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segunda-feira, 1 de maio de 2017

A história do Dia do Trabalhador

Por Almir Quites


Conforme prometi na postagem de ontem, conto resumidamente, aqui, a história do feriado de 1° de maio. 


As celebrações de 1º de maio já tiveram dois significados aparentemente contraditórios. Antigamente, o 1° de maio era conhecido pelos "maypoles". Um "maypole" é um poste de madeira usado em festivais populares europeus, em torno do qual o povo dançava, em meio a muitas flores, para recepcionar a primavera. Era um dia de alegria, piqueniques e de crianças brincando junto com os pais. Posteriormente, passou a ser um dia de manifestações de solidariedade aos trabalhadores e de protestos dos trabalhadores. 

O dia 1° de maio situa-se no meio da primavera, um dia que guarda equidistância entre o inverno e o verão. Até 1929, era um dia dedicado à felicidade, mas, com a ascensão do socialismo e do comunismo, passou a ser um dia para discursos, desfiles, piquetes, bombas, tijoladas e violência. O dia que era comemorado com alegria passou a ser um dia de tensão política e de confrontos violentos. Como foi que isto aconteceu?

É o que passo a contar.

Em 1°de maio de 1886, cerca de 200 mil trabalhadores norte-americanos fizeram uma greve nacional por um dia. No entanto, este movimento grevista transformou-se em algo bem mais importante do que uma greve. 

Naquele dia, Chicago (e outras cidades) foi abalada por uma grande manifestação sindical em apoio à redução da jornada de trabalho para oito horas. Os protestos de Chicago foram planejados para uma duração de vários dias. Em 3 de maio, uma greve na fábrica McCormick Reaper tornou-se violenta. No dia seguinte, o comício na Praça Haymarket transformou-se num confronto ainda mais violento. Veja como a TIME resumiu isso um artigo de 1938:
"Poucos minutos depois das dez horas da noite de 4 de maio de 1886, uma tempestade irrompeu em Chicago. Quando as primeiras gotas de chuva caíram, uma multidão na Praça Haymarket, no distrito da empacotadora, começou o quebra-quebra. Às oito horas já havia três mil pessoas, ouvindo os anarquistas denunciar a brutalidade da polícia e exigir o dia de oito horas, mas, às dez horas, havia apenas algumas centenas. O prefeito, que esperara com ansiedade, voltou para casa e foi para a cama. O último orador estava terminando sua palestra quando um contingente de 180 policiais marchou da estação, a um quarteirão de distância, para suprimir o que restara da reunião. Eles pararam a uma curta distância do vagão do orador. Quando o capitão ordenou aos manifestantes que se dispersassem, o orador bradou que se tratava de uma manifestação pacífica. Uma bomba explodiu nas fileiras da polícia e feriu 67 policiais, dos quais sete morreram. A polícia abriu fogo, matando vários homens e ferindo 200 e a Haymarket Tragedy tornou-se uma parte da história dos Estados Unidos".

Três anos mais tarde, no dia 20 de junho de 1889, a Segunda Internacional Socialista, reunida em Paris, decidiu convocar anualmente uma manifestação com o objetivo de lutar pela jornada de 8 horas de trabalho. A data escolhida foi o primeiro dia de maio, como homenagem às lutas sindicais de Chicago. Em 1º de maio de 1891, uma manifestação, no norte de França foi dispersada pela polícia, resultando na morte de dez manifestantes. Esse novo drama serviu para reforçar o significado da data como um dia de luta dos trabalhadores. Meses depois, a Internacional Socialista de Bruxelas proclamou esse dia como dia internacional de reivindicação de condições laborais. Em 23 de abril de 1919, o senado francês ratificou a jornada de 8 horas e proclamou feriado o dia 1º de maio daquele ano. Em 1920, a União Soviética também adotou o 1º de maio como feriado nacional. O dia foi comemorado na Suécia, pela primeira vez, em 1890, com manifestações e desfiles em 21 cidades.

No Brasil, com a chegada de imigrantes europeus, vieram também as ideais de luta pelos direitos dos trabalhadores. Em 1925, com o crescimento do operariado, o dia 1º de maio foi declarado feriado pelo presidente Artur Bernardes. Na Era Vargas (1930–1945), as agremiações de trabalhadores fabris eram bastante comuns. O movimento operário, tipicamente anarquista e, mais tarde, em grande parte cooptado pelo comunismo, foi transformado no que o ditador Getúlio Vargas chamou de trabalhismo. Então, o 1º de maio, até então caracterizado por piquetes e passeatas, passou a ser comemorado com festas populares e desfiles promovidos pelo próprio governo. O dia passou a ser chamado de Dia do Trabalho, o que associava a data ao Getulismo (Getulismo, ou Varguismo, significa culto à personalidade de Vargas). Getúlio era chamado de "o pai dos pobres", expressão getulista  propalada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP. Getúlio sempre começava seus discursos diários na "Voz Do Brasil" (programa de rádio que existe até hoje) com a seguinte exortação: "Trabalhadoooores do Brasil!".

O dia 1 de maio passou a ser um feriado internacional, hoje conhecido em muitos lugares como Dia Internacional dos Trabalhadores.

Nos Estados Unidos, esse feriado foi abandonado devido ao desprezo provocado pelo fervor anticomunista durante a Guerra Fria. Em julho de 1958, o presidente Eisenhower assinou uma resolução que fez de 1° de maio o "Dia da Lealdade", em uma tentativa de evitar qualquer sinal de solidariedade com os "trabalhadores do mundo" no dia de maio. A resolução declarou que seria "um dia especial para a reafirmação da lealdade aos Estados Unidos da América e para o reconhecimento do patrimônio da liberdade americana".

Atualmente os Estados Unidos da América (EUA) comemoram o Dia dos Trabalhadores oficialmente em setembro, quase todos os demais países fazem esta comemoração no dia 1° de maio. Apenas mais três países, além dos Estados Unidos, comemoram o Dia do Trabalhador em outra data: Austrália e Canadá e Nova Zelândia.


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