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quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

CoViD brasileira e suas duas ondas

 Por Almir M. Quites

Atualização em 20/01/2021 )  

Ontem, 20 /01/2021, tivemos 1.183 novos registros de mortes devidos à CoViD-19 no Brasil. Tivemos também 64.126 novos registros de casos da doença. Assim, chegamos ao total de 212.893 mortes e 8.639.868 casos, desde que a CoViD-19 começou. 

Este artigo contém: 1) atualização dos gráficos e previsões para 2021; 2) comentários sobre nosso comportamento; 3) análise do Brasil perante o mundo; 4) dicas para 2021.

1. ATUALIZAÇÃO DOS DADOS

O jato de gotículas e micro gotículas
emitidas pela boca e nariz
pode alcançar até 6 metros.
A máscara é uma barreira
que diminui muito esta distância.
Veja no final deste artigo.
 


Aqui, apresento os dados da evolução da CoViD-19 até a data de hoje. A Primeira Onda  da CoViD já terminou.  No entanto, uma Segunda Onda, muito mais contagiosa, começou em 10/10/2020. Determinei a equação matemática da nova curva de evolução do contágio para poder identificar precocemente quaisquer desvios e assim perceber imediatamente os sinais de surgimento de uma eventual Terceira Onda, sempre torcendo para que não surja uma mutação genética que possa tornar o vírus mais contagioso, ou mais agressivo, ou mesmo irreconhecível pelo nosso sistema imunológico, ainda que vacinado. Ainda bem que a ação dos anticorpos não é nossa única resposta imunológica, nem a mais importante. Vacinas como a da Pfizer, da Moderna, e as vetorizadas, provocam uma boa resposta celular, que é outro mecanismo do sistema imunológico, menos suscetível a esse tipo de dificuldade de reconhecimento.

Sinais de abrandamento da CoViD causados pela vacinação só virão a partir de maio, se a vacinação sofrer muitas interrupções poderão nem mesmo vir. Até lá, a evolução das curvas dependerá unicamente do nosso comportamento social. 

Mostrarei, a seguir, a situação atual das duas ondas com dados atualizados do número diário de casos oficialmente confirmados. Neste tipo de gráfico, a segunda onda fica mais evidente.  

Atenção! Trabalho com funções matemáticas, não com média móvel, mas não é preciso entender de matemática para compreender este texto. Basta ler com real interesse!

Observe a figura.

Gráfico de 20/01/2021 

Os triângulos vermelhos representam os números oficiais diários de novos casos, desde o primeiro caso, em 26/02/2020, até o dia de hoje, 10/01/2021, último dia do ano. Os triângulos vermelhos inferiores correspondem aos domingos e segundas-feiras, porque nestes os registros são em menor número. As curvas traçadas matematicamente compensam este desequilíbrio provocado pelo burocracia. 

Primeira Onda, está pintada de verde-limão; a Segunda Onda está pintada de azul-claro. As linhas contínuas verde e azul seguem a função típica de curvas de epidemias, com uma fase de crescimento, que passa por um pico, seguida de uma fase de decaimento. A nossa CoViD evoluía tipicamente, desde o início, sem qualquer perturbação. No entanto, em 10/10/2020, uma Segunda Onda surgiu, a qual se somava à primeira, conforme se vê claramente no gráfico acima, em azul forte. 

Segunda Onda só se tornou bem evidente a partir de 01/11/2020. Ela era 80% mais íngreme, logo mais contagiosa que a Primeira

Como esta segunda onda era muito mais contagiosa, logo imaginei tratar-se de uma outra linhagem do vírus, similar a B-117, detectada na Inglaterra, mas originária da América do Sul ou da África. Em novembro, estimei que, pelo menos, 50% dos vírus circulantes do Brasil deveriam ser desta nova linhagem ou similares. Estas suposições ainda não foram confirmadas em laboratórios! Hoje, como a primeira onda já acabou, posso afirmar que 100% dos vírus são da nova linhagem.

No gráfico, a partir do surgimento da Segunda Onda, cada triangulozinho vermelho representa a soma das duas ondas: a Primeira, que continua descendente, e a Segunda, que é ascendente.

O pico da segunda onda deverá ser quase 50% maior do pico da primeira onda! Vamos confirmar isto nos próximos dias. O pico da Segunda Onda deverá ocorrer em fevereiro. 

Hoje da para saber que a Segunda Onda é de 40 a 50% mais íngreme.

O resultado da soma das duas ondas está representado pela curva sinuosa roxa.

O procedimento matemático que separa as duas Ondas permite que se quantifique separadamente o efeito de ambas. Logo, podemos afirmar que a Primeira Onda contagiou (confirmado oficialmente5.750.000 e causou 172.500 óbitos, em 10 meses. A Segunda Onda é mais contagiosa, mas menos letal. Ela contagiou, até hoje, 2.889.868 brasileiros e causou 50.573 mortes, em 3 meses e 10 dias.

Ainda não podemos prever com precisão quando será o pico desta segunda onda, mas as equações matemáticas indicam que provavelmente será na primeira semana de fevereiro, com mais de  60.000 novos casos diários. Depois disto, o número de novos casos por dia começará a se reduzir, mesmo que nenhuma vacina tenha sido aplicada na população. Este é o comportamento matematicamente esperado, ou seja, sem considerar qualquer efeito da vacina. Até o final de abril não se espera ter qualquer efeito das vacinas. Depois disso, aí sim! Então, se a vacinação for bem faita, elas evitarão o surgimento de novas Ondas!

Como em fevereiro, após o pico da Segunda Onda, os números de novos casos diários diminuirão, isto poderá ser confundido (pela população) com o feito das vacinas. No entanto, não será! O efeito da vacina vai se manifestar quando a curva da CoViD descarrilhar para baixo do trilho matematicamente traçado (a curva azul do gráfico).


2. POR QUE NOSSAS EXPECTATIVAS NÃO SE REALIZAM?

O assunto predominante no mundo, no fim de 2019, era a Emergência Climática. No entanto, em 2020, veio a pandemia da COVID-19, a qual pôs a humanidade de castigo, fazendo-a parar e pensarAssim,  muitos de nós pudemos perceber o egoísmo exacerbado que existe, o conceito irrefletido de que tudo o que há pertence somente a esta geração de seres humanos, que só o presente importa e o futuro não é de nossa responsabilidade. Infelizmente este comportamento é intenso no Brasil. Isto terá que mudar! 

Com a pandemia, o planeta respirou aliviado! A Emergência Climática saiu do noticiário. Foi substituída pela Emergência Sanitária. Os profissionais de saúde, que enfrentaram o exército de vírus Sars-Cov-2, deram um belo exemplo de coragem, de abnegação, de sabedoria, assim como muitos outros trabalhadores de serviços essenciais. Os cientistas de todo o mundo colaboraram entre si, num enorme e penoso esforço para combater a pandemia. Em apenas um ano, desenvolveram diferentes vacinas, algumas tão inovadoras que acrescentaram um promissor avanço à Ciência. 

No Brasil, passamos todo o ano de 2020 tentando amenizar a CoViD-19, mas não conseguimos.


No entanto, é certo que nossas estratégias de distanciamento social não foram suficientemente rigorosas, nem bem planejadas. Poderíamos ter amenizado a segunda onda, mas também não fomos capazes! Não conseguimos nos coordenar para juntos enfrentarmos a adversidade. Faltou-nos altruísmo, abnegação, responsabilidade, lucidez, inteligência... Poderíamos ter tido menos mortandade e menos sequelados, cuja expectativa de vida foi reduzida. Mesmo assim, o povo cansou e ficou ávido de uma volta a antiga normalidade, mesmo com o surgimento da Segunda Onda da CoViD-19, bem mais contagiosa que a primeira. 

Inclusive, levantei a hipótese de que a Segunda Onda poderia ser de uma nova linhagem do Sars-CoV-2, mais contagiosa, como a B-117 detectada no Reino Unido, mas que poderia ser brasileira ou ter chegado antes aqui no Brasil. Esta hipótese ainda está em aberto.

A própria atual expectativa com a vacinação produz uma tola mudança de comportamento no povo, no sentido do relaxamento do distanciamento e imobilização social. Porém, o fato é que, no caso de doenças infecciosas, só se volta à normalidade quando um grande número de pessoas já estão vacinadas, porque não basta imunizar indivíduos, é preciso impedir que os vírus se reproduzam, o que só se consegue se todos os caminhos de contágio estiverem bloqueados, ao redor de cada grupo de indivíduos e em todas as comunidades à nossa volta. Isto só se consegue se mais 70% da população do Brasil estiver vacinada e os pontos de entrada de estrangeiros estiverem bem fiscalizados.

O ano de 2020 foi difícil! Obrigou-nos a usar máscaras, mas também desmascarou nosso comportamento obscurantista, nossa incultura (insciência), nossa incivilidade, nossa ingenuidade, credulidade etc. Na guerra com a CoViD, perdemos amigos e parentes 😥. Enquanto sofríamos, muitos queriam esquecer que vidas importam!

Infelizmente, muitas pessoas ainda estão apegadas a comportamentos facciosos, formando grupos de "rebeldes sem causa" (comportamento da "juventude transviada" das décadas de 50 e 60), sem cultura e sem inteligência. Grupos que fazem da mentira e da credulidade sua arma e seu meio de construção de um mundo imaginário, que substitui a realidade e torna seus crentes incapazes de colaborar com seus semelhantes, com sua própria comunidade. Formam seitas de combate à Ciência. Combatem até mesmo o uso de máscaras antivirais e outras restrições à vida pública, em plena pandemia. Alguns acreditam que as vacinas são desenvolvidas para "controlar as pessoas", ou que o coronavírus simplesmente não existe. São teorias conspiratórias inventadas, falsas, cínicas e perigosas, cruéis para com aquelas pessoas que estão de luto e para com aquelas que ficaram com graves sequelas após a penosa recuperação da CoViD-19, com a expectativa de vida reduzida.

Há na cultura brasileira uma exagerada incapacidade de encarar a realidade. A grande maioria das pessoas prefere acreditar no que, de alguma forma, parece ser mais confortável e de conveniência individual. Isto é consequência de um precário sistema educacional. 


3. O BRASIL PERANTE O MUNDO
 
Em relação a outros países do mundo, quanto ao total de mortes por milhão de habitantes e por dia, o Brasil está hoje (20/01/2021) em décimo primeiro lugar neste 'ranking' malévolo. Veja os 5 primeiros colocados: 
1° - Bélgica 
2° - Itália
3° - República Tcheca
4° - Bósnia e Herzegovina
5° - Reino Unido

Na América do Sul, destacam-se, pelo bom desempenho, o Uruguai, o Paraguai, a Guiana e o Suriname.  Os dados da Venezuela e de Cuba não podem ser verificados por agências independentes e, por isso, não são confiáveis.
 
Não esqueça que, ao comparar países apenas considerando o número de mortes diárias por milhão, não se está considerando questões importantes como o estágio da pandemia, a densidade demográfica, o perfil etário e o nível de testagem. Não esqueçam também que, no Brasil, quase não fazem testes de confirmação da CoViD. Logo, os números do Brasil são subestimados em relação aos demais países.

Este mapa, abaixo, vai ser automaticamente atualizado todos os dias. Ele sempre estará atualizado. 

 

Com a chegada da segunda onda da CoViD-19 teremos que mudar nosso comportamento. Ela será bem mais contagiosa. 


4. DICAS AOS BRASILEIROS PARA 2021

Use a máscara antiviral!

A seguir, apresento algumas informações que ajudam no julgamento dos riscos que se corre com e sem o uso da máscara. 

A máscara não elimina o risco de contágio, mas o reduz, como se vê no filme da nuvem de gotículas contaminantes. Logo, mesmo com máscara, mantenha distância

Na filmagem foi usada uma técnica conhecida como Schlieren (listras), a qual permite que se visualize o fluxo de ar pela concentração de gotículas invisíveis que ficam em suspensão no ar enquanto a pessoa fala, respira e tosse, com máscara e sem máscara. 

Na imagem da esquerda, sem a máscara, a nuvem de concentração de gotículas vai mais longe, enquanto que, na imagem da direita, com a máscara, a nuvem de gotículas fica mais próxima do indivíduo que as emite.

Quando a pessoa está infectada pelo vírus da CoViD (Sars-Cov-2), as micro gotículas podem conter milhares ou milhões de vírus. O número depende do tamanho da gotícula.




Num ambiente fechado e sem ventilação adequada, a eficácia da máscara cai muito, porque a concentração das gotículas minúsculas, em suspensão no ambiente confinado, será bem maior. 

Não é surpresa para ninguém que restaurantes são ambientes propícios ao contágio da CoViD-19, uma vez que se precisa estar sem máscara para se alimentar. E para provar isso, cientistas da Universidade de Kobe, no Japão, usaram um modelo estabelecido a partir de dados experimentais para demonstrar como a simples distribuição das mesas e cadeiras nesses estabelecimentos pode fazer diferença na propagação do novo coronavírus (SARS-CoV-2).

A simulação mostra a emissão das partículas de aerossol em uma mesa com quatro pessoas, todas conversando e sem usar máscaras.

Num ambiente onde muitas pessoas se aglomeram, mesmo que estejan entrando e saindo, a eficiência da máscara antiviral também diminui muito, mesmo que as pessoas mantenham boa distância entre elas, porque o ar que exalam está sempre sendo produzido, com suas microgotículas carregadas de vírus. Fuja destes ambientes!

Na imagem abaixo, vemos o que acontece quando uma pessoa sentada fala em sua frente. As imagens mostram que cerca de 5% das gotículas vão para essa pessoa que está na frente.
<em>Reprodução: Kobe University</em>
Reprodução: Kobe University
A pessoa que está sentada na diagonal de quem está falando, tossindo ou espirrando, será atingida com um quarto da quantidade das gotículas.


<em>Reprodução: Kobe University</em>Reprodução: Kobe University


No entanto, quando a pessoa que está falando olha para o lado, a pessoa que está ali será atingida com mais de 25% das gotículas.

<em>Reprodução: Kobe University</em>
Reprodução: Kobe University

O resultado do experimento mostrou que a distribuição das mesas e cadeiras faz toda a diferença na propagação das partículas. 

Quando uma pessoa contaminada está sentada à mesa, as chances de o indivíduo que está em sua frente ser atingido por gotículas contaminadas é quatro vezes maior do que se o infectado estivesse em sua diagonal. Já a pessoa que está ao lado do contaminado é a que mais está em risco. 

Quando a pessoa com COVID-19 vira a cabeça para conversar com quem está ao lado, este está cinco vezes mais vulnerável à exposição, já que as partículas vão diretamente a ele.




Outras dicas, para pessoas que usam máscara antiviral!


Nota deste blog: o que importa não é o número de pessoas em um ambiente, mas a densidade de pessoas e a eficácia da ventilação. Por exemplo: "Ir a culto religioso com 500 ou mais fìés" pode não ser perigoso. Por exemplo, se o culto for no Estádio do Maracanã e as 500 pessoas estiverem bem distantes uma da outras, então o risco pode ser nulo!

Fonte: BBC News Brasil




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