Por Almir Quites
Uma colossal quantidade de recursos financeiros são aplicados em propaganda. Vivemos hoje sob intenso bombardeio de propaganda de todo o tipo, cujo objetivo a alcançar é o controle de nossas mentes, fazer-nos dóceis, obedientes. Em resumo, o objetivo é colocar-nos a serviço de interesses inconfessáveis. Fazem propaganda da própria propaganda, apresentando-a como algo necessário e até saudável. O fato é que, matando a nossa autodeterminação, matam também a nossa pessoalidade, nossa personalidade, tornamo-nos zumbis. Uma nação inteira pode ser dominada, até mesmo um continente inteiro.
Algumas culturas ou alguns países resistem mais que outros. Quanto mais inculto for o povo, mais frágil será, mais vulnerável à propaganda.
Povo iludido é povo vencido! A propaganda política ilude. Propaganda é o ato de inocular uma ideia, opinião ou doutrina. Em latim antigo, "pro pangere" significava "fixar adiante", disseminar.
No Brasil, as eleições se transformaram num campeonato de marqueteiros, no qual o povo é a bola, jogada para lá e para cá. O sofrido povo brasileiro convive mal com a realidade. Defende-se da pior maneira possível, fugindo dela, tratando de ignorá-la. Para isso, o povo brasileiro se apega a sonhos, como loterias, mitos, ideologias, religiões, líderes, gurus, times de futebol, novelas etc. Logo, é presa fácil da propaganda.
Para nos protegermos dela precisamos conhecer melhor as sua história, as suas características e os seus métodos.
É óbvio que a procura de uma comunicação mais eficaz é desejável e necessária à evolução dos seres humanos. Portanto, a busca de modos eficientes de influenciar os outros, divulgar opiniões e alastrar teorias e até ideologias sempre esteve presente em todas as sociedades. No entanto, hoje em dia, a propaganda organizada é arma poderosa apontada contra nós. É urgente aprimorar nossas defesas pessoais e institucionais, para que possamos ter nossos próprios julgamentos ao invés de nos tornarmos tolos, manipulados por outros e inconscientes disso. Atualmente, em toda a América Latina, você ouve notícias em canais de TV e Rádios que são controlados pelos respectivos governos. As emissoras são concessões do Governo. A propaganda está embutida em quase todos os programas, inclusive nas aparentemente inofensivas novelas e nos noticiários. É preciso aprender a perceber isso.
Seja livre, não se deixe doutrinar! A doutrinação gera fanáticos. Antes de tudo, identifique a fonte e os interesses dela. Só depois analise criticamente a mensagem divulgada. A quem ela interessa? A quem ela beneficia? A quem ela prejudica? Aproveite ao máximo a autodeterminação que ainda lhe resta!
Se você sempre defende o mesmo lado, provavelmente já está fanatizado! Que pena! Agora você é apenas mais uma vítima a ser contabilizada.
Atualmente vivemos atordoados, no meio de uma guerra de propaganda, onde as armas disparam artefatos de comunicação persuasiva, que penetra todos os meios. Os propagandistas e os marqueteiros profissionais usam os últimos avanços científicos e tecnológicos em comunicação para otimizar sua capacidade de persuasão. Somos induzidos a pensar o que eles querem que pensemos. O risco de sermos doutrinados e de nos tornarmos fanáticos, algo similar a ser portador de uma "doença mental degenerativa" [http://almirquites.blogspot.com.br/2015/02/fanatismo-e-politica.html]
Como chegamos a este estado permanente de guerra psicológica? Como sobreviver nesta guerra sem que percamos a nossa identidade? Como conviver com os fanáticos? Para responder a estas perguntas precisamos refletir muito. Para começar, penso que devemos conhecer o desenvolvimento histórico da propaganda e reconhecer que nem sempre foi como é hoje. É disto que trataremos a seguir.
O surgimento das religiões organizadas, partidos políticos e organizações de comunicação favoreceram a proliferação das primeiras formas de propaganda. Desde então, as técnicas de manipulação de nossas mentes têm evoluído muito. O principal veículo de propaganda durante a Primeira Guerra Mundial era a imprensa; na Segunda Guerra Mundial, foi o rádio e o cinema; depois de 1950, passou a ser a televisão; e, atualmente, são as mídias digitais. Há uma luta intensa pelo controle destes meios.
A propaganda começou a ser organizadamente utilizada no final da idade média e início da idade moderna. Intensificou-se no início do século XVI, no confronto entre duas religiões cristãs, a Igreja Católica Romana e o Protestantismo. Portanto a propaganda traz no seu DNA o confronto de guerra. A Igreja estava passando por uma fase de luta para manter e expandir suas ações de doutrinação pelos países não-católicos. Era portanto uma luta ideológica, de novas conquistas e de manutenção de domínios. O Papa Gregório XIII formalizou uma comissão de cardeais com o objetivo de difundir o catolicismo e regular assuntos eclesiásticos em terras que não abraçavam o cristianismo. Mais tarde, em 1622, o Papa Gregório XV fundou o Santo Congregatio de Propaganda Fide, uma organização mais estruturada, encarregada de supervisionar a expansão do cristianismo por missionários em países não-cristãos. Acredita-se que esta "empresa" foi a precursora da moderna organização de propaganda.
Cerca de três séculos depois, na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a propaganda começou a se expandir para o mundo político e filosófico, com a criação de organizações complexas e altamente especializadas. Naquela época, ela ainda era considerada algo progressista e era apoiada por todos. Hoje sabemos que há diferentes tipos de propaganda e que, em sua grande maioria, são profundamente nocivas.
As técnicas de influenciar a opinião pública, através da utilização de meios de comunicação, foram habilmente utilizadas pelo partido nazista, nos anos que antecederam a Segunda Guerra Mundial e durante a mesma, sob a liderança de Adolf Hitler, na Alemanha (1933-1945). A propaganda nazista foi o instrumento crucial tanto para a chegada nazista ao poder como também para a sua manutenção e implementação das suas políticas, incluindo as operações da chamada Guerra Total e o extermínio de milhões de pessoas pelo Holocausto. Foi durante a Segunda Guerra Mundial que as técnicas de propaganda se desenvolveram mais, tornaram-se muito mais eficazes para influenciar a opinião pública.
Atualmente, diariamente, ininterruptamente, somos bombardeados com comunicação persuasiva, a ponto de a entendermos como algo tão normal quanto a luz do sol, da lua ou das estrelas, o que torna o ser humano passivo, especialmente os mais incultos e os psicologicamente mais debilitados, à manipulação de símbolos e emoções.
Frequentemente, o objetivo da propaganda é provocar o ódio, especialmente em épocas de guerra.
A propaganda pode ser classificada conforme o emissor. A propaganda branca é a que se origina em fonte franca. Seus conteúdos são precisos e refletem opiniões legítimas. A propaganda negra é a enganadora, a que procura demonstrar que a sua origem é amigável, quando, na verdade, é inimiga. Há também a propaganda cinza, que se apresenta como neutra, mas são elaboradas pelo próprio adversário e embutem algumas informações falsas bem selecionadas e bem embaralhadas com as informações verdadeiras.
É difícil definir a propaganda devido à variedade de formas que assume. Por isso, existem várias tentativas de definição do significado da tal ação persuasiva. Harold Lasswell, por exemplo, entende a propaganda como a "arte de influenciar a ação humana, através da manipulação de representações".
Há uma diferença entre publicidade e propaganda, mas não é fácil distingui-las, porque a propaganda tem suas malícias e dissimulações. A publicidade é a divulgação sem persuasão. A propaganda busca divulgar algo, seja uma ideologia ou um produto ou serviço para induzir algo mais. No caso de propaganda comercial, o objetivo é induzir a compra do produto ou serviço. Obviamente a propaganda se utiliza da falsidade.
Vamos tratar daqui em diante, da propaganda de guerra. É esta que mais nos atormenta.
A propaganda de guerra contemporânea, seja guerra fria ou quente, foi intensamente desenvolvida a partir da Primeira Guerra Mundial, embora tenha existido ao longo de toda a história da guerra, com seu "vale tudo". Ela é impregnada de informações falsas. Estes métodos tinham como principal objetivo manter a confiança das tropas e intimidar as forças da oposição. A propaganda de guerra tem uma aparência peculiar, que é normalmente chamada de "Guerra Psicológica", atualmente adotada na propaganda política nossa de cada dia, especialmente nos países culturalmente mais atrasados.
A propaganda de guerra é definida por J. H. Daugherty como "o uso planejado de propaganda e outras medidas para gerar opiniões, emoções, atitudes e comportamentos em grupos estrangeiros, inimigos, neutros e amigos, apoiando assim fins em conformidade com objetivos nacionais". Esta definição peca em algo que mal posso explicar. Teria que refletir mais sobre este sentimento sutil. Ela parece limitar a propaganda de guerra ao Estado, como se nunca refletisse interesses do grupo de pessoas ou instituições.
Repito, para enfatizar, que a propaganda de guerra, como a propaganda política, é recheada de informações enganosas e mascaramentos, justamente porque uma das finalidades deste tipo de comunicação persuasiva é precisamente impedir as pessoas de conhecerem a verdade. Para isso, nem sempre é preciso recorrer à mentira, basta usar uma linguagem cuidadosa, rica em eufemismos e/ou desviar a atenção do público para outros fatos como se estes fossem os mais relevantes. Os especialistas sabem também que devem deixar um espaço pequeno, secundário e incômodo para a oposição, para não parecer que ela foi totalmente alijada. Isto poderia produzir o descrédito da população na própria propaganda.
A propaganda de guerra leva à população de um país a acreditar que existe um único inimigo (princípio da simplificação do inimigo), o qual é mau, comete injustiças, como por exemplo, "as elites", "o capital internacional", "o judaísmo" etc., que são inimigos indefiníveis tal como "o Diabo". Isto é conseguido com pura ficção. Trata-se evidentemente de algo execrável!
Mitos são criados e difundidos para gerar sentimentos de discriminação, hostilidade e ódio. Exemplos disso são os mitos criados para promover o antissemitismo, como os seguintes:
- Os judeus mataram Cristo;
- Os judeus são uma entidade secreta;
- Os judeus dominam a economia mundial;
- Não existem judeus pobres;
- Os judeus são avarentos;
- Os judeus não têm pátria;
- Os judeus são racistas;
- Os judeus são parasitas;
- Os judeus controlam a mídia;
- Os judeus manipulam os Estados Unidos.
(Como consta no livro “Os Dez Mitos sobre os Judeus”, de Maria Luiza Tucci Carneiro, historiadora da USP, obra será lançada no dia 4 de dezembro de 2014).
Um exemplo brasileiro é a frequente atribuição de todos os males do país a uma imaginária elite maldosa e egoísta ("aszelites", como pronuncia o ex-presidente Lula da Silva). A elite brasileira mais poderosa é formada justamente pelos políticos que estão no governo e usam e abusam dos quase dois trilhões, que é a arrecadacão anual do governo. Lula é parte dela!
A propaganda tem sido muito usada nos conflitos internacionais. Quando transmitida de forma eficaz, pode tornar-se mais perigosa do que as armas de guerra em si. Como enuncia o "slogan" da guerra psicológica, "a ocupação de corações e mentes é um dos objetivos de guerra".
Na Segunda Guerra Mundial, Hitler se preocupou com a criação de um cargo muito especial em seu governo, exclusivamente dedicado à propaganda partidária. Para este cargo, foi escolhido Paul Joseph Goebbels, figura intelectual, que tinha se doutorado em Filosofia, em Heidelberg, em 1921. Em 1929, Goebbels tornou-se chefe de propaganda do partido e, de 1933 a 1945, foi Ministro da Propaganda do regime nazista. Uma das primeiras medidas do novo ministro foi o controle absoluto de todos os jornalistas, escritores, artistas e também de todos os meios de comunicação. Estes foram submetidos ao regime nazista e obrigados a apenas anunciar informações devidamente autorizadas. O Füher (O Grande Lider) se reunia quase que diariamente com Goebbels para discutir as novidades e lhe transmitir sua opinião pessoal. O esquema de proliferação de informações falsas no regime nazista passou para a história como "A Grande Mentira".
A propaganda de Hitler se concentrava em um tipo de mensagem emocional que se dirigia especialmente a um público inculto, politicamente suscetível a internalizar a emoção ao invés da racionalidade. Por exemplo, após a sua libertação da prisão, Hitler foi proibido de falar em público na Alemanha e, então, usou esta proibição para realizar a sua primeira grande campanha de propaganda baseada na ideia de que, entre 2.000.000.000 habitantes da Terra, só ele estava proibido de falar na Alemanha. Trata-se de um argumento irracional, que não tem nada a ver com os fatos que determinaram a proibição, mas é um argumento carregado de emoção e que o colocava como se fosse o único proibido de se expressar na Alemanha. Logo ele, que logo tratou de calar todos os seus opositores.
Os discursos de Hitler foram preparados detalhadamente. A princípio, o Füher estudava seus textos com cuidado, porque lia mal em voz alta. Então, aprendeu a começar seus discursos em tom suave, descontraído, até mesmo monótono, até chegar a um trecho em que sua voz se alçava acompanhada por fortes gestos com seu braço direito. Rapidamente ele aprendeu a dominar as multidões com seus discursos. Outros aspectos importantes do cenário nazista foram os grandes desfiles ao ar livre, as grandes performances, as músicas, as saudações ("Sieg Heil"), as tochas, a profusão de bandeiras, "banners" e desfiles de forças paramilitares, entre outros.
Antes de qualquer movimento militar, a máquina de propaganda alemã era acionada. Por exemplo, antes da invasão da Checoslováquia, foi propagandeado que as minorias alemãs estavam sendo perseguidas naquele país. As mentiras apresentadas germinavam como justificativas para a invasão alemã. Com a França fizeram algo similar: agentes alemães distribuíram propagandas que anunciavam fortes indícios da iminente derrota francesa. Esse tipo de ação criou divisões políticas, insatisfação e medo da superioridade militar alemã. Foi assim até maio de 1940, quando a resistência francesa começou a entrar em colapso e as tropas de Adolph Hitler marcharam sobre Paris.
Durante a Guerra Fria (do final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, até a extinção da União Soviética, em 1991), devido ao grande conflito de interesses que subsistia desde a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos e a União Soviética continuaram a fazer uso massivo de propaganda como um instrumento de política nacional. Ambas as partes, o bloco comunista e do bloco capitalista, fizeram todo o possível para conseguir espalhar suas campanhas através dos meios de comunicação de massa, sem recorrer a um conflito armado. Quase todos os aspectos da vida diária foram utilizados para fins de propaganda. Todos os meios de comunicação social, principalmente rádio, televisão, cinema e literatura, foram usados para influenciar seus próprios cidadãos, os cidadãos do inimigo e também os dos países do Terceiro Mundo. O número de fanáticos gerados nesta época foi enorme. Como cada fanático é também uma fonte de contaminação, seus seguidores ainda estão por aí, obrigando-nos a considerar que a Guerra Fria ainda não acabou.
Inicialmente os comunistas levaram vantagem em seu trabalho de propaganda, devido ao maior controle que tinham sobre seus meios de comunicação. Isso permitiu imunizar a União Soviética das ideologias ocidentais. A forte centralização do poder também funcionava como uma ferramenta para melhor difundir a comunicação persuasiva. Os regimes comunistas se ajudaram, mutuamente, para executar seus planos políticos e ambições. Por outro lado, os governos ocidentais não podiam fazer nada para impedir a entrada da propaganda comunista. Esta aparente supremacia começou a se degradar somente no início dos anos 80, com o desenvolvimento da tecnologia de comunicação que permitiu que os meios de comunicação do ocidente alcançassem o coração da União Soviética. Foi esta falta de controle sobre a circulação das informações que causou a desintegração de muitos blocos comunistas do Leste Europeu, no final da década.
A Agência de Informação dos EUA (USIA) operava a Voz da América, como a rádio oficial do governo. As Rádios Livres da Europa, em parte financiadas pela Agência Central de Inteligência (CIA), foram responsáveis pela disseminação de propaganda cinza em formato de notícias e entretenimento para a Europa Oriental e para a União Soviética. A União Soviética tinha igualmente, a rádio oficial do governo, a Rádio Moscow, que esparramava propaganda branca, e as rádios Paz e Liberdade que alastravam propaganda cinza. Embora esses dois tipos de publicidade fossem dominantes, em períodos de maior tensão ambas as partes usavam a propaganda negra.
Um dos autores mais talentosos que escreveu sobre a Guerra Fria foi George Orwell, que, em suas obras A Revolução do Bichos e 1984, ilustrou com maestria o uso da propaganda de guerra. Estes livros não foram publicados na União Soviética. Nos seus livros, os personagens viviam em regimes autocráticos, nos quais a língua era alterada para servir a propósitos políticos.
Durante a Guerra Fria, o mundo viveu sob a constante ameaça de uma Terceira Guerra Mundial, na qual não haveria um vencedor. A propaganda foi um dos maiores agentes para aguçar o conflito, embora, provavelmente, tenha tido também grande importância na limitação da corrida armamentista e priorização da guerra de propaganda, também referida como "guerra de palavras".
Depois do fim da União Soviética, ainda tivemos guerras quentes localizadas, alí e acolá. Aliás, a União Soviética ainda estava em processo de dissolução quando eclodiu a Primeira Guerra do Golfo (1990-1991), que deixou explícita a hipocrisia da propaganda de guerra, no caso, feita pela comunicação de massa norte-americana. O primeiro caso foi o das fotos de satélite que o Pentágono dizia possuir, que comprovariam a presença de 250.000 unidades militares preparadas para invadir a Arábia Saudita. Depois, fotos obtidas por um satélite e amplamente divulgadas mostraram que os argumentos americanos eram improcedentes.
Outro exemplo atual foi a mais recente Guerra do Iraque. No início da guerra, os telespectadores de todo o mundo foram convencidos de que viam uma guerra de verdade pela TV, sem mentiras, já que o conflito era transmitido ao vivo. Mas eles estavam sendo enganados. As imagens eram totalmente controladas e o que se viu foi um simples filme de guerra feito ao vivo. No final, constatou-se que mais de 90% das imagens objetivavam unicamente enaltecer o poderio militar norte-americano e nunca mostraram sequer um soldado americano ferido ou morto.
No Kosovo, na Guerra Civil Iugoslava, ambas as partes em conflito já sabiam que a manipulação das notícias a seu favor era algo fundamental. Então, Slobodan Milosevic permitiu que as cadeias internacionais CNN e BBC emitissem seus programas diretamente de Belgrado. Assim, foi possível usar a mídia estrangeira para transmitir imagens de civis mortos em ataques da OTAN. Esta manobra fragmentou a opinião Ocidental e levou a OTAN a reconhecer erros de alvo em ataques aéreos.
Atualmente a propaganda de guerra está presente no nosso cotidiano como se a Guerra Fria fosse permanente. Além das brasas não apagadas da verdadeira Guerra Fria, somam-se a elas, a propaganda de guerra entre correntes políticas ou religiosas e também entre empresas concorrentes de um mesmo país. Ela é carregada de mentiras e nos condena a viver neste ambiente de guerra suja.
Atualmente, aqui na América Latina, qualquer campanha política é uma guerra fria. O eleitor ouve notícias e comentários na TV e não percebe os inúmeros truques da propaganda que o submete. Os marqueteiros comandam as emissoras a focar a propaganda especialmente no público mais suscetível à emoção. Estes são as primeiras vítimas da doutrinação e os primeiros a se fanatizarem. Uma vez fanatizados, tornam-se massa de manobra e também fonte de disseminação das ideologias de guerra, as falsas ideologias.
Como escapar dos efeitos nocivos da propaganda atualmente? Como evitar os abusos? Como punir os responsáveis por ela?
Primeiro, precisa-se que os cidadãos reconheçam o valor da liberdade de expressão. A Liberdade de Expressão é um conceito fundamental nas democracias modernas, nas quais a censura não tem respaldo moral. A maioria dos ideais políticos modernos como justiça, liberdade, governo constitucional, surgiu na Grécia antiga. Foram os gregos os pioneiros a lançar as sementes da democracia, que foram conservadas pelos filósofos da idade média e frutificaram na modernidade.
Não há uma verdade inabalável, não há uma ideologia perfeita, não há uma religião verdadeira, ainda que ela mesma se proclame como anunciada por Deus. Tudo isso é construção humana e, por isso mesmo, tudo isso é falho e vicioso. Tudo que é criado pelo homem deve ser contestado e discutido livremente. Da discussão nasce a luz. Da discussão nasce a evolução. Tudo que é feito pelo ser humano é passível de evolução. Esta evolução não deve ser obstaculizada. É por isso que o Estado deve ser laico e democrático.
Liberdade de expressão é o direito de livre manifestação de opiniões, ideias e pensamentos, vedada a prática de qualquer crime que possa pôr em causa o direito de outrem, como a injúria, a difamação e a incitação ao crime. A liberdade de expressão privada é uma relação natural entre as partes e por isso não necessita de prevenção ou censura. Já a liberdade de expressão pública necessita de cuidados para evitar abusos e garantir a liberdade dos cidadãos e a igualdade de tratamento, responsabilizando-se judicialmente os infratores. Não apenas a injúria e a difamação devem ser consideradas crimes, mas também a doutrinação, muito especialmente no caso em que a vítima não pode se defender, como no caso da doutrinação de crianças e de adultos incultos e pobres. O que se condena não é a doutrina, mas o ato de doutrinar de modo desonesto. A escola deve ater-se à educação abominando a doutrinação. [http://almirquites.blogspot.com.br/2014/11/uso-da-escola-para-doutrinacao-politica.html]
Atualmente, em pleno século XXI, este tema vem recrudescendo. Está em xeque uma das conquistas da humanidade: a "liberdade para transmitir informações e ideias por quaisquer meios independentemente de fronteiras" (artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948). Há quem se julgue não apenas o "Dono da Verdade", mas também o "Dono do Poder" e do direito de fazer justiça com as próprias mãos. Há quem mate em nome de Deus, como se o "Todo Poderoso" não pudesse se vingar se assim o desejasse, como se dependesse, para isso, dos poderes humanos.
O atentado contra a revista francesa Charlie Hebdo foi cometido por homens encapuzados, armados com fuzis, aos gritos de "Alá é o maior". Há poucos dias, pelo boletim da internet da emissora de rádio Al Bayan, o grupo "jihadista" Estado Islâmico (EI) chamou de "heróis" os autores do recente atentado, cometido dia 07/01/2015 na França, contra a revista Charlie Hebdo, que causou a morte de pelo menos 12 pessoas. E isso "em apoio ao profeta Maomé"! O locutor justificou dizendo que a revista francesa "não deixou de denegrir a figura do profeta" desde o ano 2003 e ressaltou que, entre os falecidos, "há desenhistas de caricaturas que brincavam com o Islã".
A guerra religiosa está de volta. De um lado, estão aqueles que defendem a liberdade de expressão, o império das leis, o caminho para uma plena e difícil democracia, com responsabilidade; aqueles que defendem as conquistas institucionais, duramente alcançadas após o movimento conhecido como Iluminismo, no Século das Luzes; do outro está o fanatismo, que prega o terror, a guerra ao Ocidente a partir de uma narrativa anticristã por parte de uma fé ortodoxa, excludente das demais. O Islamismo, muito mais jovem que o Cristianismo, ainda não foi bafejado pelo Iluminismo. O Ocidente também viveu neste obscurantismo durante o período da Inquisição espanhola, quando estava mergulhado em autocracias de fé como a atual ortodoxia mulçulmana dos países islâmicos. Os fanáticos do Islã não aceitam o contraditório e a extrema intolerância é a marca de sua ideologia, que pugna pelo extermínio do que para eles é o inferno do ocidente.
Nada disso porém é consenso. Mesmo no ocidente ainda há os que sustentam que a revista “procurou” este extremismo ao “provocar” o islamismo, assim como muitos consideraram que o ataque às torres gêmeas em 11 de setembro foi uma retaliação “justa” ao imperialismo do país vitimado.
Terrorismo é brutalidade indefensável; é muito mais do que um ataque à liberdade de expressão; é mais criminoso do que a fanatização de crianças, também praticada pelos terroristas. Terrorismo é o emprego da violência, física ou psicológica, através de ataques localizados a elementos ou instalações de um governo ou da população governada, de modo a incutir medo, terror e assim obter efeitos psicológicos que ultrapassem largamente o círculo das vítimas, incluindo, antes, o resto da população e do território. É utilizado por uma grande gama de instituições como forma de alcançar seus objetivos, como organizações políticas de esquerda e direita, grupos separatistas, religiosos de fé extremada e até por governos de países.
Finalmente, a pergunta crucial. Como podemos nos defender da propaganda que diariamente nos atinge?
Gostaria de ter uma receita infalível para dar a cada um dos leitores. Também busco esta receita, mas sei que ela não existe.
Pense nisso e contribua na formulação de uma estratégia de defesa. Precisamos aprender sobre como se defender da propaganda.
Ela é sempre enganosa. Desde remédios milagrosos que prometem emagrecimento instantâneo, até as ideologias que prometem um paraíso na Terra. O célebre Francis Bacon, autor do primeiro esboço racional de uma metodologia científica, em 1620, fez os seguintes alertas:
“A compreensão humana não é livre de interesses; recebe influxos da vontade e dos afetos (…). Pois, um homem acredita mais facilmente naquilo que ele gostaria que fosse verdade, ao mesmo tempo, que ele rejeita rapidamente: as coisas difíceis a seu entendimento por pura preguiça de pesquisar; as coisas sensatas por abaterem sua esperança; as coisas fundamentais da natureza por pura superstição; a clareza da experiência alheia (que é negligenciada) por seu orgulho e por sua arrogância (…)”.
Todo o cuidado é pouco! Individualmente o que se pode fazer pode ser resumido como mostro a seguir.
Para defender-se da propaganda e não ser transformado num militante, um fanático, elemento de massa de manobra, nunca aceite ou rejeite uma informação, ideia ou ideologia sem antes:
- Tomar muitíssimo cuidado com tudo o que queiramos profunda e apaixonadamente que seja verdade.
- Investigar a probidade, a isenção da fonte e as evidências que a corroboram. Quais são os verdadeiros objetivos destas fontes?
- Consultar fontes alternativas que sejam tão ou mais isentas ou probas. Especialmente buscar o contraditório, as opiniões discordantes.
- Examinar tudo à luz da razão e da sua lógica. O que é melhor para todos? Avaliar qual o custo ou prejuízo ou danos potenciais frente aos seus benefícios presumíveis. Se você for realmente isento, provavelmente não vai concordar integralmente com uma corrente de pensamento, mas terá sua próprias considerações e contribuições a fazer.
- Tomar cuidado redobrado com tudo que subverta ou ignore as leis da natureza e/ou que apele para o maravilhoso, fantástico, inexplicável ou fabuloso – pois afirmações extraordinárias requerem provas extraordinárias.
- Não conclua nada sem antes se perguntar se temos nos investigado e nos questionado o suficiente, a ponto de identificarmos o quanto já sabemos sobre nosso próprio querer e o quanto ele interfere em nosso discernimento.
Coletivamente, cada sociedade deve organizar o Estado para que este proteja de fato os seus cidadãos contra a propaganda. Sei que isto é muito mais difícil, mas começa pela reforma educacional, com especial ênfase na formação dos professores e na administração escolar.
Finalmente, um apelo: ajude a divulgar estas questões, porque é o desenvolvimento das pessoas, das nações e da natureza do nosso planeta que está em jogo.
A grande dificuldade que a humanidade tem para gerir seu futuro decorre do poder da propahanda para aprisionar as nossas mentes aos interesses de minorias egoístas.
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- FANATISMO E POLÍTICA
- O PAÍS DAS MULAS-MANCAS
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