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sábado, 14 de março de 2020

Covid-19 e suas consequências

Por Almir M. Quites


Afogados em "fake-news" (boatos), os brasileiros ainda não estão bem informados e não entendem porque esta "preocupação exagerada com uma gripe fraquinha". 

Além disso, o medo de causar pânico pode estar impedindo as autoridades brasileiras de serem suficientemente claras. Muitas delas podem  também estar desinformadas e não entenderem a gravidade do momento.

A preocupação não é exagerada. Pelo contrário! 

Pretendo aqui colocar os fatos verdadeiros, de modo o mais claro possível. 

Em primeiro lugar, não existe vacina nem remédio algum contra o coronavirus Covid-19. Para dificultar a contaminação, cada um deve cuidar de si mesmo e todos em conjunto devem se ajudar. Logo, cada um por si, cada um por todos e todos por um!

Em segundo lugar, é verdade que os sintomas causados pelo coronavirus não causam sintomas em crianças ou estes são muito leves. Também é verdade que, em jovens e adultos, os sintomas são um pouco mais graves. No entanto, o importante é que a gravidade dos sintomas é crescente com a idade da pessoa infectada!

 Atenção: para idosos (mais de 60 anos) os sintomas são muito graves e esta gravidade ainda aumenta com a idade. A letalidade prevista para idosos (70+) vai de 8% a 28%, sendo a mais alta relativa a faixa acima de 80 anos, conforme dados constatados na China. 

As pessoas com menos de 60 anos, que tenham doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, além da sepse (resposta inflamatória sistêmica do organismo contra uma infecção), têm a mesma vulnerabilidade que os idosos. Antes do novo coronavírus, a sepse já era responsável por 25% da ocupação de leitos em UTIs no Brasil. 

Agora vejamos as consequência do que foi aqui exposto.

Temos 30.000.000 de idosos no país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, o Brasil possui cerca de 60.000.000 de pessoas com uma doença crônica. Este número pode ser maior, devido à quantidade de pessoas que não realizaram exames e também por ser dado de 2013 (da Pesquisa Nacional de Saúde, do IBGE).

Logo, temos cerca de 100.000.000 de brasileiros com alto risco de fatalidade pelo novo coronavirus. A taxa de contaminação varia de 1 a 5% conforme a região e a cultura da população. Façamos a estimativa mais otimista: se apenas 1% deles for contaminado teremos 1.000.000 doentes graves no Brasil.

Por outro lado, o Brasil tem 302.542 leitos hospitalares do SUS e 135.481 particulares, totalizando 438.023 leitos. Esta quantidade de leitos já atende precariamente a população brasileira, já que corresponde a dois leitos para cada mil habitantes, enquanto que a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de três leitos por mil habitantes

Notem que estamos tratando de leitos normais e não de leitos de UTI (estes são apenas 40000). Os pacientes graves do COVID-19 precisam de UTI, para evitar o óbito.

Não dá para acrescer mais 100.000 casos graves, durante 4 meses (ou entre os pontos de inflexão da curva de contaminação), a um sistema de saúde que já está quase no limite de sua capacidade. Além das doenças normais, teremos mais duas epidemias neste período: influenza e dengue.

Notem também que estamos tratando de uma doença ainda desconhecida. A primeira onda de contágio (surto) pode estancar por várias razões, mas outras podem vir a qualquer tempo, até mesmo se sobrepondo à primeira. As novas ondas podem ser mais contagiosas e mais letais. Isto significa que não se sabe quando a pandemia, como um todo, poderá terminar!

Até o meio de abril poderemos chegar a 10.000 casos confirmados da doença. Como será no segundo semestre deste ano? Se o contágio continuar crescendo exponencialmente como agora, chegaremos a mais de 1.000.000 no início do segundo semestre! Parece exagerado? 

Face ao exposto, significa que o coronavírus pode repentinamente acrescer demanda insuportável ao sistema nacional de saúde. Se o crescimento da contaminação não for fortemente refreado, o sistema de saúde brasileiro entrará em colapso, só pelo efeito do coronavirus. As demais doenças do Brasil também não poderão ser tratadas. Imaginem a tragédia que isto significa! Muitos idosos serão simplesmente abandonados 😥. A "escolha de Sofia" já foi feita!

A grande tragédia decorre do colapso do próprio sistema de saúde. O pessoal da área da saúde ficará esgotado, trabalhando sob tensão e em ambiente de alto risco. O povo brasileiro e até mesmo as autoridades nacionais não saberão valorizar este sacrifício. 

Não podemos chegar nesta situação! É fundamental fazer tudo o que for possível agora, com urgência, para minimizar um pouco o crescimento desta virose. Contudo, o Brasil é, no mundo, um dos piores países em capacidade fiscal. Os impostos deveriam ser menores para que houvesse folga para emergências como a que temos agora.

Preste atenção! Todos os dados epidemiológicos disponíveis indicam que: 
  1. ➥ o crescimento no número de contaminados pelo coronavirus é exponencial; 
  2. ➥ o vírus (Covid-19) é consideravelmente mais letal do que a gripe comum nos grupos de maior risco; 
  3. ➥ o Covid-19 é muito mais perigoso para pessoas com idade avançada e/ou com doenças crônicas;
  4. ➥ a sobrecarga do sistema de saúde será inevitável e o colapso é muito provável;
  5. ➥ a duração do surto foi de quatro meses na China, mas, como os infectados não ficam completamente imunizados, porque o virus é mutante, o surto pode voltar.
  6. ➥ grande parte dos pacientes recupersdos da Covid-19 ficarão com graves sequelas e exigirão cuidados médicos.
Os experimentos do National Institutes of Health (NIH) mostram que o Covid-19 se transmite pelo ar (em aerossol produzido pela respiração, fala, espirro ou tosse) ou pelas coisas (ao toque). No ar, deixa de ser detectável após cerca de três horas. Em coisas, são detectáveis até 72 horas após a contaminação, em superfícies de plástico ou de aço inoxidável; em papelão, permanece ativo por 24 horas; e, no cobre, por cerca de quatro horas. Logo, as coisas precisam ser higienizadas com frequência. Os meios de transporte, por exemplo, teriam que ser higienizados a cada viagem! Além disso deveria ser obrigatório viajar com as janela completamente abertas! Há muitas medidas práticas que poderiam ser tomadas, se o povo tivesse mais consciência da necessidade e urgência.

Em contraste com o patógeno Sars de 2003, o Covid-19 se espalha muito mais fora das clínicas, como, por exemplo, em residências ou no local de trabalho. A resistência ambiental do novo patógeno é bem maior que as cepas anteriores.

Tudo o que podemos fazer é tratar de dificultar a transmissão do vírus para estender ao máximo, no tempo, a curva de crescimento da contaminação, para dar tempo para, num esforço paralelo enorme, conseguirmos aumentar o número de leitos e adequar estrutura humana e material dos hospitais. Temos que conseguir nos organizar! 

É claro que, quanto mais cedo o Brasil adotar medidas severas para impedir ou limitar aglomerações e movimentações de pessoas, a exemplo do que fizeram países asiáticos (e agora a Itália) mais chance se terá para adequar o sistema de saúde à nova realidade. Para isso, é necessário suspender aulas, jogos de futebol, espetáculos artísticos, cultos religiosos, restringir a presença física em locais de trabalho e a circulação pelas cidades. Em lugares como Hong Kong, Japão, Singapura e Coréia do Sul, o ritmo de contaminação foi menor que o registrado em grandes países europeus. Foi a imediata reação e a severidade das medidas que garantiram a frenagem na propagação do vírus. Já não podemos evitar ou conter o contágio, mas ainda podemos abrandar seus efeitos.

O Covid-19 está se tornando uma enorme crise de saúde em muitos países e, simultaneamente, causando uma crise de governança global. 

Conclusões: 

1) Crianças, jovens e adultos sadios não correm risco de vida. Apenas terão os sintomas de uma gripe leve. No entanto, eles são transmissores do vírus, enquanto os idosos e os portadores de doenças crônicas são as vítimas dramáticas.
2) Se as crianças, os jovens e os adultos não colaborarem decisivamente na luta contra a transmissão do vírus, o colapso do sistema de saúde nacional fará com que todos fiquem sem atendimento ante qualquer doença, inclusive as crianças, os jovens e os adultos.
3) Não há tempo a perder. O país precisa parar por alguns meses e concentrar esforços no combate ao Covid-19.

𝓐𝓵𝓶𝓲𝓻 𝓠𝓾𝓲𝓽𝓮𝓼

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