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terça-feira, 11 de julho de 2017

Diferenças culturais e xenofobia

Por Almir Quites

O texto abaixo circula na internet. 

Primeiro vou apresentá-lo na íntegra, tal como recebi, pelo Facebook. Leia! Depois, apresentarei o meu comentário. Gostaria de conhecer a sua opinião!


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Siamo noi...😜❤🇮🇹

Aprendemos a viver com os italianos e a programar a vida com os americanos. Contudo, os italianos crescem e morrem juntos com suas famílias, amigos e irmãos, enquanto os americanos crescem e morrem sozinhos, pois foram expulsos de suas famílias aos 18 anos e não aprenderam a conviver com seus pais, amigos e irmãos.

Vejam abaixo o que acontece no decorrer da vida.

Filhos Americanos: Saem de casa até aos 18 anos com total apoio dos pais.
Filhos Italianos: Saem de casa aos 35 anos, depois de poupar o suficiente para comprar casa e pagar duas semanas de lua de mel quando casarem... Mesmo assim, mantêm um quarto na casa dos pais para os fins-de-semana.

Filhos Americanos: Quando a mãe os visita leva um bolo, os filhos servem café e eles conversam.
Filhos Italianos: Quando a mamma os visita, leva comida para 3 dias, lava e passa roupa, limpa e arruma a casa.

Filhos Americanos: Os pais sempre avisam quando vão visitá-los e isto acontece só em ocasiões especiais.
Filhos Italianos: Eles nunca sabem quando os pais vão aparecer às oito da manhã de sábado e começar a podar as suas árvores frutíferas. E, se não houver árvores frutíferas, eles plantam.

Filhos Americanos: Sempre pagam aluguel e procuram nas páginas amarelas quando precisam de algum serviço.
Filhos Italianos: Ligam para os pais e tios, pedindo o telefone de outros pais/tios que possam saber do serviço que eles precisam.

Filhos Americanos: Visitam os pais para comer um bolo com café - e fazem só isso, mais nada.
Filhos Italianos: Visitam os pais para tomar um café, comer bolo, antipasto, vinho, um bom prato de massa, carne, salada, pão, sobremesa, frutas, expresso e uns drinks após o jantar.

Filhos Americanos: Cumprimentam os pais com "Oi" e "Olá".
Filhos Italianos: Cumprimentam os pais com um grande abraço, beijos e tapinhas nas costas.

Filhos Americanos: Tratam os pais por sr. e srª.
Filhos Italianos: Tratam os pais por mamma e babbo..

Filhos Americanos: Nunca viram os pais chorar.
Filhos Italianos: Choram junto com os pais.

Filhos Americanos: Devolvem o que pedem emprestado aos pais em poucos dias.
Filhos Italianos: Ficam com as coisas que emprestam dos pais por tanto tempo que os pais esquecem que são deles.

Filhos Americanos: Quando o jantar acaba vão para casa.
Filhos Italianos: Quando o jantar acaba ficam horas conversando, rindo ou simplesmente confraternizando.

Filhos Americanos: Sabem pouco sobre os pais.
Filhos Italianos: Podem escrever um livro sobre os pais.

Filhos Americanos: Comem sanduíches de manteiga de amendoim, geleia e pão de forma branco.
Filhos Italianos: Comem sanduíche de salame, queijo colonial, pão caseiro, crostoli, conservas...

Filhos Americanos: Deixam você para trás se é isto que a maioria está fazendo.
Filhos Italianos: Não lhe abandonam mesmo que a grande maioria ache normal abandonar.

Filhos Americanos: São amigos do momento.
Filhos Italianos: São amigos por toda vida.

Filhos Americanos: Gostam de Rod Stewart e Steve Tyrell.
Filhos Italianos: Gostam de Laura Pausini e Andrea Bocelli

Filhos Americanos: Vão ignorar esta mensagem.
Filhos Italianos: Vão repassar per tutti gli amici oriundi! 🇮🇹👏👏👏🇮🇹
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AGORA, MEU COMENTÁRIO

De imediato, este texto me causa ceticismo, porque sei que é difícil caracterizar o comportamento norte-americano. Os Estados Unidos da América do Norte (EUA) é o lar de pessoas de diferentes origens nacionais. Com exceção da população nativa (
índios americanos), todos os demais americanos ou os seus antepassados ​​imigraram para o país nos últimos cinco séculos, especialmente vindos da Europa Ocidental, e houve muita miscigenação. 

Este pensamento me levou a pensar no risco que corremos na internet (no caso, foi no Facebook) de propagar textos injustos, simplesmente porque as redes sociais não exigem que pensemos bem antes de escrever para não cometermos injustiças. É facílimo divulgar amplamente qualquer texto, ainda que implique em desinformação, principalmente na esfera social e política. Tirar conclusões apressadas abre a porta para a disseminação de preconceitos. Todos nós estamos sujeitos a isso. É por isto que precisamos ter muito cuidado com as nossas convicções.


Eu, por exemplo, por muito tempo ouvi falarem mal de alemães e acreditei que fossem frios, seguidores automáticos de regras absurdas, durões, implacáveis etc. Claro, eu também fui vítima da propaganda de guerra, desde tenra idade. Lembro que, quando menino, eu "matava" alemães quando brincava com "soldadinhos de chumbo", porque "eram os bandidos". Lembro também de um seriado da TV, da década de 60, chamado Combate, que estereotipava os alemães: exércitos desmioladosseguindo comandos rígidos, eram derrotados por apenas dois ou três soldados americanos espertinhos que mascavam chicletes o tempo todo. Claro que, nesta época, eu já percebia a pejoração grotesca que se fazia.

No início da década de 80, a vida me levou a fazer meu doutorado na Alemanha. Rapidamente percebi que a sociedade deles era muito justa, baseada na ética, na honestidade. Muito mais que a nossa! Isto mudou completamente meus conceitos. Entendi que sempre se tem preconceitos ainda não detectados. Eu também ainda os tinha.

Havia valores diferentes dos nossos, que, a princípio, eu estranhava, mas logo percebi meu erro e entendi que os alemães eram mais evoluídos.

Eles eram solidários sem fazer alarde, sem excessos, sem manipulação de sentimentos por gestos e palavras, sem demagogia. Assim eles viviam uma vida mais simples e mais eficaz. Os alemães, justamente por serem avessos a exageros e por serem sinceros, comunicavam-se melhor entre si. Trabalhei num instituto de pesquisa e vi como eles se responsabilizavam não só pelo seu próprio trabalho, mas também pelo dos demais colegas. Muito diferente do que fazemos aqui.

Já naquela época (anos 80haviam muitos imigrantes turcos, portugueses, iugoslavos e italianos acolhidos na Alemanha como trabalhadores convidados (daí a designação de "Gastarbeiter", que significa trabalhador hóspede). Os turcos eram a maioria. Apesar do pressuposto de que voltariam para seus países, os alemães se esforçaram para integrá-los na sociedade, oferecendo a eles cursos do idioma alemão, matrícula para os filhos nas mesmas escolas dos alemães e atividades sociais, sem qualquer discriminação. Contudo, era visível a tensão social, especialmente entre turcos e alemães. 

Os alemães me confundiam com os turcos e estes me confundiam com alemães. Eu, no entanto, nunca tive problemas com alemães, mas os tive com turcos. 

Aluguei parte de uma casa de uma senhora que passou a morar no piso superior, enquanto eu e minha família morávamos no inferior (ela era minha "Wirtin"). Ela se tornou uma amiga e ajudou muito a mim e à minha família. Por muitos anos, depois de eu ter voltado para o Brasil, ainda trocávamos cartas escritas à mão. Todas as vezes que voltei à Aachen, hospedei-me na casa dela (de graça). Ela ficava feliz com a minha presença. Pessoas que eu apenas conhecia, sem qualquer relação maior comigo, ajudavam-me pela mais pura solidariedade, como aqueles que fizeram um mutirão de fim de semana para me ajudar a pintar o apartamento antes de devolvê-lo ao dono. 

Pela minha experiência pessoal, afirmo que os alemães não são frios! Pelo contrário, são muito solidários. No entanto, não toleram abusos. Não lhes peça ajuda, seja como eles!

Os alemães foram vítimas do nazismo (ideologia socialista do "Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei") como qualquer outro povo que tenha sido, por adesão ou descuido, vítima do socialismo internacional. Durante a guerra, cometeram atrocidades. No entanto eles assumiram toda a culpa pela guerra, ao invés de buscar desculpas. O próprio Nazismo tinha que ser punido e banido.

Depois da guerra eles evoluíram muito, em todos os sentidos. Infelizmente aquele estado organizado e muito humano, que conheci lá, está regredindo atualmente, devido aos problemas da integração europeia e à enxurrada de refugiados que eles aceitaram abrigar.

Sim, precisamos ter muito cuidado para reconhecer os nossos preconceitos e não fazer injustiças com outros, que, muitas vezes, nem conhecemos.


O texto que compara italianos e norte-americanos, mesmo que seja encarado como simples caricatura, desinforma, é pejorativo e injusto. Claro que há diferenças culturais, mas não é justo pressupor que a cultura do outro seja de inferior qualidade ou desprezível.

Minha esposa é italiana. Quando fomos visitar os parentes italianos, receberam-nos de modo entusiasmado, a festa durou o dia todo e parte da noite. Comíamos e bebíamos o tempo todo, porque as refeições do dia eram demoradas e se emendavam. Eu já não aguentava mais, mas não podia dizer não. Vieram parentes de outras cidades para conhecer "La figlia di Lucía". Falavam alto, rápido e ao mesmo tempo. Alemães e americanos teriam nos recebido de outra forma.

Pois é, agora seria bom ouvir a seguinte palestra. Veja o vídeo! 


O PERIGO DA HISTÓRIA ÚNICA 
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Para ouvir em Inglês, clique aqui: https://youtu.be/EC-bh1YARsc


Veja agora um outro vídeo, feito por uma alemã. Nele, também percebo graves injustiças contra os próprios alemães. 


Veja! Depois, leia meu comentário. 


Alemã fala dos problemas 
com os refugiados que acolheram
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Fonte: Vídeo: https://youtu.be/DAZ4DlP7m9A


O que este vídeo não diz é que a essência da cultura alemã sempre foi esta, caracterizada pela tolerância, a hospitalidade, a busca do conhecimento e da compreensão das culturas diferentes. Morei pouco tempo na Alemanha e aprendi a admirar aquele povo. Nos períodos de férias, meus colegas e amigos alemães costumavam viajar para a África. Voltavam encantados justamente com as diferenças culturais e também com muitas lembranças (
souvenires).

O governo alemão apenas reproduz esta cultura ancestral quando ainda tenta assimilar os refugiados. O governo não está traindo o povo. Embora haja crescente oposição a esta política, a maioria da população a apoia! As eleições alemãs são limpas e as pesquisas de intenção de voto são feitas por numerosas organizações independentes. Não são como as nossas.


O conteúdo deste vídeo me parece muito injusto especialmente com a primeira ministra Angela Merkel e com seu governo. Os alemães estão sendo vitimados por permanecerem fiéis a sua própria cultura. Esta mesma cultura também inclui uma alta capacidade de auto organização e, por isto, de algum modo, eles superarão estas dificuldades, ainda que tenham que sofrer muitas outras injustiças.


O apoio aos conservadores da aliança da chanceler alemã, Angela Merkel, acaba de ultrapassar os 40%, segundo a revista Stern.

O principal adversário, que pertence ao Partido Social-Democrata (SPD), permaneceu com apoio de 23%. Isto mostra que os alemães estão começando a compreender a arrojada decisão de Merkel, de setembro de 2015, quando abriu as portas para mais de 1 milhão de imigrantes, a maioria do Oriente Médio e do Afeganistão.


A Alemanha permanece fiel aos seus princípios e, para mantê-los, precisa se adaptar as contingências da nova realidade mundial.

A Alemanha, tem muita experiência em dar ordem ao caos social. Destroçada pela guerra, não apenas se reunificou, mas também unificou toda a Europa. Foi uma tarefa gigantesca, atravancada por conflitos de toda ordem. O condutor desta façanha, falecido há acerca de duas semanas, foi Helmut Kohl, o mentor político de Angela Merkel. Esta tem todas as condições para prosseguir a obra de seu mestre. As eleições de setembro próximo deverão confirmar a sua liderança e, quem sabe, possam os alemães, com seus aliados franceses, ajudar a resolver, não apenas os atuais problemas europeus, mas também os atuais conflitos internacionais.

Finalmente, tomem muito cuidado com o que leem nas redes sociais.

Para entender como se deve proceder para não assimilar desinformações, leia aqui:
INFORMAÇÃO E DESINFORMAÇÕES NAS REDES SOCIAIS
http://almirquites.blogspot.com.br/2017/04/desinformacao-e-contra-informacao-nas.html 

Aprenda a se defender dos textos curtos!

Para aprofundar-se mais no tema, basta clicar aqui:
DEFENDA-SE DA PROPAGANDA
http://almirquites.blogspot.com.br/2015/04/defenda-se-da-propaganda-politica.html


𝓐𝓵𝓶𝓲𝓻 𝓠𝓾𝓲𝓽𝓮𝓼



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Xenofobia: um crime silencioso
Uma enorme quantidade de pequenos atos que se avolumam numa grande onda assassina.

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Um comentário:

  1. Eu não tenho dúvida alguma que todos nós somos muito influenciados pelas informações que nos chegam. Ao ser pedida minha opinião sobre o texto inicialmente apresentado, minha resposta era dizer: sou um misto de americano e italiano. Após ler seu comentário e assistido aos vídeos, vi que o que se propõe é mais profundo. Isto comprova a recomendação de que a internet, quando aborda de forma rápida e superficial um assunto, nos leva a um comentário superficial e muitas vezes inconsequente. Vou citar dois fatos acontecidos comigo: Um, quando criança e até muito jovem predominava a influência católica. Propalava-se que o comunismo era coisa do diabo, que todo comunista era um agente do mal. Essa crença me acompanhou por muito tempo. A propaganda norte-americana também ajudou nisso. Outro, Convivi aqui no Brasil com pessoas de origem japonesa. Por motivos particulares, numa determinada ocasião, resolvi ir para o Japão para lá ficar por alguns anos. As informações que tinha sobre os japoneses é que eram fechados, preconceituosos e de comportamento muito sério. Lá chegando e após algum tempo de convivência, constatei que eram pessoas sérias, levando muito a sério seus compromissos, tanto pessoal quanto de trabalho. Porém, em datas e locais de comemoração, se comportavam com alegria esfuziante, brincavam e procuravam envolver estrangeiros como eu e outros no espirito festivo, sem demonstrar qualquer preconceito. Constatei também que os Municípios, diferentes dos daqui, cuidavam muito do bem estar dos seus munícipes. Não era diferente em relação aos estrangeiros, pelo menos na região de Hiroshima onde eu estava. Procuravam ensinar a sua língua e transmitir seus costumes para ficarmos mais a vontade e mais participativos.

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