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sábado, 22 de setembro de 2018

O constrangimento eleitoral

Por Almir M. Quites



No dia sete de outubro próximo, o eleitorado brasileiro, induzido pelas pesquisas de intenção de voto (intensamente divulgadas, como nunca antes), vai exercer o "voto constrangido", também conhecido como "voto útil”, que não deixa de ser um tipo de "voto de cabresto". A maioria dos eleitores votará no primeiro turno como se já fosse o segundo, até mesmo pondo em risco a existência deste.

O eleitorado se sente como se estivesse em uma encruzilhada, ou vota em Fernando Haddad ou em Jair Bolsonaro. A competência dos candidatos para gerir gravíssima crise econômica brasileira está fora de questão. A escolha estará restrita à "contra o PT" ou "a favor do PT". É como se um portador de doença gravíssima escolhesse seu médico pelo time que apóia. "Torcedor do Flamengo" ou "torcedor do Fluminense"?

Esta é a maior crise econômica brasileira desde 1930. A economia está estagnada, depois de três anos consecutivos de destruição a que foi submetida pelas frustradas tentativas de Dilma Rousseff de recuperá-la com a loucura que pomposamente foi denominada "Nova Matriz Econômica", que elevou os gastos financeiros com endividamento, com subsídios e desonerações tributárias (por baixo, meio bilhão de reais). Soma-se a isto a enorme corrupção institucionalizada pelo PT e o aparelhamento do Estado pelo partido.

A taxa atual de desemprego no Brasil é de 12,3%, o equivalente a 13 milhões de pessoas procurando trabalho. Uma tragédia econômica!

A recuperação econômica do Brasil, se houver, vai demorar uma ou duas décadas. Não se recupera facilmente um estrago feito em mais de uma década. Não há solução mágica! Os candidatos que prometem curar o país em apenas um ou dois anos mentem!

Os dois candidatos que polarizam a campanha política (Fernando Haddad, advogado e político, filiado ao Partido dos Trabalhadores; e Jair Messias Bolsonaro, militar da reserva e político, atualmente na Câmara dos Deputados do Brasil, eleito pelo Partido Progressista) são incapazes de salvar o país.

Haddad representa o partido responsável pela tragédia econômica brasileira e, se eleito, vai contar com um governo já "aparelhado" pelo próprio PT, infecção mantida pelo Governo de Michel Temer.

Como era de se esperar, Haddad e o PT entendem que não têm nada a ver com a crise econômica. O PT e seus partidos aliados são incapazes de reconhecer qualquer erro, incapazes de fazer a menor das autocríticas. Desde sua fundação, o PT mente ao povo brasileiro e se apresenta como se tivesse o monopólio da Verdade absoluta. Se alguém discorda, é porque é idiota e/ou golpista. 

O PT, sempre que foi oposição, fez de tudo para atrapalhar o governo eleito.

O PT votou contra a Constituição de 1988, aquela que marcou a redemocratização depois da Ditadura Militar.
O PT foi contrário a todos os planos econômicos que tentaram acabar com a hiperinflação, inclusive o Plano Real. Quando ficou evidente que o Plano Real estava certo e o presidente Fernando Henrique Cardoso foi reeleito, o PT berrava pelo país a fora: "Fora FHC"!

Para os petistas e seus aliados, o PT é mais importante que o Brasil.

No entanto, no espectro político, os extremos se confundem. A "extrema esquerda" tem o mesmo comportamento da "extrema direita", embora o discurso possa parecer diferente [Nota 1].

Se você tem dúvidas sobre isso, leia aqui: 

O oposto do PT é Jair Bolsonaro, um cidadão com uma visão de mundo atrasada, ainda na obscuridade anterior ao Iluminismo [Nota 2]. Bolsonaro é preconceituoso, bravateiro, populista, militarista, apologista da tortura , assassinato de adversários [Nota 3] e de Golpe Militar! Um horror!

Após 28 anos no Congresso Nacional, Bolsonaro se manteve à sombra da "esquerda" e do PT por 20 anos! Bolsonaro só conseguiu visibilidade quando o desespero dos brasileiros liberou explosivamente a sua irracionalidade na busca de uma saída mágica para a crise econômica e institucional. Para conseguir visibilidade contou também com as redes sociais, o pior lugar para alguém formar opinião política. Lá, só se encontram pequenos textos desconexos, plenos de apelos sentimentais e/ou religiosos de baixo nível, apelando à irracionalidade, com afirmações irresponsáveis, geralmente mentirosas, repassadas por “perfis falsos”, robôs e "cyborgs", os quais os internautas confundem com "amigos" ou com "pessoas comuns". Bolsonaro explora, há muito tempo, estes ambientes.

Para aumentar a sua viabilidade eleitoral, passou a atacar o PT, especialmente a partir de 2010, após a posse de Dilma Rousseff. Nos últimos meses, fez uma virada para o liberalismo, apoiando-se em Paulo Guedes, um economista ultra-liberal que defende idéias diametralmente opostas a tudo o que Bolsonaro apoiou no Congresso Nacional. 

Chegamos a este ponto: temos um candidato à Presidência da República que proclama não entender nada de economia e não vê problema algum nisso. Assim, terceiriza o mais grave problema do país. Assim como faziam Lula e Dilma, Bolsonaro limita-se a pedir aos brasileiros, especialmente aos empresários, para que tenham confiança nele. "O Paulo Guedes é o meu Posto Ipiranga.", disse Bolsonaro, significando que, ante qualquer dúvida, não perguntem a ele, mas ao seu “Posto Ipiranga”! 

Bolsonaro votou contra o Plano Real, contra a quebra do monopólio das telecomunicações, contra o fim do monopólio do petróleo e a favor do regime especial de aposentadoria para deputados e senadores. Ainda neste ano, votou contra o cadastro positivo, que ajudaria a reduzir os juros no crediário.

No entanto, pior ainda é a sua visão da sociedade. "Vamos fazer um país para as maiorias. As minorias têm que se curvar às maiorias. As minorias se adequam ou simplesmente desaparecem", bradou em comício, no ano passado, em Campina Grande. Seus instintos militaristas, agressivos, que sugerem que tudo se resolverá com as Forças Armadas, colidem com o grande esforço civilizatório da democracia ocidental pela qual todos são iguais perante a Lei e cabe ao Estado, somente ao Estado, o monopólio da força para proteger as minorias.

Aqueles que votam em Bolsonaro o fazem por despreparo para o exercício da cidadania ou por raiva contra o status quo, inclusive por exagerado sentimento de vingança, ou mesmo por medo do PT. O despreparo para a cidadania é consequência da falência da escola. A raiva e o impulso para a vingança são estados perigosos que levam a mais violências e crimes passionais. O medo ajuda o ser humano a sobreviver, mas costuma conduzir a decisões equivocadas, enquanto não for paralisante.

Muitos empresários aderiram a Bolsonaro devido à apólice de seguro representada por Paulo Guedes, mas se esqueceram que o Ministro da Economia é demissível ad nutum e também se esqueceram das consequências institucionais de se ter um Presidente tipo Hugo Chávez, Nicolás Maduro, Recep Nadoğan ou Vladimir Putin. Afinal, como se comportará Bolsonaro quando o Congresso e o Judiciário se mostrarem um entrave a suas propostas? Um presidente despreparado e instável gerará confiança capaz de atrair investimentos?

Na verdade, o povo brasileiro está sendo conduzido ao matadouro pelo cabresto. É preciso reagir agora! Depois será quase impossível.

Para que algo mude é preciso que o povo reaja. Se o povo não tiver consciência do que está errado, não vai reagir. 

Quanto mais participarmos de um processo eleitoral errado, desde a legislação até a apuração eleitoral, mais consolidada ficará a sujeição do povo aos caciques políticos, donos da produção de todo o povo brasileiro. Com o passar do tempo, mais escravizados estaremos!

Povo iludido é povo vencido, empobrecido, esmorecido, desfalecido, enlouquecido...

Temos duas seitas abomináveis, ambas conduzidas pelo cabresto por seus líderes. Cada uma com seu profeta, mas ambas são muito parecidas e muito ligadas aos militares atuais. Qualquer delas vai aprofundar a polarização entre os brasileiros, mas me parece que esta polarização não é real entre os poderosos protagonistas. O jogo é jogar brasileiro contra brasileiro, maiorias contra minorias, balas e facas contra argumentos, mas isso é só no período pré-eleitoral. Depois, ambas as seitas podem até convergir. Afinal, parece-me que ambas são militaristas, ambas querem implantar um regime autoritário sustentado pelos mesmos militares. 

Nenhuma das duas seitas tem condições de governar o país em uma democracia de verdade. Como ainda há quem acredite que Bolsonaro ou Haddad possa fazer as reformas que passaram demonizando durante toda a campanha política? Tanto Bolsonaro como Haddad são vítimas de suas contradições internas e por isso, seus governos serão disfuncionais numa democracia. 

O Brasil não precisaria ser vítima deles! Bastaria que o povo acordasse de seu sono. Só que é muito improvável que isto aconteça!

Nossa política é passional, irracional.



NOTAS DE RODAPÉ
Nota 2: 
Iluminismo: movimento que surgiu na França, no século XVII que defendia o domínio da razão sobre a visão teocêntrica (religiosa), que dominava a Europa desde a Idade Média, e que teve por lema a tríade "Liberdade, Igualdade e Fraternidade". Além de ter influenciado a Revolução Francesa, também influenciou outros movimentos sociais, como na independência das colônias inglesas na América do Norte e na Inconfidência Mineira, ocorrida no Brasil. 

Nota 3: 
O erro da ditadura foi torturar e não matar”, disse Bolsonaro, em discussão com manifestantes (veja abaixo) e “Pinochet devia ter matado mais gente”, disse sobre a ditadura chilena de Augusto Pinochet. (Disponível na revista Veja, edição 1575, de 2 de Dezembro de 1998 – Página 39)

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𝓐𝓵𝓶𝓲𝓻 𝓠𝓾𝓲𝓽𝓮𝓼
A. Quites

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Um comentário:

  1. Cumprimentos voce ta certo acertou absolutamente tudo esse governo não merecia o brasil.

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