José J. de Espíndola*
Ricardo Boechat [1] comentou a patifaria da trinca anti-Lavajato da 2ª turma do STF (veja no vídeo abaixo). Apresentou também momentos do julgamento do habeas corpus de Dirceu. Naquela ocasião, o cruzado maior do movimento de soltura de arquibandidos, Gilmar Mendes, teve um ato falho quando demonstrou, além do que sempre demonstrara, o imenso ego que carrega. Disse o pavão supremo do STF: “Não podemos ter medo da opinião pública, ou não seríamos supremos”. Dá asco ver este indivíduo falar, tal a arrogância e boçalidade que emana de sua linguagem falada e corporal. Ele é a suprema arrogância!
Certa vez alguém me falou, em tom de absoluta reverência: “O Mendes tem doutorado na Alemanha”. Ora, vá dizer isto a quem passou a vida cuidando de pós-graduação, como eu.
Sim, Gilmar Mendes é doutor pela universidade alemã de Münster, ranqueada, em 2016, pelo Word University Rankings, em 161º lugar no mundo. Neste mesmo ranque a USP ocupa a 102ª posição, ou seja 59 pontos acima da universidade de Münster, de Mendes. Eu, se tivesse à minha frente um processo de pedido de bolsa (como tantas vezes ocorreu na minha vida) em Direito para Münster, recusaria. Recomendaria que pedisse bolsa para a USP, entre outras universidades brasileiras. Os custos, para o órgão de fomento, seriam bem menores. A qualidade do curso, a pensar-se no ranque acima referido, seria, em princípio, maior. Afinal, por que e para que se investe tanto em um ranque? Não será para este tipo de avaliação?
É aí que reside o (velho) truque: faz-se o doutoramento em um grande e reputado país, mas numa universidade de baixa reputação de qualidade. As pessoas comuns não sabem que (todos) os países centrais possuem excelentes, boas e ruins universidades. A ideia geral é a de colar a reputação científica, tecnológica e cultural de um país em todas as suas universidades. Ledo engano. Mas vem daí a velha tentação, tão cara neste país, de se seguir uma linha de clivagem, para depois tentar parecer que se pastou do mesmo pasto duro daqueles que frequentaram as excelentes e mais rigorosas universidades. Isto funciona para iludir as pessoas comuns, mas não para quem liderou a criação do curso de pós-graduação em Engenharia Mecânica da UFSC e foi coordenador das Engenharias III, da Capes. A mim este senhor nunca impressionou.
Boechat também explica o que tem escapado a muitos: enquanto a Lavajato se limitava a pegar corruptos do PT e figurões de empresas públicas e privadas, Mendes não se incomodou. No mensalão, aliás, bateu duro nos corruptos do PT, então defendidos por Lewandowski e Toffoli. Na época estavam Mendes de um lado e Lewandowski e Toffoli na trincheira oposta, a trincheira do PT no Supremo. Mas foi só a Lavajato começar a atingir indistintamente figurões do PMDB e, principalmente, do PSDB de FHC, a quem Mendes servira como chefe da AGU, que este se levantou. Levantou-se trêfego e raivoso e começou a vociferar contra (aliás, vociferar em frente as câmeras é seu prazer predileto, que o digam o seu hoje aliado Lewandowski e o ministro Marco Aurélio) o juiz Sérgio Moro, a Força Tarefa da Lavajato, o MPF e a ameaçar com “encontros contra as prisões prolongadas” de megacorruptos, coitadinhos. E quando Mendes vocifera, o seu melhor argumento não é jurídico: é argumentum ad hominem. Neste tipo de argumento, o que se faz é fugir da questão de fundo a atacar quem argumenta em contrário. Exemplo, Mendes, no julgamento que soltou Dirceu, chamou os procuradores da Lavajato de “inexperientes e infantis”. Isto não é argumento que um juiz, qualquer juiz, possa usar na questão em tela. Não há substância jurídica nisso. Argumentum ad hominem é o último recurso do fracassado. É o último refúgio do cretino.
Nesta cruzada anti-Lavajato, as trincheiras que no mensalão estavam separadas, no ataque à Lavajato elas se uniram e Mendes, Lewandowski e Toffoli formam, hoje, uma trinca aguerrida.
No mesmo diapasão de Boechat, a ministra aposentada do STJ, Eliana Calmon [2], afirma, em entrevista à Folha de São Paulo de 16/04/2017: “A Lava Jato pegará o Poder Judiciário num segundo momento.” Estará nesta certeza a razão da fúria demolitória da trinca anti-Lavajato da 2ª turma do STF? Será que Mendes e seus colegas da trinca têm a mesma visão e agem de forma corporativa e preditiva, atirando da mesma trincheira? São perguntas que defluem do novo comportamento de Mendes e, como se sabe, perguntar não é crime.
E não adianta a grande e ‘politicamente correta’ imprensa escrita e televisiva vender a falácia de que a soltura de arquiladrões não prejudica a Lavajato. Prejudica e muito, como Deltan Dallagnol - quem realmente entende de investigação de crimes de colarinho branco, e não Mendes – explica, em nota do MPF: “A liberdade do réu acarreta sérios riscos para a sociedade em razão da gravidade dos crimes, da reiteração delitiva e da influência do réu no ambiente político-partidário, lembrando que o imenso esquema identificado pela Lava Jato tem atuação em diferentes níveis da federação. Este é um caso extremo. Dirceu já foi condenado por dezenas de atos de corrupção e lavagem entre 2007 e 2013, somando mais de 17 milhões de reais. Muitos crimes foram realizados durante o próprio julgamento do Mensalão, o que é um acinte à Justiça. Outra prova da necessidade da prisão é que parte dos delitos só parou com a prisão, em outubro de 2014, de um empresário que lhe repassava propinas. Há ainda investigações sobre vários repasses por outras empresas e empreiteiras controladas por pessoas sob investigação e em liberdade. Além disso, há recursos desviados que ainda não foram localizados e um delator chegou a dizer que teve orientação de Dirceu para deixar o país durante o Mensalão, o que traz outra ordem de preocupações com a recuperação dos ativos e a integridade da instrução do processo".
Antonio Palocci, que de burro nada tem, dispensou, após a soltura de Dirceu, o advogado que recentemente contratara para conduzir sua delação premiada. O que viu Palocci com a soltura de Dirceu que o fez dispensar seu advogado, ou seja, desistir – por um tempo, pelo menos – da delação premiada, aquela que se anunciava como a delação mãe de todas as bombas, que não deixaria pedra sobre pedra do alto estamento político do PT, PMDB e PSDB? Para quem não é cego do tipo que não quer ver, Palocci viu, na trinca anti-Lavajato, a oportunidade de ouro de escapar da cana sem ter que desfazer-se de sua imensa fortuna ilícita e sem ter de confrontar velhos companheiros de partido e de traficâncias.
By the way, e para terminar: se Gilmar é tão competente, como parece acreditar que seja, e gosta tanto de ser magistrado, como tem demonstrado, por que nunca antes fez concurso para juiz de Direito? Medo do mesmo ‘sucesso’ que tive Dias Toffoli, seu hoje companheiro de trincheira na cruzada pró-soltura de corruptos?
Não fez tal concurso, mas quando apadrinhado por FHC, agarrou-se com unhas e dentes à oportunidade de tornar-se “supremo”. Ui!
REFERÊNCIAS
1. https://youtu.be/-4OA5RdZvrs
2. https://youtu.be/X6zrk8DUXkI
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* José J. de Espíndola é Engenheiro Mecânico pela UFRGS, Mestre em Ciências em Engenharia pela PUC-Rio, Doutor (Ph.D.) pela Universidade de Southampton, Inglaterra, Doutor Honoris Causa da UFPR, Membro Emérito do Comitê de Dinâmica da ABCM, Professor Titular da UFSC, Departamento de Engenharia Mecânica, aposentado.
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Veja agora os dois vídeos referidos acima.
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Ricardo Boechat [1] comentou a patifaria da trinca anti-Lavajato da 2ª turma do STF (veja no vídeo abaixo). Apresentou também momentos do julgamento do habeas corpus de Dirceu. Naquela ocasião, o cruzado maior do movimento de soltura de arquibandidos, Gilmar Mendes, teve um ato falho quando demonstrou, além do que sempre demonstrara, o imenso ego que carrega. Disse o pavão supremo do STF: “Não podemos ter medo da opinião pública, ou não seríamos supremos”. Dá asco ver este indivíduo falar, tal a arrogância e boçalidade que emana de sua linguagem falada e corporal. Ele é a suprema arrogância!
Certa vez alguém me falou, em tom de absoluta reverência: “O Mendes tem doutorado na Alemanha”. Ora, vá dizer isto a quem passou a vida cuidando de pós-graduação, como eu.
Sim, Gilmar Mendes é doutor pela universidade alemã de Münster, ranqueada, em 2016, pelo Word University Rankings, em 161º lugar no mundo. Neste mesmo ranque a USP ocupa a 102ª posição, ou seja 59 pontos acima da universidade de Münster, de Mendes. Eu, se tivesse à minha frente um processo de pedido de bolsa (como tantas vezes ocorreu na minha vida) em Direito para Münster, recusaria. Recomendaria que pedisse bolsa para a USP, entre outras universidades brasileiras. Os custos, para o órgão de fomento, seriam bem menores. A qualidade do curso, a pensar-se no ranque acima referido, seria, em princípio, maior. Afinal, por que e para que se investe tanto em um ranque? Não será para este tipo de avaliação?
É aí que reside o (velho) truque: faz-se o doutoramento em um grande e reputado país, mas numa universidade de baixa reputação de qualidade. As pessoas comuns não sabem que (todos) os países centrais possuem excelentes, boas e ruins universidades. A ideia geral é a de colar a reputação científica, tecnológica e cultural de um país em todas as suas universidades. Ledo engano. Mas vem daí a velha tentação, tão cara neste país, de se seguir uma linha de clivagem, para depois tentar parecer que se pastou do mesmo pasto duro daqueles que frequentaram as excelentes e mais rigorosas universidades. Isto funciona para iludir as pessoas comuns, mas não para quem liderou a criação do curso de pós-graduação em Engenharia Mecânica da UFSC e foi coordenador das Engenharias III, da Capes. A mim este senhor nunca impressionou.
Boechat também explica o que tem escapado a muitos: enquanto a Lavajato se limitava a pegar corruptos do PT e figurões de empresas públicas e privadas, Mendes não se incomodou. No mensalão, aliás, bateu duro nos corruptos do PT, então defendidos por Lewandowski e Toffoli. Na época estavam Mendes de um lado e Lewandowski e Toffoli na trincheira oposta, a trincheira do PT no Supremo. Mas foi só a Lavajato começar a atingir indistintamente figurões do PMDB e, principalmente, do PSDB de FHC, a quem Mendes servira como chefe da AGU, que este se levantou. Levantou-se trêfego e raivoso e começou a vociferar contra (aliás, vociferar em frente as câmeras é seu prazer predileto, que o digam o seu hoje aliado Lewandowski e o ministro Marco Aurélio) o juiz Sérgio Moro, a Força Tarefa da Lavajato, o MPF e a ameaçar com “encontros contra as prisões prolongadas” de megacorruptos, coitadinhos. E quando Mendes vocifera, o seu melhor argumento não é jurídico: é argumentum ad hominem. Neste tipo de argumento, o que se faz é fugir da questão de fundo a atacar quem argumenta em contrário. Exemplo, Mendes, no julgamento que soltou Dirceu, chamou os procuradores da Lavajato de “inexperientes e infantis”. Isto não é argumento que um juiz, qualquer juiz, possa usar na questão em tela. Não há substância jurídica nisso. Argumentum ad hominem é o último recurso do fracassado. É o último refúgio do cretino.
Nesta cruzada anti-Lavajato, as trincheiras que no mensalão estavam separadas, no ataque à Lavajato elas se uniram e Mendes, Lewandowski e Toffoli formam, hoje, uma trinca aguerrida.
No mesmo diapasão de Boechat, a ministra aposentada do STJ, Eliana Calmon [2], afirma, em entrevista à Folha de São Paulo de 16/04/2017: “A Lava Jato pegará o Poder Judiciário num segundo momento.” Estará nesta certeza a razão da fúria demolitória da trinca anti-Lavajato da 2ª turma do STF? Será que Mendes e seus colegas da trinca têm a mesma visão e agem de forma corporativa e preditiva, atirando da mesma trincheira? São perguntas que defluem do novo comportamento de Mendes e, como se sabe, perguntar não é crime.
E não adianta a grande e ‘politicamente correta’ imprensa escrita e televisiva vender a falácia de que a soltura de arquiladrões não prejudica a Lavajato. Prejudica e muito, como Deltan Dallagnol - quem realmente entende de investigação de crimes de colarinho branco, e não Mendes – explica, em nota do MPF: “A liberdade do réu acarreta sérios riscos para a sociedade em razão da gravidade dos crimes, da reiteração delitiva e da influência do réu no ambiente político-partidário, lembrando que o imenso esquema identificado pela Lava Jato tem atuação em diferentes níveis da federação. Este é um caso extremo. Dirceu já foi condenado por dezenas de atos de corrupção e lavagem entre 2007 e 2013, somando mais de 17 milhões de reais. Muitos crimes foram realizados durante o próprio julgamento do Mensalão, o que é um acinte à Justiça. Outra prova da necessidade da prisão é que parte dos delitos só parou com a prisão, em outubro de 2014, de um empresário que lhe repassava propinas. Há ainda investigações sobre vários repasses por outras empresas e empreiteiras controladas por pessoas sob investigação e em liberdade. Além disso, há recursos desviados que ainda não foram localizados e um delator chegou a dizer que teve orientação de Dirceu para deixar o país durante o Mensalão, o que traz outra ordem de preocupações com a recuperação dos ativos e a integridade da instrução do processo".
Antonio Palocci, que de burro nada tem, dispensou, após a soltura de Dirceu, o advogado que recentemente contratara para conduzir sua delação premiada. O que viu Palocci com a soltura de Dirceu que o fez dispensar seu advogado, ou seja, desistir – por um tempo, pelo menos – da delação premiada, aquela que se anunciava como a delação mãe de todas as bombas, que não deixaria pedra sobre pedra do alto estamento político do PT, PMDB e PSDB? Para quem não é cego do tipo que não quer ver, Palocci viu, na trinca anti-Lavajato, a oportunidade de ouro de escapar da cana sem ter que desfazer-se de sua imensa fortuna ilícita e sem ter de confrontar velhos companheiros de partido e de traficâncias.
By the way, e para terminar: se Gilmar é tão competente, como parece acreditar que seja, e gosta tanto de ser magistrado, como tem demonstrado, por que nunca antes fez concurso para juiz de Direito? Medo do mesmo ‘sucesso’ que tive Dias Toffoli, seu hoje companheiro de trincheira na cruzada pró-soltura de corruptos?
Não fez tal concurso, mas quando apadrinhado por FHC, agarrou-se com unhas e dentes à oportunidade de tornar-se “supremo”. Ui!
REFERÊNCIAS
1. https://youtu.be/-4OA5RdZvrs
2. https://youtu.be/X6zrk8DUXkI
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* José J. de Espíndola é Engenheiro Mecânico pela UFRGS, Mestre em Ciências em Engenharia pela PUC-Rio, Doutor (Ph.D.) pela Universidade de Southampton, Inglaterra, Doutor Honoris Causa da UFPR, Membro Emérito do Comitê de Dinâmica da ABCM, Professor Titular da UFSC, Departamento de Engenharia Mecânica, aposentado.
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Veja agora os dois vídeos referidos acima.
Boechat - "Cusparada na cara da Sociedade - Vergonhoso STF reduzido a mera Facção Partidária"
Supremos? Gilmar Mendes não se toca?!
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DATENA ENTREVISTA MINISTRA DO STJ APOSENTADA ELIANA CALMON
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Nota: como o vídeo acima foi retirado do Youtube, veja este outro de 13 de março de 2018, também com a ministra Eliana Calmon:
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O senhor que fala no próximo vídeo, imediatamente abaixo, já foi promotor e é juiz de Direito aposentado. Sabe o diz.
É ele quem fala sobre a necessidade de impeachment de Gilmar Mendes.
Concordo plenamente, mas não paro em Mendes. Lewandowski, o fatiador da Constituição em favor de Dilma, também há de sofrer impeachment.
No vídeo abaixo, fala-se de viagem de favor de Mendes no avião presidencial. A imprensa publicou, ele não tinha agenda oficial ligada à do presidente da República. Segundo a imprensa, ele “pegou uma carona” no avião presidencial. Uma vergonha!
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Como este vídeo também foi retirado do Youtube, coloquei aqui este outro:
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