domingo, 16 de outubro de 2016

DIA DO PROFESSOR 2

Por Almir Quites - 16/10/2016



Ontem foi o Dia do Professor. Já escrevi sobre ele ontem (Dia do Professor 1), mas sinto que preciso escrever mais.

Este dia me toca profundamente, tanto porque fui e sou professor como também porque vejo o quanto temos regredido!

Vejo professores muito mal formados. Atualmente nem a formação específica na área em que lecionam é garantia de uma adequada formação para a função. Mesmo assim, no ano passado (2015), apenas 32 escolas das que tiveram o ensino médio avaliado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) tiveram todas as disciplinas ministradas por professores com formação específica. Isso significa 0,21% de 14.998 instituições analisadas a partir de dados coletados no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).

Vejo professores submetidos aos caprichos dos alunos, os quais já perderam a noção de suas responsabilidades de aprendiz. Vejo professores obrigados a serem artistas, para manter a atenção dos alunos. O que importa não é ensinar, mas entreter os alunos. 
Os alunos são mimados pelos professores, os quais, em troca, ganham alguns elogios pela performance, não pelo que realmente ensinaram. O aprendizado na Escola deveria ser muito maior e profundo do que se conseguiria brincando!

Vejo professores submetidos a partidos políticos e/ou à religiões, completamente alienados de suas responsabilidades com a educação dos jovens. São militantes da tropa partidária ou religiosa. Foram doutrinados e se transformaram em doutrinadores. Não são professores de verdade.

Formar uma pessoa é tarefa que requer muita responsabilidade. Consertar deficiências de formação é tarefa quase impossível. No entanto, os professores de hoje em dia são capazes de paralisar as aulas em longas greves por salário, prejudicando a formação de seus alunos. Alguns insanamente ainda dizem que os alunos aprendem mais durante uma greve do que durante o período letivo normal! Absurdo! A verdade é que a perda dos estudantes, durante estas greves, é irrecuperável.

A precariedade do sistema educacional brasileiro é a responsável pela explosão da população de menores infratores, pela epidemia de gravidez precoce, pela desqualificação da mão de obra, pela desestruturação familiar etc. Em resumo, a decadência brasileira deve-se à involução do sistema educacional.

Os procedimentos técnico-administrativos criados nos últimos anos para melhorar o processo educacional serão inócuos, porque não atacam o problema essencial, que é cultural. Estes programas se restringem à concessão de bolsas de estudo a alunos das classes desfavorecidas, transporte nas áreas rurais e fornecimento de livros e equipamentos eletrônicos. O problema não está aí! Torna-se indispensável recuperar a responsabilidade dos docentes e dos alunos diante da sociedade brasileira. O problema salarial será automaticamente resolvido. O professor precisa recuperar sua dignidade e respeito. Estes atributos não são exigíveis, devem ser conquistados pelo comportamento exemplar.

Tenho saudades de meu tempo de estudante!

A disciplina era ensinada, exemplificada e exigida! Vale esclarecer, ainda que devesse ser óbvio, que disciplina é a adesão à ordem e à conduta que assegura o bem-estar dos indivíduos e bom funcionamento tanto da escola como da sociedade.

Tanto no primário, como no ginásio e no científico, eu passava a manhã toda na escola e, à tarde, tinha que fazer o dever de casa. Naquele tempo dever de casa não precisava ser escrito entre aspas. Não era apenas uma analogia. Só depois de terminá-lo, ia-se brincar ou tratar de outras coisas. 


Nós, os alunos, não tínhamos merenda gratuita (cada aluno levava um pãozinho de casa). Não havia barzinho na Escola.

Respeitávamos os professores! Fiz ginásio e científico num colégio religioso, presbiteriano (Colégio Cruzeiro do Sul, em Porto Alegre), que nunca fez doutrinação religiosa. Até tinha aula de religião (optativa), mas todas as religiões eram tratadas com o mesmo respeito, sem qualquer sectarismo. Não me lembro bem, agora, se também discutíamos o ateísmo, mas suponho que sim, porque éramos ensinados a raciocinar com liberdade. Isto deve ter conferido ao ateísmo o mesmo respeito que o Colégio dedicava à
 religião. 

Tive professores realmente dedicados ao ensino! Lembro-me muito bem de quase todos, embora alguns tenham me influenciado muito mais que outros.

Quando cheguei na engenharia, eu já conhecia o cálculo infinitesimal e integral, porque tinha aprendido no segundo grau, embora fosse assunto para além do currículo do científico. Esta disciplina, na engenharia, era considerada a mais difícil de todas.

Nunca mais vi ou ouvi falar de meu professor de Matemática e de Física do ginásio e científico, o Professor Herbert, mas devo muitíssimo a ele. Nunca sorria, era seríssimo, exigente e conhecido como o que mais reprovava. Ele dava suas aulas muito concentrado, empenhado em ser perfeito. Nós o acompanhávamos também muito concentrados. Ele foi escolhido pela minha turma para nosso paraninfo! Nós o admirávamos!

MUITO OBRIGADO, PROFESSOR HERBERT! Hoje é seu dia, muito mais que meu!

Pode ser que o Professor Herbert já tenha falecido, mas ele ainda é parte de todos os seus alunos!

Almir Quites


Nota: 

Veja aqui o artigo que publiquei ontem (5/10/2016) sobre o Dia do Professor, o qual complementa o de hoje.






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