Por Almir Quites - 06/12/2016
Há um veríssimo criador ou trata-se de perfeita simbiose, quase identidade entre criador e criatura? Quem veio primeiro, a velhinha de Taubaté ou o Luis Fernando?
Li um artigo, que me deixou com uma sensação de profunda indignação, como se seu autor tivesse criticado um amigo. Só que a indignação foi com o autor do artigo e o amigo não é nem mesmo um conhecido meu.
Como pode alguém continuar sendo petista sem ganhar algo em troca? A indignação é mais amarga porque também tem a ver com a passividade do povo diante da catástrofe social e econômica do Brasil.
Confuso, não? Eu explico a seguir. Vamos voltar há cerca de 60 anos atrás.
Aprendi a admirar o escritor Érico Veríssimo no Colégio Cruzeiro do Sul, em Porto Alegre, onde cursei o Ginásio e o Científico. Era um excelente colégio metodista, que tinha aulas de religião, mas não fazia doutrinação religiosa. A ele devo muitíssimo de minha formação. Possuía um parque esportivo que muitas universidades de hoje ainda não têm. Tenho saudades dos professores, dos clubes de História, de Português, de Matemática, do Dia da Moda, dos Campeonatos Inter Séries, da Olimpíada Tricolor etc.
Érico Veríssimo era um famoso ex-aluno, da década de 20. Ele costumava visitar seu antigo colégio, onde fora aluno interno (residente no internato). A cada visita fazia uma palestra. Por isso, minha memória o associa a meus amigos da época, embora sejamos de gerações diferentes. Numa dessas preleções fiquei sabendo que ele tinha sido ponta esquerda do time de futebol do colégio.
Seus livros eram estudados pelos alunos nas aulas de português e primavam pela precisão e clareza da linguagem. Lembro-me de alguns livros, como Olhai os Lírios do Campo, Clarissa, O Tempo e o Vento e Saga. Recordo que, deste último, eu não gostei.
Depois, bem depois, comecei a acompanhar as crônicas de seu filho, Luis Fernando Veríssimo, que seguiu a carreira do pai, como escritor, mas com estilo muito diferente. Ele foi mais cronista e humorista. Atuou também como roteirista de televisão e autor de teatro. Talvez por defluência, um encadeamento natural, transferi minha admiração do Érico para o Luis.
Apreciei seu livro "O Analista de Bagé", muito conhecido, que teve versões para o teatro. O personagem fundamental era um gaúcho, psicanalista freudiano de linha ortodoxa, mas forte adepto da sabedoria popular do Rio Grande do Sul. Sua técnica mais eficaz era a "terapia do joelhaço". Sem dúvida, um contexto bem inventivo.
Outro famoso personagem criado por Luis Fernando Veríssimo foi "A Velhinha de Taubaté", criado durante o governo do general João Baptista Figueiredo (1979-1985). A velhinha era a credulidade em pessoa. Era "a última pessoa no Brasil que ainda acreditava no governo". A velhinha acreditou até no presidente Fernando Collor, mesmo depois do processo que resultou no seu impeachment (1992). Também acreditou em Lula, desde o começo e até rebatizou o seu gato com o nome Zé, em homenagem a José Dirceu.
Em agosto de 2005, durante o escândalo do "Mensalão", a velhinha teve o seu falecimento oficialmente anunciado pelo seu criador, na crônica intitulada "Velhinha de Taubaté (1915-2005)". Ela teria morrido em frente à TV, decepcionada com o quadro político brasileiro, em especial com o seu ídolo, Antonio Palocci. A simpática velhinha, famosa por acreditar em todos os políticos desde Getúlio Vargas, não sobreviveu ao, até então, maior escândalo do governo Lula. Morreu talvez devido ao choque causado por alguma notícia.
Em setembro do ano passado, o décimo aniversário de falecimento desta importante personagem da vida política brasileira passou despercebido. Como sofreria ela hoje, ao saber dos escândalos do Petrolão? Como se afligiria com a incomensurável corrupção petista?
Nada como o passar tempo! Está, a cada dia, mais óbvio! Quem diria! Aleluia!, gritam os petistas de hoje. A velhinha vive! Ela está enraizada, incorporada em seu criador! Lá, na alma do seu criador, ela se acomoda melhor com as próprias ilusões. Dá para perceber isso claramente no proselitismo político de Luís Fernando Veríssimo. Ele ainda acredita no petismo. Logo, os artigos sobre a Velhinha de Taubaté eram crônicas maliciosas de si memo. Foi astúcia ou descuido?
Atualmente, quem apoia o petismo é conivente com o crime. Portanto, é inimigo da sociedade.
Peço ao Senhor, Luis Fernando Veríssimo, que faça um artigo, honesto e claro, sem jocosidades, visando nos convencer que o Sr. tem razões sérias para ainda apoiar o PT e os seus líderes, motivos que não caracterizem leniência ou cumplicidade com o crime! Eu gostaria de lê-lo e até de contra-argumentar. Aos 80 anos de idade, 6 anos mais do que eu, o senhor ainda tem projetos para o futuro, portanto penso que ambos ainda temos tempo e lucidez para um debate deste quilate.
Veremos se o caso é mesmo de santa ingenuidade da "velhinha" interior ou de zelo obsessivo com o partido e sua doutrina política ou, ainda, o que seria muito pior, uma certa dependência de financiamentos governamentais? Neste último caso, Luis Fernando, o Sr. seria mais um dos que "vendem a alma ao diabo", sendo mais um caso que dá atualidade ao mito de Fausto (segundo Goethe).
A política é algo sério demais para ser tratada por fanáticos. As consequências podem ser gravíssimas. Aqui, recomendo a leitura do seguinte artigo de 2012:
Aí está minha indignação e minha decepção. Se for o caso de devoção incondicional, Luis Fernando, o Sr. poderia transformar "limão em limonada", escrevendo uma crônica sobre si mesmo, fazendo um diagnóstico honesto e bem humorado de sua dificuldade para escapar das correntes do fanatismo. Neste caso, poderíamos vê-lo como uma vítima que merece apoio. Sua crônica seria de grande utilidade para outros que precisam quebrar estes mesmos grilhões. O que o senhor acha desta ideia, Sr. Luis Fernando?
Tudo isto que escrevi aqui, foi motivado pelo seguinte artigo de Rodrigo Constantino, o qual reproduzo abaixo, na íntegra.
Há um veríssimo criador ou trata-se de perfeita simbiose, quase identidade entre criador e criatura? Quem veio primeiro, a velhinha de Taubaté ou o Luis Fernando?
Li um artigo, que me deixou com uma sensação de profunda indignação, como se seu autor tivesse criticado um amigo. Só que a indignação foi com o autor do artigo e o amigo não é nem mesmo um conhecido meu.
Como pode alguém continuar sendo petista sem ganhar algo em troca? A indignação é mais amarga porque também tem a ver com a passividade do povo diante da catástrofe social e econômica do Brasil.
Confuso, não? Eu explico a seguir. Vamos voltar há cerca de 60 anos atrás.
Aprendi a admirar o escritor Érico Veríssimo no Colégio Cruzeiro do Sul, em Porto Alegre, onde cursei o Ginásio e o Científico. Era um excelente colégio metodista, que tinha aulas de religião, mas não fazia doutrinação religiosa. A ele devo muitíssimo de minha formação. Possuía um parque esportivo que muitas universidades de hoje ainda não têm. Tenho saudades dos professores, dos clubes de História, de Português, de Matemática, do Dia da Moda, dos Campeonatos Inter Séries, da Olimpíada Tricolor etc.
Érico Veríssimo era um famoso ex-aluno, da década de 20. Ele costumava visitar seu antigo colégio, onde fora aluno interno (residente no internato). A cada visita fazia uma palestra. Por isso, minha memória o associa a meus amigos da época, embora sejamos de gerações diferentes. Numa dessas preleções fiquei sabendo que ele tinha sido ponta esquerda do time de futebol do colégio.
Seus livros eram estudados pelos alunos nas aulas de português e primavam pela precisão e clareza da linguagem. Lembro-me de alguns livros, como Olhai os Lírios do Campo, Clarissa, O Tempo e o Vento e Saga. Recordo que, deste último, eu não gostei.
Depois, bem depois, comecei a acompanhar as crônicas de seu filho, Luis Fernando Veríssimo, que seguiu a carreira do pai, como escritor, mas com estilo muito diferente. Ele foi mais cronista e humorista. Atuou também como roteirista de televisão e autor de teatro. Talvez por defluência, um encadeamento natural, transferi minha admiração do Érico para o Luis.
Apreciei seu livro "O Analista de Bagé", muito conhecido, que teve versões para o teatro. O personagem fundamental era um gaúcho, psicanalista freudiano de linha ortodoxa, mas forte adepto da sabedoria popular do Rio Grande do Sul. Sua técnica mais eficaz era a "terapia do joelhaço". Sem dúvida, um contexto bem inventivo.
http://www.luizberto.com/wp-content/VELHINHA.jpg |
Outro famoso personagem criado por Luis Fernando Veríssimo foi "A Velhinha de Taubaté", criado durante o governo do general João Baptista Figueiredo (1979-1985). A velhinha era a credulidade em pessoa. Era "a última pessoa no Brasil que ainda acreditava no governo". A velhinha acreditou até no presidente Fernando Collor, mesmo depois do processo que resultou no seu impeachment (1992). Também acreditou em Lula, desde o começo e até rebatizou o seu gato com o nome Zé, em homenagem a José Dirceu.
Em agosto de 2005, durante o escândalo do "Mensalão", a velhinha teve o seu falecimento oficialmente anunciado pelo seu criador, na crônica intitulada "Velhinha de Taubaté (1915-2005)". Ela teria morrido em frente à TV, decepcionada com o quadro político brasileiro, em especial com o seu ídolo, Antonio Palocci. A simpática velhinha, famosa por acreditar em todos os políticos desde Getúlio Vargas, não sobreviveu ao, até então, maior escândalo do governo Lula. Morreu talvez devido ao choque causado por alguma notícia.
Em setembro do ano passado, o décimo aniversário de falecimento desta importante personagem da vida política brasileira passou despercebido. Como sofreria ela hoje, ao saber dos escândalos do Petrolão? Como se afligiria com a incomensurável corrupção petista?
Nada como o passar tempo! Está, a cada dia, mais óbvio! Quem diria! Aleluia!, gritam os petistas de hoje. A velhinha vive! Ela está enraizada, incorporada em seu criador! Lá, na alma do seu criador, ela se acomoda melhor com as próprias ilusões. Dá para perceber isso claramente no proselitismo político de Luís Fernando Veríssimo. Ele ainda acredita no petismo. Logo, os artigos sobre a Velhinha de Taubaté eram crônicas maliciosas de si memo. Foi astúcia ou descuido?
Atualmente, quem apoia o petismo é conivente com o crime. Portanto, é inimigo da sociedade.
Peço ao Senhor, Luis Fernando Veríssimo, que faça um artigo, honesto e claro, sem jocosidades, visando nos convencer que o Sr. tem razões sérias para ainda apoiar o PT e os seus líderes, motivos que não caracterizem leniência ou cumplicidade com o crime! Eu gostaria de lê-lo e até de contra-argumentar. Aos 80 anos de idade, 6 anos mais do que eu, o senhor ainda tem projetos para o futuro, portanto penso que ambos ainda temos tempo e lucidez para um debate deste quilate.
Veremos se o caso é mesmo de santa ingenuidade da "velhinha" interior ou de zelo obsessivo com o partido e sua doutrina política ou, ainda, o que seria muito pior, uma certa dependência de financiamentos governamentais? Neste último caso, Luis Fernando, o Sr. seria mais um dos que "vendem a alma ao diabo", sendo mais um caso que dá atualidade ao mito de Fausto (segundo Goethe).
A política é algo sério demais para ser tratada por fanáticos. As consequências podem ser gravíssimas. Aqui, recomendo a leitura do seguinte artigo de 2012:
Aí está minha indignação e minha decepção. Se for o caso de devoção incondicional, Luis Fernando, o Sr. poderia transformar "limão em limonada", escrevendo uma crônica sobre si mesmo, fazendo um diagnóstico honesto e bem humorado de sua dificuldade para escapar das correntes do fanatismo. Neste caso, poderíamos vê-lo como uma vítima que merece apoio. Sua crônica seria de grande utilidade para outros que precisam quebrar estes mesmos grilhões. O que o senhor acha desta ideia, Sr. Luis Fernando?
Tudo isto que escrevi aqui, foi motivado pelo seguinte artigo de Rodrigo Constantino, o qual reproduzo abaixo, na íntegra.
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31 de janeiro de 2016, por Rodrigo Constantino
Há algumas certezas na vida apenas. E uma delas é a de que Verissimo, filho do grande escritor Erico, sempre usará sua coluna para proselitismo ideológico, mentiras e difamações ou para defender o indefensável. Hoje ele começa bem, o que sempre espanta o leitor atento e já o prepara para alguma casca de banana. Ele recomendava que o livro de Hitler, Mein Kampf, liberado por cair em domínio público, deveria vir com um alerta sobre o nazismo na prática. Diz ele:Não há problema em publicar o “Mein Kampf” do Hitler, cujos direitos de edição recém caíram em domínio público. O livro interessa a historiadores e estudiosos da psicologia de massa e a qualquer pessoa curiosa sobre o poder das suas ideias, um poder capaz de galvanizar uma nação e mudar radicalmente a sua história. Eu só acho que as novas edições de “Mein Kampf” deveriam vir com um DVD encartado, com cenas dos cadáveres empilhados e dos moribundos esquálidos descobertos em Auschwitz e outros campos de extermínio, no fim da Segunda Guerra Mundial. Cenas terríveis dos esqueletos das cidades bombardeadas e dos milhares de refugiados tentando sobreviver em meio aos escombros, enquanto o mundo ficava sabendo, nos julgamentos dos criminosos, das barbaridades cometidas em concordância com a Kampf do Hitler. Assim, o comprador do livro teria o nazismo como teoria e o nazismo na prática. As ideias e suas consequências.Seria bom se as ideias viessem sempre acompanhadas de suas consequências. As pessoas pensariam melhor no que dizem e pregam, para não terem remorso depois. Já se disse que muitas barbaridades teriam sido evitadas no mundo se existisse algo parecido com o remorso antes do fato, uma espécie de remorso preventivo. Não se imagina o próprio Hitler se arrependendo das suas teses e, diante dos horrores que elas desencadearam, dizendo “Ei, pessoal, não era nada disso!”. Está claro que no cerne patológico da pregação de Hitler há uma volúpia de destruição, um desejo secreto de caos que tem tanto a ver com o romantismo alemão quanto com a geopolítica da época. Mas outros não têm o mesmo motivo para desprezarem as consequências. Ou para esquecerem-se delas.
Nada a discordar até aqui. Restaria, claro, perguntar ao socialista se ele recomenda o mesmo para a ideologia prima do nacional-socialismo, o comunismo. Será que todo livro de Karl Marx ou Engels deveria vir com um DVD dos campos de concentração soviéticos, da miséria espalhada por essa nefasta ideologia, por cenas de prateleiras vazias, gente presa pelo “crime” político, pilhas de cadáveres empilhados ou corpos fuzilados no paredão cubano? Creio que, pelo silêncio seletivo, Verissimo não apreciaria que este lado fosse exposto também. Mas deveria.
Os judeus para os nazistas e os kulaks para os comunistas eram como piolhos que deveriam ser eliminados. O próprio Lênin chegou a conclamar seus camaradas a esmagar os kulaks, pequenos proprietários, sem piedade alguma, enforcando-os de modo que todos pudessem ver. O extermínio dessa “escória” passa a ser desejável seja para o paraíso dos proletários ou da “raça” superior. Os individualistas, entrave para ambas as ideologias coletivistas, acabam num campo de concentração de Auchwitz ou num gulag da Sibéria, fazendo pouca diferença na prática.
Na verdade, como lembra Alain Besançon, “a deportação para os campos de trabalho foi inventada e sistematizada pelo regime soviético”. O nazismo apenas a copiou. Os primeiros campos foram abertos na Rússia em 1918, cerca de seis meses depois da tomada de poder por Lênin. É espantoso observar o ódio que o nazismo desperta enquanto o comunismo desfruta de extrema complacência, sendo ainda admirado abertamente por muitos. Ambos os regimes merecem igualmente o total desprezo e nojo por qualquer um que defenda a liberdade e a humanidade.
Mas quando se trata do socialismo que ele ainda defende, aí não é necessário fazer alertas sobre suas consequências. A seletividade já comprova a desonestidade. Mas o pior ainda estava por vir. Após essa longa introdução sobre Hitler, Verissimo dá um salto quântico para o regime militar brasileiro apenas para insinuar que ambos são iguais, e para seu verdadeiro e único objetivo na lengalenga toda contra o nazismo: atacar, de forma até criminosa, Jair Bolsonaro, como se ele fosse um defensor da intervenção militar hoje e, portanto, do “nazismo”:
O Jair Bolsonaro, principal proponente da volta à ditadura, é o deputado mais votado do Rio. Tem uma multidão de apoiadores. E tem mais do que isso: na recente mudança no Comando Militar do Sul, Bolsonaro foi um convidado especial do novo comandante para a cerimônia de posse. Não se sabe se o comandante também é um nostálgico como ele. De qualquer maneira, tenho tido longas conversas com a minha paranoia, tentando acalmá-la.
Cabe até processo judicial, mas isso é com o deputado. Um dos maiores combatentes do regime petista, esse sim mais parecido com o totalitário nacional-socialismo do que aquilo defendido pela direita democrática e pelo deputado antipetista (basta ver a agenda do Partido dos Trabalhadores Nacional-Socialistas para deixar isso claro), acaba misturado com Hitler, tudo feito sob medida para desinformar.
Verissimo, não custa lembrar, usou seu espaço recentemente para atacar Sergio Moro e a Operação Lava-Jato, como se fossem coisas de regime de exceção ou da Inquisição Medieval. Ele não esconde de qual lado está, não é mesmo? E não é do lado do Brasil. Talvez fosse o caso de seus livrinhos sobre comédia da vida privada virem com um DVD de alerta, com os seguintes dizeres: “Cuidado. Esse autor simula simpatia e se faz de engraçadinho apenas para empurrar goela abaixo dos idiotas úteis a defesa de uma ideologia assassina, que por onde passou deixou um rastro de sangue, miséria e escravidão, além de muita corrupção”. Que tal?
PS: Ferreira Gullar, que venho elogiando por várias mudanças impressionantes na postura, deu uma escorregada em sua coluna de hoje, justamente ao separar as “boas intenções” dos comunistas de suas consequências. Nesse caso, deveria levar em conta o alerta seletivo de Verissimo: ideias têm consequências. Diz o poeta:Nós éramos todos comunistas, embora não o proclamássemos abertamente, uma vez que o governo militar que assumiu o poder no Brasil era declaradamente anticomunista. A opção pela luta armada, por parte de uma facção dos adversários do regime, ofereceu aos militares o pretexto para introduzir na repressão aos adversários, a tortura e até mesmo a eliminação física de militantes.[…]A certa altura, uma parte dos militantes antiditadura optou pela luta armada. Fomos contra, pois acreditávamos que era mudando a visão das pessoas que se consegue mudar a sociedade. Não pensávamos em dinheiro nem em tirar qualquer proveito de nossa luta pela instauração de um regime econômico sem desigualdade e exploração.Apenas um sonho, que não se realizou, mas nossa generosidade era verdadeira, e ela só existe onde há utopia, a luta por um mundo melhor. É que, sem utopia, a vida não basta.
Não foi “apenas um sonho que não se realizou”, e sim uma nefasta utopia que seduziu inúmeras pessoas pelos motivos errados e, se tivesse se realizado no Brasil também, teríamos o mesmo destino trágico de todos os experimentos comunistas. O fato de seduzir com mensagem aparentemente romântica é um agravante para o comunismo, como sabia Alain Besançon: “O comunismo é mais perverso que o nazismo porque ele não pede ao homem que atue conscientemente como um criminoso, mas, ao contrário, se serve do espírito de justiça e de bondade que se estendeu por toda a terra para difundir em toda a terra o mal.
Cada experiência comunista é recomeçada na inocência”.
Não estou tão certo que são inocentes. Talvez invejosos, recalcados, e em alguns casos sim, românticos ignorantes com uma sensibilidade mal calibrada. Se a vida não basta, como diz o poeta, que se busque a utopia no âmbito individual, não no coletivo ou no político, como alerta Mario Vargas Llosa: “Devemos buscar a perfeição na criação, na vocação, no amor, no prazer. Mas tudo isso no campo individual. No coletivo, não devemos tentar trazer a felicidade para toda a sociedade. O paraíso não é igual para todos”. Mais um alerta que deveria vir em destaque em todos os livros de esquerda…Rodrigo Constantino
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