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quarta-feira, 13 de julho de 2022

Nossa inteligência

 Por Almir M. Quites              Para compartilhar, toque aqui



Como você sabe, os seres humanos pertencem ao Reino Biológico Animal. Alguns de nossos irmãos deste reino são os mamíferos, os peixes, as aves, os répteis, os anfíbios, insetos, moluscos e anelídeos, entre outros.

Mas, há outros quatro Reinos Biológicos, além do nosso. Há:
➥1) o Reino Vegetal, um dos mais antigos e que se caracteriza por sua fixação à terra, onde estão seus órgãos mais importantes;
2) o Reino Fungi, que abrange as leveduras, os bolores e todas as espécies de cogumelos, com suas redes de comunicação subterrâneas que servem também aos membros do reino vegetal;
3) o Reino Protista (qualquer organismo autótrofo ou heterótrofo, unicelular, ou pluricelular cujas células tenha um núcleo dentro de um envelope nuclear e que não esteja incluído nos reinos anteriores)o reino mais primitivo, do qual derivam todos os outros reinos, porque contêm o ancestral comum de todos os demais reinos e engloba os organismos eucariontes que não são considerados animais, nem plantas nem fungos, como os protozoários; e, por fim,
4) o Reino Monera, o reino dos seres vivos microscópicos e abarca os organismos procariontes (arqueas e bactérias). Esse grupo está presente em todos os habitats e é formado por seres unicelulares sem núcleo definido.

Esta classificação dos cinco reinos da natureza continua sendo a mais popular atualmente, embora os últimos progressos em pesquisa genética tenham propiciado novas revisões e abriram o debate entre os especialistas.

A inteligência é uma qualidade reconhecida do Reino Animal, É relacionada à capacidade de conhecer, compreender e aprender, adaptando-se a novas situações do meio ambiente. No entanto, a inteligência também está presente no Reino Vegetal e Fungi. Deve estar presente também nos demais reinos, embora com características diversas daquelas com a quais nós, seres humanos, convivemos.

É a inteligência das espécies, em todas as suas formas, que garante a sua existência. A inteligência determina a evolução da espécie, entendida como a transformação dos aspectos biológicos e comportamentais ao longo de tempo, de acordo com o meio ambiente, os quais são passados cultural e hereditariamente para os futuros membros da espécie.

A inteligência nasce da necessidade de superar as dificuldades da sobrevivência e se desenvolve ao ser repassada aos seus semelhantes de um mesmo reino, o que permite um desenvolvimento colaborativo. A cada necessidade novas habilidades se desenvolvem. Diante disso, o ser humano é similar aos demais organismos que buscam o seu próprio desenvolvimento e o desenvolvimento de suas inteligências na luta para conservar a existência de sua espécie.

Porém, como bem sabemos, assim como há desenvolvimento, há também retrocessos, que inclusive, podem levar a extinção de espécies.

Precisamos nos preocupar com a inteligência humana e cuidar dela diariamente, regando-a com os nutrientes necessários. A nossa espécie pode ser extinta bem antes do que imaginamos. 

George Orwell, em seu famoso livro denominado “1984” (
escrito em 1948) mostra como governos, especialmente os totalitários, podem acorrentaram o pensamento do povo, reduzindo o número de palavras usadas e encolhendo o significado das palavras restantes. 

Ray Bradbury, em “Fahrenheit 451”(escrito em 1950mostra como a televisão destrói o interesse pela leitura.

È de fundamental importância sabermos escolher os nossos governante em todos os níveis da nossa estrutura social.

O QI médio da população mundial, que sempre aumentava desde o pós-guerra até ao final dos século passado, diminuiu nos últimos anos. É a inversão do efeito Flynn.

Nota 1: James Robert Flynn (1934 – 2020) nasceu nos EUA e emigrou para a Nova Zelândia, onde lecionou na Universidade de Otago, em Dunedin, e tornou-se um prestigiado pesquisador que estudava a inteligência humana.

Nota 2: O "efeito Flynn" é o aumento substancial e prolongado nas pontuações dos testes de inteligência medidos em muitas partes do mundo. Quando os testes de quociente de inteligência (QI) são inicialmente padronizados usando uma amostra de participantes, por convenção, a média dos resultados do teste é definida como 100 e seu desvio padrão é definido como 15 pontos de QI. Quando os testes de QI são revisados, eles são novamente padronizados usando uma nova amostra de participantes, geralmente nascidos mais recentemente do que o primeiro. Novamente, o resultado médio é definido como 100. No entanto, quando os novos participantes do teste fazem os testes mais antigos, em quase todos os casos suas pontuações médias estão significativamente acima de 100. isto é chamado de Efeito Flynn.

Nos últimos 30 anos, tem-se observado que o nível de inteligência, medido pelos testes de QI, diminui nos países mais desenvolvidos. Pode haver muitas causas para este fenômeno. Um deles pode ser o empobrecimento da linguagem.

A linguagem não é apenas um modo de comunicação mais precisa, é também o meio como conversamos silenciosamente conosco mesmo e o meio pelo qual o pensamento se torna mais ou menos preciso, registrando sutilezas mais acuradas na memória.

Na verdade, vários estudos mostram a diminuição do conhecimento gramatical e o empobrecimento da linguagem: não é apenas a redução do vocabulário utilizado, mas também das sutilezas linguísticas que permitem elaborar e formular pensamentos complexos. Por exemplo, o desaparecimento gradual dos tempos verbais (do subjuntivo, do condicional, do passado perfeito e imperfeito, das formas compostas do futuro e do particípio passado). Isto produz um pensamento aprisionado no presente, com grande dificuldade de se conectar a situações de outros tempos, não apenas passado e futuro, mas também a condições hipotéticas.

A própria linguagem das redes sociais vem causando uma visível dificuldade para expressar o pensamento. Também a simplificação dos manuais, dos tutoriais, o desaparecimento das letras maiúsculas e da pontuação, o uso de "emojis" etc. São exemplos corriqueiros de “golpes mortais” na precisão e na diversidade de formas de expressão. É fácil compreender. Por exemplo, a eliminação da palavra senhorita ("
signorina/mademoiselle/miss") não significa apenas abrir mão da estética de uma palavra, mas também promover involuntariamente a ideia de que entre uma menina e uma mulher não existem fases intermédias.

Menos palavras e menos verbos conjugados significam maiores dificuldades de transmitir conhecimentos a outras pessoas, inclusive entre diferentes gerações. Também significam menos capacidade de expressar emoções e de processar um pensamento complexo. Há estudos que mostram que parte da violência nas esferas pública e privada decorre diretamente da incapacidade de se expressar adequadamente especialmente quando há emoções envolvidas. Quanto mais pobre a linguagem, mais atravancado fica o pensamento e ocorrem mais desentendimentos.

Se não houver pensamentos, não haverá pensamentos críticos. E não há pensamento sem palavras. Como construir um pensamento hipotético-dedutivo sem o condicional? Como pensar o futuro sem usar este tempo verbal? Como é possível captar uma temporalidade, uma sucessão de elementos no tempo, passado ou futuro, e a sua duração relativa, sem uma linguagem que distinga entre o que poderia ter sido, o que foi, o que é, o que poderia vir a ser, e o que será depois do que pode ter acontecido, ou que realmente tenha acontecido?

Caros pais e professores: Façamos com que os nossos filhos, os nossos alunos falem, leiam e escrevam. Ensinemos e pratiquemos o idioma nas suas mais diversas formas. Mesmo que pareça complicado, principalmente se for, porque é deste esforço que depende a liberdade, a felicidade, a riqueza de cada experiência de vida.

Aqueles que afirmam a necessidade de simplificar a grafia, descartar a linguagem de suas redundâncias e "sofisticações", de abolir géneros, tempos, nuances, tudo que cria complexidade, são os verdadeiros aniquiladores do futuro, pelo empobrecimento da mente humana.

Junte a este apodrecimento da comunicação humana um explosivo aumento populacional, um aumento da desigualdade social e uma falta crônica de alimentos para os mais pobres, e temos aí um caos tão perfeito quanto terrível.

Atualmente quase todos gritam suas convicções sem discutir nenhuma delas seriamente e ninguém as entende. Em meio a a tanta gritaria as elites poderosas estrangulam o povo em busca de mais poder. Nega-se a ciência e se criam mais deuses para serem adorados incondicionalmente, enquanto os mais espertos falam pelos deuses. Violências de todos os tipos nos rodeiam: religiosa, sexista, homofóbica, racista, política, esportista etc., todas fanaticamente justificadas.

Como manter uma democracia decente sem um linguajar de ótimo nível?

Nosso planeta está seriamente doente por nossa causa e atualmente está mergulhando no inferno climático.

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