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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Brasil na trilha da Venezuela?

Por Almir M. Quites (publicado ontem, às 15:41, no Facebook)



O coronel da reserva, Hugo Chávez, em 1999, como Presidente da Venezuela, fazia discursos todos os dias, em rede nacional de televisão, atiçando o povo contra o Poder Legislativo e contra o Poder Judiciário. O mesmo faz aqui o ex capitão, atual Presidente Jair Bolsonaro, só que por meio de mensagens robóticas pelas redes sociais.


O Presidente da República brasileiro praticou ontem mais um crime: convocou o povo para ato público contra os demais Poderes da República. Isto é uma afronta direta a Constituição brasileira. Se não houver uma reação institucional à altura da gravidade do caso, o Brasil se entregará a déspotas como a Venezuela se entregou.

Há muitas semelhanças entre o bolsonarismo e o chavismo venezuelano. 


Hugo Chávez, depois que assumiu a Presidência da Venezuela, em fevereiro de 1999, começou a substituir civis por militares nos cargos de alto escalão no seu governo. Depois, promoveu a eleição de uma "Assembléia Constituinte Chavista", que mudou a Constituição para garantir que Chávez continuasse no poder até 2012! Foi um Golpe na democracia venezuelana! Então a Venezuela mergulhou numa ditadura que perdura até hoje. Hoje temos lá uma permanente calamidade pública!

Em 1999, Bolsonaro disse em entrevista que era fã de Hugo Chávez, então presidente da Venezuela e que era admirador do Bolivarismo. Acrescentou que gostaria de ver aquele modelo aplicado a toda a América Latina (
entrevista para jornal O ESTADO). Disse também, na mesma entrevista, que ele não era contra o comunismo! A entrevista foi publicada no jornal O Estadão, no dia 4 de setembro de 1999, sete meses após a posse de Hugo Chávez na Venezuela, como se pode ver no acervo do jornal.

Jair Bolsonaro chamou Hugo Chávez de “esperança para a América Latina” e acrescentou: “Gostaria muito que esta filosofia chegasse ao Brasil. Acho ele ímpar". Bolsonaro afirmou ainda que Chávez poderia fazer “o que os militares fizeram no Brasil em 1964, com muito mais força” e que “não tem nada mais próximo do comunismo do que o meio militar”.

Aqui, no Brasil, a militarização do Palácio do Planalto e o incentivo declarado do presidente Jair Bolsonaro (e de sua família) a levantes civis e motins militares são evidências de que estamos seguindo o modelo Venezuelano.

Mas agora, em pleno período de Carnaval, o presidente da República atiçou a fogueira em que ele e seu governo queimam as instituições nacionais.

Usando o seu próprio WhatsApp e o brasão da República, o Presidente se apresenta, em vídeo patético, como ser divino que desce a Terra para nos salvar. Apresenta-se como mártir, que teria arriscado a vida e quase morrido para salvar o povo, o qual deveria, por gratidão, participar, no próximo dia 15 de março, da manifestação contra o Congresso Nacional (o qual foi eleito pelo mesmo eleitorado que elegeu o Presidente). No píncaro do cinismo, ainda usou o Hino Nacional como fundo musical! Só faltou dizer que pretendia fechar o Congresso Nacional para proteger os parlamentares do contágio do Coronavirus! Os bolsonaristas acreditariam na motivação humanitária!

O ato do dia 15 foi convocado imediatamente após o suposto "vazamento", no sistema de som do próprio Planalto, de uma conversa em que o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional. Nele, o General chama os congressistas de “chantagistas, logo em seguida diz um palavrão e, então, sugere que as pessoas deveriam ir às ruas se manifestar contra o Congresso. Nas convocações que circulam pelas redes sociais, o General Heleno, o vice-presidente Hamilton Mourão e outros generais aparecem fardados e os textos dizem que eles aguardam “ordens do povo”, enquanto exortam: “Fora Maia e Alcolumbre”.

No texto do WhatsApp, com o qual Bolsonaro apresentou seu vídeo, consta: “- 15 de março. Gen Heleno/Cap Bolsonaro. O Brasil é nosso, Não dos políticos de sempre.”

Notem que Bolsonaro fez a convocação em seu nome e no de Heleno, mas fez questão de usar as patentes militares em vez de seus cargos civis. O presidente da República se apresentou como “capitão” e acrescentou o seu ministro, chamando-o de “general”.

Nas legendas intercaladas às imagens vitimizadoras e triunfalistas de Bolsonaro, aparecem frases como “Ele foi chamado a lutar por nós. Ele comprou a briga por nós. Ele desafiou os poderosos por nós. Ele quase morreu por nós. Ele está enfrentando a esquerda corrupta e sanguinária por nós”.

Bolsonaro atiça o povo contra os demais Poderes, algo inadmissível numa democracia que se preze.

Pouco depois o vídeo foi apagado para todos e substituído por outro que é uma pequena parte do primeiro. O estrago já estava feito. A repercussão foi grande.

Agora veja partes do vídeo original do Presidente. O vídeo original, na íntegra, tal como divulgado no WhatsApp do Presidente, durava bem mais que 1(um) minuto. Aqui, apresento apenas duas partes, porque o original foi apagado e substituído por outro que contém apenas uma parte de 1 minuto de duração.  

Esta parte apresento aquia: 

Fonte original no dia 26/02 ➡️ https://youtu.be/ABqV1cUHvrg
Parte da versão original.
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Uma das partes cortadas me parece ser esta, embora eu não tenha como conferir agora. Seu conteúdo dura 20 segundos. Eis aqui: 


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Bolsonaro realmente parece mais novo. Em outro vídeo, mais revente, o Presidente alega que o video acima é de 15 de novembro de 2015, também um domingo, e que ele se referia ao impeachment de Dilma Rousseff.

O fato é que quem divulgou esta montagem de dois diferentes vídeos como sendo um só (durante o Carnaval deste ano), parecendo que a convocação de Bolsonaro se referia à manifestação do próximo dia 15 de março, contra o Congresso Nacional e o STF, foi o próprio Presidente Bolsonaro. Tudo indica tratar-se de malandragem do seu filho, Carlos Bolsonaro, porque é ele quem maneja as redes sociais do Presidente.

A radicalização no Brasil é tanta que só vejo dois caminhos pela frente:
  • (a) entramos em uma nova ditadura militar; ou
  • (b) a democracia se sustenta e o PT volta ao poder pelo voto antibolsonarista.
Estas duas possibilidades serão desastrosas para o Brasil, mas todas as outras foram suprimidas pelo radicalismo presidencial. O nosso país continuará na mesma sina, na mesma demente intolerância, sem conseguir evoluir.

No caso de uma ditadura, há grande possibilidade de que Bolsonaro seja defenestrado em muito pouco tempo, substituído por um general.

A hipótese de a democracia conseguir se sustentar é menos provável, porque a guerra no submundo digital contra as instituições, é desigual. Enquanto os bolsonaristas contam com o apoio de um esquema empresarial pujante (robôs e "cyborgs") e atua com mídia digital (comunicação bilateral), a oposição a Bolsonaro ainda reage das formas convencionais, onde predomina a mídia analógica (comunicação unilateral). 

As perspectivas são sombrias!

Vejam, agora, o que publiquei em março do ano passado:
➡️ MILITARISMO ANACRÔNICO
https://almirquites.blogspot.com/2019/03/militarismo-anacronico.html

Como se constata da leitura desta publicação, o dano causado pelo militarismo já era claro, pelo menos, há 1 ano!

Veja também aqui o lado fantasioso do Bolsonarismo que arrebata as pessoas menos perspicazes:
O ATENTADO A BOLSONARO E O LADO FANTASIOSO DA POLÍTICA
https://almirquites.blogspot.com/2018/09/atentado-de-bolsonaro-e-o-lado.html


POVO ILUDIDO É POVO VENCIDO!

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