
A outra possibilidade é que o porteiro tenha mentido ou que tenha se enganado ou mesmo tenha sido enganado. Se mentiu, pode ser que tenha sido pago para isto ou obrigado a isto pelas milícias que, como Fabrício Queiroz, ex-segurança de Flávio Bolsonaro, mandam "recado" (ameaça) ao Presidente. Se o porteiro ganhou dinheiro para inventar toda esta história, então, é fácil de verificar! Será que o ministro Toffoli vai deixar que a investigação prossiga?
São perguntas que não podem ficar sem respostas. Cabe a polícia investigar e descobrir o mandante ou os mandantes do crime. Aguardemos!
O que pode não fazer sentido, é o destempero do Presidente. Por que esbravejou contra a Rede Globo se ela noticiou fatos verdadeiros, os quais não foram contestados por ninguém? Por que acusou, sem provas, o Governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, de ser o responsável por vazamento de informações da investigação? Por que o Presidente Bolsonaro anunciou, em entrevista concedida na Arábia Saudita, que vai mandar o ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro acionar a Polícia Federal (PF) para colher um novo depoimento da testemunha? Isto transformaria o caso numa crise de governo, porque seria uma atitude dolosa, implicaria em obstaculização da investigação policial (PM do Rio) e uso da Polícia Federal para fins de defesa particular, o que é crime de responsabilidade, passível de impeachment.
Mais uma vez, o Presidente se mostra impulsivo, estulto e muito mal assessorado.
Para relembrar o caso Francenildo Costa, clique aqui:
𝙎𝙀𝙈𝙋𝙍𝙀 𝙊𝙎 𝙈𝙀𝙎𝙈𝙊𝙎 𝙏𝙍𝘼𝙋𝘼𝘾𝙀𝙄𝙍𝙊𝙎
https://almirquites.blogspot.com/2016/09/sempre-os-mesmos-trapaceiros.html
Volto ao caso do Bolsonaro.
A reação destemperada do nosso Presidente reacende a pergunta: quem foi o mandante do assassinato Marielle? Além disso, traz à tona as suas relações com as milícias do Rio [ver nota explicativa abaixo]. O presidente Jair Bolsonaro tem um histórico de defesa de milícias e de personagens ligados à ela ao longo de sua carreira política. As ligações do Presidente Bolsonaro e de sua família com as milícias do Rio de Janeiro foram tema da revista britânica The Economist, uma das mais prestigiadas publicações do mundo.
O Presidente Bolsonaro está acuado "por demônios de criação própria" (como diz William Waak). Seu filho Flávio é investigado pelo conhecido esquema das “rachadinhas” e uma série de inquéritos liga o clã Bolsonaro às milícias no Rio. O TSE está tratando do envio de mensagens "fake" durante a campanha eleitoral de 2018.
Nota-se que os adversários mais perigosos nem formam uma oposição (correntes políticas antagônicas). São ex-companheiros de luta do próprio presidente que prometem vinganças. Isto leva o “Mito” a criar fortes laços de dependência em relação às instâncias políticas que ele, como candidato, jurou combater.
A ligação do clã do Presidente com o submundo do crime não poderá ser desfeita facilmente. Agora, volta ao debate o discurso de 14 anos atrás, aquele que Jair Bolsonaro fez no plenário da Câmara Federal em defesa do ex-capitão da Polícia Militar Adriano Magalhães da Nóbrega, o "Urso Polar". Adriano era apontado pelo MP como chefe da milícia do Rio das Pedras e articulador do Escritório do Crime, o maior grupo de matadores de aluguel do Rio. Adriano havia sido condenado por homicídio dias antes do pronunciamento de Bolsonaro, no qual declarou que o PM era um 'brilhante oficial'. Quatro dias antes, Adriano fora condenado a 20 anos de prisão pela morte de um rapaz que tinha denunciado PMs que praticavam extorsões a moradores na comunidade. Meses antes, o filho Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) havia concedido a Medalha Tiradentes (a maior honraria da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro) a Adriano. O então tenente estava preso quando recebeu a homenagem no Batalhão Especial Prisional, no dia 9 de setembro, segundo a revista "Veja". O GLOBO revelou que o deputado estadual, agora senador, Flávio Bolsonaro, nomeou para cargos em seu gabinete a mãe e a mulher de Adriano, foragido da Justiça e alvo de uma operação do Ministério Público.
Não vou me estender aqui sobre isto, mas há muito material sobre o assunto que pode ser pesquisado facilmente pelo Google.
Vale a pena ver o vídeo do historiador Marco Antônio Villa. Ele esclarece estas "ligações perigosas" com muito mais detalhes. Ele deve saber muito bem o que diz e tem muita coragem. Já enfrentou Lula quando este era "o Mito". Villa foi judicialmente acusado por ele e venceu a batalha jurídica.
Agora, indico três de seus vídeos sobre este tema:
1) https://www.youtube.com/watch?v=uuMUZP23kEQ
Nota explicativa:
Milícia é uma organização criminosa formada em comunidades urbanas, como conjuntos habitacionais e favelas, que efetuam práticas ilegais sob a alegação de combater o crime do narcotráfico. Tais grupos se mantêm com os recursos financeiros provenientes da extorsão da população e da exploração clandestina de gás, televisão a cabo, máquinas caça-níqueis, agiotagem, ágio sobre venda de imóveis etc. São formadas por policiais, bombeiros, guardas municipais, vigilantes, agentes penitenciários e militares, fora de serviço ou na ativa. Muitos milicianos são moradores das comunidades e contam com respaldo de políticos e lideranças comunitárias locais.
Sei que é muito difícil para os eleitores de Jair Bolsonaro, embalados diariamente por uma intensa propaganda ufanista, ter que confrontar os fatos. No entanto, terão que fazê-lo. A realidade atropela os mais belos sonhos.
A seguir reproduzo aqui um comentário isento e realista, que escrevi diretamente no Facebook. É sobre o caso do porteiro do condomínio do Presidente Bolsonaro e do principal suspeito no assassinato de Marielle Franco.
O Condomínio Vivendas da Barra, de frente para o mar da Barra da Tijuca, está famoso. Nele moram o Presidente Jair Bolsonaro, seu filho, o vereador carioca Carlos Bolsonaro e Ronnie Lessa, o principal suspeito de matar a vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes.
O porteiro do condomínio contou à polícia que, horas antes do assassinato de Marielle, em 14 de março de 2018, o outro suspeito do crime, Élcio de Queiroz, entrou no condomínio e declarou ao porteiro que iria para a casa do então deputado Jair Bolsonaro. O porteiro declarou que ligou para Bolsonaro (casa 58), falou com ele, e que ele teria autorizado a entrada de Élcio. No entanto, os registros de presença da Câmara dos Deputados mostram que, naquele dia, Bolsonaro estava em Brasília.
Como houve citação ao nome do presidente, o MP do Rio encaminhou o caso para que o Supremo Tribunal Federal (STF) analisasse a situação. Logo, o ministro Dias Toffoli vai entrar no caso e, sabe-se lá o que pode acontecer.
Contudo, Bolsonaro não precisa se preocupar. Ele tem um álibi perfeito: comprovadamente não estava em casa. Agora é preciso saber se o porteiro mentiu (acabo de lembrar-me do caso Francenildo!) ou, em caso negativo, é preciso saber quem atendeu o interfone na casa de Bolsonaro.
Em homenagem a 𝗙𝗿𝗮𝗻𝗰𝗲𝗻𝗶𝗹𝗱𝗼 𝗖𝗼𝘀𝘁𝗮, antigo caseiro da Casa dos Horrores, vamos primeiro supor que o porteiro não tenha mentido. Neste caso, Bolsonaro deve colaborar neste esclarecimento.
Afinal, quem atendeu o porteiro do condomínio na casa 58? Quem estava na casa do Bolsonaro? Bolsonaro sabe? Não tem como averiguar? Então, quem tinha a chave para entrar lá? Na casa de Bolsonaro, é possível atender o interfone pelo celular, estando fora de casa? Conforme assevera o porteiro, a voz era parecida com a do Bolsonaro! Quem será?
A outra possibilidade é que o porteiro tenha mentido ou que tenha se enganado ou mesmo tenha sido enganado. Se mentiu, pode ser que tenha sido pago para isto ou obrigado a isto pelas milícias que, como Fabrício Queiroz, ex-segurança de Flávio Bolsonaro, mandam "recado" (ameaça) ao Presidente. Se o porteiro ganhou dinheiro para inventar toda esta história, então, é fácil de verificar! Será que o ministro Toffoli vai deixar que a investigação prossiga?
São perguntas que não podem ficar sem respostas. Cabe a polícia investigar e descobrir o mandante ou os mandantes do crime. Aguardemos!
O que pode não fazer sentido, é o destempero do Presidente. Por que esbravejou contra a Rede Globo se ela noticiou fatos verdadeiros, os quais não foram contestados por ninguém? Por que acusou, sem provas, o Governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, de ser o responsável por vazamento de informações da investigação? Por que o Presidente Bolsonaro anunciou, em entrevista concedida na Arábia Saudita, que vai mandar o ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro acionar a Polícia Federal (PF) para colher um novo depoimento da testemunha? Isto transformaria o caso numa crise de governo, porque seria uma atitude dolosa, implicaria em obstaculização da investigação policial (PM do Rio) e uso da Polícia Federal para fins de defesa particular, o que é crime de responsabilidade, passível de impeachment.
Mais uma vez, o Presidente se mostra impulsivo, estulto e muito mal assessorado.
Para relembrar o caso Francenildo Costa, clique aqui:
𝙎𝙀𝙈𝙋𝙍𝙀 𝙊𝙎 𝙈𝙀𝙎𝙈𝙊𝙎 𝙏𝙍𝘼𝙋𝘼𝘾𝙀𝙄𝙍𝙊𝙎
https://almirquites.blogspot.com/2016/09/sempre-os-mesmos-trapaceiros.html
Volto ao caso do Bolsonaro.
A reação destemperada do nosso Presidente reacende a pergunta: quem foi o mandante do assassinato Marielle? Além disso, traz à tona as suas relações com as milícias do Rio [ver nota explicativa abaixo]. O presidente Jair Bolsonaro tem um histórico de defesa de milícias e de personagens ligados à ela ao longo de sua carreira política. As ligações do Presidente Bolsonaro e de sua família com as milícias do Rio de Janeiro foram tema da revista britânica The Economist, uma das mais prestigiadas publicações do mundo.
O Presidente Bolsonaro está acuado "por demônios de criação própria" (como diz William Waak). Seu filho Flávio é investigado pelo conhecido esquema das “rachadinhas” e uma série de inquéritos liga o clã Bolsonaro às milícias no Rio. O TSE está tratando do envio de mensagens "fake" durante a campanha eleitoral de 2018.
Nota-se que os adversários mais perigosos nem formam uma oposição (correntes políticas antagônicas). São ex-companheiros de luta do próprio presidente que prometem vinganças. Isto leva o “Mito” a criar fortes laços de dependência em relação às instâncias políticas que ele, como candidato, jurou combater.
- A primeira, no âmbito do STF, através, sobretudo da figura de seu presidente, ministro Dias Toffoli, visivelmente empenhado em proteger o clã do Presidente, mas que mantém o machado pendente sobre sua cabeça.
- A segunda, na esfera da “política tradicional”, a qual Bolsonaro prometia alijar do poder, mas com a qual agora busca alianças devido ao desarranjo de suas próprias forças, especialmente do PSL.
A ligação do clã do Presidente com o submundo do crime não poderá ser desfeita facilmente. Agora, volta ao debate o discurso de 14 anos atrás, aquele que Jair Bolsonaro fez no plenário da Câmara Federal em defesa do ex-capitão da Polícia Militar Adriano Magalhães da Nóbrega, o "Urso Polar". Adriano era apontado pelo MP como chefe da milícia do Rio das Pedras e articulador do Escritório do Crime, o maior grupo de matadores de aluguel do Rio. Adriano havia sido condenado por homicídio dias antes do pronunciamento de Bolsonaro, no qual declarou que o PM era um 'brilhante oficial'. Quatro dias antes, Adriano fora condenado a 20 anos de prisão pela morte de um rapaz que tinha denunciado PMs que praticavam extorsões a moradores na comunidade. Meses antes, o filho Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) havia concedido a Medalha Tiradentes (a maior honraria da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro) a Adriano. O então tenente estava preso quando recebeu a homenagem no Batalhão Especial Prisional, no dia 9 de setembro, segundo a revista "Veja". O GLOBO revelou que o deputado estadual, agora senador, Flávio Bolsonaro, nomeou para cargos em seu gabinete a mãe e a mulher de Adriano, foragido da Justiça e alvo de uma operação do Ministério Público.
Não vou me estender aqui sobre isto, mas há muito material sobre o assunto que pode ser pesquisado facilmente pelo Google.
Vale a pena ver o vídeo do historiador Marco Antônio Villa. Ele esclarece estas "ligações perigosas" com muito mais detalhes. Ele deve saber muito bem o que diz e tem muita coragem. Já enfrentou Lula quando este era "o Mito". Villa foi judicialmente acusado por ele e venceu a batalha jurídica.
Agora, indico três de seus vídeos sobre este tema:
1) https://www.youtube.com/watch?v=uuMUZP23kEQ
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2) https://youtu.be/fHXNRP1ICDo
====
3) https://youtu.be/aYKd9lhZy-4?t=60
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_________________________Nota explicativa:
Milícia é uma organização criminosa formada em comunidades urbanas, como conjuntos habitacionais e favelas, que efetuam práticas ilegais sob a alegação de combater o crime do narcotráfico. Tais grupos se mantêm com os recursos financeiros provenientes da extorsão da população e da exploração clandestina de gás, televisão a cabo, máquinas caça-níqueis, agiotagem, ágio sobre venda de imóveis etc. São formadas por policiais, bombeiros, guardas municipais, vigilantes, agentes penitenciários e militares, fora de serviço ou na ativa. Muitos milicianos são moradores das comunidades e contam com respaldo de políticos e lideranças comunitárias locais.
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