sábado, 16 de agosto de 2014

O DRAMA JOGADO NO LIXO

A. Quites -16/08/2014


Um conto é uma história inventada, mas muitas vezes é verdadeira ou um misto de verdade e fantasia. Este é o caso deste "causo" que conto a agora.


Era uma vez um Brasil que produzia, diariamente, quase 300 mil toneladas de lixo. Para lá ia muita coisa importante e que não deveria ser esquecida, inclusive as mais legítimas esperanças! Enquanto isso, o povo endividado investia na cultura da decadência.

O texto abaixo estava escrito numa folha de caderno rasgado e jogado no lixo. Mostraram-me e decidi guardá-lo. Então, copiei e fiz algumas correções, tentando preservar o linguajar quase infantil. Leia:

“Meu pai, não tinha igual. Era calmo e muito bom. Tinha nossas brincadeiras que eu gostava.

Ele se incomodava com os vizinhos. Tinha uns carinhas que andavam de carro com aquele som super alto que era 'para toda a cidade ouvir', como meu pai dizia. O som era assim ó = tim BUM tim bum BUM BUM BUM... não parava nunca. Dentro da nossa casa não dava nem para ouvir a televisão. As paredes  e vidraças estremeciam.

Meu pai ficava nervoso e repetia para mostrar como era ruim, = tim BUM tim bim BUM BUM BUM a calcinha da mina de ouro era amarela amarela. Vo tirá calcinha dela calcinha dela

Todo o dia isto repetia. Isto também me incomodava e incomodava minha mãe também. Até de noite e de madrugada. Era tortura.

Meu pai dizia que aquilo enlouquecia qualquer um. Reclamava sempre e dizia que esses idiotas não aprendem na escola. Ele dizia que todos iam ficar surdos. Meu pai muitas vezes ligou para a polícia para reclamar e eles diziam que iam mandar uma viatura, mas a viatura nunca veio. Explicaram que só tinha uma viatura policial para toda a zona sul!

Tem leis no Brasil contra a poluição sonora, mas nem os políticos respeitam.


Continuava , todo o dia, assim = tim BUM tim bum BUM BUM BUM... não parava nunca.


Meu pai falou = 'vou lá conversar com eles'. 'Vai', disse minha mãe. Quando ele voltou tinham aumentado o barulho muito mais, mas muito mais mesmo. Tinham atirado cerveja nele. Tava nervoso, perdido, caído e dizia que a escola não ensinava eles a viver com os outros. Acho que eles não estudam, não trabalham e vivem de zoeira.

'Um dia vou comprar um revolver com silenciador', disse o meu pai. 'Vou ficar dentro do meu carro e, quando um deles passar com o som alto, vou dar um tiro mudo no porta-malas do carro deles  e calar de vez aqueles alto-falantes de merda'.

Um dia ele foi falar com o capitão da  DP, lá da polícia militar. O capitão disse que não podia fazer nada, porque não tinham viatura disponível e porque o caso não era de emergência.  meu disse que os cidadãos pagavam impostos e não tinham a proteção .

Outro dia, todo o dia, assim = tim BUM tim bum BUM BUM BUM... não parava nunca.

Meu pai falou de novo= 'vou lá conversar com eles'. 'Não', disse minha mãe. Quando ele voltou tinham aumentado o barulho. Ameaçaram ele com uma seringa de injeção. Ele estava nervoso e dizia que nunca mais iria falar com eles. Ia aguentar tudo quieto. Os vizinhos bunda mole iam sofrer também até aprender. Ele ia deixar os vizinhos sofrerem porque eles eram bunda mole. Ele queria se mudar dali, mas não tinha pra onde ir. 

Todo dia era aquela porcaria = 'tim bim BUM BUM tim BUM tim bim BUM BUM Quero te dar! Quero te da da da da da da da da da. Quero te dar! Quero te da da da da da da da da da. Meu apelido é Quero Dar da da da da da da da da'.

Meu pai já tava endoidando. Meu pai não reclamava mais.


Fiquei desesperado quando mataram ele. Deram uns tiros nele, lá na rua. Ele tava lá no chão cheio de sangue e todo mundo estava lá, estavam quietos feito estátua, olhando com os olhos grandes. Eu gritei que foram eles, os caras do som. Os caras do som não estavam lá. O polícia disse que iam investigar, mas ninguém investigou. A história tinha acabado.

Agora tem eleição. Os políticos passam na rua  em carreata fazendo buzinaços. Os alto-falantes funcionam com toda intensidade. É uma tortura!

Os políticos dizem na televisão que o Brasil vai melhorar. Para mim isto não interessa. Eles roubam e dizem que estão lá para proteger os pobres. 


Que Brasil coisa nenhuma!  Eu não quero melhorar o Brasil.

Meu pai foi assassinado.

Só eu e minha mãe sentimos a falta dele.

Meu pai morreu. Parece que já faz tempo!

Hoje eu trabalho. Nunca mais fui à escola, que não serve para nada mesmo.

Quando eu tiver dinheiro, vou comprar um revolver com silenciador e vou...

Vou parar de escrever isto aqui. Não adianta nada mesmo.”

Foi este o texto que transcrevi. Acabou aqui.

Era evidentemente um povo deseducado, que assistia negligentemente às barbaridades que ocorriam a sua volta. O egoísmo e a futilidade vicejavam. É como se estivessem enfileirados diante do paredão de fuzilamento e o pelotão de execução já estivesse atirando. Mesmo assim, o condenado, vendo seu vizinho ao lado ser alvejado, tenta distraidamente limpar o salpico de sangue de sua camisa, enquanto pensa: "Não tenho nada com isso, o tiro não foi em mim". Nem se dão conta que seu coração está em frente ao pelotão de fuzilamento.

Aqui termina este "causo"

Você leitor, pode jogar este texto no lixo físico ou para lixeira virtual do seu computador. Eu também acho que não adianta nada mesmo! A verdade do conto vai persistir.

Aquela porcaria de 'tim bim BUM BUM tim BUM tim bim BUM BUM' vai continuar e o povo decadente vai continuar idolatrando o que há de pior, como a tal "onda ostentação", desde o "funk ostentação" até o "dentadura ostentação" ou "aparelho ostentação". 

Juventude perdida significa futuro perdido.

O Brasil já é o 11º país mais inseguro do mundo. Na América só a Venezuela está pior.

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