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sábado, 30 de novembro de 2019

Louco de pedra

Por Almir M. Quites


Mais uma declaração maluca do Presidente Bolsonaro! 😪
Não tenho dúvidas que temos um presidente maluco, mas chamá-lo de "presidente maluco beleza",como vi no WhatsApp, é um indevido elogio!

"Maluco beleza" é um termo coloquial utilizado para definir um indivíduo que tem atitudes arrojadas, corajosas e sem inibições. Mas, a palavra "beleza" sugere algo admirável como uma virtude. Não, não é este o caso do nosso Presidente! Se fosse "maluco beleza" suas declarações seriam até divertidas. Bolsonaro está mais para a antiga expressão coloquial "louco de pedra" ou "maluco de pedra", uma espécie de maluco-maldade empedernido. O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta sexta-feira (29) que "a cultura nossa precisa estar de acordo com a maioria da população", ao se referir à nomeação de Sérgio Nascimento de Camargo para presidir a Fundação Cultural Palmares. A frase não faz sentido. É incompatível com os diferentes significados da palavra cultura. A frase mostra que o Presidente não sabe o que a palavra cultura significa quando se refere a um povo. Neste caso, cultura é o conjunto que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo ser humano que vive numa dada sociedade ou região. Logo, a cultura de um povo não se sujeita a escrutínios políticos de aferição de maiorias. A que se refere o Presidente quando fala de cultura da "maioria da população"?

Pode ser que ele esteja falando em termos racistas e não culturais como ele supõe. Neste caso, convém lembrar que, pela avaliação do IBGE em 2017, a população brasileira parda e negra já era maior que a branca e era proporcionalmente crescente. No entanto, segundo o próprio IBGE, esta população se encontra na base da pirâmide social. A pirâmide social começa negra e vai branqueando até o topo.

Bolsonaro também pode estar falando de ideologia e não de cultura, como ele supõe. Afinal, ele continua aferrado à tola batalha de "Direita x Esquerda". Neste caso, Bolsonaro está pensando em ideologia em sua concepção marxista, isto é, como instrumento de dominação que age por meio de persuasão ou dissuasão de forma prescritiva, mascarando a realidade e alienando a consciência humana.
Em sua afirmação e na sua atitude há também uma provocação que talvez advenha de um componente racista, o qual tem se revelado com frequência nas palavras do Presidente. Ele já foi até condenado pela Justiça Federal do Rio de Janeiro por ter declarado que negros quilombolas "não servem para nada, nem para procriadores servem mais". Isto foi dito por ele em palestra no Clube Hebraico do Rio de Janeiro em abril do ano passado. Bolsonaro não consegue esconder seu racismo, tantas vezes já demonstrado. Como qualquer outro racista, o Presidente não admite seu racismo, mas o demonstra. "No Brasil, o racismo é coisa rara”, disse ele. Qualquer pessoa desinformada e baseada no senso comum poderia inocentemente dizer isto, mas esta frase foi dita pelo Presidente da República! Na maluquice desta semana, Bolsonaro fez também uma provocação infantil. Nomeou, para presidir a Fundação Palmares, o jornalista Sérgio Nascimento de Camargo, um negro que nega a existência da discriminação dos negros na sociedade brasileira. Isto está em oposição à missão estatutária da Fundação Palmares, que é o reforço à cidadania, à identidade, à ação e à memória dos segmentos étnicos dos grupos formadores da sociedade brasileira, além de fomentar o direito de acesso à cultura e à indispensável ação do Estado na preservação das manifestações afro-brasileiras.

No dia 8 deste mês, o presidente havia transferido a Fundação Palmares, que antes ficava no Ministério da Cidadania, para a pasta do Turismo sob intensos protestos da classe artística brasileira. Nomeado na quarta-feira (27/11) para presidir a Fundação, Sérgio Nascimento de Camargo defendeu o fim do movimento negro e afirmou que a escravidão no Brasil foi "terrível", porém "benéfica para os descendentes", já que, na crença dele, os negros viveriam em condições melhores no Brasil do que na África. Isto é uma falácia! Como se a miséria de negros da África pudesse justificar a miséria de brasileiros! Camargo também defendeu o fim do feriado do Dia da Consciência Negra, que, em sua opinião, foi instituído para o "preto babaca" que é um "idiota útil a serviço da pauta ideológica progressista". Ele disse também que no Brasil há um racismo "nutella", enquanto nos Estados Unidos o racismo seria "real". "A negrada daqui reclama porque é imbecil e desinformada pela esquerda", disse. A Secretaria Especial da Cultura informou, em nota, que um dos "principais desafios" do novo presidente é "desaparelhar" a fundação e "direcionar o dinheiro público para o desenvolvimento de políticas públicas que protejam e incentivem a verdadeira cultura negra". A nota não deu exemplos de quais seriam as políticas públicas que incentivariam a "verdadeira cultura negra". A secretaria ainda disse que Sérgio Nascimento Camargo trabalha para libertar os negros da "mentalidade" que os "escraviza ideologicamente", o que "gera dependência" de políticas de cotas e de assistência social. Nada foi dito sobre como fazer isto, nem sobre o que significa a tal "escravização ideológica". É possível que Camargo se refira à guerra "Direita x Esquerda" e que a Esquerda os escravizaria, enquanto a Direita os libertaria. A esquerda radical diria a mesma frase ao contrário. Logo esta frase pesaria igualmente nos dois pratos da balança, sendo inútil para qualquer entendimento.

Por todas estas manifestações, fica claro que a posse de Camargo põe em sério risco a própria instituição que ele vai presidir. Logo, esta nomeação pode ser contestada na Justiça.

Pelos termos usados nas diversas manifestações aqui apontadas, percebe-se também que o guru da família presidencial, o racista Olavo de Carvalho, está por trás disso. Olavo tem enorme influência no governo. Até ministros ele indicou. Provavelmente indicou também Sérgio N. Camargo. Somente racistas e outros fanáticos, além de incautos sugestionáveis, admiram o tal “filósofo” autodidata. Os verdadeiros liberais e pessoas sensatas da direita se envergonham até mesmo de mencionar-lhe o nome, afinal Olavo não é referência para nada que se queira produzir com seriedade. Veja o vídeo abaixo! Volta-me à lembrança uma frase do jornalista Ricardo Noblat na ocasião em que o Presidente Bolsonaro tirou o COAF do ministério de Moro. Foi a seguinte: "Não foi ele que animou seus devotos a irem às ruas exigir o COAF para Moro? Presidente maluco, que deve a eleição à facada de outro maluco". Louco de pedra!

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Como complemento, seguem dois vídeos e um artigo de janeiro de 2017.

1) Eis o vídeo:
Paulo Ghiraldelli Jr. é filósofo, escritor e jornalista.
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2) Eis o artigo:
Para saber mais sobre Olavo de Carvalho, leia aqui:
GEOCENTRISMO E GEOCHATISMO
https://almirquites.blogspot.com/2017/02/geocentrismo-e-geochatismo.html



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