domingo, 31 de janeiro de 2016

Em nome de Deus, matam inocentes.

Por Almir Quites
26/01/2016

Há cerca de um ano, a humanidade ficou estarrecida com as consequências do fanatismo religioso. O massacre do Charlie Hebdo aconteceu em 7 de janeiro de 2015, em Paris. O tunisino Georges Wolinsky, seu chefe Stephane Charbonnier, o Charb (editor do semanário francês Charlie Hebdo), o vice, três outros cartunistas-estrela, um revisor de origem árabe, uma psicanalista e um crítico literário (colunistas), um funcionário de um prédio vizinho e dois policiais (um de origem árabe) morreram no local. O banho de sangue deixou ainda 11 feridos, sendo quatro em estado grave. Todos fuzilados por "ofender o profeta Maomé".

Neste mês, um ano após o atentado que matou as principais figuras da caricatura francesa, o jornal Charlie Hebdo escolheu para a capa um desenho do cartoonista Riss que apresenta um Deus assassino, com barba e armado com uma metralhadora AK-47, sob o título "Um ano depois, o assassino continua à solta". A edição de 32 páginas – o dobro das habituais – tem um caderno especial de desenhos dos cartonistas assassinados (Cabu, Wolinski, Charb, Tignous e Honoré) e cartoons dos atuais colaboradores, assim como textos da ministra francesa da Cultura, Fleur Pellerin, das atrizes Isabelle Adjani, Charlotte Gainsbourg, Juliette Binoche, do músico Ibrahim Maalouf, entre outras personalidades. Diante de tudo isso, este mês de janeiro, reacendeu a fogueira do "Eu sou Charlie – I’am Charlie – Ich bin Charlie – Yo soy Charlie – Sono Charlie". Todos deveriam ser Charlie: contra a chantagem terrorista e a radicalização religiosa. A favor da convivência, tolerância e liberdade de expressão.

Na edição especial, o diretor do jornal e cartonista sobrevivente do atentado, denuncia "os fanáticos embrutecidos pelo Corão" e outros religiosos que tinham desejado a morte do jornal por "ousar rir da religião", garantindo que "as convicções dos ateus e dos laicos fazem mover mais montanhas que a fé dos crentes".

Antes do ataque, o jornal enfrentava graves dificuldades financeiras e tinha uma tiragem semanal média de 30 mil exemplares. Atualmente, vende atualmente cerca de cem mil exemplares nas bancas – dez mil no exterior – e tendo 183 mil assinantes. Não, os autores do ataque não mataram Charlie Hebdo, como queriam, mas continuam tentando "vingar o profeta"! Dez meses após os atentados de janeiro de 2015, Paris voltou a ser alvo de novos ataques jiadistas, em 13/11/2015, que fizeram 130 mortos, a maioria dos quais na sala de espetáculos Bataclan.

Estes fanáticos religiosos são delinquentes? Sim, são terroristas clássicos, ou seja, precisamente agentes da intimidação, da chantagem e da indigência política. Tal como os de 11 de Setembro de 2001, eles não têm uma pauta específica de reivindicações. Fanatizados pela causa, tornam-se idiotas a serviço da disseminação da discórdia e do medo. Enquanto na Alemanha e em outros países, verdadeiros intelectuais e estadistas convocam a sociedade para lembrar o passado e desativar o rancor anti-islâmico, o jihadismo vai na contramão: aposta na radicalização, na confrontação violenta e, para isso, estimula revanches e represálias de facções neofascistas contra as comunidades de origem árabe, africana ou muçulmana.

Vejam aqui o artigo indignado que escrevi em 07/01/2015, no dia seguinte ao ataque ao jornal Charlie Hebdo:


É hora de retomar a lição que mais caracteriza o mestre Voltaire. "Eu posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-lo".

Respeitem a opinião alheia, inclusive a dos ateus. Estes não se abrigam numa religião. Estão por aí, de peito aberto, sem contar com a proteção de Deus, mas também sem temê-lo. 

Para os crentes Deus é o Criador e Senhor do Universo. Deus possui onisciência, onipotência, onipresença, benevolência, simplicidade e zelo infinitos, sobrenaturalidade, transcendentalidade, eternidade e existência necessária. 

Para mim tudo isso é inverossímil. Todos este atributos de Deus são tipicamente humanos e potencializados ao infinito. Parece-me que este Deus é criação humana. Além disso, para mim é uma simples questão de honestidade pessoal reconhecer o que não se sabe, ao invés de adotar uma crença. 

Parece-me 
1) que os milagres sempre foram mentiras;
2) que a mentira sempre foi sacramento de subordinação, docilidade; e
3) que a malandragemp sempre fez uso do evangelho. 

Ah, a Teologia sempre foi uma fantasia conveniente. 

Deve haver um defeito na mente humana, porque não consegue conviver com pontos de interrogação. Estes pesam como se fossem enormes peças de chumbo a serem carregados nos ombros ou costas. No entanto, na verdade, eles são macios, leves e muito mais interessantes e úteis do que as certezas e crenças.

Muitos crentes "falam" com Deus. Muitos até nos falam em nome de DeusComo discutir com eles? Desta discussão nunca virá luz!

No entanto, há tantas outras coisas importantes a debater para melhorar a nossa convivência, nossa cooperação, tolerância e liberdade de expressão!

A diversidade de concepções é fundamental, mas pode ser muito perigosa quando alguém discrimina outros em nome de "sua verdade" e ainda pior quando quer impô-la aos outros. Em outras palavras, o fanatismo é muito perigoso!

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Confrontos religiosos e fundamentalismos 
Leandro Karnal

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