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terça-feira, 1 de maio de 2018

Gilmar na caverna de Temer

Por José J. de Espíndola #

Seguindo o edificante exemplo de Joesley Batista, na calada da noite Gilmar Mendes é recebido – também sem agenda publicada, portanto também clandestinamente – na caverna de Ali Baba, quero dizer, na caverna do Temer, no palácio do Jaburu.
Como o encontro foi furtivo e fora da agenda presidencial, não se sabe o teor real da conspiração. Conspiração? É que, enquanto escrevo, em minha cabeça flutua uma frase de Eça de Queirós, escrita em uma de suas Cartas de Inglaterra: “Na Irlanda, quando dois homens se reúnem, conspiram.” À parte o contexto, esta frase me inspirou uma paráfrase muito pertinente: — Na caverna do Jaburu quando alguém se reúne com Temer, na calada da noite, sem agenda, ele o visitante conspiram.

Conspiram sobre propinas, como no caso de Joesley Batista: "Ouvi o áudio: ‘Tem que manter isso aí, viu?’. Assisti ao vídeo do homem correndo com a mala”, relata o Ministro Barroso que, segundo ele próprio, não se reúne em palácios com políticos poderosos, querendo e marcando assim a diferença entre ele e Gilmar Mendes. Querendo e marcando assim a diferença entre um ministro que se comporta com a dignidade que se espera de um magistrado e outro que enxovalha a reputação da Corte que deveria respeitar. Aliás, em termos de demonstração de diferença em relação a Mendes, Barroso é extremamente claro e didático: “O senhor [Gilmar] é uma pessoa horrível. Uma mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia. É um absurdo Vossa Excelência vir aqui e fazer um comício cheio de ofensas, grosserias. Vossa Excelência não consegue articular um argumento, fica procurando. Já ofendeu a presidente, já ofendeu o ministro Fux, agora chegou a mim. Vida para a Vossa Excelência é ofender as pessoas.”

Há um outro aspecto de Gilmar Mendes sobre o qual Barroso ainda não se ocupou: a precariedade, variabilidade e insegurança de suas convicções ‘jurídicas’. Giuseppe Verdi, autor a ópera Rigoletto diria que “Gilmar é mobile qual piuma al vento / Muta d'accento e di pensiero /” (Gilmar é volúvel qual pluma ao vento / Muda de humor e de pensamento). Muda de humor e de pensamento não por conta da evolução do Direito, mas dependendo do acusado da causa. Em 2016 era um vibrante defensor do cumprimento da pena após julgamento em segunda instância. Veja-se:  


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Na época, os implicados na Lava Jato eram basicamente petistas. Menos de dois anos depois, quando a Lava Jato se aproxima de seus amigos e (por que não dizer) correligionários políticos (Aécio, Temer et caterva), Gilmar muda radicalmente de posição, dá um giro de 180 graus em suas ‘convicções jurídicas’ e passa, ao lado de seus cúmplices no STF (Toffoli e Lewandowski), a defender o cumprimento da sentença após instâncias superiores, isto é, só nas calendas gregas. Se alguém, realmente versado em Direito, conseguir apontar uma razão perfeitamente JURÍDICA para esta ‘tese’, corre o risco de ganhar o prêmio Nobel. Este é Gilmar Mendes, uma desgraça para o País — hoje talvez a pessoa mais odiada pelos brasileiros de bem — brindado por um sociólogo confuso com uma sinecura na Suprema Corte.

Segundo a repórter Andréa Sadi, o encontro suspeito entre os dois personagens de filmes de horror começou por volta das 21h30' e terminou às 23h. Portanto, tome-se como certo: 1h30' de conspiração contra a Lava Jato e contra o combate à corrupção no Brasil, coisas de que tanto necessitam Temer, seus comparsas e alguns amigos de Mendes (como o amigão Aécio), para não serem presos ao fim dos seus indecentes foros privilegiados.

Ah, sim, Gilmar apresentou uma razão para o encontro furtivo: Fora discutir uma proposta de semipresidencialismo e convidar Temer para uma entrevista sobre o tema em sua empresa, o IDP.

Vale a pena algumas observações sobre esta desculpa esfarrapada, antes que a esgotopress lulopetista, hoje tão grata a Mendes, a abrace como coisa absolutamente verdadeira e assim a propague à militância lulopetista bestializada (desculpem o pleonasmo).

Primeiro, o semipresidencialismo (seja lá o que isto for, pois só Gilmar e mais ninguém fala nele) só poderá ser implantado através de uma reforma constitucional. Temer, entretanto, está tão fragilizado politicamente, tão ao rés do chão (é a figura perfeita do pato manco) que não consegue fazer aprovar uma medida para a mudança da cor do uniforme do seu motorista particular. Vai propor uma reforma constitucional? Acho mais produtivo Gilmar discutir semipresidencialismo com o Tiririca.

A história da palestra de Temer na empresa de Mendes é, conceda-se generosamente, mais crível. Mas, valerá a pena? Quem gastaria um único centavo de Cardoso Real para assisti-la? Ou será que os contribuintes pagarão a custosa tunga de mais esta farsa?

De qualquer forma — e para concluir — por que dois assuntos tão amenos exigem uma reunião na calada da noite, sem agenda pública (portanto, reunião secreta), na caverna de Temer no Jaburu? Ora, Gilmar, isto é tão incrível (quer dizer, tão inacreditável) quanto a sua conversão, ‘por razões jurídicas’, contra a execução da pena após a confirmação da sentença em segunda instância.

Vá enrolar gente no seu instituto, Gilmar, que lá parece ser um lugar mais apropriado para esta tarefa.




# José J. de Espíndola é Engenheiro Mecânico pela UFRGS -- Mestre em Ciências em Engenharia pela PUC-Rio -- Doutor (Ph.D.) pelo Institute of Sound and Vibration Research (ISVR) da Universidade de Southampton, Inglaterra -- Doutor Honoris Causa da UFPR -- Membro Emérito do Comitê de Dinâmica da ABCM -- Detentor do Prêmio Engenharia Mecânica Brasileira da ABCM -- Detentor da Medalha de Reconhecimento da UFSC por Ação Pioneira na Construção da Pós-graduação -- Detentor da Medalha João David Ferreira Lima, concedida pela Câmara Municipal de Florianópolis -- Criador da área de Vibrações e Acústica do Programa de Pós-Graduação em engenharia Mecânica -- Idealizador e criador do LVA, Laboratório de Vibrações e Acústica da UFSC – Agraciado com uma Honorary Session, por suas contribuições ao campo da Dinâmica, pelo Comité de Dinâmica da ABCM no XII International Symposium DINAME, 2007-- Professor Titular da UFSC, Departamento de Engenharia Mecânica, aposentado. (48) 3207 4573 – (48) 99901 7257

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