domingo, 22 de agosto de 2021

Propagação ondulatória da CoVid-19

 Por Almir M. Quites

Dentro de 1mm cabem 10.000
vírus da CoViD-19 enfileirados
e sem espaço entre eles.
Só se pode vê-los com
microscopia eletrônica.


Hoje vamos fazer uma análise da situação do Brasil perante a CoVid-19 e mostrar como ela se propaga em ondas. Vamos esclarecer como se distingue matematicamente o surgimento de uma nova onda e mostrar que já estamos no final da quarta onda. 

Primeiro, esclareço que não adianta tomar decisões sanitárias com base no número diário de mortes ou no número de leitos de UTI disponíveis, porque isto já aconteceu, é passado. As decisões precisam ser tomadas com base nas previsões matemáticas para o futuro (estudo prospectivo). Para isto, é preciso determinar a equação matemática das diversas ondas da CoViD e a defasagem na qual elas se somam. Isto será melhor esclarecido a seguir. 

Este artigo contém 5 partes distintas, com os seguintes títulos: 

  • 1) A matemática e os gráficos da pandemia; 
  • 2) As múltiplas ondas da CoViD; 
  • 3) As ondas de mortes
  • 4) O caso do Brasil
  • 5) Porque nossas perspectivas não se realizam?
  • 6) Análise do Brasil perante o mundo; 
  • 7) Dicas para enfrentar a pandemia. 

Boa Leitura! 


1. A MATEMÁTICA E OS GRÁFICOS DA PANDEMIA 

Não sou infectologista, mas conheço matemática e física. Assim, tenho uma abordagem bem pessoal e criei minhas próprias equações, mas, neste texto, não tratarei de matemática nem de física, porque pretendo que todo o leitor entenda a essência da CoViD-19
Para entender a situação do Brasil nesta pandemia, basta um pouquinho de matemática. Muito pouquinho! 

A matemática foi desenvolvida obedecendo a lógica natural, aquela que foi fixada em nossos neurônios durante toda a evolução da nossa espécie, enquanto buscava por regularidades no nosso universo observável para se adaptar a ele. Assim, descobrimos que, quando se consegue definir e quantificar precisamente um acontecimento observável e também as variáveis das quais ele depende, então, pode-se usar a matemática, com seus símbolos e suas equações, para prever o futuro

A matemática é a ferramenta do cientista. O cientista é o verdadeiro mago, aquele não não faz magia nem feitiçaria, mas que estuda, pesquisa e não engana a ninguém! O resto é fantasia, ilusão. 

As equações matemáticas descrevem acontecimentos por meio de números. Estas equações são representadas em gráficos por meio de retas e curvas. A evolução da CoViD também é representada por equações matemáticas, as quais podem ser visualizadas por meio de curvas, em gráficos. A CoViD-19 segue a equação da curva sigmoidal, como todas as epidemias. 

Há dois tipos diferentes de gráficos para representar a equação desta curva:
1. Gráfico de 1° tipo (curva  forma de "S" inclinado);
2. Gráfico do 2° tipo (curva em forma de onda, algo entre um "U" ou um "V" emborcado).

1.1 Gráfico de primeiro tipo

As curvas sigmoides (em forma de "S", também conhecidas por curvas logísticas) descrevem os processos de crescimento natural de qualquer sistema (crescimento sob restrições). Muitos fenômenos da natureza seguem a equação matemática da curva logística, inclusive as epidemias (e pandemias). 

Observando estes gráficos, pode-se ver que a CoviD-19 é uma doença contagiosa que assola uma região em ondas sucessivas. Como num lago ou no mar, pequeníssimas e imperceptíveis ondinhas de contágio, quando muito próximas, somam-se, produzindo ondas maiores e estas, quando muito próximas, também se acavalam e se somam. O resultado são ondas grandes, bem perceptíveis, mas cada uma é formada pela incorporação por soma de muitas ondas menores. Isto é assim com todos os tipos de ondas, sejam mecânicas (como num lago ou na atmosfera), térmica, elétrica, magnética etc.

No caso da CoViD-19, em cada onda, o crescimento do número de contágios ao longo do tempo segue perfeitamente uma curva sigmoidal, quer dizer, uma curva em forma de sigma, que é a letra do alfabeto grego que corresponde ao "S".  Veja, neste gráfico, a curva roxa ("red violet") tem a forma de um "Sinclinado para a direita.

Clique na imagem para ampliá-la

Observe que a régua vertical está graduada em número total acumulado de pessoas infectadas (total de contágios). Por sua vez, a régua horizontal está graduada em unidade de tempo, por exemplo, número de dias deste o início da epidemia. Dia após dia, marca-se neste gráfico o número total de pessoas já contaminadas. 

Este é o primeiro modo de representação da evolução de uma onda epidêmica. Ressalto: curva sigmoide é uma curva de casos acumulados (totalizados).

Conforme o tempo passa, maior será o número total de pessoas infectadas, até que as resistências ambientais ao contágio prevaleçam. Observe que este número começa aumentando bem devagar, mas a velocidade do contágio (número de novos casos por dia) vai aumentando exponencialmente até um ponto em que começa a diminuir. Neste momento, estamos no ponto de inflexão (onde está a estrela, no gráfico). No ponto de inflexão, tem-se o maior número de novas pessoas infectadas num só dia. É quando os hospitais entram em colapso, devido ao excesso de pacientes. 

Após o ponto de inflexão, a concavidade da curva, que ficava à esquerda, passa para a direita. Daí em diante, o número diário de novos casos começa a diminuir, até que se anula. Então, a curva chegou ao seu valor máximo e aí permanece, porque o processo de contaminação desta onda terminou. Este patamar indica, na régua vertical, o número total de casos desta onda da doença (número total de pessoas que foram infectadas  por esta onda). No caso da CoViD-19, a maioria destas pessoas se curam, outras ficam com sequelas (cerca de 70% das pessoas internadas por CoViD-19 ficam com sequelas, inclusive graves) e outras morrem.

A mesma equação da curva sigmoidal também descreve muito bem a evolução do número de óbitos causados pela CoViD, a qual será mostrada mais adiante. Por enquanto, siga lendo sobre a evolução do número de casos desta doença.

Uma sigmoide! Assim é cada onda da CoViD-19. Em outras palavras, neste tipo de gráfico, uma onda completa aparece como uma sigmoide completa. Muitas ondas pequenas, quando muito próximas, se somam e podem ser tratadas como se fosse uma só onda grande. 

Quando se conhece a equação da curva de determinada onda, pode-se calcular o número total de infectados em qualquer data. Não é profecia, vidência ou presciência, é ciência mesmo!

A curva matemática é como um monotrilho que cada onda da epidemia segue. Se, em algum momento ela descarrilhar para cima, então é porque uma nova onda surgiu e está se somando à anterior. Em outras palavras, se o número de casos começar a ser maior do que o previsto pela equação matemática, então é porque uma outra onda surgiu e os efeitos das duas se somam.

1.2 Gráfico do segundo tipo

Esta mesma onda pode ser retratada de um segundo modo. Basta representar, na régua vertical, o número diário de novas infecções, em vez do numero totalizado de casos. Para isso, dia após dia, marca-se neste gráfico o número de pessoas contaminadas naquele dia. Esta curva não será sigmoidal, mas terá a forma de um "U" ou "V" emborcado! Este é o segundo modo de representação da evolução de uma onda epidêmica. Esta curva é uma curva de casos desacumulados (por dia).

Veja, no gráfico abaixo, como fica a curva roxa ("red violet"), neste outro modo de representação. Esta curva, que é a derivada em primeiro grau da curva sigmoide, tem um ponto de pico (o máximo valor) e dois pontos de inflexão, sendo um na fase ascendente e outro na fase descendente.

Sigmoide dupla: um pico e dois pontos de inflexão.
O pico desta curva corresponde ao ponto de inflexão
do gráfico da sigmoide simples.


Conforme o tempo passa, maior será o número diário de pessoas infectadas, até que as resistências ao contágio comecem a prevalecer. Observe que, no início, este número começa aumentando bem devagar, mas a velocidade do contágio (número de novos casos por dia) vai aumentando o ponto no qual começa a diminuir.  Neste momento estamos no ponto máximo da curva, que corresponde ao ponto de inflexão do gráfico do primeiro tipo (de dados acumulados). Este ponto é aquele em que se tem o maior número de novas pessoas infectadas por dia, quando os hospitais entram em colapso, devido ao excesso de pacientes.

Após o ponto de máximo, o número de casos por dia começa a diminuir, até que se anula. A curva chegou ao seu final. O processo de contaminação terminou. A área total sob a curva, representa o número acumulado de infectados nesta onda (este é o número máximo da curva de primeiro tipo, da curva de dados acumulados, ou seja, da sigmoide simples). 

Assim é uma onda da CoViD-19 num gráfico de dados desacumulados (gráfico do segundo tipo). Também aqui, a curva é uma espécie de monotrilho que a epidemia segue e se, em algum momento, ela descarrilhar para cima, então é porque uma nova onda surgiu e está se somando à primeira. Em outras palavras, se o número de casos diários começar a ser maior do que o previsto pela equação matemática, então é porque uma outra onda surgiu e os efeitos das duas se somam.


2. As múltiplas ondas da CoViD

Durante uma pandemia de CoViD-19, uma região é assolada por diferentes ondas que se sucedem. Cada uma tem diferentes durações e diferentes picos (onde se tem números máximos de infectados). Quando as ondas estão muito próximas, elas se acavalam e se somam.

Para entender como as ondas se somam e como isto muda a forma da curva resultante (como aquela que se vê diariamente na TV), observe atentamente a seguinte figura. 

Na figura temos 4 gráficos, sendo que em cada um há 3 ondas iguais da CoViD-19. A figura, a seguir, mostra estas mesmas 3 ondas com diferentes sobreposições.
 
quatro figuras mostrando como as curvas se somam na medida em que aumentam a sobreposição, até se transformarem numa só onda bem maior!
 

No primeiro gráfico, as 3 ondas se sucedem sem se sobreporem. Esta sucessão dura 640 dias. Cada onda tem um pico de 55.000 casos  novos de CoVid por dia. Logo, são 3 picos e dois vales, no fundo do qual há, pelo menos, 1 dia sem nenhum novo caso. Nos picos, os hospitais ficam carregados de doentes de CoVid e o pessoal que trabalha lá se estafa. Nos vales, os trabalhadores do hospital podem descansar um pouco mais e os equipamentos podem receber a devida manutenção. 

O problema se agrava muito quando as diferentes ondas se sobrepõem. 

O segundo gráfico, mostra as mesmas ondas com 25% de sobreposição. Os picos das 3 ondas são os mesmos, mas os vales se reduziram. Agora, a duração das 3 ondas é de 530 dias e, no fundo do vale,  tem-se 10. 600 casos novos por dia. 

No terceiro gráfico, com sobreposição de ondas de 50%, chega-se a um limite. Até aqui o pico da onda continua sendo o mesmo, mas qualquer nova aumento na  sobreposição. passará a aumentar também o pico das ondas. Com a sobreposição de 50% o pico das 3 ondas continuam em 55.000 casos diários, mas os vales entre eles já estão muito altos, estressando o pessoal da saúde e os equipamentos hospitalares. No fundo dos dois vales tem-se 39.600 novos casos de CoViD por dia no país.

No quarto gráfico, com sobreposição de ondas de 75%, a soma das 3 ondas já aparece como se fosse uma só, com a duração de 320 dias. Temos um só pico, no qual há 90.600 casos novos num só dia. O sistema de saúde já colapsou! Não há vale algum neste período. Na verdade, isto já é assim a partir de 2/3 de sobreposição (66,7%). 

Se a sobreposição fosse de 100%, as 3 ondas estariam em fase,  somando seus valores. Neste caso o pico seria de 165.000 casos por dia. 

Tudo o que foi exposto sobre o aumento do número de casos da doença também vale para a evolução do número de óbitos. Pode-se traçar também os gráficos de mortes a partir do mesmo tipo de equação matemática. 


3. O caso do Brasil 

3.1 - A evolução do número de casos 

Pelos meus cálculos, já tivemos até hoje 4 diferentes ondas, conforme o leitor pode ver nos gráficos.

Veja atentamente o gráfico do 1° tipo (casos acumulados) que fiz com os dados oficiais do Brasil, representados em forma de bolinhas. Cada bolinha representa o número total de casos oficialmente confirmados da doença até aquele dia. Por exemplo, 300 dias após o início da pandemia no Brasil, tínhamos 7.264.221 pessoas que já tinham sido infectadas pela CoViD-19.

Veja como cresceu o número total de casos ao longo do tempo e veja também como as diferentes ondas se somaram. 



No Brasil, a Primeira Onda da CoViD, representada pela sigmoide azul, começou no dia 26 de fevereiro de 2020 e terminou no dia 03/01/2021. Foi a mais longa, pois durou 316 dias. Infectou cerca 1.500.000 pessoas. No entanto, uma Segunda Onda, mais contagiosa, tinha começado em 16/09/2020. Nesta data, a curva de bolinhas descarrilhou para cima da linha azulEsta nova onda está representada pela sigmoide verdeAté o final do ano, as duas ondas se somavam. Confira, faça a soma, no gráfico acima! No dia 300, por exemplo, 5.158.817 brasileiros já tinham sido infectados pela Primeira Onda (linha azul) e 1.967.225 pela segunda onda (linha verde), totalizando 7.126.042 (bolinha acima, na vertical).  

A Terceira Onda foi a que teve o maior pico diário de novos casos, com 71.236 novos casos num único dia, mas a Quarta Onda, que está em cursoserá a que mais infectou (casos oficialmente confirmados), atingindo cerca de 6.970.000 pessoas.

Veja as 4 ondas no gráfico acima. São as quatro sigmoides.

Conforme li em documentos publicados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), desde o início da pandemia, mais de 200 variantes do vírus Sars-CoV-2 já se propagaram pelo Brasil. 

Pelas datas, pude constatar que a Primeira Onda tinha sido causada por um conjunto de variantes do vírus Sars-CoV-2 (uma sopa de variantes), das quais foi predominante a mutação E484K, cujas linhagens prevalecentes foram as B.1.1.28 e B.1.1.33

Segunda Onda teve a predominância da variante P1 (descoberta em Manaus), mas com importante contribuição da P2 (identificada no Rio de Janeiro) e B.1.1.7 (oriunda do Reino Unido). Quando a Segunda Onda terminou, bem no início de junho de 2021, uma Terceira Onda já havia começado, em  16 de dezembro (aproximadamente). 

A sopa de vírus da Terceira Onda teve o concurso predominante das variantes P1,  B.1.1.7 B.1.351 (da África do Sul). Quando a Terceira Onda terminou, em 18 de julho de 2021, uma Quarta Onda já havia começado, em 26 de março (aproximadamente). 

Ainda não sei dizer qual a diferença na composição da "sopa de vírus" da Quarta Onda em relação à Terceira. No entanto, é muito provável que inclua a variante delta (B.1.671.2), oriunda da Índia.

Hoje estamos no dia 22/08/2021, portanto, na última bolinha vermelha (o último dado real conhecido do número total de casos). A linha contínua vermelha, que até aqui estava em baixo das bolinhas vermelhas, agora aflora como previsão para o futuro. Esta linha nos mostra que, se não surgir uma quinta onda, então, no 700° dia da pandemia, que será no dia 25/01/2022, teremos 22.109.282 casos confirmados da pandemia no Brasil. Quarta Onda deve acabar já em 2022.

Fica em aberto a pergunta: teremos uma Quinta Onda? Espero que a Quinta Onda, se houver, seja bem espaçada da Quarta Onda e muito mais branda, porque as pessoas com mais de 40 anos já estarão vacinadas, em grande percentagem

A figura seguinte mostra todas as ondas da CoViD, agora em gráfico do 2° tipo (dados desacumulados, ou seja, dados diários).  Observe! 


Neste gráfico, a linha contínua vermelha é a soma de todas as ondas. Vê-se claramente que os picos de cada onda correspondem com boa aproximação aos picos da linha vermelha, que correspondem aos dias de maior sobrecarga hospitalar. No pico da Terceiro Onda, no dia 25 de março de 2021, o Brasil teve o maior colapso hospitalar e sanitário da história! Houve uma demanda enorme por leitos de UTI, quando todos os existentes já estavam ocupados. Pessoas morreram por falta de leitos para atendê-los! É impossível ampliar o número deste tipo de leito quando todo o país está em franco colapso sanitário ou à beira dele! Além do leito de UTI ser um equipamento muito especializado, necessita de pessoal qualificado e muito experiente, que não está disponível, especialmente nestes momentos de crise. 

Cada pico corresponde a uma onda diferente. Neste tipo de gráfico, conte o número de picos e você terá o número de ondas. Observe também, pela posição dos picos, que as ondas da CoViD do Brasil estão cada vez mais próximas, o que aumenta a sobreposição. Deste modo, a soma dos casos diários aumenta muito mais a sobrecarrega dos hospitais. Além das ondas estarem mais próximas, cada nova onda tem apresentado maior taxa de contágio.

O último dado disponível, o do dia de hoje (a última bolinha vermelha, indicada pela seta preta) é o dia 544° da pandemia. De hoje em diante, a continuação da linha vermelha passa a ser a previsão para o futuro. Logo, contanto que não tenhamos uma Quinta Onda, pode-se prever que, no 600° dia da pandemia (em 17/10/2021), a Quarta Onda ainda causará cerca de 8000 novos casos.

Há algo curioso neste último gráfico: a súbita queda do número de novos casos nos dias em torno do dia 1° de julho de 2020 (entre o 120° dia e o 140°), um pouco antes do primeiro pico. Parece que cerca de 75.000 casos foram subtraídos e nada justifica esta queda abrupta neste período de pouco mais de duas semanas. Depois desta "dentada", a curva retomou seu curso normal previsto pela equação (linha azul). Isto deve ter sido manipulação indevida de dados! Observe que, algo semelhante, mas de gravidade bem menor, já tinha ocorrido (entre os dias 90° e 112°). Foi quando os jornalistas suspeitaram de manipulação dos dados no site do Ministério da Saúde, o que motivou a criação do consórcio formado pelo O Globo, G1, Extra, Estadão, Folha e UOL com o objetivo de coletarem dados diretamente das Secretarias de Saúde para divulgação em conjunto do número de mortes e de contaminados, em razão das limitações impostas pelo Ministério da Saúde.

Uma "dentada" bem maior ocorreu durante a Segunda Onda (entre o 300° e 320° dias). Parece que cerca de 120.000 casos foram subtraídos sem que houvesse qualquer justificativa. Novamente, depois desta outra "dentada", a curva retomou seu curso normal previsto pela equação (linha verde).

Quantas ONDAS de VÍRUS ainda teremos? Como já mencionado, se houver uma Quinta Onda, esta será menos intensa e bem mais espaçada da Quarta Onda, porque a metade mais idosa da população já estará quase completamente imunizada pela vacinação. No entanto, esta hipótese não pode ser descartada. Quanto mais ondas surgirem, mais chances há de surgirem novas mutações genéticas que possam tornar o vírus mais contagioso, ou mais agressivo, ou mesmo irreconhecível pelo nosso sistema imunológico, ainda que vacinado. Ainda bem que a ação dos anticorpos não é nossa única resposta imunológica, nem a mais importante. Vacinas como a da Pfizer, a da Moderna, e as vetorizadas, provocam uma boa resposta celular, que é outro mecanismo do sistema imunológico, menos suscetível a esse tipo de dificuldade de reconhecimento. Por isto, é bom que a dose de reforço dos mais idosos seja dada com uma destas vacinas. O que se pode esperar, com o aumento do número de vacinados, é uma menor sobreposição das ondas, o que já ajuda muito! 

QUADRO RESUMO DE CASOS CONFIRMADOS
Nota: a Onda 4 está em curso; os números decorrem das equações das linhas contínuas. 


3.2 - As ondas de mortes 

A cada onda de casos corresponde uma onda de mortes, conforme o leitor pode ver nos gráficos seguintes.

Veja atentamente o gráfico do 1° tipo (casos acumulados de mortes) que fiz com os dados oficiais do Brasil, representados em forma de bolinhas azuis. Cada bolinha representa o número total de óbitos causados pela CoViD até aquele dia. Por exemplo, 300 dias após o início da pandemia no Brasil, tínhamos 187.131 óbitos (e 7.264.221 casos da doença) causados pela CoViD-19.

A linha contínua vermelha representa a curva de previsão matemática. 


No Brasil, a Primeira Onda Óbitos da CoViD, representada pela sigmoide azul escura, começou no dia 17 de março de 2020 e terminou no dia 20/11/2020. No entanto, uma Segunda Onda tinha começado em 18/09/2020.  Nesta data, a curva de bolinhas descarrilhou para cima da linha azulEsta nova onda está representada pela sigmoide roxa. A Terceira Onda, representada em azul claro, surgiu em 16/12/2020, somando-se com as anteriores. A Quarta Onda começou em 23/03/2021. Veja as 4 ondas no gráfico acima. São as quatro sigmoides.

O último dado disponível, o do dia de hoje (a última bolinha azul) é o dia 544° da pandemia. De hoje em diante, a continuação da linha vermelha passa a ser a previsão para o futuro. Logo, contanto que não tenhamos uma Quinta Onda, pode-se prever que, no 578° dia da pandemia (em 01/10/2021), o número total de mortes estará em torno de 600.000 mortes pela CoViD-19. mesmo que não tenhamos uma Quinta Onda, este número será ultrapassado. 

A figura seguinte mostra todas as ondas de mortes da CoViD, agora em gráfico do 2° tipo (dados desacumulados, isto é, mortes diárias).  Observe! 



Neste gráfico, vê-se claramente os picos de cada onda de óbitos. 
Cada pico corresponde a uma onda diferente. Neste tipo de gráfico, conte o número de picos e você terá o número de ondas. 

Observe também, que o terceiro pico foi muito alto, mas o quarto pico já foi bem menor.

QUADRO RESUMO DE ÓBITOS
Nota: a Onda 4 está em curso; os números decorrem das equações das linhas contínuas.

5. Por que nossas perspectivas não se realizam?

O assunto predominante no mundo, no fim de 2019, era a Emergência Climática. No entanto, em 2020, veio a pandemia da COVID-19, a qual pôs a humanidade de castigo, fazendo-a parar e pensarAssim,  muitos de nós pudemos perceber o egoísmo exacerbado que existe no Brasil, o conceito irrefletido de que tudo o que há pertence somente a esta geração de seres humanos, que só o presente importa e o futuro não é de nossa responsabilidade. Infelizmente este comportamento é intenso no Brasil. Isto terá que mudar! 

Com a pandemia, o planeta respirou aliviado! A Emergência Climática saiu do noticiário, exceto pelo abate das nossas florestas, pelo corte e pelos incêndios. Foi substituída pela Emergência Sanitária. Os profissionais de saúde, que enfrentaram o exército de vírus Sars-Cov-2, deram um belo exemplo de coragem, de abnegação, de sabedoria, assim como muitos outros trabalhadores de serviços essenciais. Os cientistas de todo o mundo colaboraram entre si, num enorme e penoso esforço para combater a pandemia. Em apenas um ano, desenvolveram diferentes vacinas, algumas tão inovadoras que acrescentaram um promissor avanço à Ciência. 

Aqui, no Brasil, é certo que nossas estratégias de distanciamento social não foram suficientemente rigorosas, nem bem planejadas. Poderíamos ter amenizado as diferentes ondas, mas não fomos capazes! Não conseguimos nos coordenar para juntos enfrentarmos a adversidade. Faltou-nos altruísmo, abnegação, responsabilidade, lucidez, inteligência... Poderíamos ter tido menos mortandade e menos sequelados, cuja expectativa de vida foi reduzida. Mesmo assim, o povo cansou e ficou ávido de uma volta a antiga normalidade, mesmo com o surgimento das novas Ondas da CoViD-19, bem mais perigosas que as anteriores. 

A própria atual expectativa com a vacinação produz uma tola mudança de comportamento no povo, no sentido do relaxamento do distanciamento e imobilização social. Porém, o fato é que, no caso de doenças infecciosas, só se volta à normalidade quando um grande número de pessoas já estão vacinadas, porque não basta imunizar indivíduos, é preciso impedir que os vírus se reproduzam, o que só se consegue se todos os caminhos de contágio estiverem bloqueados, ao redor de cada grupo de indivíduos e em todas as comunidades à nossa volta. Os cientistas ainda estão estudando este assunto.  No momento, acredita-se que, num país, só se conseguirá estancar a transmissão do vírus se 70% da população do Brasil estiver vacinada. Claro que os pontos de entrada de estrangeiros devem estar bem fiscalizados.

Há, na cultura brasileira, uma exagerada incapacidade de encarar a realidade. A grande maioria das pessoas prefere acreditar no que, de alguma forma, parece ser mais confortável e de conveniência individual. Isto é consequência de um precário sistema educacional. 


6. O BRASIL PERANTE O MUNDO
 
Em relação a outros países do mundo, quanto ao total de mortes por milhão de habitantes e por dia, o Brasil está hoje (22/08/2021) em segundo lugar neste 'ranking' malévolo. Veja os 4 primeiros colocados: 
1° - Perú 
2° - Ucrânia
3° - Checoslováquia 
4° - Brasil

Na América do Sul, destacam-se, pelo bom desempenhoa Guiana, o Suriname, o Uruguai e o Paraguai, nesta ordem. Os dados da Venezuela e de Cuba não podem ser verificados por agências independentes e, por isso, não são confiáveis.
 
Não esqueça que, ao comparar países apenas considerando o número de mortes diárias por milhão, não se está considerando questões importantes como a densidade demográfica, o perfil etário e o nível de testagem. Não esqueçam também que, no Brasil, quase não fazem testes de confirmação da CoViD. Logo, os números do Brasil são subestimados em relação aos demais países.

Este mapa, abaixo, vai ser automaticamente atualizado todos os dias. Ele sempre estará atualizado. 

 

Observe que, em número de novos casos por dia e por milhão e habitantes, a Índia está muito melhor que o Brasil! 



7. DICAS AOS BRASILEIROS

Usem a máscara antiviral!

O jato de gotículas e micro gotículas
emitidas pela boca e nariz
pode alcançar até 6 metros.
A máscara é uma barreira
que diminui muito esta distância.
Veja no final deste artigo.
 
A seguir, apresento algumas informações que ajudam no julgamento dos riscos que se corre com e sem o uso da máscara. Veja a imagem aqui à esquerda. 

A máscara não elimina o risco de contágio, mas o reduz, como se vê no filme da nuvem de gotículas contaminantes. Logo, mesmo com máscara, mantenha distância

Agora veja as duas imagens abaixo. Na filmagem foi usada uma técnica conhecida como Schlieren, a qual permite que se visualize o fluxo de ar pela concentração de gotículas invisíveis que ficam em suspensão no ar enquanto a pessoa fala, respira e tosse, com máscara e sem máscara. 

Na imagem da esquerda, sem a máscara, a nuvem de concentração de gotículas vai mais longe, enquanto que, na imagem da direita, com a máscara, a nuvem de gotículas fica mais próxima do indivíduo que as emite.

Quando a pessoa está infectada pelo vírus da CoViD (Sars-Cov-2), as micro gotículas podem conter milhares ou milhões de vírus. O número depende do tamanho da gotícula. As gotas maiores levam os vírus para o chão, as pequenas ficam suspensas no ar.




Num ambiente fechado e sem ventilação adequada, a eficácia da máscara cai muito, porque a concentração das gotículas minúsculas, em suspensão no ambiente confinado, será bem maior. 

Não é surpresa para ninguém que restaurantes são ambientes propícios ao contágio da CoViD-19, uma vez que se precisa estar sem máscara para se alimentar. E para provar isso, cientistas da Universidade de Kobe, no Japão, usaram um modelo estabelecido a partir de dados experimentais para demonstrar como a simples distribuição das mesas e cadeiras nesses estabelecimentos pode fazer diferença na propagação do novo coronavírus (SARS-CoV-2).

A simulação mostra a emissão das partículas de aerossol em uma mesa com quatro pessoas, todas conversando e sem usar máscaras. Observem que a comida que está nos pratos também se contamina! Imagine o perigo de um "self service", onde todos se servem no mesmo balcão.

Num ambiente onde muitas pessoas se aglomeram, mesmo que estejam entrando e saindo, a eficiência da máscara antiviral também diminui muito, mesmo que as pessoas mantenham boa distância entre elas, porque o ar que exalam está sempre sendo produzido, com suas micro gotículas carregadas de vírus. Fuja destes ambientes!

Na imagem abaixo, vemos o que acontece quando uma pessoa sentada fala em sua frente. As imagens mostram que cerca de 5% das gotículas vão para essa pessoa que está na frente.

<em>Reprodução: Kobe University</em>
Reprodução: Kobe University
A pessoa que está sentada na diagonal de quem está falando, tossindo ou espirrando, será atingida com um quarto da quantidade das gotículas.


<em>Reprodução: Kobe University</em>Reprodução: Kobe University


No entanto, quando a pessoa que está falando olha para o lado, a pessoa que está ali será atingida com mais de 25% das gotículas.

<em>Reprodução: Kobe University</em>
Reprodução: Kobe University

O resultado do experimento mostrou que a distribuição das mesas e cadeiras faz toda a diferença na propagação das partículas. 

Quando uma pessoa contaminada está sentada à mesa, as chances de o indivíduo que está em sua frente ser atingido por gotículas contaminadas é quatro vezes maior do que se o infectado estivesse em sua diagonal. Já a pessoa que está ao lado do contaminado é a que mais está em risco.

Quando a pessoa com COVID-19 vira a cabeça para conversar com quem está ao lado, este está cinco vezes mais vulnerável à exposição, já que as partículas vão diretamente a ele.

— Que tal se eu lhe der algo que previna muito a CoViD-19?
— Uma vacina? Uma cura milagrosa? Um presente divino?
— Aqui está! Uma máscara! 

8. Outras dicas, para pessoas que usam máscara antiviral!



Nota deste blog: o que importa não é o número de pessoas em um ambiente, mas a densidade de pessoas e a eficácia da ventilação. Por exemplo: "Ir a culto religioso com 500 ou mais fiéis" pode não ser perigoso. Por exemplo, se o culto for no Estádio do Maracanã e as 500 pessoas estiverem bem distantes uma da outras, então o risco pode ser nulo!

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