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quinta-feira, 23 de março de 2017

Nós e a ciência

Por Almir Quites - 15/01/2017


Um ser vivo é um conjunto organizado de matérias que se comunicam e se relacionam internamente e com o ambiente, de modo que atuam por si mesmos, sem perder sua organização estrutural, até a sua morte. Todo o ser vivo sente a si próprio e sente o meio ambiente.

Esta definição vale para qualquer composição molecular, portanto abrange os organismos formados pelas biomoléculas (cujos principais elementos são o carbono, o hidrogênio, o oxigênio e o nitrogênio), mas não se limita a estes. 

Adoto a concepção de Norbert Wiener: qualquer sistema é um ser vivo enquanto mantem a predominância da sua entropia negativa. 

Cada ser vivo é hóspede e também hospeda outros organismos vivos.


— "Oi! Eu sou uma larvinha aquática com 0,3 mm de altura! Veja como sou bonita aí na imagem!"

— "Olá, sou uma larva aquática.
Nesta imagem fui aumentada cerca de
500X para que você possa me ver.
Tem gente milhares de vezes menor que
eu! Também sou o centro do universo".

Todo ser vivo pensa que é o centro do universo. Tudo é visto da perspectiva do "Eu". "Eu aqui", "você aí" e "ele lá". "Eu" é o único ser que habita o "aqui". Nós humanos, por exemplo, quando nos referimos ao “aqui” estamos dizendo que todas as outras coisas estão "", só nós estamos "aqui". "Aqui" é o centro do universo para cada um de nós. Logo, há tantos centros de universo quanto seres vivos.Todas os outros seres e todas as outras coisas estão "lá".

— "Oi! Eu sou a Miosina e tenho um poco menos que 1,5 mícrons de altura! Um mícron é mil vezes menor que um milímetro ( 1µ = 1mm/1000). Veja, na imagem, como trabalho!
— "Sou a Miosina levando endorfina
sobre um filamento neural na parte
interior do córtex parietal esquerdo do cérebro.
Sou eu quem produz a sua felicidade." 

Cada ser vivo pensa que é o centro do universo, durante todo o tempo, mas ele não tem presente nem futuro. Só tem passado, porque tem memória por algum tempo. O futuro é uma abstração, é o que há de vir, seja o que for. Se alguém disser a palavra "agora", nos nanosegundos que leva para pensar no "agora" já o terá no passado. Por isso se diz "agora mesmo", ou seja, apesar de já ter ido para o passado. Todo o seu presente já é passado, da mesma forma que a estrela que você vê no céu, cuja luz que você vê já foi emitida há muitos anos-luz. Você só vê o passado. O tempo é um enigma.


Mesmo assim, pode-se prever o futuro. Nosso cérebro é habilidoso para descobrir repetições e criar padrões para saber prever os acontecimentos. Estes padrões são perigosos quando são aceitos como crenças, como infalíveis, porque nosso cérebro erra e muito, tanto nas pequenas coisas, tal qual os "'bugs' do cérebro", como nas grandes coisas, como as da cosmologia. 

Acreditamos que "o sol nasce todos os dias"!  No entanto, cada novo dia é o próprio nascer do sol. É o mesmo que dizer que "o sol nasce ao amanhecer". Trata-se de um pleonasmo vicioso, uma tautologia. Além disso, o sol não nasce. A Terra gira em torno de si mesma, dando-nos a impressão de que o sol está nascendo embora ele esteja parado. No entanto, até isso é relativo! O sol não está parado, mas se move em longas voltas pela Via Láctea, a maravilhosa galáxia espiral da qual o Sistema Solar faz parte. 

Veja o seguinte vídeo. Ele mostra como seu cérebro faz interpretações erradas.

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Mesmo que se tenha certeza de algo, sempre é conveniente fazer a experiência de ver a mesma coisa por outros ângulos. Testar, experimentar e se certificar que tudo se encaixa é o fundamento da Ciência.


O cérebro só é capaz de produzir hipóteses! Ele se desenvolveu para tirar conclusões apressadas, porque era disso que precisávamos para sobreviver num mundo extremamente hostil. Até sobre as grandes questões filosóficas o cérebro costuma tirar conclusões apressadas. É por isso que precisamos aprender a sempre revisar cuidadosamente os nossos conceitos, em especial as nossas crenças. 

Atualmente, principalmente nos países subdesenvolvidos, há muitíssimas pessoas que acreditam que a Bíblia é a palavra de Deus, portanto o que lá está é, para elas, a mais pura verdade. Engano! 

Segundo Gênisis 1:16, "Deus fez os dois grandes luminares: o luminar maior, para governar o dia, e o luminar menor, para governar a noite; fez também as estrelas". Observem bem o que está neste texto! Um poderoso Deus, com características humanas (à nossa imagem e semelhança), fez o universo assim:
  •  primeiro, fez a Terra, a coisa mais importante do universo; 
  •  depois, fez o Sol e a Lua, só para iluminar a Terra; 
  •  finalmente, já quase ia esquecendo, Deus fez as estrelas. 
Conclui-se que, segundo a Bíblia, é assim: 
  1. a Terra foi feita especialmente para os humanos e é plana; 
  2. o Sol não é uma estrela como as outras 6x1016, muitas até bem maiores que ele;  
  3. não há outros planetas e tampouco outras luas; e
  4. também não há os 2 trilhões de galáxias.
A população mundial ainda é muito atrasada! Os malandros e os poderosos se aproveitam disso. Daí decorrem discriminações injustas e guerras, que são apenas a macabra ponta do "iceberg". Por isso, os que "falam em nome de Deus" proliferam e enriquecem. Por isso, há tanto político populista, demagogo, mentiroso e corrupto.

Coloque na busca do Google a expressão "Terra plana" e você se surpreenderá com a quantidade de gente que ainda acredita que a Terra é plana e quer convencer os outros disto. Se a Terra fosse plana, o céu não ficaria vermelho no amanhecer e no entardecer. 

Milhões de pessoas já deram a volta ao mundo! Todos eles podem confirmar que a Terra é (quase) esférica. Todos os dias há gente dando a volta ao mundo! Como discutir isto ainda hoje, com tantos satélites orbitando e fotografando a Terra e enviando dados para GPSs em todo o mundo. Só loucos!


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O próprio ex-Presidente Lula não entende o que é o planeta Terra e sua atmosfera, como ficou bem claro em uma de suas palestras. Você pode ver o vídeo no final do artigo LULA LÁ (aqui está: http://almirquites.blogspot.com.br/2016/05/lula-la.html). Ficou muito claro que o ex-Presidente do Brasil não sabe muito bem o que é o mundo!

Há muitos outros exemplos de erros que o nosso cérebro comete. O céu não é azul. Esta cor é apenas o efeito provocado pela atmosfera da terra. O céu é negro, ou seja, não tem cor. "Para cima” não é uma direção e sentido únicos, depende da direção do campo gravitacional. Se fosse um único sentido e direção, então, como a Terra é redonda, ou nós ou os japoneses estaríamos de cabeça para baixo. Se todos nós, humanos, quiséssemos subir direto para o céu, todos nós iríamos em diferentes direções e nos afastaríamos infinitamente!

Quando os erros de avaliação do nosso cérebro atendem a conveniências pessoais, podem enraizar como crenças, como fé ou fanatismo. Crenças são uma maneira de explicar o universo por adesão pessoal a significados que são atribuídos aos fenômenos observados, conferindo-lhes poderes, qualidades, sentimentos, emoções etc. Crenças requerem aceitação e compromisso. Elas podem criar profundas raízes no nosso íntimo. Crenças religiosas são construções pessoais e íntimas, também decorrentes de adesões. As declarações e proposições que delas derivam precisam ser aceitas por seu valor intrínseco ainda que não possam ser demonstradas.

Ao contrário, a Ciência se assenta na racionalidade, portanto é fruto da lógica, o que a distingue da intuição, da sensação, da conveniência, da utilidade, do fascínio, emoção ou crença. A racionalidade se desenvolve por meio da habilidade de observar, contar, medir, ordenar, organizar, classificar, explicar, experimentar, observar e repetir este ciclo inúmeras vezes de modo a encaixar, cada vez melhor, o conhecimento adquirido em todo o arcabouço do conhecimento já existente. Existem instituições internacionais e nacionais que controlam este processo de modo a garantir o juízo, o discernimento, o bom senso, a ponderação, a sensatez, lucidez, circunspecção, prudência etc., para que toda a discordância entre as teorias e os fatos reais ensejem o aperfeiçoamento do conhecimento. Trata-se, portanto de um trabalho árduo, no entanto, muito compensador para a humanidade. Quanto mais evoluído for um país, mais a ciência estará institucionalizada e, portanto, mais eficazmente defendida dos assédios da irracionalidade.

A irracionalidade é a insubmissão à razão. Um indivíduo irracional voa livre na fantasia e não percebe suas incoerências, seja por desconhecimento, desinteresse ou mesmo aversão. O mundo irracional pode ser assombrado, como na superstição, no misticismo.

É por isso que a ciência é fundamental.

A ciência é um sistema de conhecimento sobre as características essenciais, relações causais e as leis da natureza, o qual é fixado na forma de conceitos, categorias, leis e teorias, todos sistematicamente quantificados e encaixados no sistema lógico mais elementar que o nosso cérebro produziu ao longo de, pelo menos 1.000.000.000 de anos (1 bilhão). Este sistema lógico elementar está traduzido para um sistema operacional simbólico chamado de Matemática.

Muitíssimas experiências são feitas para se descobrir "singularidades" nesta estrutura lógica. A palavra singularidade, neste texto, expressa a região de transição entre dois "domínios" das teorias existentes, onde elas deixam de valer e entram em conflito com outras teorias já encaixadas na lógica do sistema científico. É o tectonismo científico. Muito tempo e recursos são dispendidos para resolver estas "singularidades" e, quando se consegue, resulta um grande avanço na ciência.

Todo este enorme esforço, penosamente organizado e fiscalizado, ainda está sujeito a erros. O compromisso mais sagrado do cientista é reconhecer que tudo o que a ciência produz é apenas um conjunto de hipóteses e não de verdades absolutas. Não existe verdade absoluta! Toda a teoria científica deve ser contestada. O mais importante é encontrar erros para aperfeiçoar todo o arcabouço do conhecimento e assim mantê-lo em permanente evolução. Portanto a ciência abomina o dogma e a fé, exige o permanente ceticismo, a busca do erro para refutar qualquer hipótese. Errar é humano, permanecer no erro é loucura.

A ciência, sendo um metódico processo intersubjetivamente compreensível de experimentação e conhecimento, produz compreensão e competências fundamentadas, ordenadas e confiáveis. Metodicamente identifica e organiza os conhecimentos para que sejam comunicáveis e verificáveis por critérios rigorosamente estabelecidos.

No entanto, como nada que é humano é perfeito, há muita divulgação de "teorias" que se apresentam como científicas, mas não são! As pessoas são enganadas ou se auto-enganam. Estas "teorias" geralmente usam termos científicos apenas para enganar o povo, porque o real objetivo é convencer o maior número possível de pessoas a respeito de crenças que são do interesse de quem as divulga. São as pseudociências (as falsas ciências) e as pseudosofias (as falsas sabedorias, como a dos adivinhos, gurus e profetas), que infelizmente conseguem penetrar até nas universidades, principalmente naquelas que não estão maduras para fazer ciência. 

Karl Popper, considerado como o filósofo mais influente do século XX, propôs o mais simples critério para distinguir ciência de não ciência: o critério da refutabilidade. A ciência deseja ser refutada, enquanto que as pseudociências e as pseudosofias consideram que as refutações são ofensas.

As pseudociências e as pseudosofias são fraudes. São conjuntos de crenças ou afirmações sobre o mundo ou a realidade, que são criminosa ou equivocadamente apresentadas como tendo base ou estatuto científico, mas que partem de premissas falsas e/ou que não usam métodos rigorosos de pesquisa. Para ver uma extensa lista de exemplos de pseudociências acesse aqui: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_t%C3%B3picos_considerados_pseudoci%C3%AAncias

Sobre como tudo isso nos afeta, continue lendo aqui:
PSEUDOCIÊNCIAS, SUPERTIÇÔES E IDEOLOGIAS SÃO PERNICIOSAS
http://almirquites.blogspot.com.br/2014/07/pseudociencias-supersticoes-e.html

Também aqui:

1) SE VOCÊ TEM FÉ, CUIDADO!
http://almirquites.blogspot.com.br/2016/09/se-voce-tem-fecuidado.html
2) A INTOELERÂNCIA DA FÉ
http://almirquites.blogspot.com.br/2016/05/a-intolerancia-da-fe.html

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