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quarta-feira, 16 de julho de 2014

DEBATE DE UM IDOSO COM UM JOVEM

15/07/2014
Jovem amigo

Que bom que me respondeste. Três gerações nos separam. Há uma enorme diferença entre nossos modos de pensar, tanto que vale a pena uma resposta bem sincera ainda que eu tenha que me alongar. 

Vamos por partes.

Escreveste (1): "Todo o texto à seguir foi escrito a partir da visão é de um jovem recém formado no ensino médio e que cursa o primeiro semestre de uma Universidade Federal".

Respondo (1): Sei disso e fico contente que tenhas isto bem presente na mente. Estás começando agora e tens muito que aprender. Portanto, é hora de manter a mente escancarada ao invés de dogmaticamente fechada. Em outras palavras, só há evolução possível quando se preza o contraditório. Aproveita para manter a mente livre, caso contrário perderás as mais valiosas chances de evoluir. Cérebros endógenos se reproduzem, mas não evoluem. Sofrer evolução é transformar-se, atualizar-se quanto a idéias ou convicções. É não parar, encalhar. Portanto, defende-te da doutrinação. Exige sempre as explicações e as evidências; valoriza o contraditório.

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Escreveste (2): "Não acredito que haja alguma forma de “doutrinação” política em nossas escolas e nas universidades. Não somos imparciais, cada um de nós tem uma visão política e o direito de defendê-la, ou pelo menos é o que afirma nossa constituição. No colégio em que estudei, por parte dos professores que tive, muitos evitavam discutir questões polêmicas em sala de aula, mas através de comentários informais, deixavam suas posições explícitas. Já outros, desde o início sempre declararam abertamente sua preferência política e deixavam os debates em sala de aula acontecer como um processo natural do aprendizado, e nesses casos, jamais os vi defender algum partido político."

Respondo (2): No meu tempo de ginásio, os professores sabiam que deviam tratar, em sala de aula, apenas dos temas que faziam parte do programa da disciplina. Assim era também na UFSC, onde fui professor a partir de 1964. O professor não pode, não deve, estar a serviço de facções políticas ou religiosas. Quando o programa incluía sociologia, antropologia, política e outras disciplinas que tais, então abordavam com igual empenho as diversas ideologias e sistemas organizacionais existentes, sem tentar influenciar o aluno, nem mesmo disfarçadamente. A posição pessoal do professor não devia importar. O que professor devia ter é honestidade pessoal! Ensino não deve ser confundido com doutrinação. Ao contrário, o ensino deve capacitar o aluno a reconhecer a doutrinação e a defender-se dela. São muitas as denúncias de doutrinação política nas escolas públicas. Isso revela o fracasso do sistema educacional brasileiro. A universidade deveria assumir claramente o combate à doutrinação, com fundamento nos valores humanos (Declaração da ONU) como a integridade moral e física e a liberdade pessoal, civil e política. A vítima da doutrinação passa a vida toda dirigindo o cérebro cuidadosamente para o que não desfaça as suas convicções ou para reinterpretar o que não pode ser evitado. Isto dá muito trabalho! Em geral, uma vez doutrinada, é muito difícil que a vítima consiga se libertar. No meu tempo isto era muito claro. Meus professores tinham extremo cuidado em manter o assunto de sala de aula sempre dentro do programa da disciplina. Estudei num colégio (Cruzeiro do Sul, POA) presbiteriano e tinha uma aula de religião semanalmente. Nesta aula, estudávamos todas as religiões mais importantes do mundo, inclusive a não-religião, ou seja, o ateísmo. Nunca me senti sendo doutrinado. Talvez, meu colégio fosse exceção, mas percebo que hoje a doutrinação é escancarada na escola brasileira, até tida como normal. A verdade, a honestidade, a solidariedade, a competência e a cultura são mais importantes que qualquer ideologia.


Explicaste - item (2):  Voltei atrás em relação a minha opinião anterior. Concordo com tudo o que tu afirmaste em relação à imparcialidade dos professores durante a aula. Há professores doutrinadores, sim, mas não há uma doutrina específica a ser propagada. Já tive aula com professorxs comunistas, professorxs liberais, professorxs machistas, professorxs feministas, professorxs evangélicos, professorxs ateus, e todxs, de alguma maneira, deixaram transparecer suas posições durante a aula, o que não deveria ter acontecido.
Obs: usei os “x” para não designar gênero.


Comentei - item 2: Bem criativo este “x”. Interessante, mas em português o masculino inclui o neutro de outros idiomas. O feminino, este sim, é especial e só aplicável a elas.

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Escreveste (3): "Quando se fala em doutrinação, entende-se de que há uma ideologia dominante sendo propagada por alguém (nesse caso os professores). Não acredito que isso exista porque, pelo menos na minha antiga escola e no cursinho pré-vestibular que frequentei, os próprios professores divergiam entre si quanto as suas posições políticas. Acredito que é totalmente benéfico para a democracia termos a liberdade de defender nossas posições ideológicas diante de colegas e professores".

Respondo (3): Claro que "liberdade de defender nossas posições ideológicas" é saudável. Não é isto que condeno, mas a doutrinação ideológica. Disseste que não acreditas que haja doutrinação na escola. Parece que estás sendo ingênuo. Doutrinação existe! É o mesmo que não acreditar que um pastor religioso, ou um padre, faça doutrinação. Tudo o que os partidos políticos e seus militantes fazem é doutrinação, inclusive gastam muito dinheiro com isso. Os países comunistas e socialistas, especialmente, sempre se empenham intensamente no que eles chamam de "politização" na educação. O governo brasileiro, desde que o PT o assumiu, tem se empenhado nisso. Há cerca de 94 anos, precisamente a 2 de outubro de 1920, Lênin pronunciou um discurso sobre a importância da educação popular no III Congresso da União da Juventude Comunista da Rússia. Era pura apologia da doutrinação. Este modo de pensar é dominante hoje nos governos autodenominados de esquerda na América Latina. Não é por acaso que temos como principais referenciais teóricos os "marxistas" Antonio Gramsci e Paulo Freire. Graças a eles, o Brasil tem um péssimo desempenho nos testes internacionais de educação. A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) recentemente publicou o resultado do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), que pela primeira vez avaliou a capacidade de 85 mil estudantes de 15 anos do mundo inteiro para resolver problemas de matemática aplicados à vida real. O Brasil ficou em 38° lugar, com 428 pontos, em um total de 44 países. Logo, o Brasil ficou entre os 15% piores. Aqui, hoje, a doutrinação nas escolas, inclusive nas universidades, têm sido uma praga. Talvez a resposta mais simples para este ativismo folclórico, para estas ideologias variadas e vicejantes, tenha uma origem muito mais simples do que se supõe: desejo desesperado de poder aliado à falta de competência para conquistá-lo de forma ética. Dai a necessidade de massas de manobra construídas com material de baixíssima qualidade. De acordo com o Instituto Sensus, 78% dos professores brasileiros acreditam que a principal missão das escolas é "formar cidadãos" (expressão que na prática tem se traduzido por "fazer a cabeça dos alunos"); e 61% dos pais acham “normal” que os professores façam proselitismo ideológico em sala de aula. O Brasil está sendo deseducado. Olha e ouve este vídeo: 
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Vê agora este vídeo ainda mais importante:
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Explicaste - item (3): Assisti os vídeos e espero que tu não concordes com a afirmação da Professora Ana, de que "o fracasso da educação brasileira é uma consequencia das medidas adotadas pelo PT". Desonestidade é querer responsabilizar exclusivamente o PT pelo caos de nosso sistema educacional e os baixos resultados obtidos pelos alunos brasileiros. Basta verificarmos os resultados anteriores do PISA: nos dois primeiros anos em que o exame foi aplicado (2000 e 2003*) o Brasil já ocupava as ultimas colocações, e o governo do PT ainda nem tinha chegado no poder. Nos anos seguintes em que o teste foi aplicado (2006, 2009 e 2012), correspondentes ao do governo de Lula e Dilma, a pontuação brasileira inclusive cresceu - um acréscimo insignificante, claro, já que ainda estamos entre os 15% piores do ranking mundial. Fonte: http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/como-a-educacao-brasileira-se-compara-ao-mundo-no-pisa

* em 2003, Lula inicia seu mandato, mas os resultados obtidos no teste são consequência das gestões anteriores.


Comento - Item 3: Que bom que assististe aos vídeos! Eles mostram bem a realidade que vivemos.
Não sei em que dados a professora Ana se baseou para fazer esta afirmação, mas seguramente que não foi apenas no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA = “Programme for International Student Assessment”). O primeiro ranking PISA que avaliou LEITURA, MATEMÁTICA e CIÊNCIAS foi em 2009. Neste ano a China foi a primeira colocada entre 60 países. O Brasil ficou no 51° lugar. Logo, ficou entre os 15% piores. Antes disso, o programa avaliava apenas LEITURA e o número de alunos avaliados, bem como o de países participantes, era muito pequeno. Em 2012 foram 65 países e a China repetiu o 1° lugar. O Brasil ficou no 57° lugar (logo piorou em relação a 2009, porque ficou entre os 12% piores). Apesar disso, não creio ter sido com base nestes dados que a professora fez aquela afirmação. Nota: minha fonte é a Wikipédia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Programa_Internacional_de_Avalia%C3%A7%C3%A3o_de_Alunos).

Um outro novo ranking foi o de LÓGICA para alunos de 15 anos. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou o resultado deste ranking, em abril deste ano. O Brasil ocupa o 38° lugar entre os 44 países que tiveram esta habilidade avaliada. Portanto, o Brasil ficou entre os 14% piores.

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Escreveste (4): "Sobre o tal 'patrulhamento' feito pelos alunos, o que eu presenciei em meus três anos de ensino médio foi uma juventude extremamente despolitizada, e os poucos que se aventuravam a discutir política, na maioria das vezes divergiam entre si. Defender alguma ideologia ou partido político nunca foi pré-requisito para ser aceito entre os colegas, pelo contrário, é um motivo para ser considerado 'estranho'. "

Respondo (4): Agora minha resposta dependerá de tuas respostas a algumas perguntas. O que é, para ti, ser despolitizado? O que precisas observar para classificar alguém em particular como despolitizado? Por exemplo, não ser militante é ser despolitizado? Defender alguma ideologia ou partido político é ser politizado? Qual a diferença entre politizar e doutrinar? Qual a diferença entre ser politizado e ser doutrinado? É preciso que estes termos sejam bem esclarecidos e compreendidos, porque adjetivar os outros pode ser uma impiedosa maldade, ainda que não se queira ser maldoso.


Explicaste - item (4):

1. O que é, para ti, ser despolitizado?
R: Uma pessoa despolitizada, pra mim, é a que não se interessa por política, é indiferente ao que está acontecendo ao seu redor (seja no seu bairro, na escola, em sua cidade ou o seu país). 


2. O que precisas observar para classificar alguém em particular como despolitizado?
R: Não existe uma lista de pontos a serem observados a fim de classificar se uma pessoa é politizada ou não. Mas no convívio diário, percebe-se que tem aqueles que preferem discutir política e participar de certas decisões, e aqueles preferem ficar alheios à isso tudo.

3. Por exemplo, não ser militante é ser despolitizado?
R: Não necessariamente. Existem tanto militantes despolitizados como não-militantes politizados.

4. Defender alguma ideologia ou partido político é ser politizado?
R: Idem à Resposta 3.

5. Qual a diferença entre politizar e doutrinar? Qual a diferença entre ser politizado e ser doutrinado?
R: A politização é um processo interno, em que o próprio indivíduo busca informar-se a respeito de determinados assuntos. A doutrinação é uma imposição de pensamentos de uma pessoa à outra.

Comentei - Item 4:

Só acrescento que para saber se uma pessoa é indiferente ao que se passa ao seu redor é preciso conhecê-la muito bem. Claro que há desde os que só se ocupam de futilidades até os autistas. Há os que simplesmente não discutem sobre política e até expressam que acham esta discussão inútil, mas se interessam sim pelo próximo e por sua sociedade, apenas priorizam outras coisas como mais importantes. 
O que não entendi foi a tua seguinte afirmação: “Existem tanto militantes despolitizados como não-militantes politizados”. Queres dizer que existem militantes que não se interessam por política? Interessam-se então pelo que na militância? Pela tua definição, despolitizado é quem não se interessa por política.

Finalmente, disseste que “A doutrinação é uma imposição de pensamentos de uma pessoa à outra”. Não acho correta aqui a palavra “imposição”. Neste contexto, esta palavra implica em coação, coerção. No entanto, o que caracteriza a doutrinação não é isso, mas o processo de alcançar o convencimento sem a livre apresentação do contraditório, deixando ao outro a livre busca de evidências em favor da teoria apresentada. Cada um deve exercer seu inalienável direito de decidir quais as evidências são importantes para que possa acreditar numa teoria. A doutrinação pode ser feita entre manifestações de amor, seja por falsidade ou porque o doutrinador não tem consciência do que está fazendo.

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Escreveste (5): "Sobre tua afirmação a respeito das redes sociais e blogs: concordo que elas vem sendo utilizadas amplamente como forma de propaganda política, e eu, como aluno de Publicidade e Propaganda, reconheço o poder de influência que essa ferramenta tem. Com a aproximação das eleições, cada vez mais tenho visto páginas supostamente apartidárias surgirem na internet e publicarem uma série de postagens governistas. Lógico que a oposição também se aproveita dessa ferramenta (mas com dinheiro privado). O que mais vejo, na verdade, são comentários criticando o PT e Dilma do que os apoiando. Também defendo que deva haver uma regulação no uso de dinheiro público para propaganda governamental". 

Respondo (5): De acordo!
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Escreveste (6): "Diferentemente do caso das eleições, no qual apoio totalmente o fim do financiamento privado de campanhas e uma divisão justa de verba pública entre os partidos concorrentes". 

Respondo (6): Então, defendes que apenas o Estado financie as campanhas políticas? Na tua visão, o que deve o Estado entender por "uma divisão justa de verba pública entre os 
partidos concorrentes"? Seria exatamente o mesmo montante para cada partido? Isto não seria justo, porque atualmente, em minha opinião, os partidos nanicos são todos da base comprada do governo. Sem que se disponha deste critério de distribuição bem definido não é correto tomar posicionamento neste caso, seja contra ou a favor. Pergunto ainda: o problema é o financiamento privado ou é o "caixa 2"? Eu acho que o principal problema é o "caixa 2".  Principalmente na era Lula, ficaram escancaradas as malandragens partidárias do "caixa 2", de como fazer dinheiro sem que ele apareça. Note-se, ainda, que este crédito é ainda mais valioso para blindar criminosos, porque, por maior que ele seja, se não descoberto por meio de investigações sérias e dispendiosas, a indevida ligação entre os envolvidos nunca será sequer suspeita. Pode-se dizer que os valores do caixa oficial só aparecem porque seria inaceitável dizer que não há doação nenhuma para a campanha. Cabe salientar, contudo, que é um direito, de acordo com os princípios do Estado Democrático de Direito, alguém financiar uma campanha por acreditar no trabalho e/ou nas ideias de determinada pessoa, algo que é recorrente, aliás, nas grandes ideias históricas e lutas políticas que o mundo já teve.

Explicaste - item (6):

Não pretendia me aprofundar nesse tema, mas vamos lá. Sim, defendo que apenas o Estado financie a campanha eleitoral. Na verdade, defendo uma mudança drástica no modo como atualmente são feitas as campanhas. Defendo o fim de todas essas formas de propaganda padronizadas como: nome do candidato; foto; número; siglas partidárias etc. Que todo o tempo gasto em propagandas repetitivas e superficiais na televisão/rádio, converta-se em debates sobre questões polêmicas, com participação da população, estilo reality show. E que isso não se limite ao mundo virtual, debates em praça pública também são muito mais informativos do que um cavalete na calçada.

Quais são, pra ti, os considerados “partidos nanicos”? Talvez, com uma divisão igualitária das verbas (e tempo de aparecimento na mídia), esses partidos menores conseguissem crescer e tornar-se independentes à base do governo.

Acredito que tanto o financiamento privado quanto o caixa 2 são problemas à serem combatidos, mas que o segundo é uma conseqüência da ineficiência do controle de gastos na campanha, que hoje são multimilionárias devido ao financiamento privado. Com um financiamento do Estado, com custos bem menores, tudo seria mais fiscalizado, não abrindo espaço para o caixa 2.


Comentei - Item 6:

Tudo bem, não nos aprofundemos neste tema porque iria muito longe, mas não concordo que os partidos “nanicos” sejam inocentes quando se vendem às benesses do governo. Se eles fazem isso, agora que são “nanicos”, que fariam se crescessem? A honradez, a decência, a dignidade, a honestidade, a integridade, a probidade, não dependem do tamanho. 

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Escreveste (7): "Sobre a tua interpretação da charge: discordo da tua afirmação sobre a corrupção ser o principal problema do país. Acredito que ela é um problema inseparável do nosso sistema de democracia representativa, e que uma forma de minimizá-la seria acabando com a doação de capital privado para às campanhas políticas. Assim, os parlamentares não teriam como assumir uma dívida com as empresas que os financiam (pelo menos não licitamente)". 

Respondo (7): Fizeste uma afirmação que mais parece um malabarismo mental e não a explicaste. Lembro-te que os países de mais alto IDH do mundo adotam o sistema de  democracia representativa. Lembro-te ainda que a democracia direta ainda é tecnologicamente impossível, especialmente num país como o Brasil, em que 75% da população é constituída de analfabetos funcionais. Por que acreditas que a democracia representativa é a causa da corrupção? Afinal, o que tem que ver o sistema de democracia representativa com a corrupção? Qual o sistema de governo que não se corrompe se os mandatários forem corruptos? Parece que estás tirando a responsabilidade dos mandatários e colocando-a sobre o sistema político. Por que? Em princípio, isto me parece simplesmente absurdo. 



Explicaste - item (7):
Pois, então, explico o tal malabarismo mental: pelo que eu aprendi nas aulas de Geografia do Ensino Médio, o IDH é uma medição que utiliza os dados da longevidade, do acesso à educação e do PIB per capita de cada país para elaborar seu índice. A corrupção não é um fator que interfere nesses resultados. Outro dado: quatro dos cinco países que lideram a lista do Índice de Desenvolvimento Humano (Noruega, Austrália, Suíça e Países Baixos) utilizam como forma de governo uma mistura de monarquia (constitucional) com democracia parlamentar. Por causa disso, devemos defender um regresso ao sistema monárquico? Prefiro apoiar os avanços em nosso sistema político. A tecnologia para a implantação de uma democracia direta digital, hoje, já existe, o que não há, é o acesso de toda a população à ela. Se puderes, dá uma pesquisada sobre a experiência sueca do Demoex (http://pt.wikipedia.org/wiki/Demoex). Claro, os mecanismos de segurança devem ser aperfeiçoados e o acesso à tecnologia deve ser totalmente amplo, mas acredito na viabilidade da proposta num futuro não tão distante. Não penso ser coerente a justificativa da limitação da participação política do povo em razão do analfabetismo, ou mesmo em razão da baixa escolaridade enquanto uma grande parcela de nossos políticos também encaixam-se nos mesmos índices. Sabemos que, hoje, para um político se eleger, é necessário muito dinheiro para o financiamento da campanha. Os candidatos que não aceitam dinheiro de empresas para a campanha, não possuem visibilidade nenhuma perto dos que aceitam. Aceitar o financiamento das corporações é uma premissa para ser eleito, e isso é um problema porque automaticamente é gerada uma dívida do representante em relação ao empresário financiador. O sistema já e organizado para defender essas instituições opressoras, para um político conseguir chegar ao poder, ele é obrigado a se corromper igualmente.

Comentei - Item 7:

Epa! Agora é grave. “A corrupção não é um fator que interfere nesses resultados”!!! A corrupção não interfere no IDH? Claro que interfere e muito! Queres discutir isso?

Bem, até onde sei a experiência norueguesa, de uns 15 anos atrás, não foi muito além de alguns plebiscitos em uma região restrita (numa região de uma cidade, se não estou enganado). O divulgação que fizeram na época, de uma democracia direta e sem partidos, foi um exagero. Serviu para que alguns políticos de lá tivessem sucesso nas eleições normais e gerais da Noruega. O problema da democracia direta não está na contagem dos votos, mas em dois aspectos: (a) na legitimidade e técnica de formulação das perguntas ao eleitor, a qual, em suas múltiplas nuances, condicionam as respostas e (b) na transparência do processo, que precisa garantir o controle independente e público contra fraudes. A Noruega ainda não resolveu o problema das eleições normais para cargos executivos e legislativos. 
Recentemente ela desistiu do voto pela Internet depois de testes-piloto em 2011 e 2013. Podes ler sobre isto AQUI.

Outra coisa sobre a qual, parece, ainda não nos entendemos emerge na pergunta: “Por causa disso, devemos defender um regresso ao sistema monárquico?”. Pensei que tinha sido muito claro quando disse que não importam as organizações, mas a probidade, a decência, a competência das pessoas que as compõem. Se as pessoas forem honestas e competentes saberão até mesmo mudar o sistema, quando este não satisfaz.

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Escreveste (8): "Ser “anti corrupção” é uma pauta vazia, é o mesmo que dizer “sou a favor da paz”, ou seja, são coisas que todas as pessoas concordariam. É lógico que todas as formas de corrupção devem ser questionadas e repudiadas, apenas não creio que essa possa ser uma bandeira política principal de ninguém". 

Respondo (8): Ser “anti corrupção” é uma pauta vazia?! Pelo contrário, ser anti-corrupção é ser a favor da honestidade, da probidade administrativa; é não aceitar candidatos ou governantes desonestos, que enriquecem às custas do erário público. Isto é o mais importante  em política! Isto é mais importante que qualquer ideologia. Claro que não basta que se diga "sou anti-corrupção", tem que ser de fato, na prática, em todas as circunstâncias. Da mesma forma, não basta dizer “sou a favor da paz”, é preciso ser de fato, em todas as circunstâncias. Ser a favor da paz é abominar o uso da violência, o vandalismo, ser contra as imposições, contra qualquer tipo de coerção, sem que isto implique em ausência de ordem.
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Escreveste (9): "Nunca poupei minhas críticas em relação à Dilma nem ao PT, reconheço que ela é responsável diretamente pelos problemas do país. Mas penso que nenhum outro partido (dos que realmente tem chances se eleger) faria melhor. Todos (inclusive o PT) estão lá para defender o interesse das empresas que os sustentam, e não o povo". 

Respondo (9): Chegamos aqui a um ponto crucial do nosso debate. Partes de uma suposição muito fraca, reveladora e
altamente questionável ("nenhum outro partido faria melhor") e assim justificas o status quo. Na prática, no momento de decidir o futuro, achas que o melhor é manter tudo como está! Não imaginei que fosses tão conservador! Parece que, para manter tudo como está, podes aceitar um governo que não vê problema em roubar o dinheiro público para fortalecer o partido, como se o PT fosse a força do bem e da justiça por definição. Esta  crença levaria o pais a desdenhar do saudável princípio da alternância no poder, o que levaria necessariamente até mais longe do que a endogenia, mergulharíamos na fase da autofagia. Isto já está ocorrendo em muitos países onde grupos políticos querem se perpetuar no poder. Com a ascensão de vários governos que se autodenominam de "esquerda", na América do Latina, como na Venezuela, Bolívia e Equador, o capitalismo mudou de mãos. Os governos citados não são e nunca foram socialistas, apenas queriam se apossar das riquezas sob a justificativa de uma ideologia fácil de disseminar: "desapropriar os bens da burguesia para nossos fins". São governos capitalistas apresentados como se fossem nacionalistas e de frente popular, mas que reprimem os trabalhadores e mantém o capitalismo intacto. No Brasil, o governo capitalista de frente popular, do PT e seus aliados como o PMDB, PC do B, PR e tantos outros, jamais realizou reformas estruturantes pró-trabalhadores. A antes combatida privatização, como se fosse um mal em si mesma, foi aprofundada nos governos Lula e Dilma e de todas as privatizações anteriores, das 
telecomunicações, das siderurgias (inclusive da Vale), da energia elétrica, nenhuma foi revogada. Se a organização privada é um mal, então só poderia haver organizações 
estatais. Isto nunca deu certo! No Brasil, no último decênio, a repressão contra os trabalhadores aumentou. Metade do orçamento federal vai para os banqueiros para pagar a dívida pública, a saúde é uma catástrofe, o analfabetismo continua altíssimo, não se alterou a jornada de trabalho semanal, como era demagogicamente prometido. A propaganda e a militância do partido passou a ser financiada com recursos públicos. Ora, para quem fatura com o governo tudo vai bem. Para os capitalistas e conservadores tudo isto deve ser convenientemente mantido. 

Explicaste - item (9):

Em nenhum momento afirmei que o melhor é manter tudo como está, defendo uma mudança no próprio sistema, e não acredito na ilusão da alternância de poder, pois ele, na verdade, não troca de mãos: o circo pode até trocar de palhaços se alguns deles começarem a serem vaiados pela platéia, mas independente deles, quem continuará lucrando com os ingressos será o dono. “A liberdade de eleição permite que você escolha o molho com o qual será devorado. (Galeano)”. Sobre as críticas em relação ao PT e outros falsos governos socialistas, estou de acordo.

Realmente, não concordamos em muitos aspectos. Por minha mente estar em constante transformação, não me auto-rotulo seguidor de nenhuma ideologia específica. Concordo com alguns aspectos numa, discordo em outros, mas também tenho minhas opiniões.


Comento - Item 9:

A frase de Eduardo Galeano se refere ao contexto político do Uruguai, onde os partidos Colorado e Nacional se revezavam no poder. No entanto ele participou ativamente das eleições de 2004 e festejou a vitória da Frente Ampla.

Chegamos, repito, ao ponto crucial. Eu não te entendo. Ao mesmo tempo que dizes “defendo uma mudança no próprio sistema”, afirmas que “não acredito na ilusão da alternância de poder”. Achas que a democracia é um circo que tem um dono e como não acreditas na alternância do poder, não queres mudar o dono circo! Teu argumento, é típico dos regimes autoritários.

Tenho que te fazer mais algumas perguntas. Então, como promover uma mudança no sistema? Em outras palavras, se não acreditas no processo democrático, como produzir mudanças? Por revolução? Por meio da coerção, da violência? Não, as revoluções sempre conduziram a regimes totalitários. Qualquer regime totalitário é criminoso.

Totalitarismo (ou regime totalitário) é um sistema político no qual o Estado, normalmente sob o controle de uma única pessoa ou facção, não reconhece os direitos dos outros, não reconhece limites à sua própria autoridade e se esforça para regulamentar todos os aspectos da vida pública e privada. O totalitarismo é caracterizado pela coincidência do autoritarismo (onde os cidadãos comuns não têm participação significativa na tomada de decisão do Estado) e da ideologia (um esquema generalizado de valores promulgado por meios institucionais para coagir a maioria).

Os regimes ou movimentos totalitários mantêm o poder político através de uma propaganda abrangente divulgada através dos meios de comunicação controlados pelo Estado, o qual se confunde com um partido único, geralmente marcado por culto de personalidade, pelo controle sobre a economia, pela regulação e restrição da expressão, pela vigilância em massa e o disseminado uso do terrorismo de Estado.

Antes me mostravas a tua simpatia pelo anarquismo! Entendes porque não te entendo? Qual o teu modelo preferido de totalitarismo? Comunismo, Fascismo, Nazismo ou Franquismo? Já viste no que deram estes regimes? Leste sobre as barbaridades que cometeram? O trágico fim era previsível, mas o povo estava manietado, sufocado por uma minoria e não podia reagir.

Se tua mente está em constante transformação, então é porque ainda não estás seguro de tuas posições políticas. Enquanto não estiveres seguro destas coisas, é bom que te afastes de qualquer militância, podes estar servindo a interesses espúrios sem perceber. Grupos de pensamentos totalitários, a meu ver, são perigosos porque trabalham no sentido oposto ao da evolução humana. Pensa sobre isso e te define melhor. Sempre que quiseres discutir comigo, estarei a tua disposição, com prazer.

No meu entender, a evolução só vem de quem busca aperfeiçoar as instituições e fortalecer os valores democráticos. Estas pessoas são as que valorizam as virtudes fundamentais do ser humano, como inteligência, cultura, honestidade, altruísmo, competência etc., ou seja, tudo que falta ao Lula (Lula é uma fantasia, foi produto do “marketing” político).

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Escreveste (10): "Por isso, está grifado “governo federal” como um alvo a ser atacado, e não “governo Dilma”. Daí, entramos em outro ponto de nossas divergências. Acredito que todas as organizações citadas - CBF, FIFA, bancos, mídia etc - por si só, já são opressoras e estão lá para defender uma elite econômica. E mesmo o comandante mais experiente do mundo com a melhor das intenções não conseguiria guiar o barco contra a correnteza (exemplo unicamente metafórico, não entendo NADA sobre navegação :D).

Respondo (10): As organizações que citaste - CBF, FIFA, bancos, mídia etc - bem como outras tantas, são organizações da elite, hoje fortemente ligadas aos interessas do PT, simplesmente porque o PT é o governo e detém os recursos públicos. O PT é o atual comandante das elites. Não te auto-enganes. As organizações são pilotadas por pessoas conforme os seus interesses. Inocentar os poderosos governantes do Brasil e culpar as organizações é o que fazia Dom Quixote, quando atacava moinhos de vento. Este malabarismo mental é bem conhecido. 
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Escreveste (11): "Na verdade, o discurso nem sempre é anarquista, os defensores dessa ideologia são minoria dentro da esquerda anticapitalista. Cabe ressaltar que anarquismo é uma ideologia política séria e, assim como qualquer outra, tem o direito de se organizar e distribuir panfletos livremente. O próprio símbolo anarquista (a letra “a” dentro da letra “o”) significa “anarquia é ordem”, famosa citação de Proudhon, um importante teórico anarquista. Indico um textinho curto só pra esclarecer essa confusão que as pessoas fazem a respeito do anarquismo:http://www.midiaindependente.org/pt/red/2004/04/277590.shtml Pra finalizar, o Estado precisa ter a força policial porque é ela que garante a sua própria 
existência. Mas será que a humanidade realmente precisa do Estado? Um abraço."

Respondo (11): Sobre anarquismo, há muito se discute. Já se fizeram inúmeras experiências desde o século XIX, inclusive no Brasil, mas nunca deu certo. Como sabes, o 
Anarquismo é um sistema filosófico que prega o fim do Estado e de outras instituições que normatizam a vida do homem, tais como a família, a Igreja, o Partido Político etc. Seus adeptos pensam, que todas as formas de governo interferem negativamente na liberdade individual e que por isso devem ser substituídas pela cooperação entre os cidadãos. Esta é uma visão ingênua, muito ao gosto dos jovens, por imaginar utopicamente que o homem pode deixar de ser comandado pelo seu egoísmo, para se tornar um Ser orientado apenas pelo sentimento fraternal. Antes de tudo, é preciso considerar que não é possível acabar com o Estado por decreto (seria uma contradição) nem por revolução. Esta seria uma ação que exigiria uma grande organização capaz de promover uma violência inominável. Não é o Estado que deve acabar, mas sim as iniquidades socioeconômicas. Qualquer sociedade é composta por todo o tipo de gente. Há os emotivos, os frios, os doentes, os sadios, os idiotas, os ignorantes, os inteligentes, os neuróticos, os paranoicos, os psicopatas, os burros, os lerdos, os egoístas, os solidários, os preguiçosos, os trabalhadores, os mentirosos, os honestos, os ladrões, em todas as nuances e combinações, cada um com diferentes idéias, gostos e aversões, esperanças e receios. Alguns serão capazes de liderar, para o bem ou para o mal, outros não. Quanto mais complexa for a sociedade, mais necessidade de organização terá e, assim, nasce o Estado. No mundo de hoje, existem nações sem Estado (mas com hierarquia), mas não passam de grupos, geralmente um grupo étnico minoritário no interior de um ou mais países, que almeja constituir o seu próprio Estado, especificamente um Estado-nação. Como não existem critérios claros para determinar se um grupo particular é uma nação ou se faz parte de um Estado multicultural, o uso do termo é apenas político e controverso, sendo 
normalmente usado por movimentos separatistas.

Como vês, não concordo contigo em muitas coisas. Não sou militante de qualquer ideologia, mas tenho minhas opiniões. 

Um abraço,

Almir

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